Opinião: Microsoft cometeu um erro de timing assombroso com o Xbox no Brasil, parece até um autoboicote

Opinião: Microsoft cometeu um erro de timing assombroso com o Xbox no Brasil, parece até um autoboicote

Tantas coisas aconteceram em um curto espaço de tempo envolvendo a marca Xbox que fica até difícil escolher por onde começar e sobre o que falar. No entanto, vou me ater a dois episódios que tem gerado grande repercussão no Brasil.

O principal é o reajuste de preço do Xbox Series S, que passará a custar R$ 3.599 nas próximas semanas. O segundo ponto é a questão envolvendo a decisão da Xbox Brasil em pedir de volta os consoles Xbox Series S e X que foram emprestados para alguns veículos da imprensa no início da geração. Esses eventos podem parecer desconectados, mas eles estão unidos num sentido: o problema de timing.

Abaixo o relato de Ariel Souza, do Combo Infinito, sobre a devolução dos consoles:

 

Esses dois episódios ganham palco próximo a Xbox FanFest, que, até segunda ordem, acontecerá dia 29 de novembro na CCXP, com a presença do Phil Spencer, chefe da divisão Xbox e também da Sarah Bond, vice-presidente corporativa da divisão.

O aumento drástico de preço do Xbox Series S, próximo a um evento que visa reforçar a marca Xbox no Brasil, é uma decisão, no mínimo, bizarra, e irritou até mesmo os caixistas mais convictos.

Caminhando um pouco por fora, a decisão da Microsoft em recolher os consoles emprestados a alguns veículos não impacta diretamente o consumidor, como uma alteração de preço, mas pode soar como mesquinharia, uma atitude estranha, e, novamente, algo totalmente fora de timing.

Por mais que os eventos possam não estar correlacionados, o surgimento de uma notícia de pedido de devolução do console, dias após toda a repercussão negativa do reajuste de preço do Xbox Series S, acendeu em muitos a sirene da retaliação. Ficou no ar um suposto troco às críticas.

Tudo isso está no campo das elucubrações, embora alguns jornalistas tenham afirmado que fontes garantem que a decisão da Microsoft em pedir os consoles de volta tem relação com o efeito das críticas sobre a nova política de preços do Xbox Series S no Brasil.

Relato de Nelson Alves Jr, antigo membro do Inside Xbox.

 

Em relação às formas de contrato de marcas e assessorias com veículos, e esse ato de ter que devolver o produto, isso é completamente natural no jornalismo. Já assinei diversos contratos e termos que deixavam bem claro que determinado produto seria enviado por empréstimo. O prazo de devolução foi estabelecido previamente. 

Assim como também já me deparei com termos que citavam “empréstimo por tempo indeterminado”, que foi o caso do contrato assinado pelo Combo Infinito. E também já fiquei com muitos produtos, já que foram enviados como doação. Por outro lado, nunca vi um pedido de devolução do produto após 3 anos do envio do mesmo, situação que ocorreu com o Combo Infinito.

É mais comum do que parece essa questão de ter que mandar de volta para a assessoria de imprensa algo que foi enviado para teste e produção de conteúdo. Já passei por situações em que algo enviado para análise estava sem os acessórios e manual na caixa, já que era um produto que rotacionou por diversas redações e os componentes se perderam nesse vai e vem. Isso acontece, mas também é claramente frustrante para as redações de grandes portais, e mais ainda para produtores de conteúdo independente.

O Combo Infinito se autoclassifica nesse perfil, como um veículo independente. É evidente que a devolução do console é uma “água no chopp” no planejamento e na estratégia de produção de conteúdo deles.

Aqueles que dizem besteiras do tipo “ah, bem feito, tem que ser ferrar mesmo”, ou coisas parecidas, são apenas desmotivadores do trabalho alheio. Em suma maioria, adotam tal postura por birras patéticas porque tal veículo criticou jogo A ou plataforma B (e esses mesmos são os que mais acompanham os veículos que dizem odiar).

Essa parcela também pensa que se a empresa deu ou emprestou o produto, o veículo precisa necessariamente elogiar aquilo. Não é assim que funciona, não é assim que deve ser, considerando que aquele produtor de conteúdo seguirá a ética que aquele ofício exige, e também é desmotivador pensar que a empresa vai pedir de volta o que foi enviado devido às críticas.

Mas também não se engane, nos bastidores da produção de conteúdo acontece sim pressão e tentativas de direcionamento por parte de algumas empresas nesse universo de tecnologia/games. Alguns aceitam e “jogam o jogo”, outros não. É aceitável e compreensível que Microsoft reveja sua relação com a imprensa. Ela tem todo o direito de cortar laços ou mudar sua estratégia com qualquer veículo.

E, sim, há uma grande diferença em relação à linha editorial que alguns veículos adotam para abordar temas relacionados a PlayStation e Xbox. Do ponto de vista de algumas manchetes, o lado do Xbox sempre parece mais caótico em alguns sites.

Mas aí fica a pergunta: será que alguns posicionamentos da própria empresa não reforçam isso? Sinceramente, não consegui entender esses últimos movimentos da Microsoft com o Xbox no Brasil, até mesmo a imprensa gringa está tentando montar esse quebra-cabeça.

Jez Corden, editor-chefe do Windows Central, publicou em sua conta no X, que a decisão do aumento do preço do Xbox Series S no Brasil não foi uma decisão LATAM, isto é, da divisão da América Latina, é uma “ordem de cima”, partiu da matriz.

E a matriz já está ciente de como toda essa história caiu no Brasil. O Xbox Series S que era visto como um produto com uma proposta interessante, figurando inclusive na primeira posição entre os consoles mais buscados em rankings de comparadores de preço, tem agora uma imagem de algo desconexo da sua própria realidade. Um estranho no ninho. Uma “persona non grata”.

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Esse tipo de imagem é péssimo para a marca, ainda mais considerando que executivos de alto escalão, que apitam diretamente no planejamento do Xbox em sua totalidade, virão ao Brasil, terão um contato direto com essa comunidade. Se isso não é um erro crasso de timing, eu não sei mais o que é. O time de gerenciamento de crise vai ter que trabalhar dobrado.

Também é importante destacar algo que Corden levantou que é o ponto do limite de atuação dos representantes do Xbox no Brasil. Não apenas a Xbox Brasil, mas também em localidades como Reino Unido, Suécia, e outros mercados. Esses times estão “amarrados” a matriz. “O Xbox Brasil precisa de mais recursos, de mais financiamento, eles estão dando o melhor de si com o que têm”, completa o jornalista.

Não ficarei surpreso que, caso a Xbox FanFest realmente aconteça, Spencer e Bond sejam recebidos com aplausos efusivos e uma grande animação por boa parte da “comunidade”. Muitos que já adquiriram o console só querem agora ver o circo pegar fogo e outros tantos são eternos passadores de pano de empresas com suas estratégias estranhas. 

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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