Primeiras impressões do Mandriva Linux 2010

Primeiras impressões do Mandriva Linux 2010

First look at Mandriva Linux 2010
Autor original: Jesse Smith
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

logo

A Mandriva é veterana no Linux, e está em atividade há mais de dez anos. A empresa passou por muita coisa, incluindo períodos financeiros difíceis, uma fusão, alguns modelos diferentes de negócios e uma troca de nome. Mas apesar de suas provações, a Mandriva continua aqui, e nesta semana a equipe de desenvolvimento lançou a linha de produtos de 2010. Aproveitei a oportunidade para testar a versão mais recente.

O site da Mandriva tem um layout lindo. Ele é colorido, fácil de ler e excelente para navegar. O site se sai muito bem ao equilibrar o lado comercial da empresa com uma sensação de comunidade. Há uma montanha de documentação no site, e essa documentação também é bem apresentada, de modo que pessoas com qualquer grau de experiência no Linux (ou mesmo nenhuma experiência) devem se sentir em casa. Há várias versões da distribuição à sua escolha, dependo do que você precise. Os grupos principais são:

  • Free. O download gratuito de um DVD, incluindo apenas software livre.

  • One. Um único live CD, também gratuito, porém incluindo drivers proprietários.

  • Powerpack. Dois DVDs, custando 59 euros e incluindo todo o software do Mandriva.

  • Flash. Semelhante ao Powerpack, mas vem em um pendrive.

Também há uma edição para servidores, mas para os meus propósitos, só as versões para desktop interessam. Decidi testar o Mandriva One. Se a variedade de opções não for suficiente para o seu gosto, a Mandriva oferece ainda mais escolhas. A versão One se subdivide em várias versões com base em suas preferências para o desktop (GNOME ou KDE) e em seu idioma preferido. Isso poderia ser meio confuso, se não fosse pela já mencionada (e excelente) documentação, que explica as opções. Muitas pessoas dizem que o Linux se traduz em “escolha”, e o Mandriva abraça calorosamente esse conceito.

Para meus testes, rodei o live CD no meu computador desktop (CPU de 2,5 GHz e 2 GB de RAM) e no meu laptop (CPU de 1,5 GHz e 2 GB de RAM). Depois de baixar o CD, fiz a verificação de erros e dei início à parte divertida. A primeira coisa que notei depois de queimar meu mais novo CD foi que havia duas cópias do manual do usuário do Mandriva (uma cópia em francês e outra em inglês) incluídas no disco. O manual inclui dicas de instalação, solução de problemas básicos, alteração de configurações e obtenção de suporte. O documento é bem organizado e útil.

A inicialização do CD do Mandriva é gráfica, e bem típica dos desktops Linux modernos. O sistema pede algumas informações básicas, como o fuso horário do usuário e o layout do teclado, e pede ao usuário que aceite o contrato de licença da empresa antes de apresentar o desktop. O desktop do Mandriva é um dos mais bonitos que eu já vi, com um tema azul agradável e ícones para navegar pelo sistema de arquivos, atualizar para a edição comercial e executar o instalador. Temos a barra de tarefas habitual, o menu de aplicativos e, como o desktop é o KDE 4, um botão de configurações no canto superior direito. A barra de tarefas tem alguns atalhos que a maioria das pessoas vai querer usar, como para o Firefox, para o gerenciador de configurações do desktop e para o Centro de Controle do sistema. Depois de mexer aqui e ali e confirmar que estava tudo funcionando conforme o esperado, executei o instalador.

O instalador do Mandriva é agradável, e sua única preocupação mais relevante é perguntar ao usuário como o disco rígido será particionado. Se você optar por qualquer coisa que não seja o uso do espaço livre no disco, o instalador irá sugerir a você que faça backup de seus dados primeiro. O utilitário de particionamento de disco é bem fácil de usar, e é só apontar e clicar para criar, formatar, excluir e redimensionar partições. Fico feliz em ver que o instalador inclui suporte ao sistema de arquivos ext4, e também a vários outros tipos. A partir daí, o instalador verifica o hardware local e oferece a opção de não instalar os drivers dos quais o usuário não precisa. Essa é uma opção legal para economizar espaço.

