Nem sempre as coisas foram assim…

Ao longo dos anos, as culturas e as tradições adquiridas ao montar e configurar um PC desktop para o uso doméstico têm mudado, devido aos avanços tecnológicos proporcionados pela inovação e o desenvolvimento. À começar pelas opções de compra dos componentes, suas características e finalidades, definiam a forma como tais itens seriam escolhidos e utilizados para a composição do conjunto. E para termos uma idéia prática de como tais mudanças aconteceram, vamos fazer um comparativo de como era montar, configurar e usar um PC desktop em duas épocas distintas: ontem e hoje (não necessariamente nessa mesma ordem).

PCs desktops de baixo custo: não tem dinheiro para comprar um computador legal? Não tem problema: monte a configuração de um PC desktop basicão com os novos Celerons ou Semprons e atualize as CPUs depois! Mas nem sempre foi assim: Celerons e Semprons (assim como os Atoms e Durons, entre outros “ôns”) não existiam! Para comprar um PC desktop barato, era necessário adquirir a plataforma anterior, já obsoleta. Por exemplo, eu mesmo tive que me contentar com um 486 DX4-100 porque não tinha condições de adquirir um Pentium-100; quando os Pentium-II foram lançados, ainda era possível encontrar facilmente os Pentium MMX 233 Mhz antes da chegada dos primeiros Celerons. O mesmo se deu com a AMD: Até os Durons (derivados dos Athlons) darem às caras, muitos K6-II de 500 MHz eram vendidos à preço de banana! Mas, com tantos Athlons K8 e Core2Duo ainda à venda, parece que pouca coisa mudou…

Uma placa-mãe para CPUs Intel; outra para CPUs AMD: se vamos de CPUs Intel, teremos que adquirir uma placa-mãe para estes processadores (seja soquete 755, 1156 ou 1366), se vamos de CPUs AMD, idem (AM2, AM2+ ou AM3). Mas nem sempre foi assim: até a época dos Pentium clássicos, o soquete 7 era tanto usado não só por processadores Intel e AMD, mas também por produtos fabricados por terceiros (Cyrix, Transmeta, Via…). A “culpa” é da Intel, pois na concepção de novos soquetes, ela tornou o uso de seu barramento de comunicação e tráfego de dados proprietário, para que os outros fabricantes não o utilizassem, impedindo assim a disseminação de produtos concorrentes. Felizmente, a AMD deu uma bela sobrevida ao Soquete 7!

Processadores destravados por padrão: o que diferencia um processador AMD comum de uma série Black Edition? Na ponta da língua, os entusiastas respondem: o multiplicador destravado! Mas nem sempre foi assim: alguns gatunos aproveitavam a oportunidade de alterar o clock dos antigos Pentiuns de 100 MHz para 133 MHz, vendendo-os como “legítimos” Pentium 133 MHz. Então, para evitar estas práticas, a Intel passou a fabricar seus processadores com multiplicadores travados por padrão. Ah, a nomenclatura baseada em códigos (tal como é usada atualmente) também foi adotada em tempos futuros, para auxiliar na identificação de suas CPUs. Felizmente, tais ocorrências eram raras de acontecer, visto que os processadores daquela época não eram tão flexíveis em overclock como os atuais. Quem me dera se eu pudesse turbinar meus velhos Pentiuns em até 50%, tal como muita gente faz hoje com seus Celerons-M e Semprons!

Processadores sem coolers: muitos aficionados ficam entusiasmados em saber que certos processadores de baixo consumo podem ser utilizados sem coolers, como é o caso dos Geodes, Atom, C-7 e Nano; mas, poucos sabem que, nem sempre foi assim. Na época dos 486, somente o DX2-66 (em diante) é que necessitava de um cooler para funcionar! Ainda assim, durante muito tempo, tais coolers tinham o tamanho tão reduzido que sequer percebíamos a sua existência. Pena não poder dizer o mesmo dos coolers de processadores que passam da casa dos 100 Watts de TDP…

Módulos de memória RAM em paridade: o que aconteceria se um dos módulos de memória RAM do seu PC desktop queimasse? Na prática, o sistema poderia funcionar perfeitamente apenas com o outro módulo, embora com o desempenho do subsistema de memória reduzido (tanto pela metade da quantidade de RAM o quanto pela metade da taxa de transferência). Mas nem sempre foi assim, pois se fosse na época dos módulos DIMM SDRAM, só perderíamos a quantidade de memória disponível, visto que o dual-channel sequer existia; se ainda fosse na época dos módulos EDO, seríamos obrigados a comprar outro módulo substituto, pois funcionado a 32 bits, eram necessários dois para completar os 64 bits exigidos pelo sistema. Que “M”, heim!

