Fiquei sabendo desse programa por um dos blogs que acompanho por hobby e resolvi testar. Fiquei maravilhado – e continuo admirado, mas a surpresa já foi amenizada pela experiência. Achei que valia uma análise profunda por alguém com conhecimentos técnicos e escrevi para o Morimoto. Ele respondeu que o GdH.net já tem matérias agendadas para até 2085, e me sugeriu que eu fizesse um pequeno artigo com as minhas impressões sobre o MojoPac, programinha muito interessante e promissor, criado pela Ring Cube: www.mojopac.com. E aqui estamos.
O MojoPac é uma solução muito leve de virtualização de Windows XP sobre Windows XP, bastante limitada mas que apresenta uma característica inovadora (ainda que essa inovação seja “andar no caminho do meio” entre outras soluções já existentes) muito valiosa. Tem versão gratuita e versões pagas. Não preciso nem dizer de qual estamos falando.
Baixando o arquivo de instalação e executando-o, o MojoPac pergunta em que dispositivo, móvel ou rígido, se quer instalá-lo (eu já tinha testado em um pendrive e agora testei em um cartão SD, instalado em um leitor USB). A partir daí, ele trabalha sozinho até ter instalado os arquivos base. Esses arquivos ocupam entre 50 e 60MB. O que está contido aí? Os arquivos que ele usa para montar um Windows XP fantasma sobre um Windows XP completo instalado no host. Ele é tão leve porque usa os arquivos do sistema nativo, como faria um parasita com as raízes de uma árvore.
Então ele pergunta o que mais você quer que coloque no dispositivo. Ele se dispõe a fazer o trabalho sujo de copiar os arquivos e pastas do Internet Explorer e do Firefox que contêm as coisas relevantes para serem transportadas. Também permite escolher pastas e arquivos quaisquer para serem copiados no processo:
Terminada a cópia, o meu dispositivo tinha 139MB ocupados, dos 2GB totais. É então pedido um usuário e uma senha para o acesso ao sistema virtual, além do usuário e senha de acesso ao site do MojoPac, caso esse cadastro já tenha sido feito.
O MojoPac inicia sozinho da primeira vez. E ele é o “modo de execução” padrão do dispositivo, indicado no arquivo autorun.inf que fica na raiz e é lido pelo Windows quando inserido na porta USB.
Na tela de login é oferecida a possibilidade de usar novamente o assistente de cópia. Isso significa a possibilidade de recopiar os complementos, favoritos, configurações, etc. do Firefox, quando este tiver sido utilizado e modificado no host e se quiser incorporar as mudanças ao Firefox no pendrive, por exemplo.
Há também a opção de upgrade e o lembrete para – e como – otimizar aquela porta USB específica para melhor desempenho, em vez de mantê-la configurada para remoção rápida, que é o padrão.
Feito o login, será carregado o ambiente virtual. Na primeira vez, demora um pouco mais, especialmente se a porta USB não tiver sido otimizada. Eu prefiro mantê-la configurada para remoção rápida, especialmente porque uso outros dispositivos na mesma porta e não quero arriscar erros quaisquer por tê-los removido “na mão” sem lembrar da otimização. Também vi que o meu cartão SD responde mais lentamente que o meu pendrive.
Lançado o ambiente, o MojoPac deixa uma barra na parte superior da tela, cujo botão central faz a troca entre o ambiente virtual e o ambiente hospedeiro. Clicando no botão de minimizar, essa barra se encolhe para cima, voltando a ficar visível com a provocação do cursor do mouse, e assim fica menos incômoda.
A área de trabalho é como a de um Windows XP qualquer (não, eu não estou usando o Vista, apenas um kit de alteração da aparência do XP – com ícones, fundo de tela, system tray, menu iniciar). E nenhum programa é copiado para o pendrive, salvo o Internet Explorer! Nem mesmo o Firefox: ele copiou apenas os arquivos que ficam nas subpastas da pasta Documents and Settings – favoritos, complementos, etc. – e não o programa em si. Quando o Firefox for instalado, já vai iniciar com tudo isso pronto.
Abrindo o menu iniciar e o painel de contrôle – sim, ele tem um! – vê-se que muitas das opções não estão disponíveis/visíveis. Isso tem uma razão de ser: o MojoPac é tão leve, simulando um Windows XP portátil com apenas 60MB, porque ele é uma solução intermediária de virtualização. Intermediária entre soluções mínimas, como o SandBoxie, e totais ou quase totais, como os programas da VMware.
O SandBoxie, para quem não conhece, é um mero programa que roda como outro qualquer no seu Windows e que “absorve o impacto” de algumas conseqüências da execução de outros programas. Ou seja, você abre um programinha útil mas suspeito através dele, mandando ele executar o arquivo, e ele cria uma “caixa de areia” para o programa brincar, sem “sujar” o registro do Windows e fazer outras porcarias. Depois, é só fechar a caixa de areia que a sujeira foi embora e a sua sala, ou melhor, o seu sistema operacional está intacto – ou pelo menos essa é a idéia do programa.
