Por que o logo da Apple é uma maçã mordida? A história completa por trás do símbolo

Entenda por que o logo da Apple é uma maçã mordida, o que motivou essa escolha nos anos 70 e como o símbolo virou um ícone global da tecnologia.

A maçã mordida da Apple é muito mais do que um ícone visual: ela representa uma estratégia de marca que começou com uma decisão de design nos anos 70 — e que ainda hoje molda o valor mais alto do mercado global.

A origem do símbolo: de Newton à maçã estilizada

Apple logo

Antes da maçã mordida estampar notebooks, lojas e fones de ouvido pelo mundo, a Apple carregava um logotipo muito mais rebuscado — e inesperado. Criado por Ronald Wayne, o primeiro emblema da empresa retratava Isaac Newton sob uma macieira, cercado por molduras e uma citação literária.

primeiro logo da Apple

“Uma mente para sempre viajando por mares estranhos do pensamento sozinha”.

Em relação ao estilo, era uma ilustração vitoriana.

Steve Jobs achava o desenho antiquado e difícil de reproduzir em pequenas escalas. Em 1977, às vésperas do lançamento do Apple II, ele contratou o designer Rob Janoff para criar um novo símbolo. A única orientação? “Não o torne bonitino”

apple logo rob janoff 01

Janoff passou semanas desenhando maçãs reais e, ao final do processo, apresentou duas versões: uma com e outra sem mordida. Jobs aprovou na hora a versão mordida — por ser mais ousada, humana e visualmente clara.

“Eu conhecia os pontos fortes do Apple Computer, e um dos maiores era a capacidade de cores. Para mim, isso parecia barras coloridas em um monitor, que se transformavam nas listras do logotipo. A ordem das listras, lamento dizer, não tinha nenhum plano específico, exceto que eu gostava delas assim. E, claro, a listra verde ficaria no topo, onde está a folha”, explicou Janoff em entrevista. 

Por que a maçã mordida?

logo Apple

A escolha da mordida, segundo o próprio Janoff, foi pragmática: uma silhueta sem esse detalhe poderia ser confundida com uma cereja ou tomate. A mordida dava escala, transmitia familiaridade e reforçava a ideia de que a marca era acessível, não intimidadora.

O trocadilho entre “byte” (unidade digital) e “bite” (mordida) não foi intencional. Só mais tarde, quando alguém apontou a coincidência, o próprio Janoff percebeu o valor simbólico — e abraçou a interpretação com humor.

A explosão de cores como diferencial e posicionamento

Ao contrário dos logos monocromáticos comuns nos anos 70, o primeiro logo da Apple trazia seis faixas coloridas. Elas não representavam bandeiras ou ideologias — a intenção era destacar a grande inovação do Apple II: sua capacidade de exibir gráficos coloridos em monitores CRT.

O esquema cromático foi pensado para ser alegre, educativo e visualmente chamativo. A ordem das cores? Escolhida intuitivamente, com o verde no topo para coincidir com a folha da fruta.

A briga entre maçãs: Apple vs. Apple Records

Mesmo com a identidade visual cuidadosamente criada, a Apple de Steve Jobs não escapou de conflitos envolvendo o uso do símbolo da maçã.

Logo após o lançamento do Apple II, a empresa entrou na mira da Apple Corps — gravadora fundada pelos Beatles em 1968, também dona de uma maçã como logotipo, no caso uma Granny Smith verde. A Apple Records acusava a novata do Vale do Silício de violar um acordo informal de não usar o nome “Apple” no setor musical.

appplerecordslogo

Em 1981, as duas partes assinaram um acordo determinando que a Apple Inc. não poderia atuar no mercado fonográfico. Mas a trégua não duraria: ao lançar o Macintosh com recursos de som digital e, mais tarde, o iTunes e o iPod, a Apple rompeu as barreiras e reacendeu o conflito.

