Revivendo a nostalgia dos antigos jogos FPS

Revivendo a nostalgia dos antigos jogos FPS
Como leitor e aficcionado pelo Guia do Hardware, você deve ter observado que sou um pouco nostálgico: já escrevi um artigo sobre as minhas primeiras experiências com PCs há mais de 10 anos e sobre dispositivos e periféricos que resistem bravamente ao longo do tempo. Bem, agora chegou a vez dos jogos FPS…

Há uns 15 anos, ao contrário dos garotos da minha idade, não era muito fã de jogos eletrônicos. Nos videogames da época – Master System, Mega Drive e Super Nintendo – me divertia apenas com aqueles joguinhos simples, como o Sonic e o Mário. Quanto aos demais, eu passava longe: simplesmente, não me interessavam! Até que num belo dia (nem sei se o dia estava bonito, mas como todo mundo escreve assim), meu primo havia me deixado um recado para eu lhe visitar, pois ele tinha uma “parada maneira” para me mostrar (desculpem-me os termos, mais veio assim na mente, “tipo” num “estalo”).

Curioso, mas ocupado, resolvi visitá-lo no próximo final de semana para ver o que ele queria me mostrar. Na época, ele havia comprado um PC desktop, equipado com um processador 486 DX2-80 Mhz, 4 MB de RAM e 420 MB de “winchester” (não deu para resistir!). Interessante? Nem tanto; mas, um dos joguinhos que veio instalado realmente me chamou a atenção.

Esse jogo era “sinistro” (ops!): mostrava o desenho similar à um ambiente interior em 3D, com umas paredes, um monte de barris, uma porta metálica, uma série de itens no chão e uma espécie de “lago verde”, o qual o meu primo havia me explicado que aquilo era um ácido. No canto inferior da tela, havia a ilustração de uma espécie de “canhão-metralhadora”: parecida com um canhão e com a funcionalidade de uma metralhadora; mas, não era nenhum dos dois (ou a combinação dos dois). Foi aí então, que conheci Doom e a sua série…

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Doom

Podíamos nos movimentar livremente pelo cenário, embora eu tivesse levado um certo tempo para me acostumar aos comandos (dava uns passinho para frente com ‘up’, mas ficava girando sobre o próprio eixo ao pressionar ‘left’ ou ‘right’). Logo a seguir, o primeiro grande susto: do nada, saiu um monstrinho esquisitinho parecido com um capetinha, me atirando umas bolas de fogo. Instintivamente, pressionei a tecla ‘ctrl’ e enchi o “endemoniado” de chumbo (como diria o Nerso: “môrréu”)! E de cara, fiquei fascinado pelo jogo.

Pela primeira vez em toda a minha vida, ficava horas e horas ligado, à frente do computador, algo muito raro de acontecer em qualquer circunstância da vida, visto que não tenho paciência para ficar por muito tempo fazendo exatamente a mesma coisa! E bons tempos eram aqueles, em que a nossa única responsabilidade era estudar! Nos anos seguintes, viesse naturalmente a procurar um emprego e comprar o meu próprio PC, para poder curtir as maravilhas dos jogos FPS.

Não demorou muito e conheci os “primos” do Doom: Hexen e Heretic. Seguindo praticamente o mesmo estilo, mas com ambientes, temáticas, personagens e armas diferentes, me senti mais interessado neles a Doom, que por sua vez era a paixão do meu primo. A ambientação tenebrosa, aliada à excelente trilha sonora proporcionada pelo Heretic, me deixavam mais atento e curioso, me obrigado a se embrenhar por cada cantinho escuro e sinistro. E os tiros do arco-e-flecha e da magia eram mais emocionantes, pois podíamos acompanhar a trajetória dos projéteis até o inimigo!

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Hexen

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Heretic

Também por volta desta época, conheci mais outros jogos interessantes: ROTT e Duke Nukem. O primeiro, não me empolgou muito; mas, quanto ao segundo, com recursos visuais e qualidade gráfica melhor, não se passou por desapercebido. Mas, seja por ironia ou questão de preferência, vim gostar mesmo é do Blood, o “primo” do Duke Nukem. Nem é preciso dizer que a ambientação mais aterradora é que me fez se interessar por ele!

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Duke Nukem

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Blood

Depois de ter adquirido meu próprio PC e passar um bom tempo curtindo meus FPS preferidos, eis que abre uma nova fase para a minha jogatina: Quake! Com gráficos 3D “de verdade” e a excelente imersão proporcionada pela sua engine, simplesmente me apaixonei pelo jogo! A possibilidade de poder olhar para cima e para baixo me tirou aquela sensação de estar com “torcicolo-sem-dor”, se comparado aos demais jogos. Além do mais, Quake aliava o estilo e a jogabilidade dos jogos “like Doom” com a ambientação sombria proporcionada pelos jogos “like Heretic”.

