Primeiras impressões do Mandriva Linux 2009.1

Primeiras impressões do Mandriva Linux 2009.1

First look at Mandriva Linux 2009.1
Autor original: Caitlyn Martin
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

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Há anos que eu digo que o Mandriva é o melhor Linux para novatos. Eu sempre achei o Mandriva uma distribuição extremamente amigável, que não sacrificava a funcionalidade em prol da simplicidade. Eu também constatei que, na maioria das vezes, ele tem menos bugs do que uma certa distribuição popular que se vangloria de ser o Linux para as massas. Naturalmente, quando a Mandriva anunciou a versão 2009.1 há algumas semanas, eu fiquei interessado em ver como ela se saía. Admito logo de cara que eu tinha altas expectativas para o Mandriva 2009.1.

Há quatro versões do Mandriva: Mandriva One KDE, Mandriva One GNOME, Mandriva Free e Mandriva Powerpack. Os dois Mandriva Ones são live CDs com opção de instalação no HD. Para ficar em um CD só, cada versão oferece apenas um ambiente de desktop, uma seleção de aplicativos populares e opções para mais de 70 idiomas. Na verdade, há seis imagens de CD diferentes para cada versão do Mandriva One, com diferentes escolhas de idioma para cada parte do mundo. Depois de instalado, o Mandriva One tem acesso ao mesmo repositório de software das outras edições do Mandriva.

O Mandriva Free é uma imagem instalável (e não “live”) de DVD com 4,3 GB. Ele inclui suporte completo a idiomas, uma ampla variedade de aplicativos disponíveis no momento da instalação e três ambientes de desktop: KDE 4.2.2, GNOME 2.26 e LXDE 0.3.2. Também estão disponíveis três gerenciadores leves de janelas: WindowMaker, IceWM-lite e Fluxbox. Todos eles podem ser instalados e conviver pacificamente. Outros ambientes de desktop e gerenciadores de janelas, como o Xfce 4.6.1 e o Enlightenment DR17, estão disponíveis no repositório de software, mas não durante a instalação inicial. O nome “Free” (livre) se justifica pela ausência de qualquer tipo de software proprietário nessa edição do Mandriva. Estão incluídos apenas drivers e aplicativos livres. Caso você precise de aplicativos e/ou drivers não livres, eles estarão disponíveis nos repositórios após o término da instalação. Decidi me concentrar no Mandriva Free, já que ele oferece o resumo mais completo do que o Mandriva tem a oferecer.

Até agora eu usei o Mandriva 2009.1 em dois sistemas. Primeiro eu instalei no meu netbook Sylvania g Meso (CPU Intel Atom N270 de 1,6 GHz, 1 GB RAM, HD de 80 GB) que eu comprei em janeiro. Depois eu instalei no meu Toshiba Satellite 1805-S204 (CPU Intel Celeron de 1 GHz, 512 MB RAM, DH de 20 GB), que já está com seis anos e meio de idade. Os dois sistemas atendem aos requisitos mínimos de qualquer distribuição Linux atual, e ambos têm hardware que costuma dar trabalho a algumas distribuições. O meu velho laptop Toshiba é particularmente útil para determinar como certas distribuições vão se sair em hardware mais antigo.

Instalação e configuração

Nesta análise eu me ative a uma instalação bem direta. Usei uma unidade de DVD USB externa para iniciar o instalador no meu netbook e a unidade interna no laptop Toshiba. O Mandriva Free usa um instalador gráfico muito bem pensado e organizado. Cada etapa oferece um padrão que vai servir para a maioria dos usuários, além das opções de personalização extrema para os usuários mais avançados do Linux. Como eu quis preservar as pastas home das duas máquinas (ambas em partições separadas) e minhas outras instalações do Linux, escolhi a opção de particionamento personalizado. Qualquer um que esteja familiarizado com o particionamento de discos vai achar a versão básica do particionador gráfico bastante familiar. Um botão de opções avançadas permite personalizar todo tipo de coisa que você possa imaginar, incluindo as opções a serem usadas no arquivo /etc/fstab.

