Fundada em 1985, a ATI Technologies sempre foi uma empresa inovadora, mas também conservadora. Depois de inovar diversas vezes, e também de fracassar diversas vezes, o ano de 2002 trouxe uma grande mudança tanto para a ATI quanto para o mercado de placas de vídeo para o consumidor.
Por muitos anos, a ATI vendeu suas placas de vídeo para OEMs. Devido ao compromisso da empresa com as exigências dos fabricantes de computadores, sua primeira geração de aceleradores gráficos não tinha como competir com os lançados pela 3dfx, mas o preço era compatível com os interesses do consumidor. A ATI também diversificava sua linha de produtos: apresentou o primeiro chip gráfico com aceleração 3D para portáteis, fez o primeiro adaptador gráfico com sintonizador de TV integrado e conectores video-in e video-out, além de desenvolver um dos primeiros aceleradores gráficos para telefones celulares. A empresa vinha adquirindo empresas menores e startups de forma consistente, ampliando seus recursos com novos engenheiros e novas tecnologias. No início de 2000, por exemplo, a empresa comprou a pouco conhecida empresa ArtX, que havia trabalhado no processador gráfico do Nintendo 64 e do Nintendo GameCube, por impressionantes 400 milhões de dólares em ações, indicou o presidente da empresa, David Orton, para a posição de presidente e diretor executivo. Tempos depois, a aquisição provou ter sido o melhor investimento já feito pela empresa.
Mas apesar de seu DNA inovador, em uma coisa a ATI fracassou: em apresentar novos aceleradores gráficos para gamers na hora certa. Começando com a introdução da linha GeForce no fim de agosto de 1999, a Nvidia passou a ser sempre a primeira a lançar novos chips com funcionalidade DirectX e novos níveis de desempenho. Graças a produtos bem-sucedidos como a GeForce, a GeForce 2 massacrou as rivais S3 e 3dfx. Com a chegada da GeForce 3 no início de 2001, a Nvidia se tornou a inimiga pública número 1 da ATI.
A GeForce 3 com suporte a DirectX 8 era um produto importante, mas em 2000 a ATI já sabia que sua placa mais avançada, a Radeon 8500 (R200) chegaria tarde ao mercado. Em vez de acelerar seu lançamento ou melhorar o desempenho, ela se concentrou no desenvolvimento da R300; Dave Orton transformou a empresa, levando-a da função de fornecedora de placas para fabricantes de computadores ao posto de criadora de placas de vídeo. Muitos parceiros surgiram, lançando placas de vídeo movidas por suas GPUs.
Uns dizem que a ArtX havia praticamente concluído o desenvolvimento da R300 quando foi adquirida pela ATI Technologies; outros dizem que seu lançamento se deve ao sangue novo provindo da compra da empresa, que levou à criação da segunda equipe de desenvolvimento de GPUs – que viria a criar a lendária Radeon 9700. Seja qual for o caso, a ATI R300 não era só um soco no estômago da Nvidia, mas também uma rasgada ofensa ao mercado de placas de vídeo de alto desempenho para entusiastas, que era um mercado criado praticamente pela 3dfx e pela Nvidia.
A ATI Radeon 9700 Pro foi um sucesso desde o dia de seu lançamento, e logo se tornou a placa de vídeo mais veloz do mercado, superando com folgas a linha GeForce 4. Com o lançamento das extensões OpenGL para o NV30, a Nvidia passou a impressão de que sua próxima GPU com suporte a DirectX 9 teria mais recursos, mas meses se passaram a nada de aparecem novos produtos da antiga líder do mercado. Quando a GeForce FX 5800 Ultra finalmente surgiu em março de 2003, ela era mais lenta do que a Radeon 9700 Pro, especialmente em casos de utilização pesada de shaders.
Um ano após o lançamento da R300, sua sucessora (a Radeon 9800 XT) era a placa de vídeo favorita dos gamers entusiastas e dos fabricantes de computadores. Em junho de 2004, David Orton virou diretor executivo da ATI Technologies.
O sucesso da R300 foi resultado de muitos eventos e decisões sem relação direta entre si. Primeiro a ATI comprou a ArtX, uma empresa pouco conhecida; depois, mudou seu modelo de negócios; em seguida, tomou a decisão de se concentrar do desenvolvimento da R300 em vez de incrementar a R200; por fim, tomou uma série de decisões de design que permitiram ao chip R300 oferecer um desempenho altíssimo. Deve haver dezenas de fatores que influenciaram o sucesso da Radeon 9700 e da ATI. Há centenas de outros fatores que levaram à fusão da ATI à AMD em 2006 e ao fim da marca ATI em 2010. Mas para quem viveu a época, ali estava a prova do sucesso da R300: o mercado de gráficos para games não pertencia mais apenas à Nvidia.
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