Breve análise de três distros Linux: Me-OS, ImagineOS e Puppy

Breve análise de três distros Linux: Me-OS, ImagineOS e Puppy
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Under these rocks and stones

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

Nos últimos meses eu tenho me focado muito nos grandes nomes das comunidades Linux e BSD. Gosto de ler notícias sobre as distribuições de maior destaque, mas uma parte importante da comunidade de código aberto são os pequenos projetos que ajudam a pintar esse cenário. É bom dar uma olhadinha neles de vez em quando. Portanto, nesta semana, vou fazer análises-relâmpago de três dessas distribuições.

Me-OS

O Me-OS é uma distribuição nova (nascida em fevereiro de 2010), criada por Josh Secrest. Sua base é o openSUSE 11.3, e ela está focada na facilidade de uso. O site do projeto é pequeno, com um tema azul e branco agradável. O projeto tem um estilo amigável e informal, comum em projetos capitaneados por uma pessoa só. No momento, está disponível uma ISO da edição live CD de 32 bits.

Ao inicializar o computador com o CD, surge um menu de inicialização com opções para o ajuste das configurações de vídeo e de idioma, além dos parâmetros a serem passados para o kernel. O desktop padrão é o GNOME 2.30, com um papel de parede brilhante de tema aquático. A primeira coisa que notei foi a grande caixa de pesquisa no meio do desktop, que funciona como lançador de aplicativos. No topo do desktop temos uma barra de início rápido, e na parte inferior um menu comum de aplicativos e a barra de tarefas. Há alguns ícones com links para o diretório home do usuário, um atualizador de aplicativos, o instalador do sistema, um ícone que abre uma apresentação informal ao sistema operacional e mais dois ícones, um para o “App Center” (a central de aplicativos) e outro com o rótulo “Essential Software” (software essencial). O link Essential Software basicamente permite instalar o Flash, e o App Center exibe uma janela informando que o recurso será implementado em breve.

O tema do desktop carrega nas cores preta, branca e azul, com um brilho suave que causa a impressão de que uma luz está posicionada à esquerda do desktop. A barra para lançamento de aplicativos no topo da tela é agradável e discreta (não fica dançando nem piscando, como alguns lançadores de aplicativos fazem), e pode ser personalizada facilmente. O menu de aplicativos vem equipado com uma pequena coleção de software popular, incluindo Firefox, Songbird, OpenOffice, Thunderbird, um player de música e um cliente de mensagens instantâneas. Também temos alguns terminais virtuais, a habitual seleção de aplicativos de configuração do GNOME e a ferramenta de configuração do sistema tudo em um YaST.

O desktop do Me-OS

Para todos os propósitos, o instalador é o YaST do openSUSE. Ele conduz o usuário por algumas telas para a configuração do fuso horário e das partições do disco, além da criação de uma conta de usuário. Por um lado, o YaST faz um trabalho fantástico, especialmente no particionamento de disco, além de permitir configurar o sistema nos mínimos detalhes. Pelo outro, a primeira tela exige que o usuário aceite um contrato de licença logo depois de exibir um erro informando que o texto da licença não pode ser exibido. É só um detalhe, mas os detalhes muitas vezes são os responsáveis pela primeira impressão.

Ao reinicializar a máquina, o programa de configuração do openSUSE foi disparado, e eu segui suas etapas automatizadas. Aqui tive outro problema: o processo de atualização de pacotes estourava o tempo limite ao tentar baixar atualizações. Quando o desktop abriu, descobri que as consultas de DNS não estavam sendo resolvidas. Depois que forneci manualmente ao sistema os servidores de DNS, tudo entrou nos eixos. Uma coisa que eu gostei no processo de instalação é que ela aproveita arquivos e configurações alterados durante o uso do ambiente live, ou seja, as alterações que fiz no ambiente live antes de instalar o sistema não foram perdidas.

Com o sistema instalado, percebi que o desktop respondia bem, e que a distro vinha armada com uma seleção pequena, porém útil, de software. A maioria dos programas funcionou conforme o esperado. Novos itens podem ser adicionados a partir dos repositórios do openSUSE através do YaST, oferecendo uma ampla variedade de programas ao usuário. A detecção de dispositivos é muito boa, e quase todo o meu hardware funcionou de primeira. A única exceção foi minha placa de rede sem fio da Intel, que é sempre uma loteria. O instalador do Me-OS recomenda que os usuários tenham um mínimo de 1 GB de RAM, mas descobri (via máquina virtual) que o sistema roda bem com 512 MB.

Pontos negativos: O Me-OS é muito jovem e sua equipe é pequena. Com isso, alguns recursos (como o acompanhamento de bugs e o suporte) e a identidade da distro ainda não estão muito bem definidos. Ele precisa de um tratinho, e também de mais alguns recursos.

