Por muitos anos, a Advanced Micro Devices foi uma segunda fonte de microprocessadores x86 para os fabricantes de computadores pessoais, ficando à sombra de sua rival mais encorpada, a Intel Corp. Por muitos anos a empresa fez clones de processadores desenvolvidos pela Intel, e mal poderia imaginar-se como uma rival capaz de oferecer produtos de alto desempenho e de última tecnologia. Mas a década passada mudou tudo: ainda que a AMD continue sendo bem menor do que a Intel, seus microprocessadores agora podem competir cabeça a cabeça com os da Intel.
Fundada em 1969 por sete ex-funcionários da Fairchild liderados por Jerry Sanders, a AMD fazia memória RAM e chips lógicos simplistas, chegando aos clones de microprocessadores Intel em 1982, quando a IBM pediu à empresa que se tornasse uma segunda fonte dos processadores x86 produzidos pela Intel, e a AMD fechou um contrato com a Intel que permitia a produção desses clones. Mas em 1986, a Intel se recusou a fornecer detalhes técnicos sobre o microprocessador 80386, e após várias disputas nos tribunais, a AMD teve que fazer engenharia reversa das séries de microprocessadores 80386 e 80486 para criar seus próprios modelos. Com os ciclos de projeto se tornando cada vez menores, ficou claro que a engenharia reversa não era muito eficiente, e que a empresa precisava projetar seus próprios chips. As duas primeiras gerações de microprocessadores próprios da AMD, K5 e K6, não eram exatamente competitivas do ponto de vista do desempenho de ponto flutuante, mas eram alternativas mais baratas aos produtos Intel, já que podiam ser instalados nos mesmos soquetes.
A sétima geração de microprocessadores AMD tinha que oferecer não só um desempenho igual ou superior ao do Pentium da Intel, como também tinha que ser rápido o suficiente para fazer com que os fabricantes de placas-mãe fizessem placas compatíveis exclusivamente com os chips da AMD. Com isso em mente, Jerry Sanders, co-fundador e diretor executivo da AMD, foi gradualmente contratando engenheiros de fora da empresa desde meados dos anos noventa. Seguindo seu lema “primeiro as pessoas; os lucros e os produtos virão em seguida”, Sanders contratou Dirk Meyer e uma equipe de engenheiros talentosos que já haviam co-desenvolvido os processadores série Alpha da DEC em 1996. Essa equipe criou o processador anunciado em 23 de junho de 1999, o AMD Athlon.
A AMD começou a vender seu processador em agosto de 1999, e o mundo logo descobriu que o chip superava o desempenho do Intel Pentium III com a mesma velocidade de clock e tinha melhor potencial de frequência. Para completar, o core-logic Intel 820 (compatível com os então novíssimos processadores Pentium III “Coppermine”) usava memória RDRAM da Rambus, que era cara e não oferecia benefícios tangíveis em termos de desempenho. A versão do chipset com um hub tradutor de memória (ou MTH), que permitia o uso da tradicional memória SDRAM PC100, parecia estar cheio de bugs. O resultado foi claro: os sistemas AMD eram mais rápidos, mais baratos e mais confiáveis.
Infelizmente para a AMD, a nova unidade de processamento central vinha em formato de slot, e a fabricação das placas-mãe para o Athlon era cara. Some a isso o fato do core-logic 750 da AMD não ser o melhor chipset de todos os tempos, e do KX133 da Via Technologies não estar disponível. Para complicar as coisas, os fabricantes de placas-mãe relutavam em fabricar plataformas para o Athlon, temendo arruinar seu relacionamento com a Intel, o que diminuiu muito a velocidade de adoção do chip pelas massas. Mas a tarefa principal havia sido alcançada: as CPUs AMD eram capazes de superar as da Intel sem problemas técnicos.
A AMD, situada em Sunnyvale, na Califórnia, aprendeu muito bem com os problemas da primeira geração do Athlon, e fez seu dever de casa direitinho com o lançamento da segunda geração do Athlon (codinome Thunderbird) em meados de 2000.
