Shell and Zeitgeist: the future of GNOME?
Autor original: Bruce Byfield
Publicado originalmente no: lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft
O anúncio dos planos preliminares para o GNOME 3.0 há algumas semanas voltou todos os holofotes para o GNOME Shell e o GNOME Zeitgeist. Pouco conhecidos até então, esses programas agora são vistos como a base de uma nova experiência de usuário no GNOME 3.0. Os dois ainda estão em seus estágios iniciais e foram testados por poucas pessoas, e por isso estão cercados por interrogações.
O que exatamente são esses programas? Que visão é essa que eles têm em comum? E o mais importante: serão eles capazes de atender às expectativas? As respostas para essas perguntas ainda não são definitivas, já que ambos os projetos vêm se desenvolvendo rapidamente e com certeza irão mudar dramaticamente até o lançamento do GNOME 3.0. Mesmo assim, quem procura por respostas preliminares pode obtê-las dedicando um tempinho à compilação dos programas.
O GNOME Shell
No momento, a ideia é que o GNOME Shell substitua o painel, o gerenciador de janelas e o desktop do GNOME. O site do projeto oferece instruções detalhadas para a compilação da versão mais recente do aplicativo. Elas são relativamente fáceis de seguir, embora possa ser necessário adicionar um ~/bin
no caminho dos comandos para concluir a compilação. Também é bom saber que as instruções aparentemente presumem que você esteja usando o Metacity, o gerenciador de janelas padrão do GNOME, já que o programa não funciona com outros.
Depois de compilar, você pode instalar o Xephyr, um servidor X que roda “embutido” no X atual, para rodar o GNOME Shell em uma janela do seu desktop atual. Outra alternativa é substituir temporariamente o Metacity pelo GNOME Shell, seguindo as instruções do site do projeto. Pelos meus testes, usar o Xephyr é mais garantido.
Seja qual for sua opção para rodar o GNOME Shell, as diferenças dele para os GNOMEs da série 2 são percebidas imediatamente. Não apenas o layout, como também a lógica de uso são radicalmente diferentes de qualquer desktop GNOME que você já tenha visto.
No topo há um painel simplificado com o relógio e o usuário à direita e o botão de atividades (“Activities”) à esquerda. O painel não contém applets, menus ou notificações do sistema, e a barra de tarefas fica em um painel separado, na parte inferior da tela.
O botão de Atividades é a chave do GNOME Shell. Como no KDE 4, as “atividades” do GNOME Shell são espaços de trabalhos virtuais, e o termo foi selecionado para indicar como usá-los. Quando você abre o GNOME Shell ele exibe um espaço de trabalho de tela cheia com os aplicativos xeyes, xlogo e xterm. Clique no botão de atividades e o espaço de trabalho encolhe, revelando o desktop completo.
O desktop é tão simples quanto o painel. Na esquerda, há uma lista de aplicativos usados recentemente que pode ser expandida clicando no link “More” (“mais”). Os documentos recentes são organizados de maneira semelhante, logo abaixo. Caso necessário, esses menus se expandem para a direita para acomodar uma nova coluna, com várias páginas.
À direita há miniaturas de bom tamanho dos espaços de trabalho disponíveis. O tamanho dessas miniaturas muda conforme a quantidade delas aumenta ou diminui, ou quando um menu se expande em uma segunda coluna. Ao selecionar um aplicativo ou documento, ele abre em tela cheia. Clique no botão de atividades, e ele voltará a ser uma miniatura na atividade atual, dimensionada e posicionada de forma a não ficar sobre nenhum outro item da atividade. Se quiser usar um desses aplicativos, clique na miniatura dele ou em sua entrada na barra de tarefas para exibi-lo em tela cheia. Em termos práticos, os espaços de trabalho são lançadores de aplicativos, e não lugares nos quais você trabalha.
Como desktop, o GNOME Shell é extremamente econômico em termos de espaço, e muito adequado para proporcionar aos aplicativos o maior espaço possível na tela. Mas se o espaço na tela não for problema para você, o GNOME Shell pode ser tornar irritante rapidamente. Você está sempre clicando para exibir um item e esconder um outro. Não ajuda muito na experiência de usuário o fato de serem necessários movimentos longos e frequentes do mouse até o botão de atividades, mas sem dúvida alguns atalhos de teclado logo resolverão esse problema.
Não há uma maneira simples de se trabalhar com dois itens lado a lado, embora isso possa ser feito pela barra de tarefas, nem de acompanhar a atividade de um aplicativo em execução sem torná-lo ativo, nem de pular para uma atividade em particular com um único clique. Essas limitações podem ser reduzidas ou eliminadas mais tarde, mas por enquanto elas dão ao GNOME Shell a impressão de uma interface voltada para dispositivos móveis, onde recursos desse tipo não são usados com tanta frequência.
O GNOME Shell pode pôr o desktop em uma posição forte no futuro, oferecendo uma interface comum a todas as plataformas em que ele possa ser instalado. Dado o crescimento rápido dos dispositivos móveis, usá-los como base para o design de uma interface talvez seja uma evolução inevitável. O risco é oferecer menos aos usuários de estações de trabalho do que eles precisam, já que suas necessidades computacionais são mais exigentes que as dos usuários móveis.
GNOME Zeitgeist
O GNOME Zeitgeist lembra o Nemo, já que ambos substituem o gerenciador de arquivos comum baseado em uma árvore de diretórios e o desktop por outro baseado em calendários e outros critérios. Os dois parecem presumir que os usuários não vão querer saber onde estão seus arquivos nem procurá-los visualmente, e que só vão querer achar os arquivos quando precisarem deles. O que você vai pensar do GNOME Zeitgeist provavelmente vai depender do quanto você concorda com isso.
