Psion Series 5: Um pouco de história

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Esta é a segunda vez que escrevo um artigo em homenagem a um Handheld antigo, o primeiro foi o HP 95LX, que você pode conhecer aqui: https://www.hardware.com.br/artigos/pouco-historia/.

Hoje vou falar um pouco sobre o Psion Series 5, outro Handheld bastante poderoso para a época que inovou de várias maneiras. Assim como os HP 95LX, os Series 5 ainda podem ser encontrados nos sites de leilão e algumas lojas de usados, onde eles são vendidos por em média de 400 a 500 reais, mais ou menos o preço de um Palm M100 novo. Um pouco salgado para um aparelho usado, mas dependendo das suas necessidades eles pode ser muito útil.

A Psion é uma empresa Inglesa que fabrica handhelds desde 1984. O primeiro modelo de sucesso foi o Series 3, seguido pelo Siena, uma versão mais barata que era vendido para usuários de agendas eletrônicas. O Series 5 foi o próximo da lista, seguido pelo Series 5 MX, pelo Psion Revo e o Series 7. O 5MX foi uma versão melhorada, que trouxe 16 MB de memória, um processador com o dobro do clock e uma tela com um contraste melhor. O Revo por sua vez foi uma versão de baixo custo, que usa uma tela de resolução menor e não possui um soquete para expansão de memória.

Atualmente a Psion fabrica apenas o Series 7, um modelo maior, usado sobretudo em soluções para empresas. Com a concorrência dos Palms e Pocket PCs o mercado doméstico tornou-se um local inóspito 🙂 Em 98 um Series 5 custavam cerca de 700 dólares, um valor mais alto que o dos Cassiopéia, Philips Nino e outros concorrentes baseados no Windows CE. É verdade que o Psion é mais rápido e oferece uma variedade de aplicativos muito superior à esta primeira leva, mas o preço fez com que ele ficasse restrito a alguns nichos, sobretudo na Europa. Aqui no Brasil o Revo chegou a fazer algum sucesso, entre 1999 e 2000 era possível comprar um por cerca de 1100 reais, graças à distribuição nacional.

O Series 5 é baseado num processador ARM de 18.4 MHz, que traz 8 MB de memória (foram lançados também modelos de 4 MB) que podem ser expandidos através do slot para cartões compact flash. Ele suporta cartões de 128 MB que podem ser trocados mesmo com o aparelho ligado. Como os cartões são um padrão da indústria e não um formato proprietário qualquer, eles são razoavelmente baratos, permitindo que quem precisa de muita memória possa usar vários cartões e ir trocando-os conforme necessário. Isto fez com que o Psion se tornasse especialmente popular entre médicos e engenheiros. O cartão é reconhecido como o drive D:, separado do C: que representa a memória interna.

O cartão pode ser tanto usado para armazenar dados quanto para instalar programas. O desempenho dos cartões compact flash varia de acordo com a marca, mas geralmente eles são lentos, transferindo a menos de 1 MB/s. A memória flash em sí é rápida, mas os fabricantes utilizam barramentos de dados estreitos para cortar custos. Devido a isso os dados do cartão são acessados bem mais lentamente que os da memória interna, um tipo de memória SRAM bem mais rápida.

Se você tiver um leitor instalado no PC é possível transferir arquivos diretamente através do cartão de memória, sem ter que recorrer à lenta conexão serial. O Psion formata os cartões em FAT 32, o que os torna compatíveis com a maioria dos sistemas operacionais. Existem leitores a partir de 80 reais, alguns modelos são capazes de ler também cartões Smart Media e PC-Card. Eles utilizam o protocolo USB Storage, o que faz com que sejam reconhecidos como unidades de disco removível no Windows 2000/XP e também nas versões recentes das distribuições Linux. Eles estão ficando populares também entre os usuários de câmeras digitais.



O hardware do Psion não é particularmente potente. Um processador ARM tem um desempenho teóricamente 50% superior ao de um 486 do mesmo clock, o que daria ao Psion um desempenho próximo ao de um 486 SX 33. O problema é que a memória SDRAM utilizada como memória de sistema pelo Psion não oferece um desempenho tão bom quanto o de um pente de memória FPM, pois possui um clock baixo e um barramento de dados estreito, um design eficiente do ponto de vista do consumo de energia, mas não do desempenho. O Psion também não possui nenhum tipo de cache L2, não possui co-processador aritmético e o vídeo é atualizado de forma primitiva, via frame-buffer. Se comparado com um desktop, o desempenho do Psion seria mais parecido com o de um 386.

