No dia 24 de agosto de 1995, a Microsoft lançou o Windows 95 em um evento que parecia mais uma estreia de Hollywood do que a apresentação de um software. Bill Gates subiu ao palco em Redmond diante de milhares de convidados e, com ele, estreava não apenas um novo sistema operacional, mas um marco que redefiniu a forma como o mundo interagia com o computador.
As filas nas lojas lembravam o que, anos mais tarde, aconteceria com o iPhone. Mas era apenas “um software” — e talvez justamente aí estivesse a mágica: o computador, antes uma máquina fria e intimidadora, se tornava algo divertido.
A longa estrada até o sucesso
A ideia de substituir o MS-DOS por um sistema gráfico começou em 1981, quando a Microsoft ainda tinha relações amigáveis com a Apple.
O Windows 1.0, lançado em 1985, foi visto como fraco em comparação ao Macintosh. Mas Gates tinha um trunfo: o modelo de licenciamento. Enquanto a Apple restringia o macOS ao seu hardware, o Windows poderia ser usado por qualquer fabricante. Essa decisão pavimentou o terreno para a futura dominação.
Nos anos 90, o maior rival era o OS/2 da IBM, considerado mais avançado em interface e recursos. No entanto, o excesso de complexidade e a dificuldade de adoção fizeram com que ele nunca passasse de nichos, como caixas eletrônicos. O espaço estava aberto para a Microsoft dar o próximo passo.
O marketing de milhões
Com o Windows 95, a empresa decidiu apostar em um marketing sem precedentes. Foram cerca de US$ 300 milhões investidos em uma campanha que trouxe elementos nunca antes vistos na indústria de software.
A escolha de “Start Me Up” marcou a primeira vez que os Rolling Stones autorizaram o uso de uma música em um comercial.
Jennifer Aniston e Matthew Perry, estrelas em ascensão da série Friends, gravaram um episódio especial para apresentar as funções do sistema de forma divertida e acessível.
As lojas receberam o Windows 95 como se fosse um blockbuster de cinema. Houve filas na madrugada, cobertura televisiva e até distribuição de balões e camisetas com o logotipo colorido do sistema. Pela primeira vez, o computador deixava de ser visto apenas como uma ferramenta de trabalho e se tornava parte da cultura popular.
As novidades que moldaram o uso do PC
O impacto não veio apenas da publicidade. O Windows 95 introduziu recursos que redefiniram a experiência do usuário. O botão Iniciar, ao lado da nova barra de tarefas, transformou a navegação em algo intuitivo, criando um padrão que sobreviveu por décadas.
As janelas passaram a ter botões para minimizar, maximizar e fechar, simplificando o controle de múltiplos programas. O Explorador de Arquivos substituiu o antigo Gerenciador, e pela primeira vez era possível nomear arquivos com até 255 caracteres, em vez da limitação de oito letras herdada do DOS.
Havia ainda o ambicioso conceito do Plug and Play, que prometia instalar periféricos automaticamente. Na prática, os erros renderam o apelido irônico de “Plug and Pray”, mas a ideia pavimentou a simplicidade que se tornaria padrão nos anos seguintes. Por trás da interface, o sistema trazia um núcleo híbrido de 16 e 32 bits: suficiente para avançar rumo ao futuro, mas ainda dependente do DOS em muitas funções. Era comum que programas antigos exigissem a presença dos velhos arquivos de configuração, e a instabilidade causada por essa mistura resultava em travamentos que se tornariam famosos.
A própria identidade sonora foi cuidadosamente pensada. A Microsoft encomendou ao músico Brian Eno uma vinheta curta para marcar a inicialização do sistema. Nasceu assim o Microsoft Sound, seis segundos que se eternizaram na memória de quem viveu aquela época.
Bastidores inusitados
Nos bastidores, a obsessão pela compatibilidade chegou a extremos curiosos. Para garantir que o Windows 95 funcionasse com a maior quantidade possível de softwares, a Microsoft enviou um engenheiro até uma loja da rede Egghead Software e pediu que comprasse absolutamente tudo o que estava na prateleira. A conta passou de US$ 10 mil, valor alto o bastante para travar o sistema da registradora da loja. A solução foi dividir a compra em várias transações menores.
De volta ao escritório, as pilhas de caixas foram distribuídas entre os desenvolvedores. Cada um recebia dois programas para instalar e reportar problemas. Sem atualizações pela internet ou testes automatizados, a compatibilidade dependia de pura maratona manual. Era um esforço coletivo para lançar um sistema pronto para o mundo real.
Requisitos
Para rodar o Windows 95, a configuração mínima exigia apenas 4 MB de RAM e cerca de 50 MB de espaço em disco. Quem tivesse um processador 486 e ao menos 8 MB de memória podia experimentar o sistema com fluidez razoável.
O software era vendido tanto em CD-ROM quanto em uma versão dividida em 13 disquetes de 3,5 polegadas, usando um formato especial para caber mais dados em cada mídia.
Internet, jogos e o novo papel do computador
O Windows 95 foi a porta de entrada para a internet de milhões de pessoas. O Internet Explorer estreou como parte de um pacote adicional, e só mais tarde passou a vir pré-instalado. Mesmo assim, abriu caminho para a guerra dos navegadores que definiria o fim da década.
Foi também nesse ambiente que os games de PC floresceram. Títulos como Diablo, Quake, Warcraft II, Resident Evil, Fallout e Dungeon Keeper aproveitaram a base do Windows 95 para se popularizar. O computador deixava de ser apenas ferramenta de escritório e se consolidava como plataforma de entretenimento.
O legado e a memória afetiva
Três décadas depois, o Windows 95 permanece como um dos maiores símbolos da transição tecnológica dos anos 90. Mesmo com falhas de estabilidade, foi o sistema que tornou o PC acessível e desejado.
Não à toa, ex-executivos ainda guardam relíquias da época. Brad Silverberg, vice-presidente da Microsoft na época do lançamento, revelou no ano passado que preserva a primeira cópia que saiu da linha de produção. O detalhe veio à tona em uma conversa iniciada por David Plummer, engenheiro responsável por recursos icônicos como o Gerenciador de Tarefas e o clássico pinball do Windows.
O Windows 95 não foi apenas um produto. Ele representou um momento cultural: o instante em que a Microsoft convenceu o mundo que o computador deixava de ser uma máquina de especialistas para se tornar parte inseparável da vida cotidiana.