Fácil, poderoso e estável: o OpenShot 1.3 é quase isso tudo

Fácil, poderoso e estável: o OpenShot 1.3 é quase isso tudo
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Easy, powerful, stable: Pick two with OpenShot 1.3

Autor original: Joe “Zonker” Brockmeier

Publicado originalmente no: lwn.net

Tradução: Roberto Bechtlufft

O OpenShot é um editor de vídeos para o Linux que almeja ser simples, poderoso e ainda “o melhor editor de vídeos de código aberto”. A versão 1.3, que saiu no dia 13 de fevereiro, deixou o programa um pouco mais perto desse objetivo. Dentre as novidades, temos um tema para a interface, suporte à adição de mais de um clipe simultaneamente, novas animações 3D e um assistente para carregar vídeos diretamente para o YouTube e o Vimeo. Ele até pode ser o melhor editor de vídeos de código aberto, mas só se ignorarmos alguns probleminhas de instabilidade.

O Linux come poeira na área de edição de vídeos, ficando para trás do Windows e do Mac OS X. Isso não quer dizer que os usuários do Linux não tenham opções para editar vídeos no Linux, mas a seleção de ferramentas não é tão vasta, e muitas vezes não oferece tantos recursos e nem é muito bem acabada. Os usuários do Mac contam com ferramentas como o iMovie da Apple. Ele é fácil de usar, mas pouco flexível e certamente pouco amistoso diante de formatos como o Ogg Theora. Usuários profissionais ou amadores avançados têm um bom leque de opções no Mac e no Windows, dependendo de seus objetivos e do quanto estão dispostos a gastar.

O Linux, por sua vez, só tem umas poucas alternativas viáveis. Temos o Cinelerra e sua variante, o Cinelerra-CV. São dois editores poderosos, mas extremamente complexos, além de espantarem a maioria das pessoas que edita vídeos por prazer. O Kdenlive é outra tentativa de prover uma alternativa em software livre para a edição de vídeos no Linux (e também no FreeBSD e no Mac OS X), sendo muito mais fácil de usar do que o Cinelerra. Ele pode não ser tão convidativo quanto o iMovie, mas pode ser utilizado por meros mortais.

Outro editor que tenta ser intuitivo, mas também completo, é o PiTiVi (que foi analisado aqui em junho de 2009). Trata-se de um trabalho LGPL, parcialmente patrocinado pela Collabora e desenvolvido com base no framework GStreamer. Ele é relativamente fácil de usar, e no momento é o editor de vídeos padrão do Ubuntu. O desenvolvimento do PiTiVi parece meio lento, e pelo visto os desenvolvedores estão tendo problemas para encontrar contribuidores.

Ainda temos o Kino, que faz (ou fazia) um bom trabalho ao equilibrar recursos e funcionalidades, mas o desenvolvimento está se arrastando, se é que já não parou completamente. A versão mais recente saiu em setembro de 2009.

Esses são só alguns dos destaques. Há outros editores de vídeo no Linux, nos mais variados estados de conclusão, mas o que temos é um monte de editores mal acabados, longe de atingir padrões razoáveis de usabilidade ou de produção de vídeos de qualidade profissional.

O OpenShot é meio que um novato. O desenvolvimento é liderado por Jonathan Thomas, um desenvolvedor de software e desenvolvedor Web que experimentou o Ubuntu Linux pela primeira vez em 2008 e não encontrou editores de vídeos fáceis de usar, poderosos e estáveis. Tomas começou com a mexer com Python, com o Media Lovin’ Toolkit, e depois partiu para a criação de um editor fácil de usar, poderoso e estável: o OpenShot.

Fácil, poderoso e… estável?

A versão 1.3 do OpenShot está disponível para o Ubuntu em um PPA. Fiz a instalação e comecei a praticar com algumas fotos, uns vídeos pequenos que fiz com o celular e um arquivo MP3 como trilha sonora de fundo. O projeto também figura no live DVD AV Linux, mas em versão mais antiga. Também há um instalador para os Fedoras de 11 a 13, mas não está claro se os pacotes funcionam no Fedora 14. Naturalmente, o código fonte está disponível.

Só para constar, eu não sou lá muito habilidoso nessa coisa de edição não linear de vídeos. Só fiz uns clipes com entrevistas em conferências usando o Kino em 2006 e 2007. Trabalhei por um ano em uma pequena estação de TV, e tinha que fazer edição linear de vídeo para o noticiário usando uma antiquada (já na época) fita 3/4” U-Matic, mas isso já tem tempo.

O OpenShot tem uma interface muito simples. O canto esquerdo apresenta um grupo de guias para arquivos, transições, efeitos e histórico. A guia de arquivos abriga todos os clipes (fotos, vídeos e áudio) usados para criar vídeos. Os efeitos são filtros para modificar áudio, fotos ou vídeos. Eles podem ser usados para dar um tom sépia a um clipe, ou apara aplicar eco ao áudio, por exemplo. As transições, como era de se esperar, servem para cuidar da transição de um vídeo para o outro. O OpenShot inclui desde transições simples, dissolvendo a imagem ou fazendo o efeito de relógio girando, até coisas mais elaboradas, como usando estrelas ou fractais.

Interface do OpenShot 1.3

Interface do OpenShot 1.3

No lado direito, em cima, temos a visualização de vídeo, e na parte de baixo fica a linha do tempo, mostrando clipes que foram integrados para formar o vídeo a partir dos arquivos de projeto, organizados por faixa e arquivo, e uma pequena seleção de ferramentas para manipulação de clipes.