Apesar disso, os aplicativos rodam bem rápido, graças à leveza do sistema operacional. O Psion utiliza o Epoc, um sistema operacional de 32 bits desenvolvido pela Simbian que faz um uso bastante eficiente do Hardware. Assim como no Palm, os programas são bastante leves, em geral menos de 100 KB, permitindo rodar vários programas simultâneamente sem perda de desempenho.

Aqui está uma foto que compara o tamanho do Psion com o de alguns objetos. Ele não é um handheld muito pequeno, mede 170 x 90 x 23mm e pesa 350 gramas com as baterias. Não dá para leva-lo no bolso da camisa, mas ele entra um pouco apertado no da calça 🙂


Na parte de baixo temos os compartimentos para as pilhas, bateria de backup, cartão compact flash e os botões para tomar notas de voz. Existem dois formatos de compressão: 2 MB por megabyte e 4 MB por megabyte, mas em nenhum dos dois existe compressão real, apenas um arquivo PCM gravado com frequencias diferentes. Em ambos a qualidade é suficiente apenas para gravações de voz, para notas rápidas como números de telefone e endereços e gravações de conversas ou palestras. Com um cartão de 32 MB é possível gravar uma palestra de duas horas usando a compressão máxima, ideal para aqueles dias em que você não dormiu direito à noite :-).


A grande marca dos handhelds da Psion é o teclado, que desliza quando o aparelho é aberto, melhorando o aproveitamento do espaço e colocando a tela numa posição confortável para uso prolongado. Este sistema não é encontrado em outros handhelds justamente por que a Psion se apressou em patentear a idéia.



Veja que graças ao sistema o teclado ganhou alguns centímetros, o suficiente para que as teclas tenham pouco mais de 60% do tamanho das de um teclado normal. Isto torna o Psion até hoje um dos melhores handhelds para quem precisa digitar textos longos (como eu) você pode tanto digitar sobre uma mesa quanto usar os dedões para digitar enquanto está em pé. Eu consigo manter pouco mais de 80 caracteres por minuto no Psion, pouco mais de um terço da minha velocidade normal de digitação. Usando o teclado on-screen do Palm que tinha anteriormente conseguia apenas de 30 a 40. Algumas pessoas dizem ser possível digitar por toque no teclado, mas isso não chega a ser necessário pois por estarem muito próximos, é possível ver o teclado e a tela ao mesmo tempo:


A tela é uma half-VGA, com 640×240 de resolução. Esta tela não é exatamente o que podemos chamas de “extremamente nítida”. A visibilidade é algo semelhante à de um Palm Professional: o contraste não é muito bom e reflete muito a luz ambiente. Você só consegue usa-la confortavelmente com luz do sol ou luz ambiente razoavelmente forte. Por sorte incluíram um backlight, que você acaba usando na maior parte do tempo.

O backlight reduz brutalmente a autonomia das baterias. Duas pilhas alcalinas são suficientes para em média 30 horas de uso contínuo, mas com o backlight ligado elas duram pouco mais de 10 horas. Este é o preço a pagar por ter uma tela grande 🙂 O melhor é comprar um conjunto de pilhas AA recarregáveis, de preferência de 1600 mAH ou mais, assim você poderá usar o backlight sem culpa. A tela usada nos Psion Series 5 MX e no Revo são melhores, mas eles também são bem mais caros.

O 5MX é um excelente handheld se você puder pagar por um, pois mantém todas as características do Series 5 mas traz 16 MB de memória e um processador de 36 MHz, que melhora bastante a usabilidade. Eu não recomendo o Revo, pois a falta do slot para cartões de memória anula a principal vantagem do Psion que é armazenar grandes quantidades de dados. A tela também utiliza uma resolução mais baixa: 480 x 200, o que o torna incompatível com grande parte dos programas.

O principal uso do meu Psion é justamente escrever, e bastante 😉 Este foi o motivo de ter escolhido comprar um Psion usado e não um Handheld mais moderno em primeiro lugar.