O VMware, no extremo oposto, é um programa destinado a rodar um sistema operacional absolutamente independente dentro de janela do seu sistema nativo. É assim que eu uso e brinco com as distros de linux no meu micro: Kurumin, Ubuntu, etc. Essa é uma solução para uso de ambientes completamente isolados, seja para poder usar sistemas diferentes sem precisar dividir o HD e fazer dual-boot, como é o meu caso, seja para testar programas mais perigosos, infectados com virus e outros tipos de malware, ou ainda para outras aplicações que eu sequer vislumbro.
O MojoPac cria um sistema independente, pero no mucho. Mais independente que o SandBoxie, mas menos que o VMware.
A vantagem sobre o primeiro é que há um ambiente próprio, com aparência própria e com programas próprios. Há uma lista exemplificativa no site do Mojo com os programas reputados compatíveis, mas eu não olhei, nem tive problema com nenhum dos programas de uso comum que testei até agora.
Se você instalar um leitor PDF, conseguirá ler arquivos dessa extensão. Se não, não conseguirá, mesmo que o Windows nativo tenha um. O que vale também para todo tipo de arquivo, até mesmo arquivos DOC.
Por outro lado, você instalar o .NET Framework da Microsoft para rodar várias coisas do seu interesse, e continua rodando-as mesmo que o host não o tenha. É uma via de mão dupla. Ou melhor, não há mão dupla alguma: nem vai, nem volta.
Isso significa que um adolescente pode instalar quantos programinhas baixados da internet quiser, sem ter que escutar nada do seu pai, que não vai ver “um milhão de ícones novos” ou qualquer coisa assim.
Isso também significaria que você poderia usar seu próprio Firefox num cyber-café, se aqui não surgisse o primeiro grande “porém”: é preciso ter privilégios de administrador para rodar o Mojo, o que quase nenhum dono de cyber-café razoalvemente safo é doido de fazer – nem eu faria.
Por outro lado, é menos invasivo que o VMware. Dizer “posso rodar um programa no seu Windows?” é muito mais simpático que dizer “posso instalar um programa pesado [VMware], que vai exigir um reboot e depois vai rodar um sistema operacional inteiro que está no meu pendrive dentro do seu Windows?” e mais ainda que “posso dar boot pelo sistema operacional que está no meu pendrive e vai tomar conta do seu computador?”.
Ao mesmo tempo, o Mojo não tem uma limitação que o VMware apresenta. Neste, alguns dispositivos físicos são acessados diretamente mas outros não são, como a placa de vídeo: um jogo dentro de uma máquina virtual só enxerga uma placa fictícia, emulada pelo VMware, que não tem capacidade para virtualizar operações 3D, por exemplo. No Mojo, embora eu não tenha testado nenhum jogo, o acesso parece ser direto. Mas algumas configurações são feitas exclusivamente pelo Windows nativo. Daí a limitação do painel de contrôle. A placa de vídeo, se é acessível pelo Mojo integralmente, não pode nele/por ele ser configurada.
O Mojo usa muitos arquivos do Windows XP nativo, duplicando apenas alguns arquivos-chave: aqueles meros 60MB. Mas que isolamento isso garante? Junto com a frustração da necessidade de privilégios de administrador, essa é a grande insegurança que surge na cabeça do usuário do Mojo.
Se por um lado quase ninguém conseguirá usar um Mojo-pendrive em um cybercafé, será que, se conseguirmos – lá ou em outro computador qualquer – estamos a salvo de um gravador de teclas – keylogger – e de um gravador de telas – screenscraper? Um virus no host infecta o Mojo ou não? E vice-versa?
As respostas da equipe do Mojo no forum oficial para essas perguntas são ambíguas. Ora há garantia de isolamento, ora não há. O que há sempre é a promessa de melhorias nas próximas versões, inclusive o suporte para o uso do Mojo em um computador com Windows Vista e a possibilidade de uso em contas limitadas. Mas parecem políticos: por enquanto, só prometem…
Fico imaginando se o problema da necessidade dos privilégios seria resolvido pela duplicação de mais arquivos do Windows XP, ou melhor, de todos aos quais um usuário limitado não tem acesso, e algumas outras eventuais soluções para essas limitações do Mojo. Mas, enfim, fiz este artigo com a intenção de divulgar o programa para seu uso, mas também para que pessoas com mais habilidade e recursos técnicos eventualmente se interessem em fazer um exame mais profundo, para melhor clareza aos usuários e para que suas qualidades sejam identificadas e buscadas no desenvolvimento de software livre análogo ou de outro tipo.
Por Alain Souto Rémy <alainsr at gmail.com>
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