Uma espiada no Scientific Linux

Uma espiada no Scientific Linux

Gazing at Scientific Linux

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

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Há pouco tempo, alguém me pediu que analisasse o Scientific Linux. Intrigado, mas ainda não motivado, pedi às pessoas que me escrevessem contando o que o Scientific tinha de interessante na opinião delas. Recebi mais respostas do que eu esperava, e quase todas eram favoráveis à distribuição. Parece que vários leitores acham que o Scientific é um bom sistema operacional para uso doméstico, e também o rodam em servidores, desktops, netbooks… só a torradeira da casa escapa. Honestamente, fiquei um pouco surpreso. Sempre tive a impressão de que o Scientific Linux era uma distro que se destinava a uma pequena comunidade de pesquisadores, e que havia encontrado um nicho tranquilo nas salas escuras que abrigam servidores de laboratórios. Agora eu via que estava errado. Com uma nova curiosidade, fui até o site do projeto, scientificlinux.org.

O site do projeto tem visual simples em preto e branco, num estilo wiki bastante discreto. A navegação é bem intuitiva, e descobri que a versão mais recente, a 5.4, está disponível em edições de 32 e 64 bits. A versão mais recente saiu em novembro e conta com suporte até 2012. O Scientific Linux é distribuído em uma série de oito CDs ou dois DVDs de instalação. Ele também está disponível como um live CD, que foi o que eu usei nos meus testes

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Scientific Linux 5.4 – navegando pelos aplicativos

O live CD começa abrindo uma tela de texto, onde o usuário pode selecionar vários parâmetros de inicialização. Aceitei as opções padrão e disparei o ambiente live. O sistema pediu algumas informações locais e depois pediu que eu definisse uma senha para as contas de root e de usuário comum no live CD. As duas contas usam a mesma senha gerada pelo usuário ao longo de toda a sessão live. Isso me parece uma ideia inteligente, já que evita o problema de se usar uma senha de root disponível publicamente. Os usuários que se sentirem à vontade rodando o sistema live sem senha podem pular essa etapa.

O live CD inicializa o desktop GNOME com um papel de parede estampando um átomo. A barra de menu fica no topo da tela, e uns poucos ícones de navegação se espalham pelo desktop. É no tema que o sistema realmente mostra suas raízes e sua idade. Afinal de contas, a distribuição se baseia em uma plataforma que já tem três anos. Alguns podem achar essa viagem ao passado desagradável, outros provavelmente vão gostar do conforto que a familiaridade traz.

O instalador do Scientific é um programa simples. Embora ele possa parecer primitivo se comparado a outros instaladores, ele faz seu trabalho direitinho. Antes de usar o instalador, o usuário terá que configurar uma partição na qual o sistema operacional possa ser instalado. O GParted foi incluído no CD para isso. O instalador pergunta ao usuário qual partição ele gostaria de usar, e qual sistema de arquivos deve ser criado na partição. As opções se limitam a ext2, ext3 e XFS. Depois o usuário pode escolher uma partição de swap e decidir onde instalar o GRUB. O instalador pede ao usuário que defina uma partição raiz e começa a copiar os arquivos necessários. Cada opção se apresenta na forma de uma pergunta simples com uma resposta simples, algo que – na minha opinião – compensa o estilo meio cru do instalador

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Scientific Linux 5.4 – instalando atualizações com o Yumex

Na primeira inicialização, vi que o Scientific havia criado uma conta de usuário comum para mim e instalado 2,2 GB de software no disco rígido. A maioria dos aplicativos é bem comum, e suas versões geralmente estão um pouco atrasadas em relação às atuais. O sistema vem armado com GIMP, OpenOffice.org (2.3), Firefox (3.0), Thunderbird, gFTP, VNC Viewer, uma calculadora, visualizador de PDF, dicionário, cliente IRC, player de vídeo, gravador de CD, player de áudio e ferramentas de rede. No menu de aplicativos temos o Emacs e o Yum Extender. O Scientific talvez seja a única distro que eu já vi que inclui o Yumex na instalação padrão, e essa foi uma boa surpresa, já que eu o considero uma ferramenta muito superior às outras interfaces gráficas ao RPM. Os menus também incluem a habitual coleção de utilitários de configuração do GNOME e um punhado de pequenos jogos. A versão do GNOME que acompanha o Scientific é a 2.16, que já tem alguns anos de vida. Isso pode ser bom ou ruim, dependendo do seu ponto de vista. Eu, por exemplo, fique feliz em notar que ainda era possível desativar o cursor piscante do gnome-terminal na versão 2.16 sem usar o GConf. Além da habitual seleção de aplicativos para alterar a aparência e o comportamento das janelas, há também um gerenciador para o firewall e o SELinux, e um programa para gerenciar serviços do sistema. Por padrão, os serviços de rede e o SELinux vêm desativados; o firewall vem ativado.