Apenas os Psions distribuídos nacionalmente vê, com suporte à acentuação em Português, enquanto o meu é um modelo do Reino Unido. Para resolver o problema basta usar um programinha chamado TwinKey (gratuito), que assim como os outros programas que cito nesta matéria pode ser baixado no:
http://www.psionplace.com/software-series5.html

O TwinKey emula o suporte a acentuação, substituindo seqüencias de duas teclas por caracteres especiais. Assim você pode substituir “:” + C por “Ç”, “:” + E por “É” e assim por diante. Ele suporta todos os caracteres do conjunto ASCII e a substituição é feita de forma transparente, conforme você digita. Funciona em quase todos os aplicativos, com excessão de alguns poucos que não suportam caracteres especiais. O Psion vem com um processador de textos, o “Word” e uma planilha chamada “Sheet”, que até possuem bons recursos considerando as limitações do aparelho. Apesar disso eu prefiro escrever sempre em texto puro, então uso o RMRText, que também é gratuito:


Outro programinha que uso bastante é o TreeT, um gerenciador de arquivos bem mais leve que o que acompanha o sistema e que contém visualizadores para arquivos de texto e imagens em BMP.

Outro ponto forte do Psion é o acesso à Internet. Existem dois modelos de modems opcionais, um pode ser ligado à porta serial e outro se comunica via infravermelho. Infelizmente ambos são de 14.4, com um desempenho real um pouco abaixo disso. Os modems utilizam duas pilhas AA, não sugam energia do Psion em sí.


O acesso à internet no Psion é bastante lento, ele demora quase dois minutos para abrir a página index do Guia do Hardware por exemplo. Mas, a boa notícia é que apesar da lentidão ele é capaz de acessar páginas “normais” e não apenas sites pré-formatados como os Palms. É possível alterar o tamanho das fontes utilizando os botões “+” e “-” encontrados no canto inferior esquerdo da tela, ajustando a página ao tamanho da tela. Veja que a página do Guia fica perfeita mesmo no Psion, resultado dos esforços para compatibilizar o design com todos os navegadores 🙂


Além de navegar na Web é possível enviar e receber e-mails e também faxes, com os programas incluídos no Message Suite, fornecido pela Psion. O navegador é bem simples, capaz apenas de exibir html e imagens em gif e jpg mas existe também uma versão do Opera, que oferece mais recursos mas em compensação não é gratuita.

Outra ferramenta que costumo utilizar bastante é o Hermes, um emulador de terminal que pode se conectar ao seu desktop tanto via porta serial quanto via Internet, usando o Telnet. Usando o Linux no desktop é possível rodar todos os aplicativos de modo texto, manipular os arquivos e tudo mais a partir de qualquer lugar, realmente muito interessante. Existe também uma versão do VNC, mas que fica muito lenta num modem de 14.4. O telnet funciona bem melhor, aqui ele está rodando o mc instalado no desktop:


Para acessar o desktop basta saber o número IP. Se você tiver uma conexão de banda larga fica mais prático pois você pode mantê-lo ligado sempre que estiver fora de casa, caso contrário o jeito é ligar e pedia para alguém conectar e lhe dizer o IP corrente. Naturalmente, manter um servidor de Telnet ativo representa um risco moderado de segurança, uma opção para melhorar as coisas neste aspecto é usar um “laranja”, um outro micro, que sirva de intermediário entre a Internet e seu PC principal. Você se conecta via Telnet no laranja e o utiliza para abrir uma seção SSH e assim chegar até o seu PC principal.

Estes são os aplicativos que utilizo mais, mas existem cerca de 1000 aplicativos disponíveis para o Psion, uma grande parte freewares. Mesmo depois de ter sido descontinuado, ainda existe uma comunidade relativamente forte em torno do Psion, o que faz com que mesmo hoje novos aplicativos sejam desenvolvidos. Você mesmo pode desenvolver seus próprios programas usando o OPL, uma ferramenta que faz parte do sistema Epoc.

Aliás, falando em aplicativos, o Psion também é capaz de rodar Linux e vários aplicativos. O Series 5 é capaz de rodar apenas em modo texto, enquanto o 5MX já é capaz de rodar também o modo gráfico. É necessário ter um cartão de memória de 32 MB para o modo texto e 128 MB para o modo gráfico. Neste link você pode ver um monte de screenshots de um 5MX rodando o X com o PicoGUI:

http://thomas.de-ruiter.cx/projects/psion/screenshots/


A página oficial do PsiLinux é a http://linux-7110.sourceforge.net/

O processo de instalação é relativamente simples. Você precisa transferir o Kernel, o Intrd, que é a imagem do sistema montada pelo Kernel como a partição raiz do sistema e o Arlo, o gerenciador de boot que permite inicializar o Linux a partir do Epoc. Basicamente, uma vez instalados os arquivos, basta clicar sobre o executável do Arlo através do gerenciador de arquivos do Psion para inicializar o Linux e dar um soft-reset, pressionando o pino próximo da bateria de backup (não causa perda de dados) para voltar ao Epoc quando desejado. Uma vez instalado o Linux, é possível instalar outros pacotes, incluindo os aplicativos que pretenda utilizar.

