Apesar de ter demorado um pouco para perceber a importância da Internet, ainda na época do Windows 95, e até ter tentado montar um “concorrente”, o MSN, que no final acabou virando um portal, a Microsoft vem dando um verdadeiro show de estratégia nos últimos tempos, mostrando uma capacidade rara de lançar tecnologias para dominar os principais pilares da revolução digital que veremos neste século.
O objetivo é, claro, ganhar ainda mais dinheiro, com licenças caras o bastante para manter um império multibilionário, mas não tão caras a ponto da maior parte dos usuários adotar o produto concorrente. Um exemplo é o Office e o Windows XP. O Office pode ser alugado por R$ 29 por mês e o Windows XP Home, upgrade custa 9 x de R$ 32. Considerando que temos uma média de uma atualização por ano desde o Windows 95, seriam R$ 24 por mês até o próximo upgrade, R$ 54 por mês, no total, somando com o aluguel do Office. Para empresas e escritórios esse não é um valor muito alto, unitariamente, mas se considerarmos que o Windows está em quase 90% dos computadores do mundo e o Office está em mais de 60%, teremos algumas cifras fabulosas.
Apesar de tudo, o negócio de venda de softwares está em declínio. Para não depender apenas destes dois produtos, a Microsoft vem atacando em várias outras frentes, ramificando sua influência apartir do Windows. Você já deve ter visto vários projetos de “casas do futuro”, onde todos os aparelhos são inteligentes e estão interligados. Pois bem, juntando todos os produtos que a Microsoft anunciou nos últimos meses, a casa do futuro vai rodar Windows!
O que? Não acredita que no futuro até a sua geladeira vai rodar o Windows XP? Então veja só:
Tudo começa com o PC do quarto que hoje roda aquele upgrade de 9x de 32 reais. Este PC provavelmente estará conectado à Internet. Hoje já temos 14 milhões de internautas e pode ter certeza que este número vai triplicar dentro dos próximos 5 anos. Aqui entram em cena os diversos serviços que compõe a estratégia .Net.
O usuário não pagará diretamente por estes serviços, que incluem ferramentas de compartilhamento de arquivos, fotos, música, sistemas de autenticação, de comércio eletrônico etc. quem pagará serão as empresas que os utilizarem para desenvolver seus produtos. A estratégia da Microsoft é oferecer os serviços por um custo mais baixo do que as empresas teriam para implementar serviços semelhantes, o que têm uma boa chance de dar certo.
Vamos então para a sala de estar, que provavelmente terá um video-game, um X-Box claro. Para cada X-Box vendido nas lojas por 300 dólares, a Microsoft leva um prejuízo de 120 dólares. Apesar disso, o console pode ser muito lucrativo, pois todos os produtos licenciados para ele, jogos, acessórios, etc. rendem royalties à Microsoft. Quase todos os outros fabricantes de video-games seguem esta mesma estratégia, de vender os aparelhos abaixo do custo para ganhar depois vendendo jogos e acessórios, a diferença é que poucos conseguem vender tantas unidades quanto a Microsoft pretende vender do X-box.
Para conectar o PC a todos os outros aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, existirá o e-Home (leia a matéria em: https://www.hardware.com.br/news/2001/11/101113-ms.asp) uma plataforma de software que promete interligar os vários padrões de rede que teremos daqui pra frente (Ethernet, 802.11b, Bluetooth, HomeRF, etc.) tendo como centro de tudo o PC, que compartilhará a conexão com a Web, armazenará arquivos, etc.
O Windows XP Embedded, anunciado hoje preenche a última lacuna, que são os eletrodomésticos, aparelhos dedicados e todo tipo de aparelho portátil. Veja o significado de Embedded, incluído no nosso dicionário:
Embedded System – A palavra Embedded significa embutido ou encaixotado. Já estamos falando de informática, poderíamos usar também o termo integrado. Esta é a palavra de ordem para os Embedded Systems, que são computadores ultra compactos, geralmente formados por um único chip, que contém o processador, memória, uma ROM onde fica gravado o sistema operacional e as interfaces necessárias. Estes sistemas normalmente são especializados, ou seja, dedicados a indefinidamente executar a mesma tarefa, como por exemplo compactar vídeo (para ser usado numa placa de captura de vídeo), descompactar um algoritmo de áudio qualquer (para ser usado num PC3 Player) etc.
