Trisquel GNU/Linux – a free distribution
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Eu raramente invisto meu tempo em distribuições Linux aprovadas pelo GNU. Tenho dois motivos para isso; primeiro, a maioria dessas distribuições 100% software livre é baseada em outras distribuições, só que sem as partes mais polêmicas. Não tenho interesse em experimentar o novo Ubuntu e depois partir para uma versão reduzida dele. O mesmo vale para o Fedora, que já chega o mais perto possível de uma distro formada exclusivamente por software livre sem retirar firmware do kernel. É por isso que, embora aprecie a ideologia, eu acho que criar um Ubuntu e um Fedora ainda mais livres é meio como comparar pipoca doce simples à mesma pipoca com leite condensado.
O Trisquel GNU/Linux, no entanto, se destaca em meio ao rebanho do GNU. O site da distro é atraente e de fácil navegação, contando com manual do usuário (que cresce cada vez mais) e com um pequeno fórum de suporte. O site está disponível em cinco idiomas (inglês, francês, alemão, espanhol e galego). Há várias opções de download: versões de 32 e 64 bits da edição padrão com o GNOME, uma versão com o LXDE e uma imagem de instalação via rede. O site também menciona as edições “Pro” e “Educational”, além do DVD com o código fonte do projeto, em sintonia com a ideia de uma distro aberta. Para fazer meus testes, baixei a edição padrão de 32 bits, o live CD com o GNOME.
Navegação pelo site do projeto
O Trisquel tem raízes no Ubuntu, e isso fica bem claro logo de saída. O menu de inicialização, que permite abrir o ambiente live, o instalador gráfico ou o instalador de texto, tem o mesmo layout básico e os mesmos menus. O ambiente gráfico é o GNOME 2.30, com um papel de parede de arco-íris. O menu de aplicativos e o alternador de tarefas estão posicionados na parte de baixo da tela, e há ícones no desktop para navegação pelo sistema de arquivos e para abrir o instalador. O menu de aplicativos é bem organizado, com categorias e nomes de programas bastante claros. Os menus têm texto branco de alto contraste sobre um fundo cor de carvão, em uma combinação muito agradável.
Para todos os efeitos, o instalador é o mesmo do Ubuntu. Depois o usuário escolhe o idioma, confirma o fuso horário e seleciona um layout de teclado. A criação de partições é fácil, e o instalador dá suporte à maioria dos formatos de sistemas de arquivos Linux, incluindo a família ext, JFS, XFS e ReiserFS. O usuário cria uma conta, define a senha e, se quiser, escolhe onde o gerenciador de inicialização vai ser instalado. Tudo isso correu sem problemas. Minha única reclamação é que o instalador insiste em obter informações via rede. A hora atual é baixada da internet, e o instalador também tenta baixar arquivos sem pedir permissão. Talvez isso aconteça para garantir que tudo esteja atualizado logo na primeira inicialização, mas eu não gosto quando o instalador para sua atividade para baixar itens sem que eu autorize.
O centro de controle do Trisquel GNU/Linux 4.0
O Trisquel já vem com a habitual seleção de aplicativos instalada. Temos o Firefox (3.6.9), um cliente BitTorrent, cliente de mensagens instantâneas, OpenOffice.org, Evolution, GIMP, uma ferramenta para webcams e alguns jogos. Também estão presentes um player de áudio, um player de vídeo e o Pitivi (editor de vídeo), além de gravador de CDs, editor de texto e calculadora. Como o desktop é o GNOME, lá está a coleção completa de utilitários para modificar as configurações, gerenciar impressoras e criar contas de usuário. O Trisquel oferece suporte à maioria dos codecs multimídia mais comuns logo de cara, incluindo vídeo e arquivos MP3. Como o projeto tem um compromisso com o software livre, a distro não oferece o plugin do Flash, da Adobe. Em seu lugar temos um Flash player alternativo, o Gnash, que funciona em alguns sites mas não em outros. Vai meio que na sorte, mas funciona bem o suficiente para fazer as vezes do Flash player oficial. Uma coisa que me surpreendeu foi o servidor OpenSSH vir rodando por padrão “nos bastidores”, já que a distro me dá a impressão de ser direcionada a novatos que provavelmente não vão usar ferramentas de linha de comando remotas.
