Mozilla refactors messaging with Raindrop
Autor original: Nathan Willis
Publicado originalmente no: lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft
O Mozilla Labs revelou recentemente o Raindrop, um novo projeto que tenta repensar a forma como os softwares de mensagens apresentam as informações aos usuários. De certa forma, o Raindrop foi desenvolvido para funcionar como uma “grande caixa de entrada unificada”, agregando email, mensagens instantâneas e uma vasta gama de canais de mensagens para sites específicos. Esses canais já existiam sem o Raindrop, só que isoladamente, exigindo que os usuários checassem vários aplicativos e serviços web para coletar as novas comunicações. Mas o Raindrop também que apresentar essas mensagens e avisos de maneira aprimorada, separando automaticamente conversas individuais de discussões em grupo, e mensagens pessoais de anúncios automatizados e atualizações.
Mensagens por todos os lados…
A página da web do Raindrop traz a missão do projeto: fazer com que seja “agradável participar em conversas com pessoas com quem você se importe, sejam essas conversas por email, pelo twitter, pelo blog de um amigo ou parte de alguma rede social“. Para fazer isso, o aplicativo abstrai do usuário o trabalho de obter as mensagens, notificações e respostas das várias contas de email e de sites, e apresenta tudo junto, como uma coisa só. Além disso, o Raindrop tenta deduzir quais mensagens e conversas são mais importantes para o usuário, colocando-as na frente. Um dos vídeos introdutórios oferece como exemplo a prioridade dada aos emails pessoais, que vão para o topo, enquanto os alertas gerados automaticamente vão para o fundo.
Obviamente, não há apenas duas categorias de mensagens (pessoais e automáticas); o Raindrop filtra emails de grupos de discussão também, dando mais atenção aos tópicos dos quais o usuário participa. Quando o assunto é microblogging, o Raindrop classifica mensagens diretas e respostas “@” acima dos avisos gerais de status, e agrupa as conversas como se estivesse lidando com email.
A interface do Raindrop está sob constante estudo e recriação, mas no momento apresenta uma tela inicial com uma lista combinada de todas as mensagens, além de links para visualizações específicas de conteúdo, como mensagens diretas, conversas em grupo, pastas de email e listas de discussão. A tela inicial do Raindrop organiza as conversas mais novas no topo, e todas as mensagens aparecem como “balões” de conversa, com pré-visualização do conteúdo. O Raindrop agrupa as mensagens que estejam relacionadas, e assinala cada conversa com um ícone para distinguir entre o que ele acredita ser uma conversa entre duas pessoas, discussões em grupo e anúncios ou outras mensagens não pessoais. Na parte inferior da tela há um índice do conteúdo do qual o usuário não está participando diretamente – atualizações gerais do Twitter, tópicos de listas de discussão envolvendo outras pessoas e por aí vai.
A equipe do Raindrop está se esforçando bastante para colher opiniões de usuários finais para adaptar seu design. Os princípios que norteiam o projeto enfatizam o foco no usuário e o processo de participação. O projeto ainda não lançou uma versão empacotada, mas a versão 0.1 foi considerada um marco no repositório do código fonte. Os designers lançaram duas versões de apresentação com alterações na interface, mas nenhuma delas está pronta para ser usada.
Apesar disso, os interessados podem instalar e executar o código atual no Linux, no Mac e no Windows. O Raindrop é um aplicativo web, escrito principalmente em Python e JavaScript, fazendo uso do CouchDB para armazenamento, mas contém seu próprio servidor web, e pode ser executado em desktops comuns. Os usuários podem dar um check out na árvore do Mercurial e instalar a versão 0.1 de 22 de outubro, ou então partir para a versão instável. As instruções de instalação são fornecidas no wiki da Mozilla; dentre as dependências de destaque estão a versão 0.10 ou mais recente do CouchDB e o Python 2.5 ou 2.6.
Depois de fazer o check out do código, o script check-raindrop.py incluído verifica se há pacotes específicos do Python (incluindo o Twisted, o Paisley e vários pacotes de suporte que lidam com serviços específicos como o Twitter e feeds RSS) e confere se o CouchDB está configurado e em execução. Depois que o script relata que está tudo ok, os usuários precisam criar o arquivo ~/.raindrop
e preenchê-lo com informações de conta de serviços que desejem monitorar. A versão atual inclui contas de email IMAP, feeds RSS genéricos e os populares serviços comerciais Gmail, Twitter e Skype.
Depois da configuração, os usuários iniciam o serviço com o script run-raindrop.py
, que também está incluído. Mas na primeira vez, de acordo com o guia de instalação, o script deve ser executado assim:
Isso baixa N dias anteriores de mensagens de cada conta. O run-raindrop.py
pode levar vários minutos para processar cada conta, portanto é melhor escolher um valor pequeno para N. Quando a importação termina, os usuários podem acessar o aplicativo Raindrop pelo navegador, em:
Funcionalidade e desenvolvimento
À primeira vista, a tela inicial do Raindrop exibe o que se espera de qualquer cliente de email: mensagens agrupadas em tópicos. Mais sutil do que esse agrupamento automático é a tentativa do Raindrop de combinar todas as fontes de mensagens em um “influxo” (como o projeto chama). Cada categoria de conversa apresentada pelo Raindrop combina tópicos de todas as contas configuradas; as conversas em grupo contêm emails e respostas @, a categoria de enviadas contém tweets enviados, e assim por diante.