Após o particionamento de disco, você terá três opções de instalação: desktop KDE, desktop GNOME ou desktop personalizado. O desktop personalizado permite escolher grupos de pacotes ou, para os que quiserem controle total sobre o que é instalado, escolher os pacotes um por um. Para o meu pequeno netbook Sylvania eu fiz uma instalação personalizada, mas escolhi instalar quase tudo o que estivesse disponível e que funcionasse no meu netbook, totalizando quase 5 GB de software. Depois de iniciada a instalação dos pacotes, fiquei chocado ao ver que o instalador estimou o processo de instalação em quatro horas. A estimativa se mostrou ridiculamente imprecisa. A instalação só levou 50 minutos. No laptop Toshiba eu optei por uma instalação mais elegante, com o LXDE como desktop padrão. O instalador achou que a instalação levaria uma hora e meia. Na verdade levou perto de duas horas, devido à lentidão adicional do drive da máquina. Ficou bem claro que a única parte do instalador que não funciona é o cálculo de estimativa de tempo.

Depois que o software foi instalado, eu tive a oportunidade de configurar o gerenciador de inicialização, a rede e (opcionalmente) uma ampla variedade de configurações do sistema, indo do fuso horários aos serviços a serem iniciados enquanto o sistema carrega. Mais uma vez, muitos (talvez a maioria) dos usuários podem aceitar os padrões e ignorar várias dessas etapas em potencial. Para o usuário que manja do assunto, a gama de opções na instalação consegue ir além das oferecida pelo Slackware Linux. Quando tudo for concluído, se houver uma conexão de rede, você vai ter a oportunidade de instalar todas as atualizações disponíveis desde o lançamento. Incluir esse recurso no instalador foi uma boa ideia. Eu só usei o Mandriva One nos últimos anos, e fiquei impressionado com o trabalho realizado no instalador do Mandriva Free.

No netbook Sylvania eu recebi uma mensagem de erro. Fui avisado de que meu chipset sem fio Railink exige o driver rt73, que é proprietário e não foi incluído no Free. Foram oferecidas duas opções: o Mandriva One ou recorrer ao site do driver após a instalação. Não precisei de nenhuma das duas. Fui ao Centro de Rede do Mandriva e ele me ofereceu a opção de recuperar “automagicamente” o driver que faltava dos repositórios. Para a rede sem fio funcionar eu não precisei fazer muita coisa além de digitar a senha da minha rede criptografada.

A instalação do gerenciador de inicialização identificou corretamente a minha instalação do Ubuntu Network Remix no netbook, mas não reconheceu a instalação do VectorLinux em nenhum dos dois computadores. Tive que editar manualmente o /boot/grub/menu.lst para iniciar o VectorLinux novamente. Quem fizer dual boot (ou multi boot) pode esperar pelo mesmo problema se não tiver as distribuições mais populares instaladas.

A configuração do X Window em ambos os sistemas costuma ser problemática para algumas distribuições. O Mandriva 2009.1 tem suporte total a netbooks e configurou corretamente a resolução do meu sistema em 1024×600 pixels. O laptop Toshiba tem um chipset Trident CyberBlade XPi que muitas distribuições atuais, como o Ubuntu, não conseguem configurar corretamente. Mais uma vez, o Mandriva fez tudo direitinho e configurou os gráficos corretamente com a resolução padrão de 1024×768 pixel, a melhor dentre as suportadas pelo Toshiba. Depois da instalação o hardware todo funcionou.

Mudanças desde o Mandriva 2009

A mudança mais visível desde a última versão do Mandriva Linux é que o KDE 3 agora é considerado obsoleto. A única versão do KDE incluída nas ISOs é a 4.2.2. O KDE 3.5.10 ainda está disponível na seção contrib do repositório, mas não conta com suporte oficial.

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Desktop KDE 4.2.2 padrão do Mandriva 2009.1

Outras alterações incluem o X.Org 7.4 e o suporte ao novo sistema de arquivos ext4. A maioria dos aplicativos populares foi atualizada, incluindo o OpenOffice.org 3.0.1 (baseado na árvore do Go-OO). Se fizer as atualizações durante a instalação, seu Firefox será a versão atual, 3.0.10. O elogiado conjunto de ferramentas gráficas de configuração do Mandriva também foi atualizado. Debaixo do capô do Mandriva 2009.1 está um kernel 2.6.29.1.

