OLPC XO (laptop de 100 dólares)

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OLPC XO (laptop de 100 dólares)

Em Janeiro de 2005 o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) começou a desenvolver o projeto de um laptop que custasse apenas US$ 100, com o intuito de revolucionar o jeito com que as crianças do mundo todo são educadas. Para isso foi criada a OLPC (One Laptop per Child), uma associação, independente do MIT, para tomar conta do projeto.

Mas o objetivo do projeto vai muito além de apenas conseguir construir um laptop extremamente barato. O OLPC é um projeto educacional, não o projeto de um laptop. O objetivo do projeto, como o próprio nome esclarece, é que cada criança de um país sub-desenvolvido tenha um laptop desses, principalmente crianças que vivem em áreas rurais desses países.

O projeto vai muito além de apenas um laptop barato. O OLPC XO (laptop do projeto) irá rodar Linux, porém está sendo desenvolvido um gerenciador de janelas especial para ele, o Sugar. Além disso todos os softwares que virão inclusos estão sendo repensados. Um dos conceitos do projeto é que todo o desenvolvimento de software nos últimos anos tem sido voltado para a metáfora do desktop, um computador pra trabalho, que não foi pensado para o trabalho dentro da escola.

Quaisquer aplicações no laptop, não são chamadas aplicações, e sim atividades. Isso não representa apenas uma mudança na nomenclatura, o grande desafio é repensar as aplicações dentro de uma perspectiva mais colaborativa. Para isso, além de repensar é preciso reescrever também grande parte das “atividades”.

É como se a mesma instância de um programa pudesse ser acessada por vários laptops na rede, todos vendo a mesma coisa, assim o trabalho é colaborativo e feito em grupo. Isso não serve só para o editor de texto ou o programa de mensagens instantâneas, a idéia do projeto é repensar todos os aplicativos para que eles possam funcionar de forma colaborativa, um conceito diferente do que estamos acostumados.

Um conceito interessante que está sendo aplicado são as redes mesh. Este tipo de rede wireless funciona assim, se você quiser enviar um pacote do computador A para o computador E, supondo que eles estejam a uma distância grande, e entre eles estão os computadores B, C e D, o computador A vai enviar o pacote, o computador B irá retransmitir esse pacote, que chegará ao computador C, que fará a mesma coisa, até que o pacote chegue ao computador E.

Assim será possível fazer uma rede gigante sem precisar manter uma infra-estrutura enorme. Isso possibilitará também, que o acesso a internet chegue à lugares hoje inimagináveis.

Review

Foram produzidas algumas unidades do primeiro modelo de testes do laptop, batizado de BTest-1, para serem enviadas a alguns países que estão participando do projeto. Dez unidades foram para o LEC (Laboratório de Estudos Cognitivos) da UFGRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), coordenado pela professora Léa Fagundes.

Eu tive a oportunidade de testar o laptop, fui recepcionado por Juliano Bittencourt, um dos bolsistas do laboratório. Depois de uma grande explicação sobre o projeto, foi possível mexer um pouco no laptop para conhecer o sistema.

O BTest-1 possui um processador AMD Geode GX-500 de 366 MHz, 256MB de memória RAM (o modelo final virá com 128MB), 512MB de memória NAND (será usada memória flash ao invés de um disco rígido) e o controlador de video é integrado com o processador. Ele possui também três portas USB 2.0 e um slot para cartões SD, para poder ligar alguns periféricos e ampliar a capacidade de armazenamento. Um detalhe interessante é que o laptop usa o sistema de arquivos JFFS2, que grava os dados já comprimidos, assim será possível guardar mais informações nestes 512MB de memória integrados. Existem também alto-falantes, microfone, e, o mais interessante, webcam, integrados.

index_html_226c63a7Foto do modelo Alpha de testes do OLPC
index_html_m79ebe157Este é o BTest-1

Uma das coisas que chama atenção é que ele parece um brinquedo :-). Mas, uma das preocupações do projeto é que o laptop dure pelo menos 5 anos, eles não querem fazer algo vagabundo simplesmente para conseguir chegar ao baixo preço, a idéia é fazer algo de qualidade. Outra coisa legal é o acabamento do teclado, a idéia é que ele seja à prova d’água, por isso tem um acabamento emborrachado, mas isso contribui para o visual de “brinquedo”. Uma das coisas que complica a venda do laptop para o público em geral é que as teclas são muito pequenas, para um adulto é bem desconfortável usar o teclado. Um outro detalhe que incomoda é que, como as teclas são emborrachadas, quando você pressiona uma tecla somente o centro dela abaixa, não a tecla inteira. É um pouco diferente do jeito que você está acostumado a digitar.

index_html_672ae2b2Detalhe para o acabamento do teclado. Acima existem duas luzes que podem ser acesas para facilitar a digitação em locais escuros.

