Entrevista: a OGD1 está chegando

Entrevista: a OGD1 está chegando

Interview: Timothy Miller, Michael Dexter: OGD1s Almost Here

Autor original: Jordan Spencer Cunningham

Publicado originalmente no: osnews.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

Já faz um tempo que tivemos novidades sobre o Open Graphics Project e sua OGD1, a placa de vídeo de código aberto. Mas a equipe do projeto não ficou de bobeira esse tempo todo não. Confira esta entrevista do OSNews com Timothy Miller, fundador do Open Graphics Project e principal responsável por manter o projeto em atividade, e Michael Dexter, diretor de programação do Linux Fund e peça-chave na parceria do Linux Fund com o OGP. Apesar do OGP andar meio sumido da mídia, parece que seu trabalho na OGD1 finalmente vai começar a render frutos.

O Linux Fund arrecadou dinheiro para a construção inicial de 10 OGD1s para os desenvolvedores de código aberto. A arrecadação ultrapassou os US$ 5 mil propostos originalmente. Isso significa que outras placas vão ser produzidas?

Nossa estimativa inicial de US$ 5 mil se baseava nas nossas expectativas e esperanças. Tomamos como base o custo de produção de cem placas. Mas certos custos permanecem fixos quando você produz em quantidades menores… mais custos do que nós esperávamos. Felizmente, os quase US$ 8.500 dólares que arrecadamos nos permitiram seguir em frente com a produção de 25 placas, e o Linux Fund fez um empréstimo do valor adicional necessário para que concluíssemos a produção. Esperamos vender pelo menos dez placas para repôr o que gastamos, e elas estarão disponíveis para venda quando as primeiras placas chegarem para os desenvolvedores voluntários.

A quantas anda o progresso do projeto?

Além do hardware físico, que precisa ser construído, passar por testes e ser programado, temos uma biblioteca grande de blocos lógicos (que os fabricantes de hardware costumam chamar de “blocos de propriedade intelectual”) que desenvolvemos. Isso inclui coisas como controladores para PCI, memória DDR, PROMs SPI, vídeo e até um simples microcontrolador no estilo MIPS. Usando isso tudo, desenvolvemos uma emulação funcional do VGA para a OGD1. A parte do VGA não é trivial, porque exige um modo de texto no qual os caracteres são renderizados em pixels ao mesmo tempo em que são passados para o monitor. Em vez de fazer essa implementação diretamente, usamos nosso microcontrolador (chamado de “HQ”) para converter o texto do VGA em pixels em segundo plano, enviando e reconvertendo continuamente o buffer de texto. Essa abordagem foi muito menos invasiva do que hackear nosso controlador de vídeo, e íamos precisar de um microcontrolador de qualquer jeito para dar suporte ao DMA (no futuro). Também precisávamos de um BIOS PARA O VGA. Tudo isso está lá no nosso repositório do subversion.

O firmware que está no SVN precisa de uns ajustes para ficar pronto para um lançamento oficial, e seria bom se alguém se oferecesse para dar uma força com ele. Enquanto isso, temos uma versão mais antiga que funciona, e ela vai ser programada nas placas que estamos fazendo.

É importante que essas placas cheguem às mãos de desenvolvedores ativos. O que acontece com as placas se esses desenvolvedores deixarem o projeto?

As placas pertencem ao Linux Fund. Embora as equipes do OGP e da Traversal Technology estejam envolvidos no trabalho, a situação legal e financeira é que o Linux Fund licenciou o design sob a GPL e pagou pela produção. Tecnicamente, os desenvolvedores que vão receber essas placas de graça vão pegá-las emprestadas. Se um desenvolvedor quiser sair do projeto, pode comprar a placa ou nos ajudar a passá-la para outro desenvolvedor. Além disso, o Linux Fund pode fazer um recall da placa quando bem entender, caso julgue que ela não esteja sendo usada para os propósitos originais.

E para o consumidor, qual é o preço que vocês querem cobrar pela placa?

Originalmente, a OGD1 era para levantar fundos, e nós íamos vendê-la a US$ 1.500. Esse preço continua sendo competitivo para uma placa dessa complexidade, mas vamos vender pela metade desse valor, para pagar o que foi gasto.

Só quero deixar claro que nosso objetivo aqui não é necessariamente o de lucrar. O que queremos é construir hardware “aberto” (de design livre). Uma forma de fazer isso é criar um negócio autossustentável. O Linux Fund ofereceu uma alternativa. Ninguém está lucrando nada agora, mas se conseguirmos atrair desenvolvedores para o projeto, e eles criarem coisas interessantes com as placas OGD1, isso pode atrair mais doações que poderemos usar para criar hardware que os usuários do software livre possam aproveitar de verdade.

