Planos 3G, LTE e o lado do consumidor

Planos 3G, LTE e o lado do consumidor

Quando as operadoras começaram a oferecer planos de acesso móvel 3G, os planos ilimitados eram a regra. Por algum tempo, pareceu que a estratégia era efetivamente fazer com que as conexões móveis suplantassem o ADSL e o acesso via cabo, atendendo não apenas à quem queria acesso móvel, mas também a quem usa predominantemente em casa.

Entretanto, a ilusão demorou pouco. Logo as operadoras passaram a impor quotas cada vez mais baixas de tráfego, colocando o acesso móvel em seu devido lugar: uma tecnologia complementar, mas que não substitui as conexões fixas. Em resumo, você usa o 3G para ler os e-mails e acessar o twitter, mas usa o ADSL quando quer assistir vídeos ou fazer downloads.

Ao contrário do que pode parecer, investir em infra-estrutura de telefonia não é uma coisa simples. Tudo começa com o processo de leilão das faixas de frequência, que obrigam as operadoras a desembolsarem valores exorbitantes antes mesmo de começarem a implantar as redes.

No início do mercado de telefonia, as frequências eram distribuídas às operadoras de acordo com a área de atuação e os serviços oferecidos; a prioridade dos governos era simplesmente fiscalizar a implantação dos serviços, o que segundo muitos é a forma “justa” de executar o processo. Inevitavelmente, cada faixa de frequência precisa ser fornecida com exclusividade a uma única operadora, já que duas redes distintas operando na mesma frequência interferem entre si, tornando impossível garantir a qualidade do serviço. Um bom exemplo são as redes Wi-Fi (que operam em uma faixa não-licenciada), onde basta um vizinho com um amplificador para prejudicar a operação de todas as redes próximas.

O grande problema é que as faixas de frequências são limitadas em número e com a entrada de mais operadoras no mercado, elas passaram a ser disputadas no tapa, literalmente. Os governos (no mundo todo, não apenas no Brasil) logo perceberam que poderiam ganhar muito dinheiro se passassem a leiloar as faixas de frequência, tratando-as como um produto. Com isso, não apenas as operadoras passaram a disputar as faixas de frequência existentes, mas também as grandes passaram a tentar bloquear a entrada de outras operadoras menores, adquirindo mais faixas de que realmente precisaria apenas para impedir a entrada de outras concorrentes.

Para as operadoras, adquirir faixas de frequência para cada nova tecnologia acaba sendo uma questão de sobrevivência, já que sem elas ela fica restrita à tecnologia anterior, sem ter como atualizar sua rede. Um bom exemplo é a Nextel, que não conseguiu adquirir uma das faixas de frequência de rede 3G em 2007 e acabou presa ao 2.5G, tendo que se especializar em planos de voz e mensagens, com tráfego de dados limitado ao GPRS/EDGE.

Tento tudo isso em mente, não é difícil entender os valores estratosféricos atingidos nos leilões. Em 2007, por exemplo, quando foram leiloados as frequências de operação das redes 3G, a Anatel arrecadou nada menos do que 5.4 bilhões de reais. Naturalmente, o valor pago pelas operadoras acaba sendo repassado aos clientes com juros no final da cadeia, transformando o leilão em uma espécie de imposto invisível, pago pelos consumidores.

O problema seguinte é a implantação das torres, que esbarra em um conjunto de outros problemas, incluindo limitações e taxas impostas pelas prefeituras, necessidades de adquirir terrenos, processos na justiça por vizinhos insatisfeitos e assim por diante. No final, o custo dos equipamentos propriamente ditos acaba representando apenas uma pequena fração do que é efetivamente gasto.

Como cada antena de transmissão é capaz de atender a um número limitado de clientes simultâneos, oferecendo um volume finito de banda, os custos acabam sendo calculados com base em cada GB transferido. Ter 10.000 clientes que transmitem 10 GB de dados por mês, ou ter 1.000.000 de clientes que transmitem 100 MB por mês demanda exatamente o mesmo investimento em termos de infra-estrutura, o que passou a levar as operadoras a investirem nos clientes que usam pouca banda, em detrimento dos heavy-users. Limites passaram a ser impostos e a época do “navegue à vontade” deu lugar ao “navegue o quanto conseguir, até acabar a quota”.

