First look at PC-BSD 7.1
Autor original: Chris Smart
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Embora eu curta o software livre, o BSD não é bem a minha praia. Como muitas pessoas, já fiz uma ou outra instalação, usei appliances baseadas no BSD para uma tarefa ou outra, mas nunca me passou pela cabeça usá-lo no desktop. Existem algumas poucas razões para isso, a principal delas é o fato de eu ter usado o Linux por tanto tempo, e dele fazer tudo o que eu preciso que ele faça. Eu também faço boa parte do meu trabalho pela linha de comando, e me sinto confortável com a maneira como o Linux organiza as coisas, além de estar acostumado com os utilitários GNU que as distros Linux oferecem. Fora que na minha cabeça o BSD estava correndo atrás do Linux, sem falar em motivos pragmáticos como ter que lidar com layouts de particionamento diferentes e ter que acertar o dual boot. Eu já até cheguei a carregar o instalador, mas desisti na hora do particionamento. Isso é estranho vindo de um cara como eu, mas nunca me senti motivado a ir além disso. Mesmo assim, eu vi que o PC-BSD 7.1 “Galileo” havia sido lançado, e depois de ler em algum lugar que ele era para o BSD o que o Ubuntu era para o Linux (acho que com isso eles querem dizer que “as coisas funcionam logo de cara”), decidi experimentar. Como eu já disse, não sou um expert na área, portanto sejam legais comigo. Lá vai.
O PC-BSD já existe há mais de três anos, e é baseado no FreeBSD. Seu objetivo é oferecer um sistema operacional para desktops que seja fácil de instalar e usar: “O PC-BSD é um sistema operacional livre com foco na facilidade de uso. Como em qualquer sistema moderno, você pode ouvir suas músicas favoritas, assistir a filmes, trabalhar com documentos e instalar seus aplicativos favoritos pelo assistente de instalação com um clique.” O FreeBSD é uma variante livre e de código aberto do UNIX que inclui o kernel e ferramentas de usuário, enquanto o Linux é um kernel com as ferramentas de usuário do GNU. Embora ambos sejam baseados em padrões UNIX e POSIX, internamente eles diferem bastante. Por fora, no entanto, o Galileo inclui as versões mais recentes do KDE 4.2.2 e do X.Org 7.4. Ele também vem com os mesmos programas livres que acompanham muitas distribuições Linux e, sendo assim, tem visual parecido e se comporta de maneira semelhante.
Instalação
Primeiro eu pensei em instalar o PC-BSD 7.1 em uma instância confiável do VirtualBox, então iniciei o programa e carreguei a imagem ISO. A tela de inicialização me deu várias opções, incluindo uma para habilitar o ZFS, o sistema de arquivos de código aberto (incompatível com a GPL) feito pela Sun Microsystems. A licença BSD permite que se misturem aplicativos proprietários e de código aberto, independente da licença, o que permitiu a inclusão do ZFS (embora ele ainda seja considerado experimental). O menu avisa que o ZFS precisa de no mínimo 1 GB de memória; porém, o instalador depois sugeriu um processador de 64 bits e 4 GB de RAM. O ZFS consome muitos recursos devido às várias funções importantes que realiza, como o RAID por software (caso configurado) e checksums de todos os dados para evitar que sejam corrompidos. Infelizmente a imagem do VirtualBox não segura essa onda toda, então voltei atrás e usei o sistema de arquivos padrão (UFS2+), que funcionou muito bem. Depois de uma instalação bem-sucedida no VirtualBox, decidi experimentar o PC-BSD em hardware de verdade para ver como ele se saía. Queimei a imagem de 64 bits e iniciei pelo CD em um Intel 3 GHz Core 2 com 8 GB de RAM, placa de vídeo NVIDIA GeForce 8800 GT e disco rígido SATA de 300 GB.