É bem fácil começar a usar o programa. Arraste uns clipes de vídeos, fotos e arquivos de som para a guia de arquivos do projeto, e dali arraste-os na ordem que quiser para o painel de clipes. Para projetos muito simples, que envolvam apenas uns poucos clipes e músicas, é possível aprontar algo em dez minutos, mesmo se você nunca tiver usado o OpenShot.

A versão 1.3 tem um novo tema para a interface. Eu não usei versões anteriores do OpenShot, mas vendo as fotos antigas a gente nota que o tema é um bom avanço.

Mas o projeto não ficou só mais bonito. Supostamente a nova versão é mais estável e salva automaticamente o trabalho. Só que o OpenShot 1.3 que baixei do PPA para meu Ubuntu 10.10 com 4 GB de RAM e processador Core 2 Duo se mostrou um pouco frágil. Quando comecei a testar o OpenShot ele travou na hora em que tentei usar a ferramenta de redimensionamento (aparentemente destinada a imagens) em um vídeo. Ele também travou quando fui aplicar um efeito a um vídeo (depois funcionou), e mais algumas vezes na hora de exportar vídeos. Ao menos a exportação foi concluída com êxito, mas depois o OpenShot parou de responder. Talvez esta versão seja mais estável do que as anteriores, mas está longe de ser à prova de falhas.

O diálogo de exportação simplificado é uma melhoria de usabilidade. Trata-se de uma caixa de diálogo intuitiva quando usamos a guia Simples, mas a guia Avançado abre todo tipo de opção que se pode querer na hora de exportar um projeto. Na guia Simples, constam as opções Blu-Ray, DVD, Dispositivo ou Web. Blu-Ray e DVD englobam várias opções razoáveis para esses formatos, enquanto Dispositivo tem predefinições para Xbox 360, Apple TV e Nokia nHD. A predefinição Web inclui Wikipedia (Ogg Theora), FlickrHD e mais algumas opções para Vimeo e YouTube. A guia Avançado tem tudo o que a maioria dos usuários pode querer. Certamente há mais do que os usuários domésticos vão precisar para editar vídeos das férias da família ou dos animais de estimação. Talvez faltem as opções que os profissionais procuram, mas certamente é um bom começo.

Diálogo de exportação do OpenShot 1.3

Diálogo de exportação do OpenShot 1.3

A versão 1.3 também simplifica a organização e a localização de arquivos. Como eu só estava trabalhando com uns dez arquivos de cada vez, não tive dificuldades em organizar tudo, mas isso parece útil para projetos mais ambiciosos.

O recurso “Adicionar à linha do tempo” agora funciona com múltiplos arquivos. Você pode, por exemplo, selecionar um punhado de fotos e usar esse recurso para adicioná-las à linha do tempo no exato momento de início que desejar, além de configurar transições e/ou fades entre clipes. A ferramenta também oferece a opção de mudar a ordem dos arquivos, ou apenas misturá-los caso prefira a aleatoriedade. Essa ferramenta seria bem útil para criar vídeos com fotos de família.

Não sinto muita saudade do equipamento de edição de vídeo linear que eu usava na KTVO, mas sinto falta dos controles físicos para trabalhar com vídeo. O disco para avançar e retroceder quadro a quadro oferece muito mais controle do que o mouse. Fiquei surpreso em ver que a rodinha do mouse não funciona para avançar quadro a quadro. Felizmente o OpenShot tem atalhos de teclado para avançar quadros, pausar etc. Eles oferece um controle igualmente poderoso da edição, embora eu sinta falta de ter o controle nas mãos.

Uma coisa que o OpenShot faz muito bem, e que fazia muita falta no Kino, é a criação de tiles. Se você precisar colocar créditos no início ou no fim do vídeo, ou legendas em algum trecho, o OpenShot facilita muito as coisas. Quem tiver o Blender instalado pode até criar tiles 3D animados. Infelizmente o Ubuntu 10.10 vem com o Blender 2.49, e o OpenShot 1.3 trabalha com a versão 2.56. Aqui temos uma força e uma fraqueza dos pacotes de vídeo de código aberto que encontrei ao longo dos anos: muitos pacotes de edição de vídeo usam bibliotecas e programas amplamente disponíveis, mas implicam com as versões. Reunir todas as dependências dá uma dor de cabeça danada para quem quer ter as versões mais recentes. Esperar as distros atualizarem tudo significa ter que esperar meses para baixar a versão mais nova, e como os editores de código aberto já estão bem atrasados, ninguém quer esperar. Um recurso como o de carregar vídeos para o YouTube, e que só apareceu agora na versão 1.3 do OpenShot, é algo esperado em um pacote comercial.

Thomas pretende apresentar uma análise detalhada do OpenShot na Southern California Linux Expo, cobrindo da edição básica de vídeos aos efeitos avançados. Também há um guia abrangente para os novatos na edição de vídeo ou no OpenShot. Os desenvolvedores interessados em participar devem conferir o projeto no Launchpad e a lista de discussão.

O OpenShot 1.3 representa um progresso expressivo no front da edição de vídeos de código aberto. Ele ainda tem trabalho pela frente em termos de estabilidade, mas seu conjunto de recursos certamente é bom o bastante para a maioria dos usuários. Quem tem interesse em fazer edição de vídeo no Linux deveria dar uma olhada com carinho no OpenShot.

Créditos a Joe “Zonker” Brockmeier lwn.net

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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