Cloud Computing: The Invisible Revolution
Autor original: David Adams
Publicado originalmente no: osnews.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Tempos atrás eu participei do evento VM World, e como já era de se esperar, só se falava em computação em nuvem por lá. O hype em torno do assunto está em franca ascensão, mas será que ele se justifica? Muita gente, mesmo as entendidas em tecnologia (que não são sysadmins), ainda não entende todo esse hype. Parece que a computação em nuvem é a grande revolução da computação, mas para muitos usuários ela ainda é uma revolução invisível.
A ambivalência geek quando o assunto é computação em nuvem é interessante, porque a ideia não é nova e já circula há anos nesse meio. Parte do problema é que é difícil definir o que a computação em nuvem realmente é. A turma do marketing gosta de dizer que tudo é computação em nuvem, quando muitas vezes é só computação periférica, numa tentativa descarada de lucrar com um assunto da moda. Vou resumir o que eu julgo ser a essência do conceito da computação em nuvem.
Há duas inovações tecnológicas que, juntas, tornam possível a computação em nuvem: o acesso à internet em qualquer lugar e a tecnologia avançada de virtualização. Com a virtualização, um “servidor” não precisa ser uma máquina física. Nos velhos tempos, quem quisesse um servidor tinha que correr atrás de um computador físico, ou ao menos ter acesso a um. Se precisasse de mais capacidade, tinha que arranjar um computador mais poderoso do que o necessário, por via das dúvidas. E quando estivesse prestes a esgotar os recursos desse computador, era providenciar outro e migrar o sistema para ele, ou distribuir em outras máquinas, jogando os componentes, como um banco de dados, para o outro servidor, ou equilibrando a carga entre os dois. Os administradores de sistema estavam sempre tentando equilibrar os custos de uma capacidade que jamais seria utilizada com os problemas ou panes causados por picos de utilização oriundos de um dimensionamento tardio. E fazer esse dimensionamento às vezes era muito difícil. Migrar um sistema de missão crítica em plena execução do servidor antigo para o novo e mais veloz não era nenhum passeio no parque.
Com a virtualização, passou a ser possível separar o “servidor” do hardware do servidor. Se precisar de mais capacidade (ciclos do processador, memória ou armazenamento), é só dimensionar o servidor para o hardware novo, mesmo que isso signifique migrar para um novo data center do outro lado do mundo, com a maior facilidade. Com o acesso generalizado à rede, ficou fácil acessar esses serviços, e os gerentes de TI estão juntando tudo em data centers centralizados na nuvem. Isso significa que uma pequena startup pode pedir um servidor à Amazon sem ficar se preocupando se deveria ter pedido um mais poderoso, para o caso dos negócios irem melhor do que o esperado. Um pesquisador poderia criar um sistema para realizar cálculos por três semanas, e excluí-lo quando o trabalho fosse concluído. Os gerentes de TI de uma grande empresa poderiam começar a se livrar dos muitos servidores físicos guardados em armários de seus escritórios em todo o país, trocando-os por uma “nuvem particular” com gerenciamento centralizado.
Acho que muitos geeks não entendem qual é o grande lance da computação em nuvem porque só quem tem um grande data center colhe os frutos diretos dela. Acho que boa parte da culpa é do marketing mesmo: a gente ouve falar em serviços web bacanas, como o Evernote e o Dropbox, e até em “sistemas operacionais” que dependem da “nuvem”, como o ChromeOS e o eyeOS (a propósito, recomendo o Evernote e o Dropbox). Mas do ponto de vista do usuário final, a computação em nuvem é só um nome pomposo para a hospedagem na web. Se estou usando o Dropbox, não me interessa se o armazenamento se dá na nuvem ou num servidor das antigas. Se o serviço for confiável, então esses detalhes não me interessam; mas interessam ao pobre administrador que tem que gerenciar os servidores do Dropbox. Com a computação em nuvem, ficou mais fácil para uma empresa crescer conforme a necessidade, e até trocar de provedor de hospedagem se precisar, sem prejudicar o serviço ou gastar dinheiro com capacidade que não é utilizada (“só para garantir”).
Outro ponto importante da computação em nuvem é a economia de dinheiro das empresas, e isso também explica por que os geeks não veem graça na coisa, exceto pelos que lidam com contabilidade. Outra ideia que está sempre associada à computação em nuvem é a de que a computação agora é uma utility, ou seja, você paga por recursos computacionais de acordo com a utilização, da mesma forma que acontece com a energia elétrica. Quem for chefe do departamento financeiro não vai ter que gastar um dinheirão em hardware que pode acabar não sendo aproveitado em sua totalidade. Acho que podemos dizer que a maioria das grandes empresas usa apenas uma pequena porcentagem dos recursos computacionais que estão ocupando espaço em seus racks e mesas. Sob a ótica da eficiência, é melhor pagar pelo que se usa, mesmo que teoricamente você esteja pagando uma taxa mais alta por cada unidade de ciclos de processador em potencial. A maneira antiga de se fazer as coisas é um desperdício de tempo, dinheiro e energia elétrica.