PC-BSD – aviso de memória do ZFS
O instalador carregou e fiquei feliz em ver que ele tem uma função integrada de verificação de imagem, para garantir que o instalador não está corrompido. Isso aumenta um pouco o tempo de inicialização, mas se você for rápido pode pular a verificação. Quando a imagem está pronta, o servidor X é configurado e o instalador gráfico é carregado. Confesso que o visual dele é muito bom (posso estar enganado, mas parece que ele usa o Qt 4). O processo de instalação é bem direto e muito simples. Não há documentação nem ajuda, mas algumas dicas rápidas ajudam quando necessário. Primeiro o instalador permite que o usuário escolha um idioma dentre os 44 disponíveis, o layout e o modelo do teclado, para depois configurar o fuso horário. Na tela inicial, há também uma caixa de seleção relativa ao envio de estatísticas anônimas para o BSDstats.org. Como o BSD vem com software proprietário, há três licenças que os usuários devem aceitar. Primeiro a própria licença BSD, que basicamente declara que o sistema operacional não oferece garantias. Depois a licença de firmware da Intel e a licença do driver da NVIDIA, ambas com restrições quanto ao que o usuário pode e não pode fazer. É uma pena que o PC-BSD não possa trilhar o mesmo caminho das distribuições Linux, que vêm abolindo os EULAs. Isso não é possível devido à inclusão de software não livre.
PC-BSD – tela inicial do instalador
Depois o usuário tem que escolher o tipo e o método de instalação. Há três opções a serem configuradas, cada uma com duas possibilidades. Escolhi fazer uma instalação limpa (afinal, o sistema é novo), escolhi a edição para desktops ao invés da do servidor, e por fim escolhi instalar a partir do CD/DVD/USB ao invés da rede, já que eu baixei o DVD.
PC-BSD – escolha do tipo de instalação
Na tela seguinte eu defini a senha de root e criei meu usuário local. Desativei a opção de login automático, já que prefiro fazer o login por conta própria. O shell padrão é o csh, mas escolhi o bash na lista retrátil. Daí eu segui para o particionador, que listava o meu disco rígido e as minhas partições, perguntando qual sistema de arquivos eu queria usar. Eu pedi ao instalador que particionasse automaticamente o disco inteiro e habilitei o ZFS, que então me avisou que precisaria de um processador de 64 bits e 4 GB de RAM. Por padrão, ele cria uma partição /boot de 200 MB com o sistema de arquivos UFS2, separa 512 MB para o swap e o restante (280 GB) para o / com o ZFS. A edição das partições foi trivial, com opções de redimensionamento usando uma barra deslizante e de criação e remoção de partições. Infelizmente eu não achei nenhuma opção para selecionar ou alterar o sistema de arquivos.
PC-BSD – particionador do instalador
Por fim, tive que selecionar os componentes que eu queria que o instalador incluísse. Isso é feito por um menu simples com software como Amarok, GIMP, K3b, Firefox, OpenOffice.org e VLC, e eu incluí esses todos. Há outros que deixei de fora, mas incluí a árvore de ports, sabendo que com ela eu poderia instalar outros programas mais tarde. Depois de escolher os pacotes, bastou clicar para prosseguir com a instalação.
De modo geral, fiquei muito impressionado com o instalador. O processo é bem simples e não precisa ser complexo mesmo, oferecendo tudo o que é necessário para a realização de uma instalação. São apenas cinco etapas para instalar o sistema. Tentei instalar o PC-BSD em um sistema AMD Athlon 2600+, mas o instalador não concluiu o processo de boot, parando no erro “acd0: FAILURE – INQUIRY ILLEGAL REQUEST asc=0x24 ascq=0x00“. Pensei que era algum problema com a imagem e que o CD não tinha sido gravado direito. O mesmo erro apareceu na versão de 64 bits, mas o sistema foi em frente. Talvez o sistema não seja compatível?
