Experimentando o sidux

Experimentando o sidux

Trying on sidux

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

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O sidux já estava na minha lista de distribuições a serem analisadas faz tempo. É um projeto pequeno, que se esforça audaciosamente para transformar o repositório do Debian Unstable em um sistema operacional funcional para o dia a dia. Antes de experimentar esta ambiciosa distro, tive a chance de conversar com dois dos desenvolvedores do projeto, Ferdinand Thommes e Chris Hildebrandt.

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DW: “sidux” é sempre com “s” minúsculo mesmo?

FT: Sim, é sempre com “s” minúsculo. A maioria das revistas ignora a marca comercial e segue sua rotina de sempre começar os nomes das distribuições e as frases com letra maiúscula. Eu já desisti de lutar contra isso.

DW: O sidux é baseado no repositório “sid” do Debian. O que vocês acrescentaram e modificaram para criar o sidux?

CH: Do ponto de vista técnico, as mudanças mais importantes são o nosso sistema de montagem de versões e ISOs (o pyfll), nosso instalador e nossos kernels. Os kernels do sidux não se baseiam no kernel do Debian, mas sim em kernels vanilla com uma extensa lista de patches para proporcionar suporte a hardware mais recente e estabilidade. Desenvolvemos e oferecemos várias ferramentas e aplicativos próprios, como o Ceni – nosso substituto ao NetworkManager. E obviamente, incluímos arte e documentação (manuais) próprias.

FT: Como o Debian “unstable” não é lançado pelo projeto Debian, para começar nós precisávamos de um instalador. Ele é gráfico, fácil de usar e básico. A instalação de um sistema plenamente utilizável é rápida, geralmente levando entre dois e dez minutos, de acordo com o hardware. Também oferecemos uma ferramenta agradável e fácil de usar para configurar a LAN e redes sem fio: o “ceni” (configure e/n/i). Trabalhamos muito nos scripts de inicialização para que o sidux respondesse bem como responde hoje. Nosso kernel mais recente (que agora é o 2.6.33.1-10) fecha a conta. Tirando isso e a arte da nova versão, é quase tudo Debian puro. Usamos os pacotes do Debian “unstable” como os encontramos, a não ser que algum pacote importante esteja quebrado. Nesse caso, oferecemos um pacote corrigido no repositório do sidux até que o Debian o faça (o patch é enviado para o Debian, obviamente). Se fosse para chutar, eu diria que o sidux é 98% de puro Debian.

DW: Qual é o seu público-alvo? Os que gostam de tecnologia de ponta, os que têm hardware antigo, os desenvolvedores?

FT: Basicamente, o sidux não é focado em ninguém, mas como se baseia no Debian “unstable”, os usuários potenciais precisam ter tempo e disposição para mergulhar mais a fundo no funcionamento do Linux/Debian. Isso vai garantir uma boa experiência de “rolling release” ao mesmo tempo em que o usuário aprende um pouco sobre o funcionamento interno do sistema. Isso é algo positivo se você levar em conta que hoje em dia todo mundo tem dados confidenciais em seus HDs, e que muita gente compartilha esses dados com o mundo sem saber, por ignorar as questões de segurança relacionadas ao mundo da computação moderna. Nem todos os usuários querem aprender sobre seus sistemas, ou têm tempo para isso. Esse tipo de usuário geralmente desanima de usar o sidux após alguns dias, mas os novatos de verdade o adotam facilmente, pois os meios de suporte que oferecemos os ajudam a superar eventuais obstáculos.

Estamos muito focados em hardware recente, usando sempre kernels atuais e oferecendo boa detecção de hardware. O sidux roda bem em hardware antigo com os ambientes de desktop Xfce e LXDE. Informações mais detalhadas podem ser encontradas nas notas de lançamento.

CH: Todas as pessoas que querem usar Linux são bem-vindas no sidux. Parece que nós atraímos principalmente pessoas que precisam de ajuda com hardware recente, que buscam desempenho e versões mais recentes de aplicativos e ferramentas. Nós otimizamos o sidux para hardware moderno, mas ele trabalha bem em hardware antigo também (desde que os requisitos de hardware sejam atendidos). Não é fácil rotular os usuários do sidux: você vai encontrar desenvolvedores e administradores de sistemas, gente que trabalha com música ou artes gráficas, professores, cientistas e também o usuário “comum” de Linux, além de muitos novatos no Linux.

Porém, não nos focamos em que não tenha disposição para ler algumas linhas ou a aprender algo novo, e que queira tudo mastigado.

DW: Como o nome já diz, o repositório “sid” do Debian é instável. Isso não causa problemas para vocês?

FT: Bom, ele não é tão instável quanto possa parecer (já que oferecemos um bom suporte e acompanhamos as novidades do Debian de perto para encontrar eventuais problemas antes que eles atinjam a base de usuários. Encaramos o termo “instável” mais no sentido de algo que está sempre mudando.

