Ser livre ou gratuito, eis a questão!

O cenário atual do Software Livre “aparenta” ser interessante: as iniciativas do governo federal para a disseminação do uso de softwares livres em repartições públicas, a popularização dos PCs Populares com os sistemas operacionais baseados em GNU/Linux e crescente adoção e suporte técnico crescente de diversos softwares consagrados, são sinais que comprovam a boa fase que o Software Livre atravessa. Deveríamos estar contentes? Sim e não…

O que têm em comum todos estes eventos acima citados? Ideologia? Flexibilidade? Segurança? Praticidade? Infelizmente não… o grande diferencial que o Software Livre oferece em comparação as soluções proprietárias se resumem em apenas uma palavra: CUSTO.

Vamos supor que as empresas desenvolvedoras de softwares proprietários resolvam rever suas estratégias e decidam concentrar sua fonte de renda em prestação de serviços, tal como fazem as empresas que baseiam seus negócios em soluções livres. Porém, ao invés dos produtos desenvolvidos por ela terem seu o código aberto sob uma licença livre, passam a ser disponibilizados apenas gratuitamente, mantenha ainda o código proprietário. O que mudaria no cenário do Software Livre, que até então “aparentava” ser interessante?

De cara, o principal trunfo na disseminação o Software Livre – o baixo custo – perderia a sua grande força. E sabemos perfeitamente que muitas instituições optam pelo Software Livre justamente por causa da ausência de custo em licenciamentos. Por exemplo, se o Windows fosse gratuíto, haveria o incetivo fiscal do governo na comercialização de PCs Populares com sistemas GNU/Linux pré-instalados?

Outras perdas imediatas também seriam sentidas. Por exemplo, a questão dos estudos TCOs passaria a ser preponderantes, já que a necessidade de se obter conhecimentos técnicos mais aprofundados é sentida nos sistemas livres, devido a sua grande flexibilidade. E tal necessidade influencia diretamente os honorários dos profissionais capacitados.

E uma vez gratuíto, haveriam menos restrições para que estes softwares possam ser distribuídos. Assim, teóricamente um sistema Windows poderia competir de igual para igual com uma distribuição GNU/Linux, já que poderá contar com uma coletânea de softwares consagrados. Já imaginou ter um uma única mídia de DVD o Windows, uma suíte de escritório e as mais diversas aplicações para o tratamento de imagem, editoração gráfica (design), multimídia e etc.?

Felizmente, a perda deste grande trunfo seria apenas “aparente”, pois os softwares gratuítos perderiam suas vantagens a médio e/ou longo prazo. E o mais hilário seria justamente por causa do mesmo motivo que dera a vantagem inicial aos softwares proprietários: o CUSTO! Acham que não? Então vamos analisar esta questão de outra forma: mesmo que um dia todos os softwares proprietários se tornassem gratuítos (independente de terem o código-aberto ou não), quais as vantagens que seriam preponderantes na adoção do Software Livre?

Softwares proprietários não possuem o código-fonte aberto e disponibilizado livremente para modificações; portanto, isto seria uma grande barreira para as empresas encontrarem especialistas para auxiliar em seu desenvolvimento de forma colaborativa, como acontece atualmente com os softwares livres. E a contratação de profissionais extras para cobrir esta lacuna traria um custo indesejado. Ainda assim, mesmo que as fundações que apóiam os softwares livres empreguem programadores, existirá em torno dela uma comunidade sempre disposta a ajudar.

Devido a indisponibilidade do código-fonte ou das restrições do modelo de licenciamento dos softwares proprietários, seriam praticamente nulas (por parte de terceiros) as possibilidades de customizá-los para uma necessidade específica. A utilização de partes do código para a construção de outros programas também deixaria de ser interessante, já que a empresa detentora dos direitos somente permitiria tais modificações mediante ao pagamento de licenças especiais, tal como acontece com as consagradas engines de jogos. Seria mais viável buscar as opções livres para fazer as customizações necessárias; e para varia, a GNU GPL exige que tais alterações estejam livremente disponíveis, o que certamente não acontecerá com o software proprietário…

Para complementar, sabendo-se destas dificuldades que atravessariam as desenvolvedores de software, quais são as possibilidades dos softwares proprietários consagrados se tornarem gratuítos? De início, o serviço especializado de suporte técnico terá que ser mais caro que o da concorrência livre para compensar o pagamento dos profissionais em desenvolvimento, já que os softwares livres normalmente são mantidos e/ou recebem apoio colaborativo da comunidade. Além disso, toda a estrutura montada para o faturamento no modelo proprietário sofreria grandes mudanças, já que o lucro obtido com a antiga modalidade de venda de licenças até antes eram preponderantes. E sabemos perfeitamente que a grande maioria destas empresas vivem essencialmente deste lucro!

Enfim, é interessante observar como uma “aparente” vantagem a curto prazo, em que os softwares proprietários poderiam ter se fossem gratuítos, se voltariam contra eles a médio e/ou a longo prazo, justamente por causa da necessidade de serem mantidos um baixo custo em seu desenvolvimento. Esta análise também prova que a liberdade é essencialmente mais importante que a gratuidade de um software livre, embora muitos (senão a maioria) optam pelo uso destes softwares justamente por causa da sua gratuidade. Portanto, posso afirmar tranqüilamente que o importante é ser livre; a gratuidade é apenas uma conseqüência!

Ser livre ou gratuíto, eis a questão! &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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