Project Ara, o smartphone que algum dia você pensou em ter foi cancelado

Project Ara, o smartphone que algum dia você pensou em ter foi cancelado

O Google e as empresas que fazem parte do emaranhado da Alphabet, holding com diversas empresas de diferentes segmentos pertencentes ao império criado por Larry Page e Sergey Brin, alcançou um patamar de que qualquer ideia maluca ou revolucionária apresentada seja levada muito a sério. E a forma como são apresentadas, jogando pelo caminho migalhas de pão, que traçam o desenvolvimento desses conceitos, tornam a expectativa ainda maior e significativa.

Em relação ao mercado de smartphones, mercado que o Google conhece muito bem, tanto em termos de aparelho como em relação ao sistema, criou-se um hype enorme em torno de um projeto no mínimo curioso que seria responsável (me desculpe o clichê), por ser um “divisor de águas” dos celulares inteligentes, já que elevaria ao extremo o que conhecemos como customização de um dispositivo, já que as peças, tratadas como módulos, poderiam ser substituídas por outras de uma qualidade superior.

A câmera está registrando fotos ruins em ambientes escuros? Não tem problema, trocar o smartphone como um todo não será mais necessário, é preciso apenas adquirir um novo módulo de fotografia, capaz de atender a essa necessidade.

Embora o Google tenha batido no peito e assumido a responsabilidade por colocar no mercado esse projeto, a ideia original da modularidade em smartphones partiu da ideia do Phonebloks do designer holandês Dave Hakkens, que lá em 2013 apresentou em vídeo o conceito de um smartphone onde o usuário poderia personalizar o gadget de acordo com a sua necessidade, E no caso essa personalização era realmente extrema, passando da troca da câmera até a tela e o processador.

Essa pegada extrema acabou se perdendo ao decorrer do desenvolvimento quando o Google em 2014 ainda por intermédio da Motorola iniciou o tal Project Ara. Os últimos capítulos desse longa-metragem que se tornou o Ara deixaram claro que a personalização tornou se mais simples e direta, focando na troca da capacidade da bateria, câmera, entre outras coisas mais simples.

Você deve estar se perguntando, últimos capítulos do Ara? O projeto morreu? Sim, ele morreu, ou melhor, foi engavetado. O Google confirmou ao Venture Beat que o Project Ara foi cancelado. 

Esse cancelamento do Ara é realmente bem significativo, pois coloca uma trava no que seria a grande reviravolta no mercado de smarthphones, criando um verdadeiro sistema á la carte, onde novos blocos seriam adquiridos e o ciclo de vida do aparelho seria mais significativo.

É realmente uma pena que o projeto não tenha sido finalizado e ganho o mercado, já que os smartphones caíram numa rotina chata e previsível da troca das especificações, onde o ciclo envolve novos modelos com atualizações de processador, quantidade de RAM elevada, entre outras coisas, chegando a extremos, como a Turing, que durante a IFA 2016 anunciou que pretende lançar um smartphone equipado com dois processadores Snapdragon 830, 12 GB de RAM e câmera traseira de 60 MP. Embora nos finalmente o Ara também envolvesse o incremento nas especificações, a ideia do smartlego era simplesmente sensacional.

Como disse no início, o Google sabe como promover o show, sabe como criar bases e expectativa em relação as suas aventuras. Com o Ara isso não foi diferente, desde 2014 durante sua tradicional conferência Google I/O protótipos foram mostrados. Dentre todas as apresentações a mais significativa foi a última, durante a I/O 2015, quando Rafael Camargo, engenheiro do Google subiu ao palco com uma bandeja cheia de blocos e simplesmente foi encaixando numa base central, mostrando inclusive que a troca de módulos poderia ser feita com o smartphone ligado.

Essa apresentação foi em maio, e na época estava previsto que um teste-piloto aconteceria no final de 2015 em Porto Rico, situação que acabou não acontecendo. Foi dito inclusive que uma versão do Ara chegaria nas mãos dos desenvolvedores na metade de 2016, e que provavelmente uma versão comercial poderia dar as caras em 2017.  Depois de todo esse alarde, a decisão de engavetar o projeto é no mínimo curiosa.

Alguns rumores apontam que a decisão de travar o andamento do Ara partiu de Rick Osterloh, que é o novo chefão do segmento de hardware do Google, e que resolveu mudar as estratégias. 

Rick Osterloh

​Será que essa mudança de estratégia representará no futuro o Google licenciando a tecnologia para que outro fabricante tenha a coragem de lançar? É fato que o Google não ficaria por muito tempo isolado em relação aos smartphones modulares, já que foi (ou ainda é) uma ideia que muitos apostaram (e ainda apostam).

A própria LG e Lenovo lançaram esse ano smartphones que trazem uma amostra de modularidade, a LG com o G5 e a Lenovo com o Moto Z. Inclusive a Motorola continua apresentando novos módulos, ou Moto Snaps como é chamado. Na IFA 2016 por exemplo, foi apresentado um módulo focado na fotografia com tecnologia da Hasselbland, proporcionando ao aparelho a experiência de uma câmera semiprofissional, com zoom óptico de 10x.

No caso do LG G5, que está a mais tempo no mercado que o Moto Z, a recepção foi bem fria, mesmo com a palavra modular em evidência, o impacto causado no público não foi nem perto do que era esperado. Alguns usuários reportaram que os módulos não encaixam bem, isso sem contar no preço que também não agradou. Se formos colocar o Brasil na roda, essa questão do preço é ainda mais assustadora, o módulo Cam Plus por exemplo, que é o responsável por incluir no G5 uma base com botões físicos para o controle da câmera além de incluir uma bateria de 1.200 mAh custa na faixa dos R$ 550.

Com a retirada de campo do Google em relação aos smartphones modulares, fica difícil traçar para que caminho esse mercado pode caminhar. Será que tanto a Lenovo quanto a Motorola, que no passado pertenceu aos domínios do Google, continuarão investindo em outros modelos com esse conceito? Será que novos fabricantes irão embarcar nessa? Só o tempo dirá. 

Talvez a decisão do Google tenha sido realmente acertada, já que os passos para que smartphones modulares se tornem realmente funcionais e aceitos são árduos, e a gigante das buscas sabe muito bem como é tentar implementar tecnologias desruptivas e encontrar problemas, como no caso do Google Glass, que ainda tenta seguir em frente, inclusive com um novo nome, (agora intitulado Projet Aura) e postura, já que o foco do Google será o setor corporativo.
Adotando aquela transição bem conhecida de produtos do setor corporativo que em muitos casos acabam chegando ao consumidor final.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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