CH: Os voluntários que testam o sidux e nossa equipe de desenvolvimento têm bastante trabalho. Nós nos esforçamos para obter correções relatando bugs e enviando patches aos mantenedores responsáveis do Debian e/ou aos encarregados do projeto original. No caso de problemas muito sérios, nós colocamos pacotes temporários corrigidos no nosso repositório. Para os nossos usuários, o resultado quase sempre é um Debian “sid” estável. Quanto aos demais problemas, oferecemos ajuda 24 horas, sete dias na semana por meio dos nossos canais de IRC e pelo nosso fórum. Pessoas que já usaram distribuições “estáveis” antes costumam nos dizer que o sidux é mais estável nos computadores delas do que qualquer outra coisa.

DW: O que o sidux traz para a comunidade Linux que os usuários não encontram em outras distribuições.

CH: Os aplicativos mais recentes, suporte a hardware novo, 100% de compatibilidade com o Debian, acesso direto aos desenvolvedores, suporte gratuito da comunidade com o mais alto nível técnico, uma distro que realmente pertence à comunidade de software livre e de código aberto sem qualquer patrocinador ou empresa tomando as decisões.

FT: O sidux é uma das distros mais rápidas e com tecnologia mais avançada dentre as disponíveis. Mas apesar da tecnologia de ponta, não seguimos a abordagem “precisamos da versão mais recente”, a estabilidade vem em primeiro lugar.

DW: E o trabalho de vocês volta para o Debian?

FT: Durante algum tempo, o Debian teve uma certa dificuldade em nos aceitar (para que serve o sidux?), e a gente teve que se esforçar um pouco para chegar a um acordo. No ano passado a coisa melhorou bastante. Enviamos muitos relatórios de bugs e patches para o Debian, e dividimos estandes nas feiras de Linux. Neste exato momento estou organizando uma versão reduzida da debconf para a conferência LinuxTag deste ano em Berlim. Os pacotes próprios do sidux vão migrar para o Debian sempre que isso fizer sentido.

CH: Nós definitivamente trabalhamos bem próximos aos mantenedores e desenvolvedores do Debian. Na verdade, nosso objetivo principal é o de corrigir pacotes problemáticos para o Debian. Não queremos ser uma cópia do Debian, queremos melhorá-lo.

DW: Vocês querem fazer algum comentário ou deixar uma mensagem para nossos leitores? Há alguma coisa que queiram compartilhar a respeito do sidux ou da comunidade de código aberto?

FT: Há muitas distros por aí, como o DistroWatch nos mostra esplendidamente todos os dias. Vejam o que o sidux tem a oferecer. O sidux é um trabalho de seus desenvolvedores e da comunidade. Ele não daria certo sem a comunidade, que oferece suporte 24 horas, sete dias na semana no fórum e no IRC, traduz o manual para 16 idiomas diferentes (até agora), faz a arte e muitas outras coisas.

CH: O código aberto só é viável e bem-sucedido por causa daqueles que se dispõem a ajudar. Estamos sempre precisando de hackers, mas há trabalho para todo mundo. Você pode prestar suporte, traduzir, criar arte, testar e relatar bugs, gerenciar subprojetos, comunicar-se com os projetos originais de software, representar o sidux em convenções – bem-vindo a bordo!

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sidux 2009-04 – a tela de boas-vindas

O site do sidux é um belo estudo em vermelho, preto e branco. É um layout simples, com um menu no lado esquerdo para navegação. Os visitantes podem ler as notícias mais recentes, visitar o wiki do projeto, navegar pelo fórum e ler o manual da distro. Ela tem três versões:

  • KDE full – com o KDE, um time completo de aplicativos e 16 idiomas

  • KDE lite – também com o desktop KDE, mas com menos pacotes de software

  • Xfce – um desktop Xfce completo

Para os meus testes, escolhi baixar a edição com o Xfce.

O live CD do sidux abre com um menu de inicialização de tema vermelho, que traz uma coleção de menus na parte inferior da tela. Os usuários podem escolher o idioma favorito, o layout do teclado e os argumentos do kernel antes da inicialização. Em seguida, o sidux inicia uma sessão do Xfce e abre uma janela com as notas de versão do sistema. O desktop inclui ícones para navegação no sistema de arquivos, abertura de um cliente IRC e o manual do projeto [N.T.: para ler o manual em português, baixe-o primeiro com o comando sudo apt-get install sidux-manual-pt-br no terminal]. O cliente IRC se conecta automaticamente à sala de bate-papo do projeto, onde é possível obter ajuda e trocar ideias.