PC-BSD – Instalação do sistema
Utilização do sistema
A primeira coisa que você vai reparar ao iniciar o PC-BSD é a ausência de uma tela de inicialização bonita; parece a inicialização do Linux em modo texto. Depois eu achei uma opção para ativar a tela de splash, e eu a ativei, mas reiniciei o sistema e nada mudou. Na primeira inicialização, o sistema configura o servidor X e apresenta a tela de login. Ele detectou corretamente minha placa de vídeo e sugeriu o driver nv, mas apenas com a resolução de 1024×768. Consegui aumentar a resolução, mas fiquei surpreso pelo driver da NVIDIA não vir incluído por padrão. A versão mais recente do KDE é muito boa mesmo. É agradável de ver e de usar, além de responder muito bem. O KDE 4 trilhou um longo caminho desde a versão 4.0! A implementação do PC-BSD parece não ter muitas alterações, embora a tela de splash dele e o menu K tragam alguns ícones personalizados. O papel de parede do desktop é o padrão, e tirando alguns atalhos no widget do desktop que levam ao site do PC-BSD, nem dá para dizer que você está usando o BSD! A distro inclui um conjunto completo de aplicativos, incluindo todos os componentes que o KDE tradicionalmente oferece. Não encontrei um painel de controle específico do PC-BSD, mas o painel de controle do KDE aparentemente oferece a maior parte das funcionalidades que o usuário pode precisar. Consegui fazer algumas coisas como habilitar o locale australiano e o dicionário de inglês britânico sem complicações. De modo geral, o sistema parece bastante completo, e o único problema que eu tive foi um travamento do Akonadi no primeiro login.
PC-BSD – desktop KDE 4.2.2 padrão
A equipe de documentação fez um ótimo trabalho compilando uma quantidade decente de informações para o PC-BSD. O widget de desktop tem um link para um guia rápido, que dá muitos detalhes sobre a distro e como usá-la. Procurei nele por informações para fazer o driver da NVIDIA funcionar com a minha placa de vídeo, mas o guia só menciona que o driver está incluído por padrão. Em um sistema Linux eu saberia resolver o problema rapidamente, mas no BSD eu não faço ideia do que fazer. Como o kernel não funciona do mesmo jeito que no Linux, não há comandos para verificar os módulos carregados, nem para forçar o carregamento, nem diretório de módulos, e não consegui descobrir se ele já está instalado e eu é que não sei como instalar. Fiquei na esperança dele ter sido incluído por padrão (afinal, eu não discordei da licença), mas a ferramenta de configuração gráfica do X.Org não lista o módulo. O interessante é que a instalação da versão de 32 bits no VirtualBox lista o driver da NVIDIA. Talvez haja um problema com a versão de 64 bits? É claro que isso tudo provavelmente aconteceu por causa da minha falta de familiaridade com o sistema e com a maneira do BSD fazer as coisas. Não dá para culpar a distro pela minha falta de conhecimento. Mas isso me leva a outras coisas que me incomodaram. Algumas coisas com as quais eu estou acostumado no Linux não existem aqui, como as várias informações em /proc e a interface /sys.
Parece que há três tipos diferentes de pacotes que podem ser usados no PC-BSD. Push Button Installer, ports e o gerenciador de pacotes deles, o pkg. O gerenciador de pacotes permite instalar e remover pacotes e, embora eu não seja um expert, não dá para compará-lo ao poderoso APT do Debian. Até onde eu sei, não dá para procurar por pacotes, exceto pelo site de ports do FreeBSD. Só então, já sabendo o nome, você pode instalar o pacote com algo do tipo pkg_add -r vim. Não é incrivelmente rápido mas funciona, e o pacote é instalado em /PCBSD/local/bin/vim. A parte boa é que a maioria das ferramentas que preciso usar diariamente estão incluídas nos ports, então não é muito complicado instalar todos os programas de que preciso no sistema.
Em vez de focar no sistema de ports do FreeBSD para instalar e remover software (embora ele ainda esteja disponível), o PC-BSD prefere usar o que eles chamam de arquivos PBI (Push Button Installer, ou instalador ao apertar de um botão). Ao contrário do Linux, onde os aplicativos contém links para bibliotecas externas, um PBI é instalado em seu próprio diretório (em /Programs/) e inclui todas as bibliotecas e dependências necessárias. Desse jeito, um pacote nunca quebra por causa de atualizações de bibliotecas, já que ele aponta apenas para as suas próprias. É um funcionamento semelhante ao de aplicativos do Windows e do OS X, e por isso instalar um programa no PC-BSD deve ser tão simples quanto nessas outras plataformas, depois que você tiver o arquivo em mãos. O PC-BSD tem um site dedicado aos arquivos PBI, onde os usuários podem procurar pelos programas que querem e baixá-los. Ainda não estou convencido, mas é um conceito interessante e um dos principais recursos que diferenciam a distro das outras.
