Certa vez Steve Jobs disse que o computador era como uma bicicleta para a mente. Olhando por esse sentido, o que ajudou o usuário a “pedalar” mais rápido, o progresso para a computação como um todo, foi, sem dúvidas, a adoção da interface gráfica e do mouse.
Esses dois elementos mudaram completamente a maneira de interação com o computador, a simbiose homem-máquina. Neste artigo vou falar sobre um desses elementos, o mouse. Pensado por Douglas Engelbart, longe do nível midiático que Jobs alcançou, mas com uma importância ímpar para a indústria e nossas vidas!
Logo de cara fiz questão de responder a pergunta. Quem inventou o mouse? A resposta é Douglas Engelbart. Faço isso pela importância que tal nome merece, um destaque que, infelizmente, não é tão grande quanto sua obra.
O sentido “profético” da obra de Engelbart é simplesmente chocante. Uma carreira pautada num objetivo que ele levou como uma bandeira moral: ajudar o ser humano a lidar com a complexidade e urgência, algo que teria uma utilidade universal.
O caminho para alcançar esse objetivo não poderia ser outro a não ser sua paixão pela eletrônica, cultivada desde a infância, já que Douglas Engelbart, nascido em Portland, EUA, em 1925, tinha bases familiares calcadas nesse mesmo apreço pelo assunto. O pai, engenheiro elétrico, tinha uma loja em Portland, e o avô, que trabalhava em usinas hidrelétrica, gostava de levar a família, incluindo, é claro, Engelbart, em visitas às instalações.
Fazendo um paralelo com a abordagem que a IBM trata a segurança cibernética, falando em “segurança cognitiva”, a união entre os pontos fortes da inteligência humana com o melhor que a inteligência artificial pode prover, o trabalho de Engelbart tinha este mesmo sentido.
Ele não queria que a máquina fosse um substituto do ser humano, sua missão era que o computador pudesse interagir com capacidades inatas do humano. Sabemos bem que o mouse e interface gráfica propiciaram justamente isso, permitiram que a criatividade humana fosse elevada a um outro nível, tendo como aliado sistemas computadorizados.
Engelbart era um grande admirador de Vannevar Bush, outro “profeta da tecnologia”. Em 1945, Bush escreveu um artigo visionário sobre o futuro da tecnologia da informação, tendo como base a ideia de que um dia todos teríamos a um pequeno computador inteligente sobre a mesa chamado Memex, que não seria apenas um máquina de cálculo, mas também um aparelho que iria ajudar a vida cotidiana. Mais profético que isso impossível!
Assim como as maiores parcerias no mundo dos quadrinhos, que envolvem um roteirista e um artista, o mouse partiu da ideia e esboço de Engelbart e a concepção ficou nas mãos de Bill English, que esculpiu em um pedaço de mogno o primeiro modelo do mouse. A foto abaixo é o mouse de Engelbart e English, projeto de 1963! Desenvolvido no Stanford Research Institute (atualmente SRI International). Engelbart trabalhou lá por 20 anos.
Como fica claro na imagem do primeiro mouse, esse periférico essencial sofreu diversas transformações ao longo dos anos. Transformações não só estéticas e de funcionalidade, mas também dos encarregados por difundir o projeto.
Mas antes de comentar essa passagem de “bastão” é preciso fazer um recorte historio de um outro momento em que Engelbart também mostrou o futuro. Em 1968, aconteceu o que ficou conhecido como “a mãe de todas as demonstrações”
Steve Jobs foi um grande orador e condutor de apresentações de produtos, mas nem a clássica apresentação do primeiro iPhone em 2007, teve tanto impacto como a demonstração que Engelbart realizou em 1968, um momento que deve ter soado como quase uma fantasia para quem estava in loco.
Esse momento foi nada mais, nada menos, que a primeira videoconferência da história. Engelbart fez a demonstração para uma plateia de quase mil pessoas durante uma conferência da indústria de informática de San Francisco. No livro “Os Inovadores”, escrito por Walter Isaacson, esse momento é relatado.
“De camisa branca de manga curta e gravata fina escura, ele estava sentado à direita do palco, diante de um lustroso console estilo “Action Office” de Herman Miller. O visor de seu terminal de computador era projetado numa tela de seis metros atrás dele. “Espero que os senhores aceitem bem este ambiente bastante inusitado”, disse Engelbart,
Assim como Jobs fazia muito bem, Engelbart soube criar a expectativa no público e em seguida demonstrar o que ficou conhecido como o grande momento do que seria o futuro da computação. Na demonstração foi mostrado a criação de um documento, que seria editado por outras pessoas, com direito a inserção de elementos visuais, o uso do mouse e até a criação de hiperlinks. A plateia aplaudia de forma eufórica. Parte dessa demonstração de 90 minutos pode ser conferida no vídeo abaixo.
Engelbart criou o mouse, mas o invento ficou associado a outros nomes e empresas, como a Apple, no sentido positivo, e a Xerox, no sentido negativo, já que a líder em fotocopia teve a oportunidade de ser a primeira empresa a colocar no mercado um computador com mouse, mas perdeu o “timing”, que foi muito bem aproveitado por Jobs e a Apple. Conto melhor essa história aqui.
Independente de quem tornou o mouse tangível no mercado, a missão de Engelbart foi alcançada com êxito. Ele conseguiu revolucionar a forma como a inteligência humana interage com a máquina, suas ideias continuam plantadas em nosso cotidiano.
Douglas Engelbert, este Ph.D em Engenharia Elétrica pela Universidade de Berkeley e detentor do prêmio Turing, maior honraria dedicada à ciência da computação, morreu aos 88 anos, em 2013, de insuficiência renal.
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