O Mandriva 2009.1 em ação

Eu sempre me impressionei com a capacidade da Mandriva de evitar bugs mais sérios em todos os seus lançamentos. Desta vez, a quantidade de bugs que se apresentou de maneira óbvia logo de tacada foi realmente infeliz.

O Mandriva usa o KDM como gerenciador de login padrão. Até aí, sem problemas. O desktop padrão é o GNOME 2.26. Eu trabalhei um pouco no GNOME e decidi experimentar a implementação do KDE 4 para ver como ela estava. Fiz logout, cliquei na lista de sessões disponíveis e vi um monte de opções, menos a do KDE. Fiz login no GNOME de novo e abri o Rpmdrake, o gerenciador gráfico de pacotes, e o KDE 4.2.2 já estava instalado. Ele só não aparecia na lista do KDM, o que foi totalmente esquisito, já que o KDM é o gerenciador padrão do KDE. Fui no Centro de Controle e mudei o gerenciador para o GDM (do GNOME), saí da sessão e finalmente o KDE 4 apareceu entre as opções. Tá bom, isso é meio irritante, mas não é um problema sério.

Pelo bug mais sério eu já estava esperando. Meu netbook Sylvania tem chipset Intel Express Graphics 945. O driver Intel da versão do X.Org mais recente é problemático tanto no Ubuntu 9.04 (Jaunty Jackalope) quanto no novo Mandriva Linux. No Ubuntu, o problema se apresenta na forma de um desempenho gráfico ruim. Um jeito de contornar o problema é instalar um driver mais antigo, e de fato isso resolve a situação. No Mandriva, o bug que foi publicado na errata é que o sistema trava ao usar efeitos 3D. A saída recomendada é desativar a aceleração 3D, o que para mim é completamente inaceitável. E o que eu vi no meu sistema foi diferente do que a Errata indicava.

Em vez de travamentos, que não ocorreram no meu sistema, o que eu vi foi a mesma lentidão do último Ubuntu. Além disso, o menu do KDE era exibido brevemente com linhas horizontais espalhadas, para logo em seguida ser exibido corretamente. Isso já foi relatado no fórum do Mandriva, e a sugestão é a mesma da errata: um driver novo, atualizado no dia 13 de maio, mais duas alterações no arquivo /etc/X11/xorg.conf. Depois de instalados os novos drivers, eu editei meu arquivo de configuração e reiniciei o X. O desempenho melhorou imediatamente. Infelizmente, depois de fazer as alterações é que o sistema começou a travar. Desativei a opção de aceleração UXA, desfazendo as duas alterações do arquivo xorg.conf, e pelo visto isso resolveu meus problemas de travamentos, mas infelizmente o desempenho gráfico ficou igual ao do driver original: horroroso. Ao contrário do que acontece no Ubuntu, não há nenhuma saída aceitável para o problema no Mandriva. O saldo final é que eu considero a distribuição inviável para o meu netbook.

Quem tiver placa de vídeo da ATI, da SIS ou da NVIDIA também deve dar uma olhada na Errata e no Bugzilla, já que algumas placas de vídeo desses fabricantes são problemáticas ou não tem suporte no Mandriva 2009.1. Em alguns casos há maneiras de se contornar o problema, mas com parte do hardware afetado (ao menos por enquanto) esta versão do Mandriva não vai funcionar.

Há muitos outros probleminhas curiosos. Eu uso o Rpmdrake para instalar mais software no meu sistema e remover um ou dois itens de que eu não preciso. Ele fez todas as instalações e desinstalações corretamente, mas me mostrou uma mensagem de erro que indicava que uma grande quantidade de software no meu sistema estava “órfã”, incluindo o KDE 4 inteiro! O programa me instruiu sobre como remover automaticamente todo esse software órfão, o que incluía vários aplicativos que eu certamente não queria remover. Obrigado, mas fica para a próxima! Será que esses aplicativos estavam mesmo “órfãos”? É claro que não. O KDE 4 continuou funcionando, e todos os outros programas que eu chequei também. Imagine um usuário que não tenha entendido a mensagem direito e que tenha seguido as instruções. As consequências seriam terríveis.