Placas de expansão sem suporte a PnP: Se precisarmos adicionar qualquer funcionalidade extra aos nossos PCs desktops, basta tão somente comprar uma placa de expansão com a função desejada, aguardar o sistema detectá-la e instalar os drivers solicitados (através de um CD-ROM fornecido pelo fabricante), tudo automaticamente! Mas nem sempre foi assim, ao menos não na época em que os slots ISA/EISA eram o padrão do mercado e o suporte a tecnologia PnP (Plug and Play) ainda nascia: além de sermos obrigados a configurar manualmente as IRQs, os canais DMAs, os endereços de E/S e de memória através de uma complicada combinação de jumpers na própria placa (quem nunca se enrolou para configurar um modem US-Robotics ISA, que atire a primeira pedra), os drivers eram fornecidos em disquetes (que poderiam se deteriorar), que por sua vez não abrigavam funções de auto-executar (embora o setup.exe e/ou install.exe estivessem presentes). Inevitavelmente, os serviços de um técnico especializado se fazia necessário, bem como seus honorários eram bem mais altos, se comparados com os preços cobrados por aquela lojinha da esquina que trazia umas “paradas maneiras” do Paraguai…

VGA 3D sem suporte ao DirectX e OpenGL: hoje em dia, qualquer VGA 3D off-board suporta as principais API gráficas, que são o Direct3D e o OpenGL. Muitos “supostos” gamers nem sequer sabe qual API o seu joguinho preferido é programado (ou ainda, acham que todos usam a Direct3D)! Mas nem sempre foi assim: na época das lendárias Voodoo, o Glide é quem dava as cartas! Também antes, os poucos jogos disponíveis em 3D “de verdade” necessitavam ter binários executáveis escritos para suportar modelos específicos! Em tempos mais antigos ainda, nem sequer era necessária a aceleração gráfica: os gráficos eram “renderizados” pela CPU e com incríveis paletas de 256 cores…

Placa de áudio e outros periféricos: já pensou por qual placa de som irá optar assim que você fizer o upgrade de seu PC desktop? Claro que não, já que se trata de um item integrado à placa-mãe e de boa qualidade. Mas neste caso, estamos nos referindo ao chipset de áudio, e não placa de áudio! Mas nem sempre foi assim: antigamente (até por volta de 1996/1997), as placas-mãe eram praticamente off-board, onde apenas os componentes essenciais eram mantidos integrados. Placas de áudio – assim como uma série de outros periféricos – eram adquiridas à parte, tendo como destaque as “boas” e velhas Creative Sound Blaster. Se voltássemos mais ainda no tempo, até as controladoras de disco eram necessárias!

Mídias de CD/DVD graváveis/regraváveis: as atuais mídias são utilizadas largamente para uma série de atividades, como a cópia e o transporte de dados, o backup e a restauração, entre outras tarefas pertinentes (sem esquecer algumas ilegais). Mas nem sempre foi assim: “há muitos e muitos anos”, o bom e velho disquete – mesmo com as suas limitações – reinava! Claro que, em tempos posteriores, surgiram opções como os Zip-Drives, da IOMEGA; mas o seu alto custo e baixa disseminação não o tornavam páreo para os disquetes.

Notebooks ultraportáteis: está insatisfeito com o baixo desempenho de seu netbook? Ora, então compre um notebook clássico! Ah, claro que o tamanho exagerado e o peso não agrada, tornando o netbook a opção mais em conta para as suas necessidades. Ainda bem, pois nem sempre foi assim: se fosse como antigamente, as opções que mais se aproximam de um netbook seriam o Sony Vaio e o Toshiba Libretto; mas pagar o equivalente a R$ 10.000,00 nos dias de hoje, certamente não seria interessante. Então, não reclamem da velocidade de seus netbooks!

Agora, tentem imaginar como seria voltar ao tempo e realizar as atividades que mais gostamos em um PC desktop com seus periféricos, há mais de 10 anos. Convenhamos: é bem diferente, não? Imagine então adicionar placas de expansão numa época em que tecnologias como o PnP e o Bus Mastering nem sequer existia? Ou, se quiser (ser masoquista), experimente voltar uns 25 ou 30 anos… &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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