Uma visita ao museu de informática

Uma visita ao museu de informática

Depois de ficar tanto tempo adiando esta visita, finalmente resolvi visitar o Museu de Informática & Tecnologia, aqui no Rio de Janeiro. Depois de tantos e tantos anos acompanhando as transformações e experiências acumuladas, achei que valeria à pena. Até porque o meu neto estava curiosíssimo para saber como era a Informática no tempo do seu avô:

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Antigo screenshot do Museu da Computação e Informática.

Bem, devem estar se perguntando quem sou. Sou o Sr. Ednei P. Melo, um aposentado de 76 anos, que resolveu esticar um pouco estes coloridos joelhos para respirar novos ares. Para ser mais exato, sou mesmo um homem nostálgico, que ainda tem alguns anos de vida para curtir. Então, como todo bom velhinho, nada melhor que visitar o passado para trazer à memórias, as boas e antigas lembranças. E aqui estou!

Na entrada do museu, havia um estande o qual era exibido um PC desktop clássico no início deste século. E como já era de se esperar, meu neto se surpreendeu ao encontrar uma monstruosa caixa metálica montada em uma mesa, um monitor LCD opaco, um teclado e uma outra peça, a qual havia lhe dito que é um raro exemplar de um antigo mouse (nossa, há quanto tempo não via uma dessas “coisas”). E o pior de tudo: tanto o mouse quanto o teclado são conectados por um fio a esta caixa, que por sua vez era conectado ao painel traseiro do “computador”.

Mas ele ficou impressionado mesmo é quando soube que aquela caixa era o gabinete em que se encontravam os componentes do computador. O que antes presumia ser o computador era apenas um monitor à parte. Também não deixou de poupar “elogios” a ambos. O “tal” gabinete era grande e barulhento, cheio de ventoinhas em sua traseira. Coitado do meu neto, ele pensou que o gabinete fosse o nobreak, mesmo com toda aquela dimensão! E olha que nem cheguei a lhe dizer que “aquilo” consome uns 200 Watts…

– É aquela “coisa” enorme e desengonçada o que o senhor chama de “computador”? Meu Deus do céu, aposto que uma tranqueira velha daquelas, dava até tendinites e outras doenças do gênero!

Tive que concordar com o meu neto. Pelo menos, ele não fez “cara feia” para o LCD, pois o considerava não tão deselegante quanto aqueles monitores “quadrados” guardados em um outro estande (de uma época mais antiga ainda). Mesmo assim, ele detestou a sua tela opaca, sem translucidez e falta de suporte a gestos. No máximo, alguns suportavam o toque dos dedos como modo de interação, o que nos dias atuais, é considerado como “anti-higiênico”. Isso é porque ele não viu os teclados das antigas lan-houses e cyber-cafés!

– “Lan-house”, o que é isso, vô?

Lá vou eu, nostalgicamente, explicar ao meu neto que “antigamente”, nem todas as pessoas tinham acesso à Internet. Então, elas reuniam-se em estabelecimentos comerciais como lan-houses e cyber-cafés para utilizarem um computador para acessar a Internet. Devido à disponibilidade pública destes equipamentos, as lan-houses sofreram uma série de revés com as más intenções de uma parte da clientela, além de uma série de sanções governamentais sobre o uso destes serviços, que culminaram na falência destes antigos empreendimentos.

Expliquei-lhe também as diferenças entre lan-house e cyber-café e ele se surpreendeu novamente, ao saber que as máquinas de antigamente deveriam ser “preparadas” para rodarem jogos. Hoje em dia, os jogos rodam nas nuvens, sob qualquer navegador WEB (embora sejam exigidos os mínimos requisitos para tal, como a utilização de um IGP que suporte aceleração física e inteligência artificial adaptável); então, foi difícil para ele compreender a função de uma tal “placa de vídeo 3D”.