Há dois gerenciadores gráficos de pacotes: um se chama Adicionar/Remover Aplicativos, e o outro é o familiar Synaptic. Um utilitário gerenciador de atualizações mantém o sistema atualizado regularmente. O gerenciamento de pacotes via Synaptic não traz nada de novo, funcionando como de costume, mas fica em segundo plano no Trisquel. O grosso do gerenciamento de software fica por conta do Adicionar/Remover Aplicativos. Seu layout é simplificado, com as categorias no lado esquerdo da janela. Uma lista de pacotes com a avaliação de cada um é exibida no lado direito. Na parte de baixo da janela, uma descrição dos pacotes selecionados. É fácil instalar um programa, bastando clicar na caixa de seleção e no botão para aplicar a ação. O que não parece funcionar muito bem é a parte de remoção de software. Na maioria das vezes, o gerenciador removia os programas que eu tinha instalado manualmente, mas não os pacotes pré-instalados na distro. Talvez seja um conflito com metapacotes que definam o que deve ser incluído no sistema no momento da instalação. Quando se vê confuso com esses conflitos, o gerenciador recomenda o uso do Synaptic para a remoção do pacote problemático. Como eu já disse, o Trisquel é desenvolvido tendo o Ubuntu como base, mas o projeto tem seus próprios repositórios, livres de componentes proprietários
O gerenciamento de pacotes de software
A família Ubuntu de distribuições geralmente lida bem com o meu hardware, e o Trisquel não foi exceção. Tudo funcionou no meu desktop (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA), e a maioria das coisas funcionou no meu laptop HP (CPU dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel). Só tive problemas mesmo com minha placa de rede sem fio Intel. O Ubuntu detecta e usa meu hardware de rede sem fio automaticamente, mas o Trisquel não conseguiu. De qualquer maneira, fiquei feliz em ver que o som funcionava corretamente, que meu desktop havia recebido a resolução apropriada e que meu touchpad operava conforme o esperado. Consegui rodar a distro em uma máquina virtual com apenas 256 MB de memória, porém com desempenho comprometido, mas com 512 MB ou mais o resultado foi muito bom. O Trisquel também oferece integração com o VirtualBox, o que torna a experiência mais agradável.
De modo geral, o Trisquel é um sistema operacional bastante sólido. Ele é bem acabado, conta com um repositório grande, tem um belo layout e o desempenho está bem equilibrado com o lado visual. Apesar de ser baseado na versão mais recente do Ubuntu, o Trisquel 4.0 é uma distro de suporte estendido, oferecendo quase três anos de atualizações de segurança. Só não gostei da falha do Adicionar/Remover Aplicativos na hora de remover programas pré-instalados. Existe uma maneira de contornar o problema, mas supõe-se que um gerenciador de pacotes com um nome desses seja capaz de remover programas.
No início desta análise, eu comentei sobre as duas razões que me afastam de distros 100% livres (conforme a definição da Free Software Foundation). A segunda é que eu acredito que haja um meio-termo entre ser a favor de uma coisa e se opor à outra. Por exemplo, eu sou partidário do código aberto. Se puder escolher entre uma solução de código livre e outra proprietária, prefiro usar a solução de código livre. Mas só porque eu prefiro as soluções livres, isso não quer dizer que eu tenha algo contra os programas, os desenvolvedores e os usuários de programas de código fechado. Algumas distribuições totalmente livres me parecem mais antiproprietárias do que favoráveis ao software livre. O site do projeto BLAG afirma que a distro está trabalhando para “acabar com o controle corporativo sobre as informações e a tecnologia”. O site dyne:bolic afirma que seu software “é mais um passo rumo à redenção e à libertação do software proprietário, de código fechado e devorador de recursos”. Francamente, acho bem mais importante promover o código aberto e usá-lo sempre que possível do que começar uma revolução para destronar alguém.
Estou puxando esse assunto porque, para mim, o Trisquel parece mais focado em promover a tecnologia livre e de código aberto, e em mostrar às pessoas o que pode ser feito com ela, do que em atacar o software proprietário. O projeto é como uma vitrine das realizações do software livre, e não um protesto contra coisa alguma, e isso me agrada. A equipe do Trisquel montou uma distribuição sólida, que consegue oferecer uma boa plataforma de trabalho sem remover muita funcionalidade.
Créditos a Jesse Smith – distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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