Os novos desafios da versão 3.0 do OpenOffice.org

Os novos desafios da versão 3.0 do OpenOffice.org

OpenOffice.org releases 3.0, faces new challenges
Autor original: Jake Edge
Publicado originalmente no:
lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft

A versão 3.0 do OpenOffice.org, a popular suíte de escritório em código livre, foi lançada há poucos dias, ganhando bastante destaque na imprensa e gerando tráfego suficiente para derrubar os servidores do projeto.Ainda que esta versão não seja um grande salto em termos de novos recursos, ela oferece algumas melhorias consideráveis.Talvez a mais interessante delas seja um maior foco nas extensões que, como no Firefox, não exigem modificações no núcleo do código do OOo.Isso pode ajudar a combater as alegações de que os procedimentos burocráticos da Sun para a inclusão de novos recursos estariam atrasando o desenvolvimento do OOo.

A primeira coisa que reparamos ao abrir o OOo 3.0 é a nova tela de carregamento, mas ela só aparece brevemente. Uma das maiores queixas sobre o OOo é a demora para carregar, e o problema foi resolvido na versão 3.0. O aplicativo abre uma nova tela de boas-vindas (ver foto à esquerda), mais amigável para os novos usuários que a habitual janela vazia. A partir daí, as coisa não parecem muito diferentes do que vimos nas versões anteriores.

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A maioria das mudanças está sob o capô; os usuários avançados vão notá-las, mas os usuários básicos não vão percebê-las tão facilmente. Elas incluem:

  • Writer (processador de textos): nova barra deslizante para controle do zoom

  • Writer: exibição e a edição de várias páginas em uma mesma tela

  • Calc (planilha): número de colunas expandido para 1024

  • Draw (desenho): agora trabalha com arquivos do tamanho de pôsteres

  • Impress (apresentação): suporte ao uso mais de um monitor por apresentação

  • Writer: modos de edição adicionais para suporte a vários idiomas por documentos, além de edição de documentos para o MediaWiki

  • Calc: novo “solver” para equações

  • Chart (gráficos): melhorias nos gráficos

O repositório de extensões do OOo possui muitos tipos diferentes de complementos, oferecendo novas funcionalidades aos usuários.A extensão mais popular é a de importação de PDFs, que permite abrir esses arquivos para edição.Considerando que há tempos o OOo conta com o recurso nativo de exportação para PDF, a importação é uma excelente novidade.

Está bem claro que a Sun e o projeto OOo vêem as extensões como um terreno fértil para a inovação, permitindo que pessoas que não sejam contribuidoras oficiais do projeto (por não terem assinado o Acordo de Contribuidor da Sun, ou SCA) possam contribuir. O gerente da comunidade OOo da Sun, Louis Suarez-Potts, explicou:

O OOo 3.0 aumenta a liberdade por meio das extensões, da mesma forma que o Firefox faz: elas dão a todos os usuários a liberdade de adicionar novos recursos e funcionalidades. No momento temos algumas centenas de extensões, e elas têm se mostrado populares. E nem fizemos muita propaganda. Eu acredito que nos próximos meses, com o crescimento de popularidade da versão 3.0, teremos extensões ainda mais interessantes.

Já temos algumas extensões que oferecem recursos bem diferentes daquilo que consideramos ferramentas de “escritório” – e por que não? O OOo é um conjunto integrado de ferramentas baseado em conceitos bastante conservadores de software de escritório. Mas não há motivos convincentes para se ater a um passado conservador, e sobram motivos para ser criativo.

Um dos novos recursos que mais empolgam os desenvolvedores do OOo não terá efeito sobre os usuários do Linux. O OOo 3.0 tem visual nativo no Mac OS X, ao contrário do que ocorria na versão anterior, de interface baseada no X11. Uma versão nativa para o Windows já fazia parte do OpenOffice e de seu precursor, o StarOffice, mas dizem que o novo tema padrão para Windows é bastante atraente.

Há vários recursos novos para os que também precisam usar o Microsoft Office.Por exemplo, o suporte a arquivos de bancos de dados do Access e um suporte melhorado a macros em Visual Basic.Um pouco controverso é o novo recurso de leitura (mas não de gravação) de arquivos Open XML do MS Office (OOXML).O OOXML é o novo padrão de documentos do MS Office, que a Microsoft e a Ecma conseguiram aprovar como padrão ISO este ano.

