Se você acha um Pentium 100 ou um 486 micros obsoletos, pode estar com toda a razão, afinal, muitos dos softwares que temos atualmente, não rodam de forma aceitável num PC antigo. Mas, nada é tão ruim que não possa piorar não é mesmo? 🙂 Já que estamos falando de micros antigos, que tal conhecer um pouco sobre os primeiros PCs? Ok, esqueça dos monitores coloridos, dos gravadores de CD, dos HDs de trocentos Gigabytes, vamos voltar no tempo e lembrar por alguns instantes do que utilizávamos a apenas duas décadas atrás. No final, seu PC velho de guerra pode até parecer mais rápido 🙂
Atualmente, os processadores recebem nomes código, como “Pentium”, “Athlon”, “Celeron”, etc. mas, quando a Intel iniciou sua produção de microprocessadores, estes recebiam apenas números como identificação. Este padrão durou até o 486, quando outros fabricantes de processadores x86, como a AMD e a Cyrix começaram a conquistar uma fatia considerável do mercado. Como ninguém pode patentear números, a Intel não tinha como reclamar dos processadores 486 da AMD ou da Cyrix, até tentou entrar na justiça, mas não deu em nada. A moda pegou, e apartir do Pentium poucos processadores ainda tem nomes baseados em números, ou com pelo menos uma letra, que permita patentear o nome, como em “Cyrix 5×86”.
Voltando no tempo, o primeiro microprocessador lançado pela Intel se chamava 4004, era um projeto extremamente simples, quase uma mera calculadora. Em seguida foram surgindo vários chips mais avançados, destinados principalmente à equipamentos destinados às empresas, minicomputadores etc.
Mas, no final da década de 70, já existiam muitos micros destinados ao mercado doméstico, a maioria ainda usava antiquados processadores de 8 bits e não tinha muita aplicação prática, mas mesmo assim fazia um relativo sucesso. Foi então que a Intel resolveu começar a ganhar dinheiro também neste segmento, lançando dois processadores, o 8086 e o 8088, semelhantes em recursos.
O 8088 acabou sendo o adotado pela IBM para equipar o seu primeiro computador pessoal, o “IBM PC”, lançado em 81. Se os micros atuis fossem carros, este primeiro PC seria uma carroça, com rodas de madeira e tudo 🙂 Vinha com meros 64 Kbytes de memória RAM e sem disco rígido. O monitor era um MDA mono de 12 polegadas. Se você nunca ouviu o termo, o MDA era um padrão primitivo de monitores, antecessor dos monitores CGA, aqueles de tela verde que foram muito usados nos micros XT e 286.
HD? Naquela época era um artigo de luxo, encontrado apenas em minicomputadores. Algumas empresas pioneiras começaram a desenvolver os primeiros HDs para computadores pessoais, mas não eram nada parecidos com o que temos hoje. Se você acha um HD de 300 dólares caro, ou acha que 2 GB é pouco, imagine um HD de apenas 5 MB que custava 2800 dólares… é, tempos difíceis aqueles 🙂
Upgrade de memória? Esqueça a escolha entre módulos DDR ou Rambus, aliás, esqueça até dos módulos de memória, naquela época eles não existiam nem nos filmes de ficção científica. Os upgrades de memória disponíveis eram placas de expansão gigantescas, algo do tamanho de uma Sound Blaster AWE 32 antiga, com no máximo 256 KB cada uma, que podiam facilmente custar na faixa dos 3000 dólares. Isso falando em dólares da época, se fôssemos converter para moeda atual, daria bem mais, já que mesmo nos EUA, 20 anos de inflação não é pouca coisa 🙂
Apesar de hoje em dia esta configuração soar como uma piada de mal gosto, o IBM PC fez um grande sucesso na época, não por o computador mais avançado ou fácil de usar da época, mas por ser relativamente barato, para os padrões de 20 anos atrás e “funcionar”.
