Acredite: mudar de desktop não dói

Switching desktops surprisingly painless
Autor original: Jake Edge
Publicado originalmente no:
lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft

Não são raros os dias cheios de trabalho aqui no LWN, mas as terças e quintas estão sempre particularmente entupidas de tarefas de redação e edição para o boletim semanal do LWN. Qualquer tipo de problema que surja no computador nesses dias não poderia vir em pior hora. E sabem como é, às vezes o provedor de internet decide rotear seus pacotes para Bornéu, ou alguma parte crítica do desktop decide sair para almoçar. Por isso, trocar tapas com o Plasma, o shell de desktop do KDE 4 tendo prazos apertados a cumprir é garantia de horas de bastante estresse.

Não tenho a intenção de malhar o KDE nem o Fedora, a distribuição que costumo usar, já que a culpa pode muito bem ser minha. Mas enquanto tentava fazer as coisas funcionarem de novo, fiz um descoberta que (ao menos para mim) foi surpreendente: trocar o KDE pelo GNOME não doeu nem um pouco. A guerra dos desktops pode fazer as pessoas acreditarem que existam diferenças fundamentais entre os dois desktops dominantes, de modo que pular de um para o outro seria como entrar em um mundo de dor. Mas não é nada disso, pelo menos não para este usuário relativamente pouco sofisticado.

Geralmente eu tento evitar atualizar o Fedora 10 no início da semana, para garantir a estabilidade. Também costumo ignorar as atualizações por várias semanas, e isso contribuiu para minha surpresa diante da falha do Plasma – eu estava sem atualizar havia umas duas semanas. Pode ser que eu não tenha reiniciado o desktop após a última atualização, já que muitas vezes uso o yum update num Konsole qualquer e esqueço dele. Portanto, quando o Plasma tentou reiniciar, talvez já houvesse uma versão mais nova dele ou das bibliotecas das quais ele depende.

Em janeiro eu escrevi um artigo sobre a transição para o KDE 4, e nele observei que fiz essa transição sem muitos problemas. De certa forma, eu fiquei meio perplexo com a reação negativa ao KDE 4, já que comigo ele funcionou razoavelmente bem. O estranho mesmo é que agora eu entendo melhor o sofrimento das pessoas naquela época. Quando o Plasma não inicia, nada de desktop. Talvez existissem quebra-galhos que permitissem alternar entre espaços de trabalho e janelas (especialmente as que estiverem na forma de ícones) usando apenas o teclado, mas eu não tinha tempo para descobrir isso.

Em mais ou menos um ano e meio desde a migração para o KDE 4, o Plasma deu algumas panes pouco frequentes. Mais ou menos uma vez por mês, o desktop dava um tilte, o painel desaparecia e as janelas se arranjavam, mas subitamente tudo voltava ao normal. Às vezes, a ferramenta de relatório de bugs do KDE aparecia, mas como eu não rodo versões para depuração de aplicativos desktop, a ferramenta deixava bem claro que os relatórios não eram desejados. Na verdade, como eu descobri ontem, para relatar um bug usando essa ferramenta é preciso ter um login no bugs.kde.org, uma pré-requisito extremamente irritante e provavelmente pouco popular entre os usuários.

Dessa vez as coisa foram diferentes, e o Plasma se mandou e não voltou mais. Como eu estava com um monte de coisas abertas em vários espaços de trabalho (vulgos “desktops virtuais”) e não queria perder nada, dei uma olhada na internet para saber como reiniciar o Plasma. Nenhum método deu certo, então salvei o que eu podia salvar e matei o servidor X com ctrl-alt-backspace, achando que fazer login de novo resolveria o problema. Não foi o que aconteceu: sempre que eu tentava entrar novamente, voltava para a tela de login (depois de carregar a maior parte do KDE, a julgar pela barra de progresso), ou para uma tela com a ferramenta de bugs do KDE informando que o Plasma havia caído.

Parecia ser a hora de atualizar ou fazer um downgrade do KDE para que as coisas voltassem a funcionar. Eu não estava com muita paciência, e só o que eu fiz foi:

# yum remove kde*

para me livrar da versão updates-testing que eu tinha instalado antes, seguido de:

# yum groupinstall “KDE (K Desktop Environment)”

usando apenas os repositórios padrão do Fedora 10. Eu estava certo de que tinha solucionado o problema, mas não foi isso o que aconteceu. Tentei iniciar o Plasma, e a mesma história se repetiu.

