Saiba como foi o Ubuntu Developer Summit

Saiba como foi o Ubuntu Developer Summit
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Ubuntu developer summit

Autor original: Jake Edge

Publicado originalmente no: lwn.net

Tradução: Roberto Bechtlufft

Logo do AndroidJono Bacon, gerente de comunidade do Ubuntu, abriu o “evento mais importante do ciclo da distribuição”, o Ubuntu Developer Summit (UDS), realizado de 9 a 13 de maio em Budapeste, na Hungria. Como o Linaro Development Summit (LDS) ocorreu simultaneamente, os integrantes da Linaro (a associação de empresas ARM) também marcaram presença. O bom relacionamento entre o Ubuntu e a Linaro ficou bem evidente. Os dois eventos não só dividiam o espaço físico, como também estavam em sintonia na organização e na gravação das sessões. Nas apresentações da primeira manhã, os participantes também aprenderam a pronunciar a palavra “oneiric”.

Os desenvolvedores do Ubuntu e da Linaro se reuniram para planejar seus respectivos ciclos de desenvolvimento; o Ubuntu, para a versão 11.10 (ou “Oneiric Ocelot”) e a Linaro, de forma mais genérica, visando um período entre os próximos seis meses a um ano. Até agora, a Linaro vem lançando novas versões em ciclos de seis meses, sempre um mês após o lançamento de uma nova versão do Ubuntu. Mas conforme o CEO da Linaro, George Grey, anunciaria naquela manhã, o Linaro 11.11 não seria lançado, já que a organização passaria a adotar um ciclo de lançamentos de um mês.

Bacon fala sobre o formato do UDS

Bacon observou que o Ubuntu 11.04 (“Natty Narwhal”) foi um “ciclo tremendamente aventureiro” que “levou o Ubuntu a um novo patamar”. Mas o UDS é o momento de pensar na próxima versão, sendo um “evento crítico” para a distribuição. Como ele disse, o UDS não é uma conferência, mas sim um evento interativo no qual os desenvolvedores e outros membros da comunidade se reúnem para “projetar, debater e discutir” a forma da próxima versão.

Jono Bacon na UDS

Cada sessão do UDS apresentava uma discussão de uma hora baseada em um plano hospedado no Launchpad. É um “agendamento incrivelmente dinâmico” que sofre mudanças nos horários e locais das sessões. Novas sessões são adicionadas de acordo com o resultado de reuniões anteriores, e quando novos planos são incluídos no Launchpad. Muitas vezes ocorrem quinze sessões simultâneas, com dois terços correspondentes ao UDS e o resto ao evento da Linaro.

Além disso, as sessões são bem organizadas para que possa haver participação externa; há streaming de áudio de todas as salas, além de um canal de IRC exibido em uma tela para que quem não estiver presente também possa participar da discussão. São feitas anotações no Etherpad para que todos possam acompanhar a sessão ou fazer uma análise posterior.

Também há uma estrutura estabelecida para as reuniões, começando por um objetivo, como explicou Bacon. Esse objetivo é debatido, surgem as conclusões e o resultado e os “itens de ação” são registrados. Toda reunião tem um líder, que tem a tarefa de definir o objetivo, moderar a discussão e garantir que todos os participantes, até os que não costumam dizer muita coisa, tenham sua chance de falar.

Mas o resultado final da reunião são mesmo os “itens de ação”. Bacon diz que os participantes querem “trabalhar de verdade”, e parte desse processo envolve a identificação de ações que precisem ser tomadas nos próximos seis meses (cinco, na verdade) em prol do objetivo. Depois é preciso que delegar responsáveis pela concretização desses itens de ação. Se ninguém se oferecer para trabalhar neles, a Canonical “começa a nomear seus escolhidos”.

Os encontros do UDS funcionam como um “valioso evento de debate cara a cara” que deve contribuir com o objetivo supremo, que seria o de “oferecer a mais incrível experiência possível com o Ubuntu”, ele explicou. Bacon deixou o palco para dar lugar ao fundador do Ubuntu, Mark Shuttleworth.

Shuttleworth e os valores do Natty e do Ubuntu

Mark Shuttleworth deu os parabéns à comunidade do Ubuntu pelo trabalho no Natty Narwhal, que, segundo ele, foi “um ciclo profundamente desafiador” por uma série de motivos. O Ubuntu está no meio de uma transição, e portanto é normal que surjam alguns questionamentos e debates movimentados nesse período. Mas segundo ele, a organização realizou “muitos dos objetivos propostos”.

Mark Shuttleworth na UDS

Várias realizações específicas do Natty foram destacadas, incluindo o trabalho da equipe de documentação, que contribuiu muito com a documentação do GNOME e do Unity nesse ciclo. Shuttleworth disse que a equipe conseguiu “lidar com as diferenças [entre o GNOME e o Unity]com graça e eloquência”. Também foram feitos grandes progressos na área de acessibilidade, um dos valores centrais para a comunidade do Ubuntu. E ainda há mais trabalho a ser feito nesse sentido, ele destacou, mas ele será concluído durante o ciclo do Oneiric Ocelot.

Ainda nas palavras dele, com o Unity “o Ubuntu estabeleceu um novo patamar de disciplina de design no software livre”, testando as hipóteses da equipe de design com usuários reais. Ele observou que a “missão” da distribuição é ter 200 milhões de usuários dentro de quatro anos. O Ubuntu não está focando nos “corações e mentes dos desenvolvedores”, mas sim nos “corações e mentes do mundo”. Mas isso não quer dizer que os desenvolvedores vão ficar para escanteio: “eles precisam de tudo o que os consumidores precisam e de mais”.