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Quake

Devido aos pesados requisitos de hardware para a época, logo me senti impelido de fazer o upgrade em meu recém-adquirido PC. No ano seguinte (1997), o 486 DX4-100 Mhz, com seus 8 MB de RAM e 1 GB de HD, foram substituídos por um Pentium-MMX 200 Mhz, 32 MB de RAM e 2.5 GB de HD, além de uma tal “placa aceleradora de vídeo” de 4 MB VRAM. Agora, eu poderia rodar o Quake em resoluções maiores, se bem que não havia como ultrapassar a resolução de 800×600, o limite imposto pelo meu humilde e modesto monitor CRT 14″, fabricado pela Phillips.

Logo à seguir, foi lançada a “continuação” de Quake, o Quake II ( quase nada à ver com o original Quake). Confesso que fiquei um pouco desapontado com a ambientação deste título, pois esperava encontrar a mesma sensação de imersão proporcionada pelo Quake. Mesmo assim, gostei tanto do jogo quando o do seu “primo” Hexen II. Para dizer a verdade, gostei mais do Hexen II, especialmente devido ao seu esquema de fases não-linear, onde faz-se necessário alternar entre elas para completar os objetivos do jogo. Demorei um pouco para me adequar à este estilo de jogo, mas no final, acabei gostando muito!

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Quake II

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Hexen II, renderizado via software

Infelizmente, devido às limitações da minha placa aceleradora gráfica, não pude curtir estes jogos providos de aceleração via hardware. A sua GPU – uma Rendition Verite – não suportava o Glide e nem o OpenGL, tendo somente como opção, o Direc3D. A ironia é que o Quake II até suportava nativamente a minha placa, mas por algum motivo, não funcionava. Só vim a saber o que é aceleração gráfica via hardware através de Tomb Raider (Gold Edition), que distribuía diferentes executáveis para suportar cada placa específica, onde a minha era uma delas. Quake II e Hexen II só foram rodados com aceleração gráfica num futuro não muito distante, depois de mais um novo upgrade e com uma aceleradora Voodoo 3000 em mãos, lá pelos idos de 2002.

No ano seguinte (1998), comprei mais um jogo interessante, chamado Jedi Knight: Dark Forces II. Além de ser outro excelente FPS, este finalmente fez uso dos modestos recursos gráficos da minha placa aceleradora gráfica. Com uma engine gráfica bem trabalhada para a sua época, me deliciei com os seus cenários grandes e bem definidos. Embora este fosse um FPS clássico, poderíamos perfeitamente alternar a perspectiva do jogo para o modo em 3a. pessoa. Com um sabre de luz nas mãos e privilegiado por esta perspectiva, vocês não imaginam o estrago que fiz nos adversários…

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Jedi Knight: Dark Forces II

Por fim, não poderia deixar de comentar sobre o Unreal. Na época (1999), ele era alardeado como o mais incrível FPS do momento, dotado um visual gráfico excepcional e cenários gigantescos (em poucas palavras, Quake II ficava no chinelo)! O uso de recursos gráficos variados – como a profundidade de cor em 32 bits, a neblina no planto de fundo, as ricas texturas ornamentais e as superfícies mais realistas (aquele piso espelhado me deixou atônico) – tornavam a experiência muito mais agradável e interessante. Por um bom tempo, não me lembrei de que a série Quake e todos os seus derivados existiam!

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Unreal (tela de introdução)

Como eu havia adquirido a versão Gold Edition, não só tinha à disponibilidade o Unreal e sua extensão Return to Napali, mas também o Unreal Tournament, voltado exclusivamente para o modo multiplayer. Como também nunca curti muito o modo multiplayer, me concentrava em mais no modo single-player. Então, mesmo o Quake III sendo lançado posteriormente e competindo acirradamente com o Unreal Tournament (de tal maneira como os fã-boys de hoje se degladiam com a ATI e a nVidia), não tenho muito o que acrescentar. Mas que marcaram época, ah isso sim!

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Quake III

Claro que depois deles, vieram outros FPS interessantes e mais sofisticados. Em destaque, uma série de novos FPS ambientados na 2a. Guerra Mundial (Return to castle of Wolfenstein), Medal of Honour e Call of Duty), a dobradinha Half-life & Conter Strike, os modernos Doom III e Quake 4, temos também o FarCry e o Crysis, entre muitos outros; surgiram novas plataformas de jogos, como o PlayStation 2, 3, Xbox 360 e Wii; novas e possantes placas aceleradoras de vídeo surgiram no mercado, com suas variadas possibilidades de uso e suporte a inúmeras tecnologias; os LCDs tomaram o lugar dos antigos CRTs, e por aí vai. Mas ainda assim, mesmo com todas as suas limitações, posso tranquilamente dizer: estes foram anos maravilhosos!

Se perguntarmos à geração atual o que eles acham dos jogos antigos, muitos irão torcer o nariz; mas para nós, que passamos da casa dos 30, daremos longos suspiros e dizer… bons tempos! &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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