Breve análise do SliTaz GNU/Linux

Breve análise do SliTaz GNU/Linux

Examining SliTaz GNU/Linux
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Quando me sugeriram que analisasse o SliTaz GNU/Linux, não reagi com muita empolgação: o SliTaz, aquele com o ícone da aranha? Parecia que eu estava me enfiando em um filme de terror, ou que ia experimentar algo feito por um desenvolvedor que tinha excedido a cota de leitura de gibis da Marvel. Acabei dando uma olhada no site do projeto para conferir o que o projeto tinha a oferecer, e tive uma grata surpresa. A proposta do projeto de encaixar um desktop moderno em uma imagem de 30 MB já era uma coisa impressionante, assim como o visual profissional e amigável, fácil de navegar, e a ampla variedade de idiomas suportados (seis). Mas o que me surpreendeu ainda mais foi a forma de comunicação clara apresentada. As mensagens do site do SliTaz vêm sem enrolação e sem complicação. São informações claras e diretas, explicando a ideia do projeto em um nível que pode ser compreendido tanto por novatos no Linux quanto pelos usuários hardcore.

O projeto oferece várias versões da distribuição, incluindo um live CD rotulado como “Stable” (estável), que tem por volta dos 30 MB. Há um snapshot de desenvolvimento chamado de “Cooking”, que também é um live CD de 30 MB. E os desenvolvedores do SliTaz ainda oferecem um método para a criação de um CD personalizado. Para fazer meu test-drive da distribuição, baixei a versão “Cooking” mais recente (20091104) e gravei em um CD.

Minhas máquinas de testes incluem um desktop genérico, com CPU de 2,5 GHz e 2 GB de RAM, e meu laptop LG, com CPU de 1,5 GHz e 2 GB de RAM. Para ver como essa microdistribuição rodaria com recursos mais limitados, criei uma máquina virtual e variei a quantidade de memória entre 64 MB e 512 MB.

Primeira inicialização e programas incluídos

O live CD do SliTaz começa abrindo um menu tradicional de inicialização, e se você não escolher opção alguma ele inicia a imagem live. Antes de chegar ao desktop, o usuário deve responder qual é o seu idioma preferido, seu layout de teclado e a resolução da tela. Poucos segundos depois, o desktop é exibido. O ícone da aranha negra fica no meio de um desktop vermelho, lembrando o uniforme de um certo super-herói. No canto superior esquerdo, há três ícones para acessar o diretório home do usuário, um lançador de aplicativos para o editor de textos e um ícone que abre a documentação. O ícone da documentação abre uma página web local, com links para outros documentos no site do projeto. Esses documentos mantêm o estilo útil e direto ao ponto que eu já mencionei. O desktop também apresenta o menu de aplicativos e atalhos para um navegador de arquivos, um terminal virtual e um Firefox 3.5 com um novo logotipo. No canto inferior direito, há controles para ajustar o volume e gerenciar conexões de rede. Há um indicador de uso de CPU, um ícone do gerenciador de pacotes e o habitual relógio.

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Apesar do tamanho reduzido, o SliTaz GNU/Linux inclui quase 200 pacotes de software.

A coleção de software do menu de aplicativos é um verdadeiro tesouro, e fiquei positivamente surpreso em ver tantos aplicativos espremidos em uma imagem de 30 MB – são exatamente 190 pacotes no total. O menu de aplicativos contém várias categorias, incluindo uma seção de documentação, com links para vários arquivos de ajuda. Há também o grupo de gráficos, pelo qual o usuário pode tirar fotos da tela, exibir imagens e realizar uma edição simples de imagens. A seção de multimídia não traz nenhum player de vídeos, mas tem um player de áudio e uma ferramenta para ripar CDs. A seção de escritório é leve, com um aplicativo para anotações e links para sites de terceiros. A categoria de preferências tem aplicativos que alteram o visual do sistema e a senha do usuário.