Em abril de 2006, tive a oportunidade de entrevistar pessoalmente James Gettys, um dos mentores do projeto. Uma das coisas que ele disse, em relação a tela, foi:

“A tela é uma nova tecnologia que tem dois modos. Mary Lou Japsen, nossa CTO é uma das pessoas que mais entende de displays no mundo. Ela percebeu que mais da metade do custo de um LCD comum, não era o LCD propriamente dito, mas sim a lâmpada florescente e a fonte de alta voltagem (o FL Inverter, usado na tela dos notebooks) que alimenta ela. O que ela pensou foi que nós podíamos construir um display que pode operar em dois modos diferentes.

Num dos modos, temos um display refletivo de alta definição, sem usar o backlight do LCD, somente refletindo a luz. Justamente por isso ele preto e branco (para aumentar o contraste). Ele pode lhe fornecer diferentes tons de cinza, em uma resolução de 1180×830.

O outro modo usa um backlight, mas é um backlight feito com leds (e que não precisa do FL Inverter), que é muito mais eficiente e utiliza um tipo barato de plástico impresso para separar a luz nas diferentes cores e levar a luz aos pixels certos, para ligar os pixels vermelho, verde ou azul. Neste modo, ele opera em uma resolução de 640×480. “

Para conferir a entrevista na íntegra, https://www.hardware.com.br/artigos/especial-olpc/.

Uma das coisas que eu reparei quando cheguei, foi que a tela tinha uma definição muito boa para estar rodando à 640×480, as cores eram muito vivas e a qualidade da imagem também impressionava. Houve uma mudança no projeto, agora a tela funciona a 1024×768 no modo colorido e 1900×800 no modo preto e branco. Ela é uma tela de dupla camada (dual layer display), uma delas é responsável por renderizar o colorido e a outra por renderizar o preto e branco. No modo preto e branco ela já tem uma resolução de 200dpi, então tudo fica extremamente legível para um monitor tão pequeno (7.5″). A qualidade do monitor é um aspecto ergonômico muito importante, pois as crianças irão passar muito tempo por dia trabalhando com o computador.

Eu estava curioso para ver como acontecia a troca do modo colorido com backlight para o modo preto e branco sem backlight, tudo acontece num piscar de olhos, simplesmente as cores somem. Nada da tela apagar e voltar depois no outro modo.

index_html_28ac6a3dDetalhe para a tela, com o laptop fechado no modo e-book.

Há também uma grande preocupação com o consumo de energia. Em primeiro lugar, são poucas as escolas públicas que teriam infra-estrutura elétrica e sistema de refrigeração para aguentar em torno de 30 computadores ligados por sala. Além disso, existem muitas escolas, em áreas rurais, que não possuem nem energia elétrica.

O OLPC XO consome no máximo 5W de energia, quando se está navegando na internet o consumo cai para 3W, um número impressionante. Se você está só lendo alguma coisa ele chega à incrível marca de 1W, quando ele fica desligado, a rede mesh continua funcionando, e ele consome míseros 350mA.

A bateria dele deve durar em torno de 6 horas navegando na internet, e, quando ele está só retransmitindo pacotes, deve durar 1 dia. Uma das preocupações com a bateria é que ela seja ecologicamente correta e ela também não pode explodir fácil. Caso contrário, se houvesse um incêndio em uma escola seria um caos.

Além disso existe também um modo onde é possível hibernar o processador, mas continuar com as imagens aparecendo na tela, isso gera uma grande economia de energia.

Você deve ter reparado na primeira foto que parece que existem três trackpads. Na verdade isso funciona assim, o do centro funciona como um trackpad normal, já os das pontas foram feitos para serem usados com uma caneta stylus, para que as crianças possam fazer desenhos a mão livre. Este recurso ainda não está funcionando no BTest-1 devido a um problema de hardware.

A Interface

Para o projeto foi especialmente criado um gerenciador de janelas, o Sugar.

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Este é o Sugar. No centro, em volta do “X”, temos a barra de tarefas, mostrando tudo que está aberto. Os ícones na parte inferior representam as atividades. Na parte superior você seleciona o lugar, desde a vizinhança, passando pelo seu grupo, até o seu laptop e as atividades que você está realizando. Toda essa barra cinza que cerca a tela no quatro cantos, o Frame, fica normalmente escondida, ela aparece quando você leva o cursor até um dos cantos da tela. É possível também manter ela sempre ali, através de um botão no teclado.

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Esta tela mostra a “vizinhança”, cada ícone representa um computador, que é identificado com o nome da criança. É possível ver também três grandes grupos com um ícone diferente no centro dele. Isso representa varias crianças trabalhando na mesma atividade. Isto representa o conceito colaborativo do laptop. Você pode clicar em um dos outros laptops e convidar ele para se juntar a atividade que você está fazendo, também é possível se juntar a outras atividades já em execução.

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