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Primeiro, os novos chips vinham no formato tradicional de soquete;
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segundo, traziam cache L2 integrado, garantindo expansibilidade de velocidade de clock linear do desempenho do processador;
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terceiro, quando os novos processadores chegaram ao mercado, a AMD se certificou de que o chipset KT133 de nova geração da Via estava amplamente disponível;
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quarto, a AMD também se certificou de que estariam amplamente disponíveis placas-mãe para suas CPUs Athlon feitas por todos os fabricantes importantes – e o ótimo desempenho do Athlon original ajudou muito nisso.
Mas a AMD não se limitou a lançar um AMD Athlon melhorado, ela também lançou o AMD Duron, um chip de baixo custo sem cache L2, que não só deixou o Celeron comendo poeira, como também fazer frente ao Pentium III, que era bem mais caro.
O lançamento da plataforma Soquete A da AMD foi uma grande vitória. Os usuários finais passaram a confiar na AMD e em seus produtos. Vários fabricantes de computadores adotaram o Athlon e o Duron. Vendo o potencial da AMD, os desenvolvedores de software começaram a criar refinamentos específicos em seus aplicativos para os chips de empresa. Os fabricantes de placas-mãe começaram a produção de placas-mãe de alto desempenho para microprocessadores AMD, num momento inédito. Nos últimos anos de 2000, os processadores AMD já haviam recebido mais de 70 prêmios de jornalistas e analistas de mercado.
Os resultados materiais foram fantásticos. No início de janeiro de 2001, a AMD registrou as vendas anuais de 2000 em 4,6 bilhões de dólares, num aumento de 63% ano a ano, além de uma renda líquida de 983 milhões de dólares, outro recorde para a empresa.
“Nossas organizações de tecnologia e fabricação se diferenciam da concorrência por uma execução quase perfeita. […] Apesar do esfriamento do mercado de PCs, a AMD ganhou fatia de mercado na arena dos processadores para PCs, com mais de 26,5 milhões de unidades totais vendidas em 2000. Acreditamos ter conquistado três pontos de fatia de mercado em unidades durante o ano, chegando a aproximadamente 17% do mercado mundial de processadores para PCs”, disse W. J. Sanders III, presidente e diretor executivo da AMD na época.
“Os processadores Athlon e Duron em versão Soquete A foram amados pelos entusiastas. Eles provavelmente foram, ao lado do Celeron da Intel, o início da era do overclock em massa, e é particularmente a isso que a AMD deve o seu sucesso. Era fácil fazer overclocking nos processadores de Soquete A, não só porque era fácil mesmo mas também porque eles eram realmente propensos a overclocking, visto que a AMD limitava a frequência deles artificialmente. Muitos se lembram das famosas ‘pontes douradas’ na superfície do substrato do processador, cuja modificação era capaz de fácil e naturalmente alterar o multiplicador desses processadores”, diz Ilya Gavrichenkov, analista de CPU do X-bit Labs.
A Intel ainda teria que lançar uma nova microarquitetura de processadores (Netburst) e esperar mais de um ano para realizar seu potencial, abandonar o suporte exclusivo à RDRAM e reconsiderar diversas questões para voltar a ser a líder de desempenho em 2002. A AMD ainda enfrentaria numerosos novos desafios no mercado, e renasceria completamente diversas vezes nos anos seguintes. Foram vitórias, derrotas e novidades empolgantes que também trariam grandes mudanças. Mas 2000 foi o ano de triunfo da AMD e do mercado de microprocessadores para desktops, e uma era chegava ao fim: a era dos processadores topo de linha da Intel custando mil dólares por unidade, da exclusividade Intel entre os entusiastas de computadores, das afirmações sobre o baixo desempenho dos processadores AMD. O mundo tem agora dois fornecedores de microprocessadores igualmente bons.
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