The Rise (And Fall?) of Application Stores
Autor original: Kostis Kapelonis
Publicado originalmente no: osnews.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
As lojas de aplicativos brotam de todos os cantos, como cogumelos. Apesar de terem sido bem recebidas pelos usuários no começo graças à facilidade na instalação de seus aplicativos, os desenvolvedores têm muitas queixas a fazer sobre elas. A divisão dos lucros dos aplicativos vendidos e a falta de eficiência do processo de filtragem estão entre os principais problemas. Será que as lojas de aplicativos são o melhor canal de distribuição possível? Elas podem satisfazer tanto aos desenvolvedores quanto aos usuários?
Uma história imaginária
John estava sentado em sua confortável poltrona quando iniciou seu dispositivo de comunicação. Todos os seus amigos estavam comentando sobre um novo e fantástico game chamado Taseor™. Ele estava muito afim de experimentar. Abriu a loja de aplicativos e começou a vasculhar as categorias. Ele até achou a seção de jogos, mas ela estava entupida de títulos. Melhor recorrer à função de pesquisa. John digitou o nome na caixa de pesquisa e tá-dá! Ele clicou na primeira ocorrência. A foto parecia fantástica, como seus amigos disseram. O sistema baixou o código binário da rede e o instalou automaticamente, sem complicações. Ótimo! John pensou em começar a jogar na mesma hora. Mas em vez disso ele decidiu conferir se havia versões novas dos aplicativos que ele já tinha instalado.
E havia mesmo. O aplicativo de fotos favorito dele tinha uma versão novinha. Foi só clicar em “atualizar” e tudo foi resolvido automaticamente. O aplicativo antigo foi removido do sistema, e o novo assumiu seu lugar. O leitor de PDFs também tinha uma versão nova. Lendo as notas de versão, ele viu que a nova versão tinha correções de segurança. Outro clique em “atualizar” e pronto. A maioria dos outros aplicativos não teve atualizações, ou só teve pequenas modificações. John achou que já tinha perdido muito tempo na loja de aplicativos. Ele botou o Taseor™ para rodar e começou a jogar.
Se você leu os parágrafos anteriores e pensou que estávamos no ano de 2011, e que John estava usando seu iPhone / iPad / Android, está enganado. O ano é 1999, e o dispositivo de comunicação é um computador desktop comum. John está usando o Debian Linux, e a “loja de aplicativos” nada mais é do que um gerenciador gráfico de pacotes.
O que estou querendo dizer é que nos últimos 20 anos ou mais, diversas variantes do Unix ofereceram aos seus usuários a liberdade de instalar seus aplicativos como quiserem. Você pode instalar um aplicativo manualmente (ou seja, ir até um site e baixá-lo direto de seu criador) ou navegar pelos aplicativos aprovados para o sistema operacional que:
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foram selecionados/filtrados pelos desenvolvedores do sistema operacional;
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estão em conformidade com as diretrizes do sistema operacional;
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são otimizados/verificados/compilados para a arquitetura de plataforma específica;
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são integrados ao resto dos aplicativos;
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são oferecidos como código binário empacotado;
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são instalados com um único clique/comando;
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são “navegáveis” por meio de um catálogo temático;
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podem ser atualizados para versões mais recentes após a instalação inicial.
Notou algo de familiar nisso aí?
O que acontece hoje
É verdade que a maioria dos usuários não técnicos teve seu primeiro contato com as lojas de aplicativos depois de comprar um dispositivo da Apple, como o iPhone. O sucesso foi quase instantâneo. O que antes era uma grande dor de cabeça (encontrar e instalar aplicativos) hoje transcorre instantaneamente, ao toque de um botão. E todo mundo quis entrar na onda.
O Google lançou o Android Market, a Nokia lançou o Ovi, a Apple relançou a loja para o Mac, o Google lançou para o Chrome/ Chrome OS e várias outras empresas seguiram o embalo (Palm, Blackberry).
A Apple controla sua loja de aplicativos com mão de ferro. As notícias da área de TI sempre falam sobre aplicativos rejeitados, mudanças nos termos de uso e na frustração dos desenvolvedores. O Google faz menos restrições ao que aparece no Android Market, mas também sofre de várias limitações.
A maioria dos problemas (talvez todos) está relacionada ao controle centralizado. A década atual pode parecer baseada em sistemas distribuídos, sistemas na nuvem e em padrões abertos, mas a loja de aplicativos é um passo para trás. Ela transforma a natureza aberta da internet em uma era de trevas, na qual a liberdade é tirada de você.
Os problemas
Conforme mais plataformas ganham suas lojas de aplicativos e mais desenvolvedores enviam seus aplicativos, as deficiências vão se tornando mais visíveis.
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A parcela de lucros da Apple é muito grande;
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Controle centralizado = ponto único de falhas;
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Controle centralizado = problemas de segurança;
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O ambiente restrito ou de sandbox limita a inovação;
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O processo de filtragem não vai aguentar o próprio peso;
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O sistema de destaques, patrocínios e avaliação não é eficiente.