O instalador no live CD copia todos os programas disponíveis do CD para o disco rígido e, até onde eu sei, não há maneira de escolher os aplicativos que serão instalados. Todos os aplicativos combinados tomam uns 3 GB de espaço. O instalador encerra perguntando como o GRUB deve ser configurado. Os padrões são bons, e a maioria das pessoas poderá simplesmente clicar e seguir em frente. Depois que o sistema for reiniciado, o usuário será solicitado a definir uma senha de root e a criar uma conta de usuário comum. O sistema pedirá ao usuário que se registre na Mandriva e envie algumas informações sobre seu hardware. Tudo isso é opcional, e depois de concluir essa etapa ou recusá-la, o Mandriva abre a tela de login.

instalador

Mandriva Linux 2010 – o instalador do sistema

Se fosse para resumir em uma palavras, eu diria que a vida após a instalação foi harmoniosa. O sistema detectou e habilitou automaticamente minha conexão de rede e, no meu laptop, a placa de rede sem fio Intel. Da mesma maneira, as placas de vídeo foram detectadas e configuradas sem que eu tivesse que mover um dedo. Resumindo, o sistema foi brilhante com o meu hardware. Uma exceção foi a placa de rede móvel do meu laptop – ela foi detectada, mas interpretada incorretamente como uma unidade de CD. Isso não é incomum, já que algumas outras distribuições (e algumas versões do Windows) também cometem esse erro. Na verdade, acho que até hoje só versões mais recentes do Ubuntu e do Fedora acertaram com essa placa. O recurso de suspensão funcionou no meu laptop, o que me permitia fechar a tampa e ir embora, para depois voltar e continuar de onde eu parei.

O som foi o único problema sério que tive com o hardware: ele não funcionou direito no laptop e nem no desktop, e tive que mexer um pouco no Centro de Controle. Acho que o problema é que o Mandriva tenta usar o PulseAudio por padrão; acontece que alguns pacotes relacionados ao PulseAudio não estavam instalados. A ferramenta de configuração do som se ofereceu para baixar os pacotes que faltavam, e a partir daí as coisas seguiram sem problemas. Quando você conecta mídia, como pendrives e câmeras, o sistema monta o dispositivo e exibe seus arquivos no gerenciador de arquivos.

A instalação padrão do Mandriva tem uma boa coleção de software, incluindo o Firefox 3.5, o OpenOffice.org 3.1, players de áudio e vídeo, o GIMP, aplicativos de mensagens instantâneas e muitas outras ferramentas populares. Não achei nenhum software para gravação de CDs no menu de aplicativos, mas é possível instalar esse tipo de aplicativo pelos repositórios. Ainda sobre os pacotes, o Mandriva One vem com drivers proprietários e codecs de mídia populares. O sistema reconhece arquivos mp3, por exemplo, e os vídeos em Flash funcionam de primeira. Mas a joia mais brilhante da coleção de software do Mandriva é o Centro de Controle.

O Centro de Controle é provavelmente o melhor ponto central de configuração que eu já vi em qualquer sistema operacional. O painel principal é bem organizado, com categorias fáceis de entender. Há o grupo de gerenciamento de software, que permite adicionar e remover programas, além de configurar quando o sistema irá procurar por atualizações. A seção de hardware se concentra em garantir que os dispositivos de som e gráficos, impressoras, scanners e mouses funcionem corretamente. Há duas seções de rede, a primeira permite ao administrador configurar novas conexões, remover conexões indesejáveis e compartilhar a conexão com a internet com outras máquinas da rede. A segunda categoria de rede está focada em compartilhamentos do Samba e do NFS.