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O gerenciador de pacotes Rpmdrake 2009.1

Decidi instalar o AbiWord a partir dos repositórios, já que eu o uso em outras distros. A versão atual, 2.6.8, está disponível. Por algum motivo estranho, não é possível ajustar o tamanho da fonte no Mandriva.

Mudei para o LXDE e surgiram mais esquisitices. Um ícone que eu havia deletado do desktop do GNOME, e que foi excluído corretamente do desktop do KDE 4, foi apenas parcialmente excluído no LXDE. O texto continuava lá. Eu o excluí novamente. Fui esvaziar a lixeira e percebi que o ícone da lixeira não funcionava. Eu poderia continuar o relato, mas vocês já devem ter percebido como estão as coisas. A maioria dos bugs não é sério, mas são muitos. Eu já testei versões alfa que tinham menos bugs do que a versão final do Mandriva 2009.1.

Ah, mas o Mandriva é sempre belo. Embora os problemas gráficos não pudessem ser resolvidos, a implementação do KDE 4 é a melhor que eu já vi. A seleção de aplicativos nos repositórios é excelente. As ferramentas gráficas de configuração, como sempre, são imbatíveis. Desativando alguns serviços no velho Toshiba, o desempenho foi bem razoável – melhor do que eu esperava. Não vi a lentidão que vi no Ubuntu e todos os aplicativos levíssimos que eu já conhecia de distribuições como o VectorLinux Light estavam esperando por mim nos repositórios. A maioria funcionou direitinho, embora o mesmo não se aplique ao desktop LXDE.

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O desktop LXDE 0.3.2 padrão do Mandriva 2009.1

Outros pontos positivos a serem mencionados incluem as ferramentas de gerenciamento de pacotes de primeira classe, as notificações de atualizações simples e diretas no desktop somadas a um prático processo de atualização do sistema e a internacionalização e a localização excelentes. Se você usar vários idiomas e quiser trocar o idioma padrão por usuário ou por sessão, todas as ferramentas de que você precisa estão presentes. Os applets para mudar o layout do teclado funcionam conforme o esperado. Todas essas coisas têm sido características marcantes do Mandriva, e já há algum tempo vem sendo muito bem executadas na distro.

Conclusões

Se tudo funcionasse, o Mandriva estaria bem à frente do resto quando se trata de oferecer uma solução fácil de usar para novatos somada a toda a capacidade de personalização que os usuários mais veteranos possam querer. O instalador lidou com meus dois sistemas que costumam ser problemáticos sem cometer erros. As redes com fio e sem fio, o som e a configuração gráfica inicial apresentaram-se corretamente. A seleção de software nos repositórios é de primeira. Aplicativos de que eu gosto mas que não encontro nos repositórios do incensado Ubuntu estão disponíveis no Mandriva. Isso se aplica particularmente aos aplicativos leves para hardware obsoleto e limitado. Com alguns ajustes durante a instalação, o desempenho em hardware antigo mostrou-se plenamente aceitável. Em outras palavras, todas as coisas boas que eu passei a esperar do Mandriva continuam lá.

Infelizmente, eu nunca vi uma versão do Mandriva com tantos bugs. O único bug que eu encontrei que foi de acabar com a festa foi problema amplamente divulgado com o driver gráfico da Intel, e ele ainda não tem uma solução razoável. O mesmo vale para problemas já conhecidos com outros chipsets gráficos. Embora seja verdade que esses problemas tenham origem no upstream, outras distribuições encontraram soluções ou preferiram manter a versão anterior do X.Org até que os problemas sejam resolvidos. Talvez tudo isso se resolva logo e aí eu poderei reconsiderar o Mandriva 2009.1. Por outro lado, há tantos problemas novos e irritantes que eu provavelmente vou esperar pela próxima versão. Nunca pensei que eu escreveria isso, mas pela primeira vez vou recomendar a você que espere pela próxima versão do Mandriva.

Créditos a Caitlyn Martin http://distrowatch.com
Tradução por
Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>

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