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Scientific Linux 5.4 – examinando a rede e a segurança

A distribuição tem alguns extras que não são encontrados em seus primos Fedora e CentOS, incluindo o suporte a MP3 e Flash. Por outro lado, parece que a maioria dos codecs de vídeo populares está ausente. Além dos sistemas de arquivos ext2, ext3 e XFS oferecidos pelo instalador, a distro também é capaz de lidar com partições ReiserFS e NTFS, o que faz do Scientific Linux uma boa opção para dual-boot.

Testei o Scientific em duas máquinas físicas, um desktop genérico (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA) e no meu laptop HP (CPU dual-core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel). Para ver como o sistema funcionaria com menos recursos, também instalei o Scientific em uma máquina virtual do VirtualBox. A distro cuidou bem do hardware do meu desktop, e a rede e o som funcionaram de primeira. A tela foi configurada com a resolução desejada e não tive problemas. O hardware do laptop já foi mais complicado, o que era de se esperar, pois é uma máquina mais recente e o Scientific usa um kernel antigo (versão 2.6.18). A resolução do vídeo ficou boa, o som funcionou direto e o touchpad também, registrando toques rápidos como cliques. Minha rede Intel não funcionou, e o modem de internet móvel Novatel não foi detectado. O desempenho, tanto nos computadores físicos quanto no ambiente virtual, foi bom. O sistema operacional usa pouca memória, e continuou funcionando bem com 256 MB de RAM na máquina virtual.

O Scientific usa pacotes RPM e o YUM para instalar software e cuidar das dependências. Para quem prefere um gerenciador de software gráfico existe o Yum Extender, que vem como parte da distribuição. Eu gosto do Yumex, acho que é uma boa ferramenta. Não é o gerenciador de aplicativos mais rápido que existe, e talvez não seja o mais amigável também, mas é um bom meio-termo. No YUM do Scientific eu só senti falta do recurso delta-update, presente em versões mais recentes do Fedora.

Quanto à segurança, não encontrei nada que me incomodasse. O sistema recebe atualizações regulares, insiste em criar uma senha de root na hora da instalação e cria automaticamente uma conta de usuário comum. Não há serviços de rede em execução por padrão, o firewall está lá e o SELinux foi incluído como opção. Além disso, gostei muito da ideia de ter uma senha criada pelo usuário no live CD, pois isso contorna o problema de ter um sistema com uma senha que todo mundo conhece. Embora outras distribuições permitam ao usuário cuidar disso manualmente, o Scientific vai além e automatiza o processo.

A distribuição pode não ter um visual fantástico, mas tem muitas coisas positivas. Na verdade, volta e meia eu me pegava pensando: “como seria bom se o Fedora fizesse as coisas desse jeito”. Por exemplo, eu sempre me perguntei por que o Fedora não adotava o Yumex como interface para o gerenciamento de pacotes. Gosto do fato do Scientific vir com suporte a multimídia e Flash em vez de fazer seus usuários caçarem os pacotes em repositórios de terceiros. A abordagem de segurança do Scientific, que inclui uma senha personalizada para o live CD e desabilita os serviços de rede por padrão, é louvável. Para completar, gostei de ver meu touchpad funcionando como deveria sem que eu tivesse que editar um arquivo de configuração. A equipe do Scientific faz um bom trabalho ao oferecer um desktop estável e com suporte a longo prazo. O único senão, na minha opinião, é que alguns componentes importantes estão ficando meio desatualizados. Isso não costuma causar problemas, exceto quando estamos falando do OpenOffice.org e do Firefox. Esses projetos, que lançam versões novas uma vez por ano, vão parecer datados. Para concluir, o Scientific é um bom desktop para quem prefere estabilidade em vez de tecnologia de ponta.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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