Para os usuários do software livre, o maior desafio é o segredo que os fabricantes de hardware mantêm em torno de seus produtos. Sem documentação deles, não temos como fazer drivers livres que nos permitam usar o hardware pelo qual pagamos. Algumas pessoas acham que o jeito é pressionar os fabricantes de hardware para que liberem a documentação. Nós preferimos criar nosso próprio hardware, com design livre. Nós temos muita vontade de iniciar um desenvolvimento comercial, porque muitos de nós adorariam trabalhar diariamente projetando hardware hackeável, adequado ao software livre.

Nossa comunidade precisa muito de empresas dispostas a apoiar o software livre. Vocês têm planos para desenvolver uma versão PCI Express da placa de vídeo aberta? Há alguma previsão em termos de prazo?

Isso depende da comunidade. Antes da OGD1, nós não tínhamos hardware nenhum para mostrar às pessoas, então ninguém nos levava a sério. Com a OGD1, talvez as pessoas pensem que já mostramos do que somos capazes e decidam se envolver. Uma versão PCIe da OGD1 vai exigir o trabalho de talentos da comunidade, e também patrocínio da comunidade. Vale observar que a OGD1 não é estritamente uma placa de vídeo. É uma plataforma para a criação de protótipos baseada em FPGA e que pode ser transformada em uma placa de vídeo. Mas dá para usá-la de diversas maneiras. Eu estou interessado em fazer coisas com ela que vão de processamento de áudio com qualidade de estúdio a redes sem fio.

Você disse que tem 25 placas de vídeo produzidas e prontas para programação. Como ocorre essa programação?

Todas as 25 placas que nós produzimos precisam ser testadas para a verificação de defeitos de fabricação e outras coisas. Depois de passar nesses testes, a PROM do FPGA e do BIOS é programada com o firmware mais recente por um processo de flash. Nossa expectativa é de ter as primeiras placas testadas e prontas para serem entregues na OSCON.

Vocês estão convocando desenvolvedores, mas há alguma data oficial para o lançamento? Já há planos para uma grande festa (virtual ou real) de lançamento? Quanto tempo vai demorar para que os desenvolvedores e consumidores recebam as placas?

Não temos datas ainda, e estamos esperando pacientemente pela primeira leva de placas testadas e programadas. O projeto como um todo é um teste de paciência, dada a natureza do hardware. Não dá para fazer um arquivo tar com o trabalho todo e mandar para a equipe, como a gente faz com o software. Mas se conseguirmos levar as placas para a OSCON, certamente vamos fazer um brinde ao projeto.

Depois dessas 25 placas iniciais, vocês esperam fazer mais placas OGD1? Quanto tempo isso deve demorar, e o que precisa acontecer para que isso possa ser feito?

Nós adoraríamos fazer mais placas, caso exista demanda acadêmica ou privada. Uma segunda leva não demoraria tanto quanto a primeira, e a única questão é o dinheiro. Ninguém queria correr riscos nessa primeira leva, e felizmente o Linux Fund entrou com o dinheiro extra que precisávamos.

Parece que o Open Graphics Project teve uma longa e árdua jornada para atingir seus objetivos. Foi mais difícil do que vocês esperavam? Quais foram (ou são) os maiores problemas enfrentados pelo projeto?

A nossa lista de tarefas pendentes estava sempre vazia, então o problema não foi a dificuldade, mas sim a frustração. Da perspectiva do Linux Fund, o primeiro desafio foi arrecadar dinheiro suficiente para podermos começar o processo de fabricação, além de ter que lidar com pequenos problemas de disponibilidade de componentes. No caso de um dos chips, o preço nos Estados Unidos foi de cinco para quinze dólares durante a fase de arrecadação de fundos. Por isso, começamos a comprar de fabricantes em outros continentes, combinando Skype e PayPal. Por sorte, nenhuma de nossas encomendas em países orientais foi trocada por caixas entupidas daqueles pauzinhos que eles usam para comer. Além desses desafios, nossa dependência geral da ajuda de voluntários levou a alguns atrasos, já que todo mundo tem uma vida para cuidar. Também gostaríamos de dar os parabéns a um dos participantes, a filha dele nasceu durante o projeto!

