Breve análise do Paldo 1.21

Breve análise do Paldo 1.21

Peering at Paldo 1.21
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no:
osnews.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Uma das coisas das quais eu mais gosto no mundo do software, especialmente no do software livre, é que a inovação pode vir de qualquer lugar. Às vezes ela vem de grandes empresas de tecnologia como a Red Hat, a IBM ou a Sun, e às vezes vem de uma única pessoa, escrevendo seu programinha em um computador de segunda mão no dormitório da faculdade. Na verdade, o software é a expressão de ideias e conceitos, que podem vir de qualquer pessoa. Por isso eu gosto muito de ver pequenos projetos de código aberto tentarem coisas novas. Alguns serão bem-sucedidos e utilizados por muitos; outros vão desaparecer. Mas o mais incrível é ver as pessoas apresentando suas ideias ao mundo. E foi por esse motivo que fiquei muito empolgado quando algumas pessoas sugeriram que eu desse uma olhada no Paldo.

O Paldo, abreviação em inglês para “distribuição Linux pura e adaptável”, é um projeto focado em pacotes de software e no gerenciamento de pacotes. Mais especificamente, os desenvolvedores do Paldo pretendem oferecer software que se mantenha o mais próximo possível do que é disponibilizado oficialmente pelo desenvolvedor do software. Isso “economiza” patches na distribuição e, em teoria, permite que os patches necessários retornem facilmente para os projetos originais. Como me disse o desenvolvedor Jurg Billete:

O gerenciamento de pacotes ocorre de uma forma um pouco diferente das outras distribuições. O Upkg faz uma distinção entre pacotes instalados e pacotes selecionados. O grupo de pacotes instalados inclui todos os pacotes selecionados e suas dependências. Se um pacote não tiver sido selecionado explicitamente e não for mais necessário como dependência, ele é removido em uma atualização. Isso diminui bastante o potencial de conflitos em outras distribuições, e faz com que seja possível ficar um bom tempo fazendo atualizações sem reinstalar a distribuição sempre que uma nova versão é lançada.

Os pacotes do Paldo se aproximam bastante dos pacotes disponibilizados pelos desenvolvedores originais dos aplicativos. Só usamos patches específicos do Paldo quando é realmente necessário. Nem sequer usamos pacotes -dev separados, o que é muito conveniente para os desenvolvedores.

paldo-welcome

Os pacotes de software são oferecidos em quatro repositórios diferentes, rotulados de forma intuitiva (e familiar) como Stable, Testing, Unstable e Experimental. Uma lida no site do projeto me deu a impressão de que os desenvolvedores do Paldo estão tentando criar uma distro com características semelhantes ao Debian, só que com menos arquiteturas, em uma tentativa de oferecer apenas um aplicativo por tarefa. O site continua mantendo o foco nos pacotes, dedicando a eles uma área especial na qual o usuário pode pesquisar software pelo nome e, caso o pacote esteja disponível, ter acesso a todo tipo de informação. Os dados fornecidos incluem as dependências do pacote, quais pacotes por tabela dependem dele, a versão atual e outros detalhes. Todo esse software, segundo eles, fica por conta do sistema de gerenciamento do Paldo, o Upkg, sobre o qual vamos falar daqui a pouco.

O site do projeto é bem organizado e fácil de navegar. Sua apresentação simples, clara e atraente me agradou. Há um wiki para os novatos, que inclui informações úteis sobre a configuração e o uso do Paldo. No momento, o wiki tem documentação em sete idiomas (alemão, inglês, francês, italiano, português, espanhol e polonês), o que faz com que o Paldo seja acessível para uma ampla variedade de pessoas. O site também tem um fórum, onde os usuários podem interagir e receber ajuda.

Eu baixei a versão estável mais recente do Paldo, a 1.21, e a gravei em um CD. O disco disparou um menu de inicialização do GRUB com vários idiomas e combinações de teclado a escolher. Depois que o usuário faz sua escolha, o Paldo abre um desktop GNOME com tema azul e cinza. A barra de menu fica no topo da tela e, à primeira vista não há nada que chame muito a atenção. Dando uma vasculhada nós encontramos uma seleção de programas bastante comum. Temos um editor de texto, um compactador de arquivos, o OpenOffice, o GIMP, um player de vídeo, um player de áudio, um aplicativo para webcams e um gravador de CD/DVD. Também há um cliente VNC, o Evolution para cuidar do email, Inkscape, o navegador Epiphany e o GParted para gerenciamento de disco. Alguns testes mostraram que o Paldo vem equipado com codecs para reproduzir arquivos MP3 e a maioria dos arquivos de vídeo mais populares, mas ao tentar acessar o YouTube com o navegador eu percebi que o Flash não estava instalado. O GCC também está disponível, oferecendo logo de cara uma boa plataforma para os desenvolvedores. Fiquei meio desapontado quando vi que usando o live CD o meu layout de teclado não era reconhecido. Não adiantou escolher o layout certo no menu do GRUB nem na ferramenta de configuração do GNOME, e toda vez que eu tentava digitar uma coisa aparecia outra na tela.