Em 2007, era possível contratar um plano de dados de 1 MB “ilimitado” por R$ 120 por mês, mas hoje em dia você teria que se contentar com uma quota de dados de 5 GB pelo mesmo valor. Quotas tão baixas eliminam grande parte do atrativo das conexões 3G, já que inviabilizam seu uso para download de arquivos, ou até mesmo para o uso regular de serviços de streaming de vídeo, que são os principais motivos de alguém querer uma conexão rápida em primeiro lugar.

Para complicar, as conexões 3G na maioria das cidades não são exatamente “rápidas”, já que a velocidade efetiva depende da qualidade do sinal e do número de usuários dentro da mesma área. Em muitas regiões, sobretudo nos horários de pico, as velocidades podem ser tão baixas quanto na época do EDGE.

Por outro lado, a fixação das operadoras com o tráfego de dados abriu as portas para a criação de planos 3G de baixo custo para os planos pré-pagos, que podem atender bem a quem já paga por uma conexão via ADSL ou cabo em casa e quer apenas uma opção barata para checar os e-mails ou usar em emergência.

Elas surgiram como uma forma das operadoras tentarem ordenhar um pouco mais de dinheiro dos usuários de planos pré-pagos, que somam mais de 150 milhões de assinantes (quase um para cada habitante!), um total de 82% dos assinantes no Brasil. Se os operadoras conseguissem convencer cada um a gasta 50 centavos por dia, já seriam 2.25 bilhões de reais a mais por mês.

A primeira a tentar algo nesse sentido foi a Tim, que lançou o agora famoso plano de 50 centavos por dia para os usuários do Infinity-Pré, acompanhado de uma campanha de marketing para tentar convencer mesmo os donos de celulares mais simples a passarem a navegar e a mandar mensagens, funções que qualquer celular antigo rodando a versão Java do Opera Mini pode desempenhar bem. Como o plano é ativado assim que o primeiro pacote de dados é transmitido, acabaram atraindo um grande número de usuários que usam apenas alguns poucos kbytes por dia, que era exatamente o objetivo.

Para quem usa mais, a quota é incrivelmente baixa, com apenas 10 MB de tráfego por dia antes de disparar o gatilho de redução, que limita a velocidade a apenas 64 kbits. Em outras palavras, você tem algo que pelo menos no papel se parece com uma conexão de banda larga nos primeiros 10 megabytes e uma conexão discada daí pra frente, mas por 50 centavos por dia ninguém vai reclamar… Embora a rede de dados da Tim seja bastante deficiente em muitas cidades, o fato do plano ser cobrado apenas nos dias em que é usado garante uma boa flexibilidade, já que se o serviço é ruim, basta parar de usar.

A próxima a entrar foi a Claro, que passou a oferecer planos quinzenais e mensais por respectivamente R$ 6,90 e R$ 11,90 por ativação. A quota de tráfego é a mesma (10 MB por dia), mas passa a ser calculada dentro da vigência do plano e não mais diariamente, com a mesma redução para 64 kbits quando ultrapassada. Os valores diários são intencionalmente um pouco mais baixos, mas por outro lado o cliente paga pelo pacote fechado e não apenas pelos dias de utilização:

Entre os dois, a melhor opção fica por conta de qual das duas em uma rede mais estável dentro da sua região, já que ambos são muito baratos. Embora os planos sejam anunciados para uso apenas no celular, nada impede que você use a conexão no micro (lembre-se de que quase todos os Nokia funcionam como modems USB e no android você pode usar o compartilhamento via Wi-Fi ou o Proxoid), servindo como uma boa opção para emergências, ou como substituto do acesso discado.

A Vivo por enquanto está oferecendo apenas os planos anunciados no começo do ano, por R$ 12 por dia e quota de 150 MB, mas é provável que ela seja a próxima a anunciar algum plano popular para não ficar atrás das concorrentes.