Pontos positivos: Troquei alguns emails com o criador do Me-OS, e ele é cheio de ideias e de energia, o que é bom para o projeto. Segundo ele, a próxima versão vai incluir melhorias na segurança, correções de bugs, novos recursos e um acompanhamento de bugs via website. A interface é bem amigável, e gosto do aproveitamento do espaço na tela. Acho que o Me-OS é uma boa escolha para netbooks, e usuários casuais provavelmente vão gostar do sistema. Ter o YaST disponível na distro certamente é um ponto positivo.

ImagineOS

O próximo da fila é o ImagineOS. O projeto tem suas raízes no GoblinX e no Slackware. O site do projeto é pequeno, com um tema cinza e verde com anúncios proeminentes. O site tem algumas fotos de telas, um blog, um fórum pouco movimentado e uma imagem de live CD. Inicializando o computador pelo live CD, somos recebidos por um menu de inicialização de tema cinza, que leva ao desktop Xfce 4.6 decorado com um papel de parede floral. No topo da tela, o menu de aplicativos, os monitores do sistema e uma barra de inicialização rápida. Na parte inferior, a barra de tarefas. O sistema responde muito bem para um live CD, e os aplicativos funcionam bem.

Disparei o instalador do ImagineOS e recebi uma mensagem de erro informando que o sistema não conseguia acessar minhas partições. O erro me pedia que montasse manualmente uma partição e tornasse a iniciar o instalador. O sistema operacional vem com o GParted, então eu criei uma nova partição para o ImagineOS, montei-a e tentei iniciar o instalador outra vez. E lá veio o mesmo erro outra vez. Depois de ler o tutorial, tentei reiniciar e, quando o instalador abriu, notei que ele havia detectado a minha nova partição. Infelizmente, o instalador não permite alterar as configurações, então só tive como usar as configurações padrão. Ao fim do processo de instalação, o usuário é informado de que o LILO será instalado, e temos a opção de escolher entre Default (padrão), Simple (simples), Advanced (avançado) ou Continue (continuar), sem qualquer explicação do que cada opção faz. Escolhi Default e funcionou, porque quando reiniciei o computador o ImagineOS foi carregado direto do HD.

Instalação do ImagineOS

O ImagineOS vem com um bom estoque de aplicativos pré-instalados, incluindo Firefox, Thunderbird, o GIMP, VLC, AbiWord, Gnumeric, visualizador de PDFs, um cliente BitTorrent e um visualizador de histórias em quadrinhos. Também estão incluídas as boas ferramentas de configuração do Xfce. O sistema deixou um pouco a desejar no gerenciamento de pacotes. O GSlapt é usado para adicionar e remover software. O primeiro problema é que o ImagineOS tem suas raízes no Slackware mas não usa os repositórios dele, optando por sua própria (e pequena) coleção de software. Também falta a dependência de resoluções. Para ser honesto, o GSlapt avisava que o programa que ia ser instalado precisava de outro software, mas não se oferecia para instalar essas dependências. Com isso o usuário tem que fazer a pesquisa manualmente, sem saber se o tal pacote está ou não no repositório.

O desempenho foi bom depois que o sistema foi instalado, e a detecção de hardware teve seus altos e baixos. No desktop ele teve mais altos, sem grandes problemas, mas no laptop HP foram muitos baixos, e a rede sem fio e a suspensão do sistema não funcionaram.

Pontos negativos: O instalador do ImagineOS deve ser um dos instaladores mais esquisitos e pouco intuitivos que eu já usei. O único (e pequeno) repositório e a falta de resolução de dependências mataram a situação para mim.

Pontos positivos: A mistura de Xfce e Slackware oferece um bom desempenho e um baixo uso de memória, mas o ImagineOS não oferece nada melhor do que o que já é oferecido por outras distros baseadas no Slackware.

Puppy Linux

Para fechar as análises, vamos ao Puppy Linux. O Puppy tem mais de um site (puppylinux.com e pupplylinux.org). Ambos contam com um estilo simples e organizado, com formato semelhante a uma revista ou jornal, com texto preto sobre um fundo branco. Os sites são fáceis de navegar, e oferecem ao usuário um wiki, um fórum bem movimentado, notícias e o blog do desenvolvedor. A ISO do Puppy (versão 5.1) tem apenas 130 MB, ou seja, o download é rápido.

O live CD abre um desktop de tema azul, com muitos ícones. O interessante é que os ícones geralmente são rotulados com verbos, e não com os nomes dos aplicativos: há ícones com os nomes “escrever”, “pintar” e “conversar” (sempre em inglês). Supostamente fica mais fácil para os novatos encontrar os programas desse jeito. Uma tela de boas-vindas é exibida, oferecendo ao usuário mais algumas informações sobre como usar o sistema. Há um menu de aplicativos na parte inferior da tela, cheio de aplicativos leves (mais adiante vou falar sobre eles), e a bandeja do sistema abriga o monitor do sistema. No topo da tela há uma caixa que cobre alguns itens. Mova o mouse sobre essa área para abrir via navegador web uma página de introdução ao Puppy, diretamente do site do projeto, acompanhada pelo som de um latido. O som é engraçadinho na primeira vez em que você ouve, mas quem usar o Puppy regularmente vai cansar do efeito.