Embedded pode ser usado em relação a qualquer sistema que possui todos os componentes necessários para executar suas tarefas. As urnas eletrônicas, as catracas do Metrô, o seu celular, o relógio de pulso, o aparelho de som que toca MP3, são todos exemplos de Embedded System.
Qualquer sistema é composto de Hardware Software. Com excessão dos mouses e joysticks, o Hardware nunca foi o forte da Microsoft. Até mesmo o X-Box está sendo produzido por outra empresa, a Flextronics. A Microsoft ficou apenas com o desenvolvimento, marketing e logística.
Já que preferem deixar o Hardware para os outros fabricantes (tem que sobrar alguma coisa para eles não é mesmo? 🙂 a Microsoft continua entrando com o Software. O XP Embedded é uma versão compacta do Windows, que permitirá aos desenvolvedores desenvolver os aplicativos que dão vida a estes sistemas, programando sob a API do Windows.
É mais ou menos como o seu PC. Nenhum aplicativo roda diretamente sobre o Hardware, pois é muito caro começar do zero e desenvolver não apenas o programa em sí, mas todas as rotinas de acesso a Hardware. É por isso que temos o BIOS e o sistema operacional, que além de tirar este peso dos ombros do desenvolvedor, oferece uma API, um conjunto de rotinas prontas que diminuem o trabalho de desenvolvimento a uma pequena fração do que seria originalmente.
No caso dos Embedded Systems, além do problema do custo, existe o problema do tempo. Os fabricantes não gostam nada de ter de perder 6 ou 9 meses desenvolvendo um software para poder lançar seu produto, pois além do prejuízo de perder todos estes meses de vendas, correm o risco de ver algum concorrente sair na frente. Daí ja dá para perceber o mercado potencial que o sistema possui, simplesmente quase todo o mercado de aparelhos eletrônicos daqui a 4 ou 5 anos.
Os requisitos para o XP Embedded são um processador de 32 bits, compatível com o sistema e 4.8 MB de memória para a configuração mínima. Para ter um sistema Windows básico, são necessários 14 MB. Para ter o sistema completo, com direito à interface gráfica, Internet Explorer 6, Media Player, O cliente terminal server, USB e SNMP o pré requisito já sobe para 70 MB.
A qual tipo de aparelho se destina cada versão? O versão mínima pode ser usada em aparelhos menores, como relógios com funções de organizador pessoal, celulares e a maioria dos sistemas embedded. Hoje em dia praticamente nenhum aparelho destes possui 4.8 MB de memória, mas isso vai mudar rápido nos próximos anos.
A versão básica é destinada a aparelhos um pouco maiores, que precisam da API Windows completa, enquanto a versão completa é destinada a Handhelds, Webpads e outros tipos de aparelhos com funções mais complexas. Veja o caso das Webpads por exemplo, o IE 6 permite o acesso à Web, que é a aplicação básica para estes aparelhos, enquanto o cliente terminal server permite que você controle seu PC à distância, rode aplicativos etc. usado uma conexão de rede qualquer. Some com os aplicativos e jogos oferecidos pelo fabricante e você terá um sistema que poderá ser usado tanto para aplicações doméstica quanto em empresas.
Você claro, vai acabar pagando pelo sistema instalado nos aparelhos que comprar, já que os fabricantes precisam pagar pelas licenças do software. O custo unitário será relativamente pequeno, assim como o aluguel do Office e as prestações do Windows XP, mas somando tudo você verá que serão quantias respeitáveis, multiplicados por algumas centenas de milhões de usuários.
Apesar das práticas anti-competitivas, dos processos na justiça, etc. não dá para negar que de ganhar dinheiro a Microsoft entende.
O concorrente continua sendo o Linux, que além dos desktops pode ser usado em todos os sistemas que citei acima, já que o Kernel apresenta uma flexibilidade muito grande.
O Linux continuará crescendo em qualidade e continuará a ganhar o apoio dos fabricantes, que vão buscar o sistema como uma plataforma para seus produtos, como vem fazendo a IBM. O Linux vai continuar crescendo, mas a briga vai ser boa.
Lembre-se da estratégia: “cobrar o máximo possível mas pouco o suficiente para que os compradores não adotem o concorrente”?. Não duvide que conforme o Linux continue a ganhar terreno, a Microsoft passe a oferecer boa parte dos seus produtos de graça, para manter seu domínio sobre o mercado e poder continuar ganhando dinheiro em outras frentes.
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