Vazamento de informações nos últimos tempos pode ser associado a um gráfico onde os números e impacto associados estão em um crescimento exponencial. Colocando numa “trinca de acontecimentos ligados a documentos vazados em ordem cronológica, podemos elencar 2010, 2013 e 2016 como os três anos inesquecíveis para esse aspecto. Em 2010 o ativista Julian Assange e todos os colaboradores ideológicos do WikiLeaks espalhados pelo mundo foram os responsáveis por publicar mais de 250 mil documentos confidenciais do governo americano. Em 2013 o mundo foi novamente pego de surpresa, principalmente os que duvidavam do assunto vigilância global, já que Edward Snowden, por intermédio dos jornalistas Gleen Greenward e Laura Poitras, do The Guardian, juntamente com outros jornais do mundo inteiro revelaram uma enxurrada de documentos( o último levantamento aponta que Snowden teve acesso a mais de 900.00 arquivos do Departamento de Defesa dos EUA) que mostravam as iniciativas de agências como a NSA em relação a interceptação e a reunião de dados do mundo inteiro – INCLUSIVE COM A COLABORAÇÃO DE VÁRIAS EMPRESAS.
E como a parábola desse gráfico em relação ao vazamento de informações é crescente, chegamos em 2016, com o The Panama Papers, que devido a sua extrema importância global, com certeza será retratado nos mais variados livros, documentários e filmes ao melhor estilo do Spotligh: segredos revelados, vencedor do Óscar em 2016, e que conta um grande capítulo na história do jornalismo investigativo.
Antes de entrarmos nos meandros do que o The Panama Papers se trata, vamos aos números, que são extremamente expressivos: 11,5 milhões de documentos vazados, equivalente a cerca de 2.6 TB de dados. Pronto, com os números devidamente apresentados, vamos ao enredo desse novo grande capítulo na história do jornalismo.
O que é o The Panama Papers?
The Panama Papers é o maior vazamento de dados, tanto em termos de números como de importância, da história, o trabalho que envolve um ano de trabalho árduo do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ =International Consortium of Investigative Journalists), o jornal alemão Süddeutsche Zeitung e mais um batalhão de organizações ligadas à mídia. No Brasil está sendo encabeçado pelo Estadão, UOL e a RedeTV.
Qual o enredo dos documentos vazados?
A investigação revela um grande esquema global que envolve líderes políticos, celebridades, atletas e organizações, juntamente com com um escritório de advocacia do Panamá, a Mossack Fonseca, que é a quarta maior fornecedora de serviços offshore do mundo, tendo em seu plantel mais de 300 empresas contratadas.
E é justamente em relação as offshore, contas bancárias e empresas abertas em paraíso fiscais, que a polêmica gira, já que escancara o grande número de contas criadas em paraísos fiscais para proteger as fortunas e dar aquela forcinha nos impostos dos ligados ao vazamento. Os dados mostram que bancos e escritórios de advocacia simplesmente protegem os seus clientes, escondendo transações nessas contas. Vale lembrar que é permitido ter uma conta em paraísos fiscais, o que esá sendo tratado é justamente como todo esse esquema é tratado e como os envolvidos se beneficiam através de meios ilegais para esconder dinheiro de forma ilícita. A Mossack Fonseca em 1977 e 2015 foi a responsável por abrir e fechar cerca de 214 mil empresas offshore em mais de 200 países diferentes.
O esquema vai muito além e deixa bem claro que os bancos (mais de 500 bancos trabalham com a Mossack) são os principais responsáveis por criar empresas que ficam muito longe do radar, isso sem falar nas mais de 15.000 empresas que existem somente no papel, mas que não têm nenhum tipo de atividade. Obviamente que ainda não é possível saber se todos os nomes citados no esquema tenham realmente criado empresas para atos indevidos. Porém a Moassack dentre os seus clientes estão chefes do tráfico, sonegadores de impostos e inclusive um empresário norte-americano condenado por crimes sexuais. O que significa que esse esquema de lavagem de dinheiro global é o responsável por financiar diversas máfias e esquemas.
Quais são os principais suspeitos apontados nos documentos?
Embora o ICJI deixe bem claro que a comprovação do envolvimento demandará um grande trabalho da justiça, o que não falta são nomes de peso envolvidos no esquema, indo de políticos a celebridades. Confira abaixo alguns dos principais clientes da Mossack:
Pessoas próximas a Vladimir Putin – presidente da Rússia:
Embora não esteja com o seu nome citado diretamente nos documentos, o violoncelista e amigo pessoal de Puttin há 40 anos, Sergei Roldugin, estariam escondendo US$ 2 bilhões dinheiro em bancos estatais russos em em paraíso fiscais. Parte desse montante foi direcionado a um resort que a filha do presidente russo se casou em 2013.
Dmítri Peskov, porta-voz de Puttin, ressaltou que o nome do presidente não é mencionado nenhuma vez sequer nos documentos, e ainda disse que ao que parece o real objetivo é desmantelar o presidente.
Sigmundur David Gunnlaugsson -primeiro-ministro islandês:
Gunnlaugsoon e sua mulher Sigurlaug Pálsdóttir, eram donos de offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, com ceca de US$ 4 bilhões nos três principais bancos islandeses. A repercussão da reportagem está sendo tão grande houve protestos em frente ao parlamento de Reykjavík, capital da Inslândia, exigindo a renúncia de Gunnlaugsson. O ministro disse que cumprirá o mandato até o final (2017) e ainda disse que não utilizou a companhia citada para evitar o pagamento de impostos.