Por um momento fiquei meio perdido, tentando perceber qual seria a melhor abordagem para entender onde começava a quebradeira toda e conseguir fazer o downgrade para uma versão funcional, e pensando em usar o laptop – que ironicamente rodava o Rawhide sem problemas – pelos próximos dias. Nesse momento eu percebi que havia outra opção, o GNOME.

Agora pode parecer uma opção óbvia, mas quando você está focado em um desktop particular essa alternativa nem passa pela sua cabeça. Depois que tomei essa decisão, comecei imediatamente a temer a quantidade de configurações nas quais eu teria que mexer e as dores de cabeça que isso me proporcionaria. Há anos eu não rodava o GNOME, acho que há uns dez anos. Conheço muita gente que usa o GNOME, e não tinha motivos para acreditar que ele fosse inferior, mas eu achava que ele era diferente.

Bastou trabalhar uns cinco minutos com o GNOME para que eu estivesse trabalhando sem me dar conta da mudança. Pode ser que eu faça um uso relativamente pequeno do desktop, embora o use por muitas horas e diariamente. Costumo deixar abertas várias janelas do Konsole (cada uma com várias guias), do navegador, do Gimp, do claws-mail e do emacs o tempo todo, espalhadas entre vários desktops virtuais. As únicas grandes alterações que fiz em relação ao GNOME padrão foram jogar a barra de menu para a parte inferior da tela e fazer as janelas ganharem o foco quando passo o mouse sobre elas (e isso eu também tenho que alterar no KDE).

Imagino que eu vá acabar voltando ao KDE depois de resolver o problema do Plasma (talvez algo simples como um yum update resolva tudo daqui a um ou dois dias), mas eu certamente não vou olhar para as outras opções de desktop da mesma maneira. Para aqueles defensores mais empolgados de cada desktop, eu recomendo efusivamente um test-drive das outras opções por algumas horas. Você vai se surpreender ao notar que não há muita diferença na forma como você faz o seu trabalho.

O Fedora e o KDE podem tirar algumas lições dessa situação, embora o problema possa ter sido causado parcialmente por mim. Não consigo entender como remover o KDE e reinstalá-lo a partir dos repositórios do Fedora 10 não resolveu problema, a não ser que haja alguma configuração no meu diretório home que esteja causando isso tudo. Talvez seja algo relacionado aos Plasmoids (mexi com o widget do relógio global uma hora ou duas antes do problema aparecer) ou aos widgets de painéis que estou usando. É difícil dizer, e difícil de pesquisar no Google.

Obviamente, o Plasma deveria tentar ser mais robusto, e dar uma ideia melhor de onde as coisas possam estar erradas – e do que fazer para resolver tudo – mas o KDE não deveria colocar barreiras entre seus usuários e o sistema de relatório de bugs. Talvez isso seja uma tentativa de minimizar algum tipo de bug ou spam de relatos de bugs, mas exigir nome de usuário e senha vai acabar fazendo com que muita gente pare de enviar relatórios, inclusive eu.

Ultimamente, o Fedora tem se preocupado com a estabilidade das atualizações. Um problema recente com uma atualização do Thunderbird, que causou muito transtorno para os usuários, foi só mais um dentre vários outros problemas de atualização do Fedora. Talvez esse problema com o Plasma seja mais um, e se for, é provável que o projeto se concentre ainda mais nesses problemas de estabilidade nas atualizações.

É normal haver bugs no software, mas os ambientes de desktop – assim como o kernel – ocupam um lugar especial. Se esses componentes param de funcionar, o usuário não pode fazer muita coisa para contornar o problema. Geralmente, voltar a uma versão anterior e funcional do kernel é uma opção, e deve ser assim com os desktops também, mas outra opção que o software livre nos oferece é a possibilidade de usar outro desktop, ou mesmo outro kernel (FreeBSD?). Vale a pena ter esse tipo de liberdade.

Créditos a Jake Edge lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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