Depois do PC original, foram surgindo várias versões mais incrementadas, baseadas no mesmo processador 8088. Surgiu então o famoso PC-XT, famoso até hoje. Os XTs eram equipados com mais memória RAM, alguns vinham com até 640 KB de memória. Aliás, uma frase célebre do mundo da Informática, foi dita por Bill Gates naquela época: “Por que alguém precisaria de mais de 640 KB de memória RAM?” 🙂
Naquela época, o meio mais usado para armazenar programas eram os disquetes de 5,25 polegadas de 360 KB, afinal, não era todo mundo que tinha 3000 dólares sobrando para comprar um HD 🙂
O processador 286 trouxe alguns avanços sobre o 8088 usado no XT. Ele é capaz de acessar mais memória (o 8088 só acessava 1 MB de memória RAM), é mais rápido e trouxe um novo modo de operação, o famoso modo protegido, que ampliava os recursos do processador. Na teoria parece um grande avanço, mas na prática os micros 286 não são fazem muito mais que os velhos XTs, devido à ausência de programas que utilizem seus recursos. Um XT clássico vem com 256, 512 ou 640 KB de memória e sem disco rígido. Um 286 clássico já vem com 1 MB de memória e um disco rígido de 20 ou 40 MB.
Apesar da limitação relacionada ao uso do modo protegido, os micros 286 á trouxeram muitos avanços. Imagine a felicidade de um usuário ao descobrir que não precisava mais trocar o disquete no drive cada vez que quisesse carregar um programa e que não precisava mais usar disquete de boot. Sim, os HDs tornaram-se padrão com os 286. Se você acha pouco, na época começou a tornar-se popular também uma espécie de super disquete, que espantou muita gente, afinal, como seria possível armazenar tantos dados num espaço tão pequeno?? Sim, estamos falando dos disquetes de 1.44 🙂
Aliás, outra coisa que começou a se tornar popular na época foram os pentes de memória. Sim, módulos de 8 bits, com até 512 KB cada um, um verdadeiro sonho de consumo! :-p
Se um 286 já era o sonho de qualquer aficionado, principalmente aqui no Brasil onde a reserva de mercado nos obrigava a usar micros “Cobra”, rodando um tal de “Sisne”, ou no máximo um XT surrado, um 386 era coisa do outro mundo “coisa de gringo”.
Falando dos Cobra, nossos computadores eram tão antiquados, que não tinham botão liga-desliga, tinham chave de ignição, uma coisa grotesca, parecia um caminhão. Se você duvida, visite uma página que se dedica a manter a memória destes aparelhos, entre outros de fabricação nacional: http://www.applefritter.com/~brcomp/
Ok, voltando ao assunto principal, e deixando um pouco as brincadeiras de lado, o 386 é o que podemos chamar de primeiro processador contemporâneo, pois ele foi o primeiro processador a usar o conjunto de instruções x86 de 32 bits, as mesmas instruções que continuam sendo usadas pelos processadores atuais.
Isto significa que apesar do desempenho medíocre (para os padrões atuais), um 386 é capaz de executar todas as operações x86 padrão que um processador atual é capaz. Se o micro tiver pelo menos 4 MB de memória, e espaço suficiente no disco rígido é possível até mesmo instalar o Windows 95, Office, etc. Claro que o baixo desempenho impediria que o micro tivesse alguma função prática, mas é só para demonstrar que a possibilidade existe.
Existiram duas versões do 386, chamadas de 386DX e 386SX. A diferença é que o 386SX acessava a memória RAM e outros periféricos a apenas 16 bits, enquanto o DX o fazia a 32 bits. Isto permitiu aproveitar muitos dos componentes usados nos antigos micros 286 também em conjunto com o 386SX, criando micros baratos, mas de baixo desempenho. Talvez a idéia de PC popular tenha nascido naquela época, pois quando começaram a aparecer no mercado os primeiros PCs que custavam menos de 1000 dólares.
Um 386 já tem mais utilidade que um XT ou 286 pois já permite rodar o Windows 3.1 com um desempenho razoável. Poderia por exemplo ser usado para editar textos no Word 6 ou mesmo ler e-mails caso o micro tivesse modem.
Em geral os 386s são os primeiros micros que oferecem alguma possibilidade de upgrade, pois a memória RAM já vem na forma de módulos de 30 vias, que podem ser substituídos, já utilizam discos rígidos IDE que podem ser trocados por outros de maior capacidade, etc. Se você tiver alguns componentes antigos sem uso poderia usa-los para deixar um velho 386 em condições de uso. Seria um bom passatempo.
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