Vamos analisar isso tudo em ordem.
30% é um bocado de coisa. Você vai dar um terço de seus lucros para a Apple. Se você for um desenvolvedor pequeno com um aplicativo relativamente desconhecido na loja de aplicativos, a porcentagem não vai lhe incomodar muito. Mas se seu aplicativo for um sucesso e os downloads dispararem, aí você vai começar a perceber quanto dinheiro está perdendo para a Apple. Você também terá um grande problema se sua empresa quiser vender um aplicativo mais caro. Quer cobrar uns 300, 400 dólares? O lucro da Apple aqui é inacreditável. É claro que a Apple oferece a infraestrutura, o hardware, os canais de venda e tudo mais, mas 30% é um baita imposto.
O fato de haver apenas uma loja de aplicativos também limita bastante as coisas. Não concorda com os termos da Apple? Você não tem escolha. A loja da Apple saiu do ar? Saiu tudo do ar. A Apple recusou seu aplicativo? Lamento. Recebeu uma crítica negativa e desmerecida de um usuário? Todos vão ler, mesmo que ela não seja justa.
A segurança é outro problema cada vez maior. Como acontece sempre com repositórios centralizados, a loja de aplicativos vai se tornar um grande risco de segurança nos próximos anos. Infectar um aplicativo que já esteja na loja ou incluir um aplicativo mal-intencionado por lá vai virar o objetivo de muita gente. Teoricamente, todos os aplicativos avisam aos usuários quanto aos privilégios exigidos. Na prática, a maioria dos usuários ignora esses avisos e vai logo clicando no “instalar”. Como os dispositivos GPS estão se popularizando cada vez mais, seu celular tem muitas informações sobre você.
O Android oferece muita flexibilidade, mas com a Apple você tem que seguir as regras à risca. Bolou um programa para ler emails melhor do que o da Apple? Não vai poder publicar, é concorrência direta. Quer acessar o hardware sem usar as APIs da Apple? Pode esquecer. Teve uma ideia genial que usa os recursos de multitarefas / agendamento / afinidade no iPad 2? Vai ter que esperar a Apple publicar a próxima versão de seu sistema operacional.
O conceito básico é o de que as lojas de aplicativos estão focadas exatamente nisso: nos aplicativos. Não dá para publicar com facilidade um ótimo serviço para rodar em segundo plano, nem uma biblioteca de compressão a ser usada automaticamente por um outro aplicativo. Cada aplicativo é uma ilha, com uma interação mínima com o resto.
Outro problema sério é o processo de filtragem e o critério do que constitui um aplicativo aceito. Vamos deixar de lado o fato de que os humanos cometem erros e que podem recusar seus aplicativos pelos motivos errados. O que é importante é que todas as suas decisões tenham apoio de decisões anteriores. Por exemplo, se seu aplicativo for recusado por conter pornografia, presume-se que todos os aplicativos futuros com pornografia serão excluídos, certo? A pornografia é um exemplo simples, mas em outros casos os limites não são tão claros. Com o passar do tempo, o processo de filtragem vai se tornar mais difícil, já que uma recusa também terá que ser comparada a decisões anteriores para que a Apple não ofereça vantagens especiais a desenvolvedores específicos.
Por fim, outro problema que vai ficando mais sério com o tempo é a quantidade de aplicativos disponíveis. Todos os postos de destaque já estão ocupados. Mesmo se seu aplicativo for sensacional, suas opções de marketing são bem limitadas. Aplicativos bem estabelecidos vão continuar vendendo muito, mesmo que existam alternativas melhores. O problema já foi muito discutido na internet.
Algumas previsões
Alguns podem dizer que as lojas de aplicativos ainda estão engatinhando. No futuro, elas podem melhorar em muitos sentidos. Eu acredito que a situação atual não vá durar muito (ao menos não sem enfurecer os desenvolvedores e os usuários). Portanto, prevejo que nos próximos cinco anos pelo menos uma (ou até mais) das seguintes afirmações será verdadeira.
Num futuro próximo:
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Os usuários vão poder instalar aplicativos ilegalmente fora da loja de aplicativos com a mesma facilidade (ou seja, sem conhecimento técnico, até sua tia vai conseguir) e sem ajuda externa para fazer o “desbloqueio”;
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A instalação de aplicativos fora da loja de aplicativos vai ser totalmente legal, e a maioria dos usuários vai mesclar itens oficiais e não oficiais;
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O código do servidor da loja de aplicativos vai ser aberto ou vazar;
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Grandes empresas vão licenciar / usar lojas de aplicativos para seus próprios aplicativos (teremos lojas para o iPhone tocadas pela Amazon, pela Microsoft, pela Adobe etc);
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A parcela de lucro da Apple vai cair muito (por exemplo, de 30% para 2%) ou um esquema de preços completamente novo vai ser desenvolvido.
Basicamente, os usuários vão escolher as lojas assim como os usuários do Linux escolhem repositórios deb/rpm.
Créditos a Kostis Kapelonis – osnews.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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