Imagine um processador que em sua versão mais rápida até o momento, opera a apenas 700 MHz, apresentando porém um desempenho pouco inferior a um Pentium III 500. Certamente não seria seu sonho de upgrade certo?
Agora imagine um notebook com um Pentium III 800, onde apesar da potência, o processador gasta tanta energia e dissipa tanto calor que é necessário instalar coolers dentro do notebook, que além de barulhento esquenta muito e que, graças ao altíssimo
consumo elétrico do processador tem uma autonomia de baterias de no máximo duas horas. Isso excluindo-se o fato do notebook do exemplo não sair por menos de 8.000 reais.
Imagine agora um cenário oposto, um Palm-Pilot. Um micro de bolso, compaqto, barato, cujas baterias recarregáveis duram mais de 12 horas, mas que em compensação tem um hardware extremamente simples, insuficiente para montar uma grande planilha ou mesmo
ouvir um mp3, sem falar de aplicativos mais pesados.
Agora imagine novamente o processador do primeiro exemplo, mas não num micro de mesa, e sim num notebook. Apesar do desempenho no máximo mediano, o processador gasta um mínimo de energia, permitindo que as baterias durem até 12 horas, e o melhor, é barato
o suficiente para ser usado em notebooks de 2.500 reais. Imagine agora um aparelho um pouco maior que um Palm, que custe pouco mais de 1000 reais, mas que seja capaz de acessar a Internet com qualidade, rodar o Windows 98 e até mesmo alguns programas mais
pesados.
Esse é o Crusoé, um projeto de chip destinado a notebooks e micros de mão, com um poder de processamento suficiente para os aplicativos atuais, multimídia, DVD, etc; mas que ao mesmo tempo gasta um mínimo de energia e custa quase um décimo do valor de um
Pentium III topo de linha.
O Crusoé existe em duas versões a TM5400, o topo de linha da série, disponível em versões de 500 a 700 MHz, que traz 128 KB de cache L1 e 256 KB de cache L2 (a mesma quantidade do Athlon Thunderbird), e a TM3200, a versão mais barata, que existe em
versões de 333 e 400 MHz, trazendo apenas 96 KB de cache L1. Existe também a versão TM5600, igual à 5400, mas com um consumo elétrico um pouco mais baixo.
Como disse, o principal trunfo do Crusoé não é o melhor desempenho do mercado, mas o mais baixo consumo elétrico do mercado. Pra você ter uma idéia, um Pentium III de 700 MHz consome 18.5 Watts, um Athlon, também de 700 MHz consome incríveis 38 Watts,
enquanto um Crusoé TM5400, novamente de 700 MHz, consome apenas 1.8 Watts, 10 vezes menos que o Pentium III e mais de 20 vezes menos que o Athlon. O TM3400 por sua vez consome ainda menos, apenas 0.9 Watts.
Como adicional, o Crusoé incorpora o recurso de Long Run, que diminui dinamicamente a freqüência do processador, conforme o processamento demandado pelos aplicativos, aumentando imediatamente quando for necessário. Enquanto você estiver digitando algo no
Word, ou lendo e-mails, por exemplo, o processador operará a apenas 50, 100 ou 200 MHz, apenas o necessário para aquela tarefa. Ao executar um aplicativo mais pesado, a freqüência do processador imediatamente sobe, conforme a necessidade do aplicativo.
Este gerenciamento dinâmico permite diminuir muito o consumo elétrico, sem sacrificar o desempenho. Dependendo do aplicativo, o consumo do TM5400 pode cair para até 60 mili-Watts, 3% do consumo original.
Estas configurações tornam o TM3400 bastante atrativos para micros de mão e web-pads, enquanto o TM5400, bem mais poderoso, já tem como alvo os notebooks e sub-notebooks.
O segredo para um consumo tão baixo é o uso do code Morphing Software, um sistema que converte as instruções x86 usadas pelos programas nas instruções internamente entendidas pelo Crusoé. O Code Morphing substitui vários componentes que incham os
processadores atuais, encarregados de converter as instruções nas instruções simples, entendidas pelo processador, ordenar as instruções, execução especulativa, etc., componentes que num Athlon correspondem a quase metade dos transístores gastos no
processador.
Em outras palavras, o Crusoé transfere para o software a maior parte das funções que normalmente seriam executadas por componentes separados do processador. Sem estes componentes, temos um chip muito menor, mais econômico e muito mais barato. A idéia é
quase tão revolucionária quanto a que criou os processadores RISC a 20 anos atrás.
O Code Morphing permite que o processador tenha uma arquitetura WLIN extremamente eficiente, sem com isto deixar de ser compatível com os programas atuais, enquanto os demais processadores do mercado sofrem graças à toda carga de legado necessária a
mantê-los compatíveis com os processadores anteriores. Apesar do desempenho atual ser um pouco inferior aos demais processadores do mercado, o nível de eficiência é bem maior, permitindo que no futuro surjam versões mais parrudas do Crusoé, com mais
transístores, um consumo elétrico um pouco maior, porém com um desempenho bastante superior.
O ramo de portáteis é certamente o que terá um maior crescimento nos próximos anos, e com o Crusoé, a Transmeta tem uma grande chance de fazer sucesso neste mercado. Já existem alguns modelos de notebooks com o Crusoé no mercado, como o Fujitsu FM Biblo,
Hitachi FLORA 200 e 270TX, Casio Cassiopeia Fiva, NEC LaVie MX e alguns modelos do Vaio da Sony e a oferta deve crescer bastante nos próximos meses. Um dado interessante, é que com exceção do Biblo e do Vaio (com autonomia de 7 horas), os portáteis com o
Crusoé apresentam autonomia acima de 10 horas, muito acima das 2 ou 3 horas da maioria dos notebooks do mercado.
Outra criação da Transmeta foi uma versão Mobile do Linux, destinada a handhelds com o Crusoé. Apesar de ainda não existir nenhum no mercado, a combinação do Linux com o Crusoé permite a criação de handhelds muito mais poderosos que os Palms e portáteis
com o Windows CE que estão atualmente no mercado, porém competindo na mesma faixa de preço.
Os conceitos trazidos pelo Crusoé tem tudo para causar grandes mudanças no ramo de processadores. Mesmo que o Crusoé não chegue a dominar uma grande parte do mercado, sua tecnologia com certeza influenciará e muito as próximas gerações de processadores.
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