Mauricio Macri – presidente da Argentina:
Quando ainda era prefeito de Buenos Aires, Macri não declarou envolvimento com a empresa Fleg Trading Ltda, porém em suas declarações de imposto de renda de 2007 e 2008 não consta nenhuma ligação com a empresa. Macri ainda não explicou a origem e procedência de valores na conta bancária Merrill Lynch nos EUA.
Ian Cameron- pai do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron:
Ian Cameron, falecido pai de David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, usou os serviços da Mussack para “proteger” a empresa Blairmore Holdings Inc, da Receita Federal britânica.
Outros nomes mencionados:
- Bidzina Ivanishvili – ex-primeiro-ministro da Georgia
- Aya H. Allawi – ex-primeiro-ministro do Iraque
- Ali Abu-Ragheb – ex-primeiro-ministro da Jordânia
- Hamad Jassin J.M. Al Thani – ex-primeiro-ministro do Catar
- Sheik Hamad Bin Khalifa Bin Hamad Al Thani – emir do Catar
- H.R,H Prince Salman – rei da Arábia Sudita
- Ahmad al-Nirghani – ex-presidente do Sudão
- Sheikh Khalifa Bin Zayed Bin Sultan al Nahyan – presidente dos Emirados Árabes Unidos
- Pavlo Lazarenko – ex-primeiro-ministro da Ucrânia
- Petro Poroshenko – presidente da Ucrânia
- Lionel Messi – atleta
- Jackie Chan – ator chinês
- Franco Dragone – diretor de teatro
- Pedro Almodóvar – cineasta espanhol
Tem brasileiros na jogada?
Em meio a todo o processo da operação Lava Jato, alcançando voos cada vez mais altos seria praticamente impossível que brasileiros não estivessem na lista dos possíveis privilegiados dessa lavagem de dinheiro global. Inclusive a Mossack Fonseca já estava sendo observada pela operação brasileira desde janeiro de 2016, já que a firma teria ajudado a ocultar o nome dos verdadeiros proprietários de um triplex no Guarujá, em São Paulo.
Até o momento (já que o The Panama Pappers irá perdurar ainda por muito tempo, em relação as revelações) 26 brasileiros foram creditados como envolvidos no esquema, A investigação aponta que ao menos 107 empresas offshores foram abertas para pelo menos 57 brasileiros envolvidos na fraude da Petrobras. As offshores criadas estão ligadas as seguintes companhias empreiteiraOdebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer e a Walter Faria.
Dentre os 26 nomes divulgados aparece inclusive Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Confira abaixo a lista completa:
- Ângelo Marcus de Lima Cota – diretor financeiro da empreiteira Mendes Júnior
- Carlos de Queiroz Galvão – sócio da construtora Queiroz Galvão
- Carlos Eduardo Schahin – Empresário e ex-diretor do Banco Schahin
- Delfim Netto – Economista e ex-ministro da fazenda
- Edison Lobão – Senador do PMDB-MA
- Eduardo Cunha – Presidente da Câmara dos Deputados – PMDB-RJ
- Etivaldo Vadão Gomes – ex-deputador federal do PP
- Família Feffer – responsável por controlar o grupo Suzano
- Gabriel Nascimento de Lacerda – Filho do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda – PSB
- Jefferson Eustáquio – Superintendente da empreiteira Mendes Júnior
- Jésus Murilo Vale Mendes – Presidente da empreiteira Mendes Júnior
- João Augusto Rezende Henriques – Empresário
- João Lyra – Ex-deputado do PSD-AL
- José Augusto Ferreira dos Santos – Ex-banqueiro e amigo do Senador Edison Lobão
- Luciano Lobão – Filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA)
- Luiz Eduardo da Rocha Soares – Ex-executivo da Odebrecht
- Milton de Oliveira Lyra Filho – Empresário
- Newton Cardoso – Ex-governador de MG do PMDB-MG
- Newton Cardoso Jr – Deputado Federal – PMDB-RJ
- Olívio Rodrigues Júnior – Sócio da empresa JR Graco Assessoria e Consultoria Financeira
- Saul Sabbá – Diretor Presidente do Banco Máxima
- Sérgio Guerra – Ex-senador e ex-presidente nacional do PSDB – PSDB
The Panama Papers em números:
- 11,5 milhões de documentos vazados, equivalente a 2.6 TB em dados
- 214.488 empresas mencionadas nos documentos
- 29 integrantes da lista de bilionários da Forbes são citados
- 140 políticos de 50 páises são citados
- 15.600 empresas de fachada são mencionados nos documentos
- 376 jornalistas em 76 países analisaram os dados
- Mias de 100 veículos de comunicação em 76 países estão ajudando nas investigações
- Ao menos 57 brasileiros abriram 107 empresas offshore em paraísos fiscais por intermédio da Mossack Fonseca
- Mais de 500 bancos ou surcussais trabalharam com a Mossack Fonseca
- A Mossack Fonseca é a quarta maior fornecedora de serviços offshore do mundo e já foi contratada por mais de 300 mil empresas
The Panama Papers irá render muito ainda, já que os envolvidos assim como as grandes investigações desse porte irão revelando diariamente novas informações, porém até o momento essa investigação já cravou o seu lugar no hall dos melhores trabalhos jornalísticos já realizados até então, revelando os diversos meios que personalidades e empresas utilizam para mascarar um mundaréu de atos ilícitos. O próximo grande passo que será tomado são as investigações para que os diversos nomes citados para que seja comprovado ou não a ligação com essa imensa lavagem de dinheiro. No Brasil essa investigação coloca ainda mais lenha na fogueira na operação Lava Jato, vamos aguardar os próximos capítulos..
Fonte(s): UOL, Estadão, RedeTV, ICIJ
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