O grupo de sistema cobre uma ampla variedade de coisas, como métodos de autenticação de login, configuração de serviços, adição de fontes, gerenciamento de contas de usuários e backups. Os métodos de autenticação que permitem aos usuários fazer login usando um serviço de diretório exigem que novos pacotes de software sejam instalados. Também no Centro de Controle estão as configurações de segurança, que permitem configurar facilmente o firewall e os controles dos pais. Por fim, as opções de configuração de temas e do gerenciador de login, além do gerenciamento de discos locais. De modo geral, nota-se um grande esforço para tornar a administração do sistema fácil para usuários inexperientes. Os administradores mais experientes também vão se sentir em casa, já que os itens mais complexos contam com uma seção avançada, que permite configurar ainda mais o sistema operacional.

centro-controle

Mandriva Linux 2010 – o Centro de Controle

É bom saber que, por padrão, o Mandriva cria uma conta de convidado no sistema. É uma conta de usuário genérica e com privilégios limitados, útil para administradores que queiram permitir o uso do computador por outras pessoas sem ter que fornecer uma senha. O lado ruim disso é que temos uma conta de usuário extra, sem senha para protegê-la. A conta pode ser alterada ou removida, como qualquer conta de usuário, pelo Centro de Controle.

Há vários daemons em execução no sistema, mas não achei nenhum servidor de rede, como o OpenSSH, ativo. Um serviço que exigiu minha atenção imediata foi o gerenciador de atualizações. Ele pediu permissão para configurar os repositórios do sistema. Depois de resolver essa parte, o aplicativo começou a procurar pelas atualizações disponíveis. Esse padrão de comportamento pareceu se repetir em toda a distribuição: a princípio, um monte de janelas oferecem ajuda e pedem informações. Mas depois da leva inicial, o Mandriva fica quieto e te deixa trabalhar. Esse tipo de coisa pode irritar usuários experientes do Linux, mas as pessoas que não conhecem o sistema vão gostar muito.

No menu de aplicativos, há uma entrada para a adição e a remoção de software. Ao ser iniciado, esse programa (chamado Rpmdrake) permite ao usuário gerenciar pacotes do sistema. Como todo o resto na distro, são fornecidas algumas dicas aos novatos, conforme o aplicativo passa o controle ao usuário. O Rpmdrake é parecido com outros gerenciadores gráficos de pacotes, como o Synaptic, e até agora funcionou bem por aqui.

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Mandriva Linux 2010 – o Centro de Controle

Em termos de desempenho, o Mandriva não é exatamente lento, mas não ganharia uma corrida contra outras distribuições Linux. A abordagem amiga do usuário, somada ao KDE 4, torna o Mandriva uma distro bem pesada, e eu recomendo seu uso apenas em máquinas com pelo menos 1 GB de RAM, de preferência mais do que isso. Com menos de 1 GB de RAM é provável que o desempenho seja ruim.

Após alguns dias usando o Mandriva Linux 2010, fiquei muito impressionado. A implementação do KDE da distro é uma das melhores que eu já vi, e não encontrei bugs sérios. Também não tive problemas de instabilidade. Há muita documentação para novatos, e muita flexibilidade e poder para os usuários mais experientes. O sistema, especialmente o Centro de Controle, tem uma belíssima organização e é um prazer usá-lo. Tirando a conta de convidado sem senha, não encontrei problemas de segurança e o gerenciador gráfico de pacotes é um dos mais amigáveis que já vi.

Depois de um tempo, comecei a procurar motivos para reclamar, e não foi fácil encontrá-los. Meu único problema real foi com o som e, como eu já disse, há uma ferramenta gráfica para lidar com o problema e que oferece dicas para solucionar problemas desse tipo. Minha placa de rede móvel também teve problemas, mas isso é comum em todas as distribuições, exceto pelas que estão atualizadíssimas. Esse problema não deve afetar muita gente, mas quem realmente tiver o problema terá como resolvê-lo. E embora isso não chegue a ser uma reclamação, observo mais uma vez que o Mandriva (com o KDE instalado) é um sistema operacional relativamente pesado, e o desempenho pode não ser tão bom quanto o de outras distribuições.

A Mandriva fez um ótimo trabalho ao oferecer um conjunto variado de produtos que vão agradar aos defensores do software livre e às pessoas que estão mais preocupadas em ter tudo funcionando logo de tacada do que com a liberdade do software. A distribuição é uma mistura bem pensada de produto comercial profissional e projeto da comunidade de código aberto. Se você está procurando por uma distro para sugerir aos seus amigos que não usam Linux, que funcione direitinho, ofereça muitas opções, tenha padrões racionais e não exija interação pela linha de comando, já achou. O Mandriva é de alto nível, e eu realmente recomendo que você o experimente.

Créditos a Jesse Smith distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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