O instalador do Puppy é meio esquisitão. Quase tudo é feito por meio de caixas de texto e ícones pequenos. Gosto da documentação bem detalhada, mas algumas opções provavelmente vão confundir os novatos. Por exemplo, há muitas opções de locais para a instalação do sistema – ZIP disk, HD interno ou externo, pendrive… No Puppy é preciso configurar as partições manualmente usando o GParted, para que depois ele copie os arquivos necessários. Até aí tudo bem, mas quando o instalador terminou o trabalho e eu reiniciei, meu computador não carregou o Puppy a partir do HD. Voltei ao CD, rodei o instalador outra vez e recebi o aviso de que eu teria que configurar manualmente uma flag de inicialização na minha partição principal com o GParted. Depois de concluída esta etapa, segui novamente com a instalação e conseguir rodar o Puppy do HD.

A configuração manual da flag de inicialização reflete uma aparente dicotomia existente no Puppy. Sendo uma distro leve, o Puppy tende a usa programas menores e que não têm visual muito atraente. Há muita coisa que precisa ser feita manualmente, e alguns programas exigem um certo conhecimento implícito para serem utilizados. Por outro lado, o Puppy oferece uma boa coleção de documentação e dicas para conduzir o usuário por tarefas que poderiam ser muito complicadas. Talvez esta seja a única distro que já me pediu para configurar manualmente uma partição como inicializável, mas me explicou em detalhes como realizar o processo. Os novos usuários podem ter a sensação de estarem sendo jogados no lado fundo da piscina, porém com instruções detalhadas sobre como nadar.

Como eu já disse, o Puppy oferece uma variedade surpreendente de software se levarmos em conta seu tamanho diminuto. O menu de aplicativos inclui Gnumeric, AbiWord, mtPaint, navegador web, programa de mensagens instantâneas, gravador de CDs, visualizador e criador de PDFs, ferramentas para backup e impressão e um bom conjunto de aplicativos de configuração. Parece haver um foco nas ferramentas de administração, que fazem do Puppy um bom CD de resgate. No menu de aplicativos, mais uma vez a personalidade distinta da distro transparece na forma como os programas são distribuídos por categorias. A nomenclatura habitual, com “Jogos”, “Escritório”, “Sistema” foi em parte substituída por “Diversão”, “Negócios”, “Pessoal” (sempre em inglês).

O desktop do Puppy Linux

O sistema operacional se saiu muito bem com o hardware. Tirando a placa de rede sem fio da Intel, meus dispositivos foram detectados corretamente. Minha única reclamação nesse sentido é em relação à integração com o VirtualBox. As três distribuições que conferi nesta semana tinham alguma forma de integração com o VirtualBox (o ImagineOS se destaca aqui). Já o Puppy, por alguma razão, teve problemas em detectar a localização do mouse no VirtualBox, e foi uma batalha alinhar o ponteiro do sistema hospedeiro com o do sistema convidado. Felizmente, o problema se restringia ao ambiente virtual, e o Puppy lidou muito bem com o mouse no hardware físico.

Nesse ponto eu deveria estar reclamando sobre o Puppy rodar como root, fazer login automaticamente e não pedir ao usuário que crie uma conta sem privilégios. Quem se preocupa com a segurança sabe que essas coisas são gravíssimas, mas não consigo reclamar da abordagem do Puppy. Ele faz tantas coisas de um jeito diferente, e tem uma abordagem tão incomum quanto à interação do usuário com o sistema operacional, que para mim o estilo super-usuário-único é só mais uma excentricidade. Não que eu goste disso, mas não sou o público-alvo do projeto.

Pontos negativos: O Puppy é muito diferente de outras distribuições, e é preciso tempo para se acostumar (ou desistir) do projeto. A integração com o VirtualBox precisa de um trato, e botar o sistema para latir quando o usuário abre a janela de primeira execução é o segundo recurso mais irritante que encontrei neste ano.

Pontos positivos: Há uma boa coleção de documentação, muita ajuda no site e o Puppy roda com pouquíssimos recursos. É um bom CD de resgate, útil para quem viaja com um live CD.

Conclusão

Das três distribuições mencionadas aqui, não acho que nenhuma vá conquistar os holofotes da comunidade Linux. O Puppy está bem estabelecido em seu nicho, e parece feliz onde está. O projeto Me-OS parece ter potencial, caso o desenvolvedor consiga acompanhar a carga de trabalho envolvida na manutenção de uma distro. Como o Puppy, o Me-OS segue um caminho bem diferente e vai ser interessante ver onde as duas vão chegar. O ImagineOS é o elo fraco do grupo. Ele não traz nada de novo, e nada em sua abordagem chamou a minha atenção. Sua base (Slackware) é forte, mas acho que o projeto precisa de um algo mais para atrair novos membros.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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