Shuttleworth também dedicou algum tempo para “relembrar e reafirmar nossos valores”. As pessoas começam a usar algo novo como o Ubuntu por causa do falatório sobre ele, mas em um dado momento elas reconsideram sua decisão e se perguntam: “porque estou usando o Ubuntu?”. Faz sentido que as pessoas participem ou continuem participando de um projeto como o Ubuntu se compartilharem a missão e os valores do grupo.

Shuttleworth comentou que a gestão do Ubuntu é uma meritocracia, e não uma democracia. Na hora de tomar decisões difíceis, ele quer ter a melhor pessoa possível encarregada disso, seja ela uma funcionária da Canonical ou não. Mas depois que alguém recebe essa responsabilidade, não faz sentido questionar suas decisões. “É assim que podemos oferecer software livre e ser incrivelmente eficazes ao mesmo tempo”.

É preciso haver responsabilidades delegadas a membros, colaboradores e usuários. Ele conta que não há problema algum quando ele e outros tomadores de decisão são questionados por causa de certas decisões, “mas isso não pode atrapalhar” o progresso. Quando você fica “estressado” com uma decisão específica, conta ele, é só se perguntar se as pessoas certas tomaram a decisão.

Também é importante haver transparência. Há uma certa sensação de que algumas decisões nos últimos anos não tiveram transparência, e foram apresentadas depois de já terem sido tomadas. A comunidade pode “esperar e exigir de forma razoável” uma discussão sobre essas decisões. Mas o Ubuntu une a comunidade e várias empresas para criar uma plataforma única, e muitos dos diferentes grupos que fazem parte do Ubuntu têm ideias diferentes do que deve ser feito, e como. A transparência é um “valor importante para nós”, disse ele, mas é preciso haver respeito de todos os lados.

Contratos de colaboração

Shuttleworth admite ter “falhado enquanto líder” na hora de defender o Contrato de colaboração da Canonical. Ele tem “opiniões fortes” sobre o que é necessário para estabelecer uma colaboração entre a comunidade e as empresas, e esse tipo de contrato tem uma função importante. Cada lado tem objetivos e restrições diferentes, que precisam ser respeitados por todos os participantes para que todos possam trabalhar juntos.

Quando todos os lados têm seus objetivos e restrições alinhados, eles podem trabalhar juntos facilmente, mas segundo ele, isso está mais para trabalho em equipe do que para colaboração. As restrições ideológicas erguem barreiras, e a liberdade não é o único padrão de produção de software das empresas. Existem “opções de segunda classe em várias áreas do software livre”, ele explicou, e para que isso mude, é importante trabalhar junto às empresas. Shuttleworth observou que o Android e o iOS criaram rapidamente grandes quantidades de software bastante útil diante do monopólio da Microsoft.

A partir de “hoje”, Shuttleworth vai começar a trabalhar na defesa dos contratos de colaboração. Vai ser difícil, mas ele está disposto a encarar esse desafio, dada a sua importância. Ele comentou que em um momento específico a Canonical trabalhou em software criado pela Novell, que “trabalhou duro em muitas coisas das quais nós nos beneficiamos”, e que a Canonical também “se orgulha do trabalho que fez”. A princípio ele se recusou a assinar um contrato de colaboração com a Novell envolvendo esse código, mas como não conseguiu dormir naquela noite acabou voltando atrás pela manhã, porque se deu conta de que não estava sendo “generoso”.

Ser o dono de um projeto traz responsabilidades, e os colaboradores devem estar dispostos a abrir mão de alguns direitos em relação ao seu código se não assumirem essas responsabilidades, disse ele. Se uma pessoa lhe dá uma planta para colocar no jardim da sua casa, mas pede a você que não venda a casa, é claro que você não vai aceitar. “Não seria generoso da parte dela”. Ele reconhece que convencer a comunidade da importância do contrato de colaboração vai ser uma árdua batalha, e que “a desvantagem é toda minha”, já que esses contratos não são populares entre a comunidade.

Oneiric

Após uma breve mensagem de despedida do CTO do Ubuntu, Matt Zimmerman, Shuttleworth observou que o novo ciclo de desenvolvimento começou com um desafio: aprender a pronúncia de “oneiric” (que significa uma atmosfera de sonho). Com a ajuda de alguns membros da comunidade que são bons no improviso, teve início uma chuva de trocadilhos em inglês com o nome “Rick” (Spencer, diretor de engenharia do Ubuntu) e a palavra “oneiric”, até que Shuttleworth escolhesse seu favorito (“o-near-rick”), mas vários outros trocadilhos surgiram ao longo do evento.

Há “centenas de decisões sendo tomadas” durante a semana do UDS, ele disse. Embora não haja mais grandes mudanças como o Unity neste ciclo, ainda há muita coisa a ser decidida. Uma dela elas dizia respeito á plataforma padrão de nuvem a ser usada: Eucalyptus ou OpenStack? E essa decisão tinha que ser tomada no primeiro dia. O OpenStack venceu, mas haverá suporte ao Eucalyptus.

Outras mudanças devem estar a caminho, como a provável mudança para o Thunderbird como cliente de email padrão e a possibilidade de trocar o Firefox pelo Chrome como navegador padrão. Outras decisões menos visíveis também foram tomadas. Depois do UDS, chegou o momento de “cuidar de tudo” para que todas essas decisões e todos esses planos sejam reunidos no Oneiric Ocelot.

Créditos a Jake Edge lwn.net

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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