Aqui está um how-to destinado ao Psion Series 5:

http://www.aleph1.co.uk/armlinux/pda/Psions-running-Linux-HOWTO/t2.html

A conexão com o PC é feita via porta serial. Não chega a ser rápido, mas a velocidade de 115 kbits é aceitável considerando que os arquivos gerados no Psion geralmente não são muito grandes.

No Windows basta usar o PsionWin, cuja versão mais recente pode ser baixada no http://www.psion.com. O programa faz com que o Psion seja reconhecido como uma unidade de disco, permitindo que você acesse os arquivos diretamente. Existe também uma ferramenta de backup que faz uma imagem da memória do Psion que pode ser restaurada posteriormente. Mas, não existe nada parecido com o Palm Dekstop, que permita acessar as funções do Psion no desktop e sincronizar entre os dois.

No Linux a comunicação é feita através do plptools que você pode baixar aqui:

http://sourceforge.net/project/showfiles.php?group_id=8797

Na página estão pré-compilados para o Mandrake, Red Hat e SuSe, além dos pacotes em código fonte. O pacote principal é o plptools propriamente dito, que cuida da comunicação com o Psion e fornece os utilitários de modo texto para trocar arquivos, instalar programas, imprimir e fazer backup, as mesmas funções do PsionWin. Os comandos do pacote estão abaixo, basta digitá-los num terminal:

ncpd : este é o daemon, instalado no PC, que permite estabelecer a conexão com o Psion. Ele deve ser aberto primeiro.

plpnfsd : o mais interessante no pacote na minha opinião 🙂 Ele monta os arquivos do Psion dentro do diretório /mnt/psion. A partir daí basta acessar acessar através do gerenciador de arquivos.


plpprint : este é outro Daemon que permite que o Psion imprima na impressora instalada no PC. O Psion oferece suporte a várias impressoras e pode tanto imprimir diretamente para a impressora, usando um cabo que era vendido separadamente quanto através de um PC.

plpbackup : este é o responsável pela função de backup dos arquivos do Psion. Veja os argumentos no manual: man plpbackup

plpftp : um cliente de FTP em modo texto que também permite transferir arquivos entre o Psion e o PC. o comando plpftp inicia a conexão. A partir daí use os comandos cd, cd .. e ls para navegar entre os diretórios, “get” para baixar um arquivo, “put” para dar upload e “help” para ver uma lista com todos os comandos. Para fechar a conexão tecle “bye”

sisinstall : instala novos programas no Psion. Os arquivos de instalação dos Psion series 5 e 5MX possuem a extensão .sis. Para instalar um programa basta teclar “sisinstall programa.sis”. Ele exibe as informações sobre o pacote e, caso você tenha um cartão instalado pergunta se ele deve ser instalado no cartão ou na memória interna.

Os demais pacotes disponíveis na página instalam o Kpsion, um front-end gráfico que dá acesso às mesmas funções, mas num formato mais agradável. É colocado até um atalho no Konqueror, que mostra os arquivos do Psion. O único problema com o Kpsion é que a versão atual (provavelmente não haverão outras, já que o projeto não recebe atualizações a um certo tempo) utiliza as bibliotecas do KDE 2, e por isso não pode ser instalado diretamente em distribuições que utilizam o KDE 3, como o Mandrake 9.0, Red Hat 8.0 e assim por diante. Nestes casos é preciso instalar os pacotes do KDE 2, reinstalar os pacotes do KDE 3 (ambos ficarão instalados) para só então poder instalar o Kpsion. Isso não se aplica naturalmente às distribuições com o KDE 2, como o Mandrake 8.2 e Red Hat 7.2, onde ele pode ser instalado diretamente.


O link abaixo dá as dicas de como desmontar o Series 5, é mais simples do que a maioria dos notebooks:

http://www.portal-pda.com/guides/openings5/openings5.html

Para finalizar, aqui vai um link com várias fotos de Psions destruídos (cabos flat partidos, telas quebradas, etc.) e dicas para consertar alguns dos defeitos

http://www.portal-pda.com/graveyard/pdagrave.html

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