Foram vários processos ao longo das décadas, com a disputa se estendendo até 2007, quando ambas chegaram a um novo acordo. A Apple Inc. assumiu a propriedade total da marca “Apple” e licenciou os direitos de uso para a Apple Corps.

O caso é emblemático porque mostra que, por mais universal que pareça, um símbolo tão simples quanto uma maçã pode ser altamente disputado — e que o poder do branding envolve também batalhas jurídicas silenciosas.

O logo apareceu até em Forrest Gump

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No filme Forrest Gump (1994), há uma cena em que o protagonista recebe uma carta da Apple como agradecimento por seu investimento inicial na empresa. A correspondência, fictícia, é assinada por um tal de “J. Wellington Bigby”, suposto diretor financeiro da companhia, e celebra a “visão” de Gump por apoiar a computação pessoal “quando isso ainda parecia loucura”.

Apesar do tom convincente, a carta é cheia de anacronismos: traz o logo colorido usado apenas a partir de 1977, é datada de 1975 (antes da fundação da Apple), menciona o projeto Lisa com anos de antecedência e usa um endereço da “Silicon Drive” que nunca existiu.

O poder do mito: como a cultura transformou a maçã mordida

Desde então, o logo da Apple acumulou lendas e interpretações:

  • Seria um tributo a Alan Turing? Não.

  • Uma metáfora para o pecado original? Também não.

  • Uma alusão direta ao “byte”? Coincidência.

  • Ligação com a bandeira LGBT? A bandeira surgiu depois (junho de 1978)

Ainda assim, essas leituras deram à marca uma aura de mistério e profundidade. O ex-executivo Jean-Louis Gassée descreveu o símbolo como uma combinação improvável de “luxúria, conhecimento, esperança e anarquia”. Um logotipo com camadas, mesmo que não todas planejadas.

Janoff, com o tempo, reconheceu que a mordida pode ser vista como metáfora para o conhecimento — a ideia de “saborear” algo novo, como quem morde o fruto do saber.

A silhueta que segue com impacto

Desde 1977, a Apple já trocou as cores do logotipo por versões metálicas, translúcidas e monocromáticas. Mas o contorno da maçã mordida permanece intocado. Esse cuidado com a consistência visual rendeu frutos que vão muito além do design.

Em 2025, o relatório global BrandZ Most Valuable Global Brands, da consultoria Kantar, revelou que a Apple continua como a marca mais valiosa do mundo pelo quarto ano consecutivo. Com um valor estimado de US$ 1,29 trilhão, a Apple representa sozinha mais de 12% do valor total das 100 principais marcas globais.

Segundo o diretor global Martin Guerrieria, empresas com branding forte como a Apple tendem a crescer mais e resistir melhor a crises. O logo da maçã mordida, nesse contexto, não é apenas um emblema gráfico — é um ativo estratégico com retorno comprovado.

O dia que o logo foi redefinido para homenagear Jobs

applelogo

Em outubro de 2011, quando Steve Jobs faleceu, o logotipo da Apple voltou aos holofotes — desta vez como símbolo de luto global. Um redesign viral tomou conta das redes sociais: a silhueta tradicional da maçã trazia, no espaço da mordida, o perfil de Steve Jobs.

A criação era de Jonathan Mak Long, um jovem estudante de design de Hong Kong. Ele havia divulgado a arte dois meses antes, quando Jobs anunciou sua saída da Apple, como um tributo visual. Mas foi no dia da morte do executivo que a imagem explodiu no mundo todo, sendo reproduzida em jornais, blogs e homenagens espontâneas.

A simplicidade do conceito — unir a ausência deixada pela mordida com o rosto do fundador — transformou a arte em símbolo instantâneo de perda. Embora outro artista, o britânico Chris Thornley, tenha alegado ter criado ideia semelhante meses antes, não houve disputa: ambos reconheceram o valor simbólico da obra e seguiram caminhos distintos.

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