O OpenOffice.org deveria ser uma suíte light?

O OpenOffice.org deveria ser uma suíte light?

Não é que esteja reclamando do desempenho e consumo energético das versões atuais do OpenOffice.org, muito pelo contrário: ele vem rodando redondinho em meu netbook, que é uma máquina com capacidade de processamento limitada. No entanto, ao olhar para o poderoso e consagrado Microsoft Office, me parece que ter um perfil de uma suíte Office leve, rápida e de fácil manutenção, pode ser uma ideia interessante para o futuro da suíte. Então, que vantagens teríamos se as futuras versões do OpenOffice.org fossem concebidas para serem lights?

90% dos usuários não utilizam os recursos avançados de um bom editor de textos. Por exemplo, as pessoas comuns normalmente editam textos simples (presumindo que façam o uso dos estilos), inserem algumas figuras, definem pequenas tabelas, numeram as páginas no rodapé e, dependendo do caso, inserem índices gerais para facilitar a consulta. No final, realizam uma verificação ortográfica geral e salvam, destinando o trabalho feito para impressões, envios ou até mesmo arquivamento, para uso posterior. Portanto, muitos recursos não tão essenciais simplesmente poderiam deixar de ser implementados. Ou ainda, serem suportados de modos mais simples e diferenciados (veremos sobre isso mais adiante).

Alguns aplicativos da suíte também não mostraram para quê vieram. O OpenOffice.org Draw nem sequer pode ser considerada uma séria opção para o uso em produção (nem dá para compará-lo com os consagrados Inkscape e o Xarax); já o OpenOffice.org Base, embora eficiente à sua maneira, faz parte de uma classe de aplicativo que poucos usuários casuais fazem o uso, já que estes normalmente se concentram mais em torno do trio editor de textos, planilha eletrônica e apresentação. Por fim, quantos leitores aqui já fizeram o uso do OpenOffice.org Formula?

Então, não me surpreenderia que estas aplicações – além de uma série de outros recursos não tão importantes assim – deixassem de existir, se fosse feita uma geral na suíte OpenOffice.org com o objetivo de deixá-la mais light, com objetividade. Consequentemente, além de emagrecer mais, a simplicidade geral da suíte lhe dará as características desejadas para torná-la muito mais fácil de manter e atualizar. E o mais importante: entram em cena, as novas oportunidades para serem exploradas…

A questão da disponibilidade do acesso a Internet é a principal oportunidade para o OpenOffice.org light. No Brasil (e em muitos outros países), nem sempre dispomos de uma boa infraestrutura para a oferta de serviços qualificados. Entre uma conexão ADSL que vira-e-mexe está sujeita a inúmeros problemas e uma alternativa 3G que oscila entre o ruim e o péssimo, simplesmente não dá para contar com os bons serviços online oferecidos, como o Google Docs. Queiram ou não, muitos usuários ainda são obrigados a se contentarem com as aplicações offline instaladas, consumindo preciosos recursos computacionais que seriam amenizados com o uso de uma suíte leve, como é o caso dos netbooks.

E falando em netbooks…

Como já estamos carecas de saber, os netbooks são uma classe de dispositivos móveis voltados para o uso em tarefas básicas, como o uso da na Internet e a editoração de documentos de escritório. Uma vez que optarmos por uma suíte leve (conforme propomos acima), não só garantiremos a satisfação dos usuários com o bom desempenho geral de seus netbooks, como também a sua autonomia poderá estender. Para finalizar, o enxuto pacote de instalação poderá ser baixado facilmente, até mesmo nas conexões críticas como o 3G. E uma vez que a suíte offline estiver sendo utilizada, disponibilizaremos toda a vazão do tráfego das conexões 3G para outros propósitos, ao invés de ter que compartilhá-la com uma suíte online que periódicamente precisa se conectar ao servidor.

Ainda temos que levar em consideração, que sempre teremos mais recursos à disponibilidade em uma suíte offline, se comparada às ofertas de suítes online já oferecidas. Por mais leve que seja o OpenOffice.org light, este sempre oferecerá mais recursos, já que as opções de suítes online obrigatoriamente terão os seus recursos limitados, pela necessidade de utilizar o mínimo de banda de tráfego (especialmente da banda-larga 3G), já que múltiplas instâncias (entenda-se usuários conectados) certamente sobrecarregarão os servidores que dispõem do serviço. Mas para torná-la atraente em netbooks, deveremos garantir que a suíte offline deverá economizar o mínimo possível de seus recursos!

As distribuições GNU/Linux (em especial o Ubuntu) poderão ter um papel preponderante para a sua disseminação, dado o alto nível de integração geral ao sistema que podem prover entre o ambiente gráfico e os seus aplicativos. Se observarmos mais atentamente os softwares livres disponíveis, poderemos notar que a grande maioria das aplicações são concebidas dentro de um conceito geral de simplicidade, como é o caso do Ubuntu: por se basear no GNOME como o ambiente gráfico padrão, todas as peças de softwares que o compõe são desenvolvidas dentro das recomendações do GNOME Human Interface Guidelines. Na Informática voltada para os usuários desktops, a usabilidade é tudo; e quanto mais simples e bem delineado for um aplicativo, melhor será para o seus sucesso.

Além dos aspectos técnicos, entram em cena também os aspectos mercadológicos, como a questão da segmentação. Nos dias atuais, encarar o Microsoft Office “de frente” não é lá uma atitude lá muito consciente, já que este incrível concorrente não só oferece recursos poderosos, como também possui uma gigantes base instalada de usuários que dificilmente irão trocar de suíte. Para que estes venham a desejar substituí-la, as alternativas gratuitas (como o OpenOffice.org) certamente serão consideradas, já que as opções online ainda deixam à desejar no quesito disponibilidade de recursos.

Por fim, temos que considerar seriamente o cenário atual: a Oracle adquiriu recentemente a Sun, criadora do OpenOffice.org e responsável pelo seu processo de desenvolvimento. Uma vez que esta empresa não possui políticas muito “amigáveis” com a comunidade do Software Livre, existe uma séria possibilidade de que o OpenOffice.org deixe de ser suportado por esta organização, o que seria um duro golpe devido à necessidade de um suporte forte em termos de infraestrutura para acomodar um projeto de tão grandes dimensões. Portanto, o “emagrecimento” certamente facilitaria a sua manutenção, por parte da comunidade se um dia ela vier a tomar conta integralmente desta suíte de escritório.

Eis, as minhas ideias (e devaneios) para uma computação melhor. O OpenOffice.org – um dos mais importantes softwares livres na atualidade – poderá se tornar a peça fundamental para a adoção das plataformas livres, ao mesmo tempo que ganhará notoriedade nas plataformas proprietárias, já que no mundo atual, a disponibilidade universal e a integração começam a dar as cartas. Inclusive, muitas das características do já consagrado Microsoft Office – restrito, proprietário e pesado – podem perfeitamente condená-lo, se novas medidas (entenda novos rumos) não forem tomadas. Eis, o momento ideal para tomar a dianteira!

Vai ver, o OpenOffice.org já é light à sua maneira… 🙂

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>

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