Mais à frente, eu entrei em um outro assunto de antigamente, chamado sistema operacional. E novas dúvidas surgiram, pois nos tempos atuais, basicamente um firmware faz a inicialização do computador e, em menos de 30 segundos, dispõe um ambiente desktop funcional. Antes disso, a webcan reconhece a nossa expressão facial e desbloqueia a sua interface, liberando-a para o uso. A partir daí, o sistema/firmware se encarrega de utilizar o cache dos serviços utilizados (aplicativos), embora tenha que carregar novas bibliotecas através da conexão para a Internet constantemente, devido ao uso de novas rotinas e algumas atualizações de segurança.

– Então, tínhamos que pagar para usar a tal “Janela”?

Sim, e muito! E o pior, ainda ter que conviver com as suas limitações da época. Travamentos aleatórios, atualizações extremamente demoradas (não em segundos, mas em minutos ou até mesmo horas), pesado e sem otimizações, pouco flexível… ufa! Mas, o fator mais precário nestes tempos, estava no processo de adequação a padrões e normas, o que dificultava (para não dizer impedir) empreendedores concorrentes de oferecer seus serviços. Hoje em dia, um firmware deve ser 100% compatível aos padrões atuais da Internet; mas naquela época, o seu browser (um tipo software que fazia a interligação do sistema local com a Internet, já que o sistema operacional não era totalmente integrado) mal era compatível com os seus próprios padrões!

Mais à frente, visitamos a seção de gadgets “daquela” época. Dispositivos eletrônicos como smartphones, câmeras digitais, reprodutores multimídia (entre outras bugigangas), eram a sensação da época. Atualmente, até que não é lá muito diferente; mas, depois que os smartphones, netbooks e tablets, passaram a concentrar a maioria destas funções, muitos destes dispositivos simplesmente deixaram de existir. Por exemplo, ninguém mais nos dias atuais utiliza uma câmera digital, já que as câmeras integradas dos smartphones da atualidade são mais que suficientes. Por fim, as leis e normas relacionadas ao descarte de equipamentos eletrônicos elevaram as multas e impostos sobre os gadgets “não tão úteis” de tal maneira, que muitos empresas ficaram desencorajadas para fabricá-los.

Foi nesta época dourada em que assistimos o nascimento e a morte de muitas coisas interessantes. Por exemplo, sob o ponto de vista do meu neto, e-book e e-reader são, respectivamente uma obra multimídia digitalizada e um aplicativo responsável pela sua reprodução; mas naquela época, o termo e-reader caracterizava um dispositivo – bastante similar a um tablet – mas voltado exclusivamente para a reprodução de e-books. De início, foi uma proposta até interessante; mas desde a chegada dos lendários iPads e outros tablets ao mercado, aliados ao baixo consumo proporcionados pela arquitetura ARM e os avanços na criação de baterias mais potentes, eles simplesmente foram relegados ao esquecimento, assim como foi com as antigas câmeras digitais e os PCs desktops clássicos, os quais são apenas encontrados em museus.

Ironicamente, empresas como a Apple, Microsoft e Intel, grandes impulsionadoras do desenvolvimento da Tecnologia da Informação naqueles tempos, já não existem mais. Em um mundo moderno e livre, onde a regra é universalizar, agregar e compartilhar o conhecimento, não há mais espaços para empresas conservadoras e monopolistas, baseadas em práticas de apropriação do conhecimento através do uso de patentes e propriedade intelectual. Hoje em dia, a propriedade intelectual deu lugar ao reconhecimento notório, onde criativos inventores são citados e agraciados por grandes oportunidades, assim como foi com os antigos descobridores em livros de história.

Embora tenha sentido na pele todas as dificuldades e restrições na época, sinto saudades “daqueles” tempos. De vez em quando, reúno velhos amigos e colegas profissionais que atuaram em meu tempo, para relembrar – à moda antiga – estes nostálgicos eventos. Com os nossos netbooks debaixo do braço, às vezes jogamos algumas partidinhas de antigos jogos FPS (logo eu, que não sou muito fã de multiplayer), que mesmo sem disporem das avançadas tecnologias atuais, ainda garantem a diversão com simples e ingênuos mata-matas, os quais tanto nos entreteve em nossa juventude! Será que continuará assim para as gerações futuras?

Bem, estes foram bons tempos… &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>

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