Há ainda o submenu de utilitários, com aplicativo para gravar CDs e DVDs, calculadora, programa para procurar arquivos, outro para compactação e um console virtual. Por último, mas não menos importante, a seção de ferramentas do sistema. Aqui temos aplicativos para configurar a conexão de rede, para a detecção de hardware e links para o gerenciador de pacotes e o instalador do sistema. Além disso, o grupo de ferramentas também oferece o GParted, para lidar com as partições dos discos; um programa útil chamado System Information e a ferramenta de configuração central, chamada de Control Box. O aplicativo System Information parece especialmente bem acabado, e proporciona uma maneira rápida para descobrir informações sobre o hardware do sistema e os dispositivos anexados. O Control Box é uma maneira fácil de alterar a maioria das configurações do SliTaz. Ele não tem visual agradável, e leva um tempo para você se acostumar com a organização dele, mas trata-se de uma ferramenta poderosa e que dá conta do serviço. Consegui gerenciar a configuração de inicialização, criar contas de usuário e ajustar configurações de rede através dessa central de configurações.

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O SliTaz GNU/Linux oferece vários aplicativos populares para a web.

Instalação do sistema e suporte a hardware

Depois de brincar um pouco com o live CD do SliTaz, decidi instalá-lo no meu disco rígido local. O instalador começa perguntando se o usuário gostaria de fazer uma instalação nova ou atualizar para uma versão mais nova. Como era a primeira vez em que eu usava o SliTaz, fiz uma instalação limpa. O instalador exige que o disco já esteja particionado. Felizmente, o sistema operacional já vem com o GParted. Embora o processo de criação e ajuste de partições com ele ainda seja uma tarefa manual, o programa é fácil de usar. Depois de escolhida uma partição, o instalador se oferece para formatá-la. Depois disso, o usuário será solicitado a dar um nome à máquina, para que em seguida o instalador copie os pacotes necessários para a unidade local. A última etapa do processo consiste em decidir se o gerenciador de inicialização GRUB será instalado. Por fim, o instalador se oferecerá para reiniciar a máquina. Eu gostaria de destacar que o instalador não redefine a senha de root, nem cria uma senha para a conta de usuário comum. Essas funções podem ser realizadas após a instalação, se o usuário quiser.

Embora o SliTaz seja desenvolvido para computadores com hardware de baixo desempenho, o kernel do Linux que o acompanha é moderno. Isso significa que o SliTaz tem um nível de suporte a hardware semelhante ao de outras distribuições maiores. E de modo geral, o meu hardware foi muito bem gerenciado. Tanto no desktop quanto no laptop, a conexão de rede foi detectada e habilitada. A placa de rede wireless do meu laptop Intel foi detectada e usada sem a necessidade de qualquer configuração manual. O som funcionou nos dois computadores automaticamente, embora no laptop o volume estivesse bem baixo por padrão. Eu uso um modem Novatel USB de internet móvel no meu laptop; ele foi reconhecido, mas não habilitado. Não parece haver uma maneira de fazer o modem funcionar pelo Control Box, mas um usuário determinado pode fazê-lo pela linha de comando.

Ao conectar um dispositivo USB, como um pendrive ou uma câmera, o dispositivo aparece no gerenciador de arquivos. Basta clicar no dispositivo para que ele seja montado. Também fiquei feliz em ver que o SliTaz vem com suporte a NTFS, o que significa que pode ser usado para resgatar discos de partições Windows. A minha única preocupação com o hardware dizia respeito à minha placa de vídeo. Na primeira inicialização, o SliTaz pede ao usuário que escolha a resolução da tela. A ideia é boa, só que a lista de resoluções disponíveis inclui configurações não suportadas. Alguns usuários podem escolher a resolução mais alta, que é a configuração padrão, e ficar sem entender por que a tela ficou preta. Notei que, de modo geral, o SliTaz usa entre 80 MB e 120 MB de memória, dependendo da tarefa que estiver sendo executada. Como o instalador não cria uma partição de swap, isso significa que os usuários precisam de pelo menos 128 MB de RAM em seus computadores para rodar o SliTaz.

Gerenciamento de pacotes e segurança

O gerenciador de pacotes do SliTaz é interessante, e exclusivo da distribuição. Há dois front-ends para o gerenciamento de pacotes: um é baseado na linha de comando, e o outro é uma ótima interface gráfica. A interface de linha de comando se chama tazpkg, e funciona de maneira semelhante ao apt-get ou ao yum em outras distribuições. O tazpkg vem com uma vasta gama de opções para o download, a instalação, a listagem, a busca e a remoção de software. Ele também tem recursos curiosos, como a exibição de uma lista de bugs conhecidos nos pacotes disponíveis e uma árvore de dependências. A interface gráfica do gerenciador de pacotes tem a mesma funcionalidade básica, mas com uma interface simples movida a cliques. Os pacotes podem ser listados segundo o critério de estarem ou não instalados. Adicionar e remover pacotes é fácil, basta clicar no item e confirmar a ação desejada. A ferramenta gráfica funciona bem e não tive problemas com ela.