PC-BSD – o atualizador de pacotes
Fiz algumas experiências com o Arch e o Gentoo Linux, que têm sistemas de gerenciamento de pacotes baseados nos ports, então decidi testar o sistema de ports para ver como ele se saía. Consultei a documentação, que dizia para eu ir em “Settings > Administration > PC-BSD System”, digitar a senha de root, clicar na guia “Tasks” e escolher “Fetch Ports”. Essa seção não deve ter sido atualizada para o KDE 4, ja que nenhum desses menus existe. Mas eu encontrei o sistema em “Launcher > Computer > System Settings > System Manager”. Um instantâneo da árvore de ports foi baixado e instalado em /usr/ports/. Depois disso, era só navegar até o pacote desejado e executar um “make install clean”. Fiz o teste com o pacote sysutils/htop, que baixou algumas dependências automaticamente, mas não compilou porque o pacote m4 estava faltando. Foi só instalar o m4 usando o pkg e rodar o comando de compilação novamente, e tudo deu certo. Sucesso! O comando make deinstall remove o programa do sistema. Não é um processo tão automatizado e poderoso como o Portage do Gentoo, mas é simples e eficaz. Os ports do FreeBSD incluem mais de 20.000 pacotes, e você certamente vai encontrar o que deseja!
O sistema tem uma ferramenta gráfica de atualização que mostrou três correções de bugs disponíveis, bem como versões mais recentes do Amarok, do Firefox, do GIMP e do OpenOffice.org (que por sinal, era uma atualização da versão 2.4 para a 3.0.1!). Parece ser um processo em duas etapas, já que os aplicativos são parte do sistema pkg interno, enquanto os outros são PBIs. Eu selecionei as atualizações e fiz o download e a instalação das atualizações e programas sem problemas (faltou reiniciar).
Ao usar o sistema, eu reparei que ele não respondia muito rápido e dava umas paradinhas de vez em quando, geralmente ao realizar várias tarefas. Ao baixar as atualizações, por exemplo (que eram baixadas a apenas 100 kB/s), demorou um bocado para o Firefox abrir, e quando abriu ele não carregava nenhuma página que eu acessava. Apertei o botão de atualização da página algumas vezes até resolver o problema (mas o ping funcionava). Não sei se o sistema prioriza as operações de rede que lidam com os pacotes. Eu clicava no botão de fechar, e às vezes demorava uns cinco segundos para o programa responder. O mesmo acontecia ao mudar de menu no menu K ou ao trocar de guia no Konsole. Depois que instalei o HTop eu percebi que clicar e arrastar uma janela pelo desktop consumia 85% de CPU, problema em grande parte causado pelo X.Org. Também notei que dois processos kded4 constantemente usavam muitos recursos. De modo geral o HTop pulava para lá e para cá, geralmente registrando o uso do kernel, mesmo quando o computador estava inativo, o que eu achei um tanto estranho. Talvez isso tenha relação com o ZFS.
PC-BSD – o HTop exibindo os processos
Conclusão
No fim das contas, a instalação do PC-BSD foi uma experiência muito agradável, e bem mais avançada do que eu imaginei que seria. Mas eu, tão acostumado ao jeito Linux de fazer as coisas, me senti um pouco amarrado no BSD, como também acontece no OS X. Isso não quer dizer que eu não possa aprender como o BSD funciona, mas eu teria que investir algum tempo nisso. Não tenho nenhum motivo realmente convincente para migrar, a não ser o de expandir minha gama de habilidades. Para outras pessoas, no entanto, eu acho que o BSD (e o PC-BSD, especialmente) é uma boa escolha, especialmente se você gostar da ideia das instalações PBI. Acho que posso dizer que eu fiquei muito impressionado com o PC-BSD e entendo que para muitas pessoas ele daria um ambiente desktop excelente. Vale a pena dar uma olhada com calma.
Créditos a Chris Smart – http://distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>
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