Aqui no OSNews nós tratamos principalmente de sistemas operacionais. Pois então, como é que ficam os sistemas operacionais nesse novo mundo? Bom, os servidores virtuais continuam sendo servidores, e eles ainda dependem de um sistema operacional. O que fazemos é inserir um “subsistema operacional” chamado hipervisor de tipo 1 sob o sistema operacional comum. Esse hipervisor permite que um ou mais servidores rodem um ou mais sistemas operacionais ou instâncias desses sistemas. Pode haver uma instância do sistema operacional espalhada por vários computadores físicos, ou centenas de instâncias em uma mesma máquina. O hipervisor de tipo 2 permite a execução de um sistema operacional convidado dentro de um sistema hospedeiro, o que também é útil, mas tem um propósito muito diferente. Dependendo da plataforma, uma máquina virtual pode ser migrada de um tipo de hipervisor para o outro, ou seja, dá para configurar um servidor novo em uma máquina virtual convidada em um laptop e transferi-lo para um hipervisor rodando diretamente via hardware em um ambiente de hospedagem na nuvem na hora do “vamos ver”.
Um aspecto do mundo dos sistemas operacionais que fica mais complicado com a computação em nuvem é a questão do licenciamento, e quem está numa situação particularmente difícil é a Microsoft. Uma das vantagens da computação em nuvem é que é possível ativar e desativar instâncias de servidores conforme a necessidade. Dá para copiar uma instância inteira de um data center para o outro, ou clonar uma instância e criar uma derivada. Mas quando é preciso lidar com a questão do licenciamento do software da máquina virtual que você está movimentando, temos uma nova e indesejada camada de complexidade. Essa é um dos motivos para que o Linux, o MySQL e outros softwares de código aberto sejam tão populares em ambientes em nuvem.
Ao comprar de uma hospedagem em nuvem com a Amazon, ela inclui a licença do Windows na conta se você solicitar uma instância com o Windows. Mas se você usar muita capacidade na Amazon não vai estar fazendo um bom negócio; melhor seria comprar logo suas licenças de servidores Windows no varejo e fazer a instalação por conta própria na máquina virtual da Amazon.
Cada vez mais, a tecnologia de virtualização está sendo “empacotada” com sistemas operacionais. A Microsoft tem seu próprio hipervisor incluído no Windows Server 2008. E essa é só uma dentre outras plataformas comerciais de virtualização disponíveis no mercado.
Outro motivo para que a computação em nuvem seja uma revolução invisível é que muita coisa que tem acontecido nessa área ultimamente diz respeito à “nuvem particular”. A viagem do OSNews ao evento VM World foi patrocinada pela HP, que está trabalhando duro para ajudar seus clientes corporativos a substituírem a infraestrutura atual, que poderia ser facilmente descrita como “servidores aqui, servidores ali, servidores jogados por aí, já perdemos a conta e não dá para gerenciar isso tudo”. E um dos motivos para que essa situação dos servidores seja tão caótica nas grandes empresas é que quando alguém precisa de um novo servidor para alguma coisa, precisa entrar em contato com o setor de TI, que enrola e diz que é preciso esperar seis meses. Boa parte da inovação que vem ocorrendo está focada em ajudar as grandes empresas a configurarem um data center centralizado onde tudo esteja em uma nuvem particular, e quando alguém em alguma filial precisar de um servidor novo, pode conseguir digitando umas poucas teclas.
O cliente que compra servidores novos nem precisa saber que eles estão na nuvem. Não faz diferença para ele. O que importa é que sua equipe de TI subitamente vai começar a fazer tudo bem mais rápido. Para quem vê a coisa de fora, parece que ainda estamos falando da mesma hospedagem de sempre.
E o tal do sistema operacional na nuvem, onde entra nessa história toda? Parece que é tudo hype de marketing mesmo, já que para o usuário de um sistema operacional na nuvem, não importa se os aplicativos e o armazenamento que ele acessa pela rede estão na nuvem ou em um servidor tradicional. Mas a nuvem é importante porque seria inviável para uma empresa oferecer uma experiência de desktop baseada em servidores sem a computação em nuvem segurando as pontas no lado do servidor. Seria difícil demais lidar com a elasticidade da demanda dos usuários sem a flexibilidade provinda da virtualização.
Acho que o que motiva esse hype todo é que as pessoas estão meio preocupadas com essa coisa do computador não existir ali, dentro daquele equipamento que elas usam no colo ou na mesa. Os usuários, novatos ou não, estão preocupados por motivos diferentes. Por algum motivo, a ideia de que o computador existe “na nuvem” é, por natureza, menos assustadora do que “é nosso servidor, em nosso rack, no nosso data center, na Califórnia”, mas a verdade é que não faz quase nenhuma diferença. E até que “a nuvem” se torne a única maneira de se hospedar qualquer coisa, e que não aconteça como aconteceu com os estúdios de cinema, que pararam de incluir a frase “em cores” nos anúncios de seus filmes, os marqueteiros vão continuar dando ênfase a esse detalhe.
Não deixe que o hype e informações erradas afastem sua mente da situação. Estamos no meio de uma revolução enorme, e um dos motivos para que tanta gente não consiga apreciar isso tudo é exatamente o que torna a questão tão importante: para o usuário final, a computação em nuvem deve ser transparente e indolor. Até os programadores, usuários mais avançados e geeks que usam esses sistemas vão continuar trabalhando do mesmo jeito de sempre, e a graça é justamente essa.
Créditos a David Adams – osnews.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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