Ao contrário do que acontece com o GNOME Shell, o projeto Zeitgeist não oferece muita ajuda a quem quiser instalá-lo. Felizmente, basta instalar o software de controle de versão Bazaar e dar o comando bzr branch lp:gnome-zeitgeist
conectado à internet.
Depois de baixar o Zeitgeist, não é preciso compilá-lo. É só ir até o diretório de download e entrar com sh ./zeitgeist-daemon.sh
para iniciar o serviço (provavelmente em uma janela separada ou em segundo plano), seguido de sh ./zeitgeist-journal.sh
para rodar a interface gráfica principal.
O GNOME Zeitgeist abre em um calendário que exibe três dias: ontem, hoje e amanhã, junto com uma lista de arquivos acessados em cada dia. Essa é a visão que você tem ao clicar no ícone “Recent” (“recente”)na barra de ferramentas. Você também pode clicar nos ícones “Older” (“mais antigo”) ou “Recent” (“mais novo”) para mudar as datas no painel de três partes, ou em “Calendário” para mudar a visão para uma que seja mais apropriada a uma data específica.
Outras maneiras de exibir os arquivos incluem favoritos, tags e filtros para tipos de arquivos; todas elas podem ser encontradas em pelo menos um gerenciador de arquivos que já exista, mas não com a facilidade de uso do GNOME Zeitgeist.
Se voltar ao diretório de download, você também encontrará duas partes do GNOME Zeitgeist que ainda serão integradas à interface principal: o zeitgeist-timeline.sh, que parece apresentar uma visão mais longa e alternativa dos arquivos criados em cada dia, e o zeitgeist-project.sh, que pelo visto serve para agrupar arquivos relacionados. Outros critérios para encontrar arquivos, como pela localização, devem ser adicionados mais tarde.
Como um grupo de recursos em um gerenciador de arquivos tradicional, o Zeitgeist seria uma melhoria bem-vinda. Mas usar o Zeitgeist como gerenciador de arquivos padrão suscita inúmeras perguntas: as preferências que ele presume serem as do usuário estão corretas? Ou ele vai criar outra barreira entre os usuários de desktop e a linha de comando ao promover um conceito diferente na forma com os arquivos são acessados? Não seria melhor encorajar os usuários a organizarem seus arquivos ao invés de jogarem todos eles na pasta home?
De uma certa perspectiva, o GNOME Zeitgeist pode ser visto como o equivalente a um processador de texto que favorece a formatação manual ao invés da criação de estilos, ou como um aplicativo que encoraja um certo desleixo nos hábitos computacionais das pessoas. Outros, porém, podem argumentar que um programa desses está sendo realista quanto aos hábitos de trabalho dos usuários.
O céu ou o inferno?
Ainda é cedo, e o GNOME Shell e o GNOME não devem ser julgados apenas com base na velocidade ou no visual. Os dois projetos ainda estão no estágio de inclusão de funcionalidades. Porém, já existem funcionalidades suficientes para tornar possíveis alguns poucos comentários preliminares.
Em primeiro lugar, mesmo juntos, o GNOME Shell e o GNOME Zeitgeist não são suficientes para que se construa um desktop totalmente novo ao seu redor. Embora representem inovações interessantes, será que os dois bastarão para renovar a experiência de usuário, como prometem os anúncios do GNOME 3.0? Até agora, não há certeza alguma. Além do mais, cada programa é principalmente uma mudança em nível de interface. Até que ponto eles vão exigir que os aplicativos do GNOME sejam reescritos, e até que ponto as bibliotecas do GNOME terão que ser reformuladas é algo que ainda está sendo determinado. Até agora, as notícias sobre os planos do GNOME 3.0 sugerem que a reescrita do backend será mínima.
E o que é igualmente importante, também não se sabe se os dois programas vão criar uma mesma experiência. Até agora, os dois aplicativos parecem estar seguindo linhas diferentes de raciocínio quanto à usabilidade. Particularmente, enquanto o GNOME Shell está focado em um uso econômico do espaço do desktop, o GNOME Zeitgeist funciona melhor em janelas grandes. E embora o GNOME Shell mude radicalmente a forma como os usuários interagem com o desktop, a interface do GNOME Zeitgeist é bem mais parecida com a dos aplicativos com os quais estamos acostumados. Em algum momento, provavelmente se chegará a um denominador comum quanto ao design padrão para que os dois se integrem bem.
Por fim, embora alguns afirmem que a experiência de usuário em desktops foi aperfeiçoada, será que os usuários vão aceitar uma nova forma de pensar tão radical? Os dois projetos estão tentando facilitar a experiência de usuário, mas ambos são muito diferentes de tudo que os usuários se acostumaram a ver nas duas últimas décadas. Considerando que a recepção do KDE 4.0 não foi das melhores, embora ele seja uma evolução do desktop e não algo totalmente diferente, o GNOME 3.0 corre o risco de revoltar seus usuários.
É claro que ainda estamos nos estágios iniciais, e se essas preocupações são válidas ou absurdas é algo que só saberemos com o progresso dos projetos. A forma como o GNOME 3.0 será propagandeado e documentado também afetará a recepção dele. Mas até agora, o GNOME Shell e o GNOME Zeitgeist geram tanta apreensão quanto esperança acerca do GNOME 3.0. Só o tempo dirá qual dessas expectativas é justificada.
Créditos a Bruce Byfield – lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <roberto at bechtranslations.com>
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