O suporte ao OOXML é um dos pontos polêmicos do OOo.Há duas frentes de desenvolvimento bastante barulhentas: uma da Sun e outra da Novell. Como era de se esperar, elas divergem quanto ao OOXML, ao ritmo de desenvolvimento e à direção do projeto.As coisas chegaram a um ponto em que surgiu um fork, o Go-OO, liderado por Michael Meeks, da Novell.O Go-OO foi adotado por várias distribuições, o que fez com que alguns o considerassem um fork como hostil.

O diretor de código livre da Sun, Simon Phipps, o Go-OO (e o OO-Build) como uma tentativa da Novell de controlar o OOo:

O fato é que o go-oo.org definitivamente é um fork hostil e competitivo do OpenOffice.org, e o OO-Build deixou de ser um downstream útil já que, exceto por pequenas alterações, ele não sobe mais nada (especialmente para o Mac) para o upstream. Ao contrário do Groklaw, eu hesitaria em chamar o OO-Build de fork, mas o Go-OO certamente é um. É só dar uma olhada no site, na versão para Windows e na retórica.

Na minha opinião, a motivação da Novell e de sua equipe para hospedar e promover o Go-OO é tão clara quanto o fato de que o fork é patrocinado por ela. Ela promove o excêntrico suporte ao OOXML via XSLT da Microsoft e isola o Linux do OpenOffice.org (de forma que ninguém na comunidade principal do OpenOffice.org consiga contratos de suporte para usuários do Linux). E tudo isso muito bem embalado por uma história sobre hackers e sua liberdade, e sobre a demoníaca e controladora Sun, sem interferência dos engravatados da Novell.

A última espiada de Meeks no desenvolvimento do OOo foi recebida com duras críticas por vários blogs.Meeks analisou commits realizados na base de código do OOo para tentar depreender tendências no desenvolvimento do aplicativo.Sua conclusão foi curta e grossa, e sem dúvida inflamou a turma do time da Sun: “De modo geral, o quadro exibido pelas estatísticas é o de um lento e progressivo desinteresse da Sun pelo projeto, somado a uma espetacular falta de crescimento na comunidade de desenvolvedores.”

Embora muitas respostas à analise tenham surgido, incluindo esta seqüência de comentários no LWN, ainda não houve nenhuma análise séria que chegasse a uma conclusão diferente.Talvez haja outra maneira de dispor das estatísticas de forma a traçar um quadro mais favorável ao crescimento na comunidade do OOo, mas se não houver, a conclusão é um tanto preocupante.O OOo é uma ferramenta muito útil e é usado por muita gente, oferecendo uma alternativa aos “acorrentados” à Microsoft.Devido à associação da Novell à Microsoft, alguns temem que o Go-oo seja uma nova e sutil tentativa de acorrentar os usuários, desta vez à Novell.

No que parece ser uma provocação, e uma confirmação de que o fork é de fato hostil, Meeks incluiu um adendo à sua análise:

Por que o bug que relatei não foi resolvido? Por que a interface é tão desagradável? Por que o desempenho é ruim? Por que ele consome mais memória que o necessário? Por que a inicialização fica cada vez mais lenta? Por que? Por que? – os desenvolvedores têm a resposta: quer nos ajudar a melhorar o OpenOffice.org? Então o melhor a fazer é começar brincando no go-oo.org para ir se enturmando […]

As críticas ao lento desenvolvimento do OOo e a demanda pela criação de uma fundação que o supervisione já vêm de longa data.Parece que o OOo está em uma encruzilhada.Se o compromisso da Sun estiver de fato diminuindo, e se não houver um aumento nas contribuições de terceiros, o OOo pode estagnar, ou perder o trono para o Go-oo.

O SCA é um dos pontos mais polêmicos para os contribuidores, e acaba atrapalhando o desenvolvimento. Eles não acreditam que a Sun não vá tomar posse de suas contribuições. Mas a verdadeira raiz do conflito está nas questões de controle e direção do desenvolvimento – dois pontos que costumam gerar forks. Embora a existência de dois forks não seja o ideal, ela pode acabar levando a melhorias tanto no código quanto no processo de desenvolvimento do OOo.

As preocupações de ambos os lados são legítimas – obviamente a comunidade de usuários (da qual a maioria é silenciosa) tem outro ponto de vista – mas o grau de hostilidade entre eles leva a crer que dificilmente as coisas vão ser resolvidas de maneira amistosa. A suíte de escritório é um produto extremamente lucrativo, ao menos no mundo proprietário. A impressão que eu tenho é a de que há uma nuvem de cifrões bloqueando a visão da Sun e da Novell. Uma fundação neutra pode ser um bom primeiro passo rumo à reconciliação.

Créditos a Jake Edgelwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>

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