Este tipo de plano tem se tornado comum também em outros países, sobretudo na Europa, onde você pode navegar por 1 ou 2 Euros por dia. A principal dúvida é se estas ofertas continuarão aqui no Brasil, já que as ofertas das operadoras são inconstantes. Do ponto de vista econômico, estes planos fazem sentido, já que embora paguem pouco, os usuários consomem pouco tráfego e são numerosos, mas por outro lado uma eventual debandada dos assinantes de planos mais caros para as opções populares pode fazer com que mudem de ideia. Uma terceira possibilidade é que as ofertas continuem, mas com valores um pouco mais altos (R$ 1 por dia em vez dos 50 centavos por exemplo), mas é certo que planos baratos para os usuários de planos pré-pagos devem continuar em um formato ou em outro.

O próximo capítulo da novela será iniciada com a implementação das redes 4G, que trará a disputa entre o LTE e o WiMAX, que prometem acesso na casa dos 100 megabits (reais) para downstream.

Do ponto de vista técnico, o LTE e o WiMAX são similares, já que ambos são baseados no padrão OFDMA e utilizam o protocolo IP. A principal diferença técnica é que o LTE divide a banda de transmissão em dois canais dedicados (downstream e upstream) enquanto no WiMAX usa um único canal para transmissão e recepção. Apesar disso, o LTE tem uma vantagem econômica, que é o fato de ser parcialmente compatível com a rede GSM, gerando um plano de upgrade mais suave para as operadoras.

Inicialmente se cogitou em usar a faixa dos 700 MHz (ocupada atualmente TV analógica) para o LTE, mas a prorrogação do sinal analógico até 2016 fez com que as preferências fossem para a faixa dos 2.5 GHz, que é a mais utilizada no mundo. A grande questão é que a implantação no Brasil ainda demorará, uma vez que depois de escolhida a faixa de frequência, ainda teremos uma longa espera pelo processo licitatório, antes mesmo que as operadoras iniciem o trabalho na infra-estrutura. Outro fator importante é que diferente do que tivemos na Europa (onde a implantação do 3G começou em 2000), as redes 3G das operadoras nacionais são bem mais recentes e todas estão ainda tentando amortizar os investimentos antes de pensarem em novos upgrades.

Apesar disso, já podemos ter uma ideia das mudanças em termos de preços e planos com base no que está sendo feito em outras partes do mundo. Em resumo, o LTE oferece taxas de transmissão mais altas e multiplica por 10 a capacidade de transmissão de dados de cada transmissor, permitindo que um número maior de clientes sejam atendidos, ou que possam ser oferecidos planos com quotas de tráfego maiores. Em resumo, ele ameniza, mas não resolve o problema da carência de banda, servindo mais para compensar o enorme aumento no tráfego que é esperado para os próximos anos.

A primeira operadora nas Américas a oferecer acesso via LTE foi a Verizon, que iniciou as operações dias 5 de dezembro. Por enquanto, poucos estão usando o serviço e por isso as velocidades de download são muito boas (superando os 10 MB/s em alguns testes), o principal problema é o custo dos planos. O plano de acesso 4G doméstico custa US$ 80 por mês, com uma quota de tráfego de apenas 10 GB e mais US$ 10 por GB adicional (sem contar os US$ 100 do modem e o contrato de dois anos). A quota de tráfego é tão desproporcional à velocidade da conexão que é possível esgotar a quota em menos de 20 minutos.

Em outras palavras, mesmo o LTE, que é atualmente a última palavra em acesso móvel falha em responder a questão: qual é a real utilidade de uma conexão rápida, se a quota de dados o impede de fazer grandes downloads, de usar serviços de transmissão de vídeo em alta resolução, ou de essencialmente usar demoradamente qualquer serviço que transmita um grande volume de dados?

Por enquanto, tudo aponta que as conexões móveis continuarão como coadjuvantes, para acesso quando estiver fora de casa, que ainda precisarão ser complementadas por conexões via ADSL, cabo ou fibra para tarefas que exigem transmissão de grandes volumes de dados. O lado bom, é que quem só navega e utiliza aplicações de baixa demanda, terá várias opções de acesso barato, eliminando a necessidade de manter o gasto mensal na casa dos 100 reais de uma conexão via ADSL ou cabo.

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