Seja qual for a interface usada, as ferramentas são ágeis e poderosas, resolvendo dependências e pedindo confirmação antes de realizar alterações permanentes no sistema. Um ponto negativo é que o SliTaz oferece em torno de 2.000 pacotes de software. O número é bom para uma minidistribuição, mas nem se compara à oferta de pacotes dos projetos maiores. Portanto, embora você provavelmente vá encontrar programas populares, como o AbiWord, o Apache, clientes de mensagens instantâneas ou os compiladores GNU, outros programas menos populares dificilmente estarão disponíveis. A princípio, pensei que não havia pacotes para o KDE e o OpenOffice.org. Mas ao procurar por “office” achei um programa chamado get-OpenOfffice3, que tenta instalar o pacote de escritório. O programa faz a gentileza de avisar que o processo de instalação vai demorar um pouco. Quem quiser conferir quais programas estão disponíveis no SliTaz antes de baixar a distribuição pode conferir esta útil página da web que permite ao usuário procurar por software pelo nome ou pela categoria.

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Gerenciamento de pacotes e configuração do desktop no SliTaz GNU/Linux

A segurança da distribuição tem seus altos e baixos, e tenho a impressão de que o SliTaz foi feito mais para ser usado como live CD do que como sistema operacional instalado. O instalador mantém a senha de root como o padrão, “root”, e a conta de usuário comum, “tux”, não tem senha. Dá para configurar as senhas após a instalação, através do gerenciador de usuários ou pela linha de comando, mas me parece que isso deveria ser resolvido, ou ao menos mencionado, durante a instalação. A leitura dos diretórios home dos usuários vem liberada para outros usuários do sistema, o que me parece um certo desleixo. Por outro lado, não há serviços de rede em execução por padrão. Pelo que vi até agora, os pacotes de software do projeto são atualizados regularmente, e a instalação dos pacotes novos é um processo trivial.

Conclusões

No tempo em que passei usando o SliTaz, tive a chance de trocar emails com um de seus desenvolvedores, Christophe Lincoln, e ele tinha algumas coisas interessantes a dizer sobre o projeto. Ele mencionou que o SliTaz está entrando em estágio de freeze, e que a equipe de desenvolvimento vai fazer testes e corrigir bugs até o lançamento da próxima versão, em março. Christophe também comentou que o SliTaz está sendo usado em algumas organizações, e que o projeto vem recebendo muitas opiniões úteis. Pelo que vi até agora, acho que vai valer a pena experimentar a próxima versão. Ela já é estável, e eu não encontrei nenhum bug de parar o trânsito.

Há uma diferença entre o que um sistema realmente é e a sensação que ele transmite, e essa diferença é notável no SliTaz. Enquanto fazia meus testes, eu ficava buscando na minha memória por outros sistemas operacionais parecidos para poder fazer uma comparação. Veja, por exemplo, o tamanho incrivelmente pequeno (30 MB) da imagem do SliTaz. O SliTaz é ainda menor do que a última versão do DSL. Mas tirando a velocidade inacreditável, os dois sistemas são bem diferentes. Embora o DSL traga aplicativos úteis, ele não conta com o visual suave e moderno do SliTaz. O usuário pode criar sua própria versão da distribuição, abrindo espaço para personalizações maiores. Há até uma versão do SliTaz que roda com menos de 64 MB de RAM. Nesse sentido, a distro me lembra o Puppy. E mais uma vez, as semelhanças terminam aí.

Parece que o SliTaz é mesmo uma criação única. Isso não quer dizer que ele seja esquisito, ou que seus controles sejam estranhos; eu peguei a distro e saí usando sem problemas e sem ter que reaprender nada. Mas não é mais do mesmo; o SliTaz não está seguindo os passos de outras distros. Embora seja voltado para máquinas mais antigas, ele também serve como ferramenta de recuperação de sistemas, ou como um live CD para viagens. É um sistema operacional flexível, com personalidade suficiente para não sumir na multidão. Quem experimentar esta distro, seja para dar vida nova a um PC velho ou por mera curiosidade, vai ter uma baita surpresa.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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