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sidux 2009-04 – particionamento de disco

O instalador é uma criação interessante, e merece mais do que uma breve menção. Como a maioria dos instaladores, ele conduz o usuário por uma série de telas que coletam informações sobre o layout do HD, contas de usuário, fuso horário e configuração do gerenciador de inicialização. O que se destaca é que as telas do instalador são dispostas como guias, e o usuário pode avançar e voltar pelas telas do instalador na ordem que quiser. A maior parte do instalador é amigável e direta, mas acho que o fato da janela principal do instalador desaparecer quando as janelas do editor de partições ou do seletor de fuso horário são abertas pode confundir os novatos. Uma coisa de que eu gostei foi que o instalador pergunta ao usuário se ele deseja que o servidor SSH seja ativado após a instalação. Depois que todas as perguntas são respondidas, o instalador copia aproximadamente 1,6 GB de software para o disco rígido; nesse momento, o usuário pode reinicializar o sistema. Até aí tudo tinha corrido bem. Ao menos foi o que eu pensei.

Na primeira vez em que inicializei minha instalação local do sidux, o processo de inicialização foi interrompido precocemente e recebi o aviso de que a partição que hospedava meu diretório root (/) tinha que ser verificada manualmente. Rodei o fsck na partição, reinicializei o computador e não tive mais problemas com isso. A mesma coisa aconteceu no meu outro computador.

O software instalado preenche bem o menu de aplicativos. O sidux (edição com o Xfce) vem com navegador Iceweasel, cliente BitTorrent, GParted, calendário e ferramentas para exibir e digitalizar imagens. O AbiWord e o Gnumeric estão presentes para trabalho de escritório. Também temos player de multimídia, gerenciador de arquivos, calculadora, gravador de CD e a ferramenta de pesquisa de aplicativos do Xfce. Várias ferramentas de configuração permitem alterar a aparência do desktop e gerenciar impressoras e todos os aspectos do sistema. Arquivos MP3 e vídeos em formatos mais comuns rodam de primeira, mas não o Flash. Uma coisa que eu não encontrei no menu de aplicativos foi uma interface gráfica para o gerenciador de pacotes.

O sidux usa a família de programas APT para gerenciar software, e não tive problemas para instalar, remover e atualizar pacotes pela linha de comando. Embora a distribuição tenha seus próprios repositórios, a grande atração é mesmo a coleção de software do Debian. O gerenciador de pacotes oferece mais de 28 mil itens para o usuário escolher. O manual do sidux faz comentários interessantes sobre como manter os pacotes atualizados, sendo leitura essencial para quem ainda não está familiarizado com as ferramentas de gerenciamento de pacotes de linha de comando do Debian e com seu sistema de atualização infinita, ou “rolling releases”.

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sidux 2009-04 – navegando pelos documentos e editando-os

Testei o sidux em um desktop genérico (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA), no meu laptop HP (CPU dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel) e em uma máquina virtual do VirtualBox. Acho que o sidux fez um ótimo trabalho com o hardware do meu desktop – o vídeo, o som e a rede funcionaram como eu esperava. As coisas começaram bem no laptop também, com som, vídeo e touchpad funcionando sem problemas. Infelizmente, o sidux não conseguiu usar minha placa de rede sem fio da Intel, nem o meu modem de internet móvel da Novatel. O desempenho mostrou-se muito bom nos dois computadores, e o sidux funcionou bem até em um ambiente virtual com apenas 256 MB de memória. O sistema operacional entrava em suspensão e voltava dela no laptop, mesmo com o sidux rodando do CD, o que foi um ótimo bônus.

Da segurança do sidux eu não tenho muito do que reclamar. O sistema me pediu que criasse uma senha de root e uma conta de usuário comum na hora da instalação, e não ativa nenhum sistema de rede se o usuário não pedir a ele que faça isso. As contas de usuários comuns são bloqueadas para que outros usuários não possam ler seus arquivos. Curiosamente, a conta de root não está bloqueada. Estando conectado diretamente ao Debian “sid”, o sidux recebe atualizações regulares.

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sidux 2009-04 – gerenciando pacotes de software e minha agenda

Depois de algumas semanas usando o sidux, achei o sistema operacional interessante. Ele traz à mesa uma coleção especial de características, algumas das quais quase parecem contraditórias. Por exemplo, a edição do Xfce tem poucos recursos, algo que é comum acontecer em distribuições focadas em hardware antigo. Mas o sidux não olha para trás, ele olha para a frente, tem tecnologia de ponta, foi feito visando o hardware mais recente. O sistema operacional em si não vai guiando o usuário como o Mandriva e o Ubuntu fazem, mas o sidux tem uma documentação excelente, e pelo que vi até agora, sua comunidade é muito educada e amistosa. A distro se baseia no Debian, mas tem um sabor e uma personalidade próprios. Eu não o recomendaria para novatos no Linux, mas para quem quer ter as últimas novidades em seu sistema sem muita dor de cabeça, o sidux parece uma ótima pedida.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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