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O instalador parece ser exclusivo do Paldo, e não leva o usuário pela mão ao longo do processo. Como acontece quase sempre no Paldo, o instalador espera que o usuário já tenha alguma experiência com o Linux. Ele pede ao usuário que entre com as informações regionais, incluindo o idioma favorito, o layout do teclado e o fuso horário. Infelizmente o meu fuso horário não estava disponível. Na tela seguinte, o usuário escolhe quais partições serão atribuídas a quais pontos de montagem. As opções possíveis são o diretório raiz, /home, /boot e swap. O instalador não lida com as partições por conta própria, mas traz um botão para iniciar o GParted. Até onde eu sei, não há opção para atribuir outros pontos de montagem além dos quatro já mencionados. O instalador oferece a opção de instalar o GRUB e solicita uma nova senha para a conta de root. A última etapa é a criação da conta de usuário comum. O instalador copia rapidamente os arquivos do Paldo para o disco rígido e o processo é concluído. Depois de reinicializar, o usuário é levado diretamente para a tela de login do GNOME.

Para meus testes com o Paldo, usei um desktop genérico (CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA) e meu laptop HP (CPU dual core de 2 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel). Depois de fazer login, percebi que o layout do teclado tinha sido configurado corretamente. O sistema respondia rapidamente e de modo geral mostrava bom desempenho, pelo menos no meu laptop. Já no meu desktop, parecia que alguém tinha quebrado uma vidraça e espalhado os cacos pela tela. Eu consegui trabalhar normalmente nos terminais virtuais, mas não havia condições de usar o desktop. No laptop as coisas correram muito melhor, com vídeo, som e rede funcionando perfeitamente. A minha placa de rede móvel Novatel funcionou sem que eu tivesse que configurar nada, e o touchpad também. A webcam foi outra que funcionou sem a necessidade de ajustes. Infelizmente, minha placa de rede sem fio Intel não foi detectada, mas tirando isso o Paldo lidou bem com o hardware da HP.

A segurança da distribuição é muito boa, exceto pelo fato do live CD e do sistema instalado rodarem um servidor SSH, oferecendo acesso remoto aos usuários (incluindo o root). Isso me preocupa, porque a senha do live CD está disponível publicamente. O usuário é logado automaticamente no ambiente do live CD como um usuário comum, e fiquei feliz em ver que o instalador insiste na configuração de senhas para o administrador e na criação de contas de usuário comuns. Depois de instalado, o diretório raiz é bloqueado, impedindo que usuários comuns acessem os arquivos do administrador.

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Voltando ao Upkg, ele é uma ferramenta interessante. Baseado no Mono, ele parece inspirado no Aptitude do Debian. Não consegui encontrar um gerenciador de pacotes gráfico, então recorri à linha de comando para experimentar o Upkg. O site do Paldo tem um breve tutorial sobre o uso do gerenciador de pacotes, mas ele ainda me deixou com algumas dúvidas. Por exemplo, qual é a diferença entre upkg-add e upkg-install? De acordo com as man pages, o upkg-install “adiciona o pacote especificado à seleção de pacotes”; o upkg-add não tem man page. De qualquer forma não ia adiantar descobrir o que cada um fazia, porque nenhum dos dois comandos funcionava no meu sistema. Executar os comandos upkg-add, upkg-install ou upkg-remove resultava em uma longa lista de erros do Mono, encerrando com um erro que informava não ter sido possível gerar um script. Dei uma olhada no fórum do projeto e encontrei outras pessoas com o mesmo problema. A maioria resolveu a situação limpando o cache do Upkg. Segui essas instruções, mas nem assim consegui adicionar ou remover pacotes. Dava para procurar por software usando o upkg-search (que também não tem man page), mas os resultados geralmente eram inúteis. Por exemplo, se eu acesso o site do Plado e procuro por “chess”, encontro um pacote chamado pychess. Já a busca por “chess” usando o upkg-search retornou gdm, ghostscript e gnome-themes, porque esses pacotes incluem um arquivo com o nome “chess”. Infelizmente, o pychess não apareceu entre os resultados.

Após alguns dias usando (ou tentando usar) o Paldo, tive a impressão de que uma espécie de maldição pairava sobre meus testes com a distro. Na primeira vez em que baixei o live CD do Paldo, o arquivo veio corrompido (o checksum não bateu com o da página de downloads) e tive que baixar a imagem outra vez. O primeiro CD que eu gravei também não funcionou. O Paldo não conseguiu lidar com a placa de vídeo do meu desktop e com a placa de rede sem fio do meu laptop. O layout do teclado não era configurado corretamente pelo live CD, meu fuso horário não era suportado pelo instalador e não consegui fazer o Upkg instalar, remover ou atualizar programas. Alguns desses problemas foram puro azar, não dá para culpar o projeto por eles, mas outros são bugs que precisam ser eliminados. Os desenvolvedores têm ideias interessantes, e eu gosto muito da visão que eles têm de um gerenciamento de pacotes limpo, de um sistema com atualizações regulares e da presença de um aplicativo para cada tarefa. Tudo parece simples e organizado. O fato do meu modem de rede móvel Novatel ter funcionado de primeira é impressionante, visto que outras distribuições não conseguem fazer isso. A julgar pelos posts no fórum e pelos pedidos que recebi para fazer esta análise, parece que o Paldo funciona muito bem para algumas pessoas. Pena que comigo ele não deu certo.

Créditos a Jesse Smithosnews.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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