O principal designer, Bryan Clark, descreve essa organização automática do conteúdo pelo tipo como um dos principais objetivos do projeto. A primeira versão da interface de usuário lembra muito um cliente de email, mas os protótipos postados pelos desenvolvedores indicam planos de levar além a separação dos diferentes tipos de conteúdo, talvez agrupando anúncios e outras mensagens não pessoais em áreas separadas da tela, dando mais espaço a conversas “importantes” com um layout semelhante ao de um painel de carro.
Hoje, é difícil ter uma boa noção de como esse processamento inteligente de mensagens vai funcionar na prática, porque há pouquíssimos serviços compatíveis. É claro que é prático poder acessar todas as contas em um único local, mas quando o número de fontes considerada aumenta, o valor real da fusão das fontes de mensagens também aumenta. Os usuários que interagem com os os mesmos contatos via Twitter, Skype e email podem testar o agrupamento de mensagens de forma mais rigorosa, mas para muitos usuários, a adição de outros serviços pode ser necessária para a criação de uma experiência de usuário realmente diferente da tradicional – quem sabe até um serviço que não pertença à web, como um gateway de SMS, possa ser incluído.
A equipe do Raindrop pede as opiniões dos usuários e desenvolvedores através de listas de discussão específicas, e postou documentação sobre a arquitetura de front-end e back-end. A equipe de design que trabalha na interface e na experiência de usuário também está mantendo um blog narrando o trabalho que está sendo realizado, e posta suas ideias para o design e imagens montadas no Flickr. Os usuários e desenvolvedores são encorajados a enviar suas opiniões e ideias para ambos os grupos.
Um recurso interessante do Raindrop que deve encorajar seu desenvolvimento aberto é a integração de funcionalidade de edição de código do Mozilla Bespin. Na parte inferior de cada página, há um link “Extend” (ampliar) que abre o editor de código “Raindrop Extender” em uma nova aba. O Raindrop está estruturado de forma a permitir a fácil inclusão de extensões escritas em JavaScript, HTML e CSS.
O Raindrop Extender inclui duas extensões que o usuário pode ativar e usar imediatamente em sua instalação local do Raindrop. Uma analisa cada mensagem em busca de URLs e adiciona uma lista dos links encontrados em cada mensagem no balão de visualização da mensagem, para facilitar o acesso. A outra realiza uma tarefa semelhante com URLs do Flickr, mas em vez de fornecer um link, baixa e exibe uma imagem em miniatura do arquivo na visualização.
Repensando a troca de mensagens
A reação inicial de vários blogs foi comparar o Raindrop ao Google Wave, mas tirando a agregação de múltiplas fontes de conteúdo, os projetos não têm muita coisa em comum. O Wave se concentra na edição colaborativa e em tempo real de conteúdo, enquanto o Raindrop se preocupa em filtrar mensagens de maneira centrada no usuário. Outros projetos já tentaram repensar o conceito de caixa de entrada antes – boa parte da moda do GTD (Getting Things Done) visava o processamento de mensagens, por exemplo, e embora nunca tenha atraído um público muito grande, boa parte do objetivo do Projeto Chandler envolvia a fusão de calendário, email e tarefas pendentes em um fluxo unificado. Há uma horda de extensões do Firefox e do Thunderbird que tentam combinar as múltiplas fontes de mensagens na internet em um único aplicativo.
O Raindrop certamente achou um problema que precisa de uma solução; mesmo com os padrões e protocolos abertos, a comunicação online hoje se divide em mais e mais serviços de mensagens que ignoram uns aos outros – pense em quantos “serviços de VoIP” também proporcionam a funcionalidade de mensageiros instantâneos, como se os usuários precisassem de mais uma conta desse tipo de serviço. Mas acima de tudo, a equipe de design do Raindrop parece entender que para o usuário, uma mensagem que chega é ou não importante com base em quem a enviou e no que ela diz, e não importa de que site ou protocolo ela veio. Essa “grande caixa de entrada unificada” não se limita a eliminar a fragmentação do conteúdo que entra; ela tenta tirar algum sentido desse conteúdo.
A versão 0.1 do Raindrop, obviamente, é só o começo, mas o projeto merece nossos cumprimentos por lidar com essa questão complicada, e por fazer isso de maneira completamente aberta. Clark e os outros desenvolvedores do Raindrop na Mozilla Messaging são a mesma equipe que desenvolveu o Thunderbird; se os conceitos do Raindrop permanecerão limitados a um aplicativo web, se serão integrados ao Thunderbird ou a outros clientes independentes, ou quem sabe se haverá uma combinação disso tudo, é algo que ainda não se sabe. Seja como for, vai ser interessante acompanhar a experiência que o Raindrop está realizando.
Créditos a Nathan Willis – lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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