Ou seja, tudo o que dizem sobre os desafios do hardware é verdade: a coisa é complicada, graças aos preços e à disponibilidade dos componentes, e às inúmeras variáveis físicas. Só vamos ter certeza de que correu tudo bem quando tivermos certeza de que todos os equipamentos foram soldados direitinho e que não há outros defeitos.

De modo geral, embora a OGD1 tenha uma longevidade relativamente boa, qualquer projeto de hardware de código aberto tocado por voluntários corre o risco de ficar obsoleto antes de ser produzido.

Além do Linux Fund e da venda de algumas das placas para arrecadar fundos, vocês consideraram alguma outra rota de patrocínio comunitário, como o Kickstarter.com?

Nós admiramos o nível de atenção que está sendo dado ao Kickstarter.com, mas o que nos preocupa é que eles não são uma organização sem fins lucrativos, e também não dependem de patrocínio. O Linux Fund financia projetos desde 2008, e achamos que ele usa um modelo melhor, embora menos conhecido.

Quantas pessoas compõem a cúpula do Open Graphics Project? Há alguém que mereça um destaque especial por seu trabalho ou contribuição?

Howard Parkin e Andy Fong levam boa parte do crédito pela placa de circuito impresso, com a ajuda de várias outras pessoas. Timothy Miller desenvolveu a maioria da lógica do FPGA. Petter Urkedal é o principal desenvolvedor do microcontrolador HQ, e também cuidou de boa parte da programação dele. Mark Marshall é responsável principalmente pelo código do BIOS do VGA. Ele também é o mantenedor oficial do código do FPGA para o Lattice XP10. Patrick McNamara é o mantenedor oficial do código do FPGA para o Xilinx Spartan III 4000. Howard Parkin, Mark Marshall e Petter Urkedal fizeram muitas simulações e testes com o hardware, além da depuração do código do FPGA e do BIOS para funcionar do jeito que você pode conferir neste vídeo.

Existe alguma maneira de um novato contribuir com o projeto? O que esse novato teria que aprender para trabalhar com drivers e firmwares? Há algum tutorial que ajude a quem estiver interessado no projeto, mas só tiver um conjunto restrito de habilidades?

No wiki do Open Graphics Project temos alguns tutoriais de Verilog, feitos para quem quiser aprender a desenvolver chips. Mesmo para quem não tem o hardware em mãos, muito do trabalho com o FPGA pode ser feito por meio de simulações, e há softwares de simulação de Verilog (como o Icarus Verilog). E ainda temos muito trabalho pela frente. No momento, temos um BIOS funcional e o microcódigo do modo de texto VGA, mas gostaríamos de aperfeiçoar isso tudo, incluindo coisas como o modo de gráficos VGA.

Para concluir, um dos meus sonhos é criar um hardware equivalente ao GCC. Nós precisamos muito de um conjunto de ferramentas para para o design de chips livres. Isso diminuiria a barreira de entrada para quem quer projetar hardware, e traria grandes benefícios para os fabricantes de hardware. Os fabricantes de FPGA investem muito dinheiro em suas ferramentas de síntese. A maioria delas é muito boa, mas também muito cara. Com um conjunto de ferramentas livre, os fabricantes de hardware poderiam se concentrar no hardware, oferecendo a todos ferramentas livres e potencialmente melhores. Eu diria que o custo das ferramentas proprietárias de síntese de FPGA são a maior barreira de entrada para quem quer mexer com FPGA. Tenho experiência no design e na IA de chips que são necessários para ajudar a desenvolver essas ferramentas, mas nós precisaríamos de uma equipe de desenvolvedores para concluir o projeto.

Aos desenvolvedores interessados em obter uma OGD1

Conforme anunciado pelo LinuxFund.org, “temos um duplo objetivo com este programa para desenvolvedores: garantir um bom suporte a drivers em sistemas operacionais de código aberto e estimular usos inovadores desta plataforma computacional única. Os desenvolvedores interessados podem escrever para ogd1@linuxfund.org contando suas experiência e qualificações técnicas pertinentes ao uso da OGD1. As placas OGD1 precisam continuar sendo propriedade do Linux Fund para atender aos requisitos do Imposto de Renda norte-americano, e os desenvolvedores têm que concordar em devolver a placa se desistirem de trabalhar no projeto, para que outro desenvolvedor possa usá-la. Mas encorajamos projetos de curto e longo prazo.”

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Nota: protótipo de OGD1 – OGD1-256DDAV.
Fonte: Wikipedia

Créditos a Jordan Spencer Cunninghamosnews.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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