‘Linuxers híbridos’: existe realmente isso?

‘Linuxers híbridos’: existe realmente isso?

Eles usam o MSN para se comunicar com os amigos, possuem uma conta ativa no hotmail, visitam regularmente suas contas no Orkut e, de quebra, utilizam o sistema operacional que praticamente “faz-de-tudo”, além de mantê-los atualizados “com um único clique”. Com certeza deve estar pensando que estou descrevendo os usuários do Windows, certo? Errado: estou falando dos linuxers, amantes das distribuições friendly-users, mas que ainda conservam os mesmos hábitos de quando usavam o Windows…

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MSN, um dos serviços da Microsoft amplamente utilizado por linuxers.

Suas particularidades não deixam dúvidas: se ao menos não são usuários que “vieram do Windows” (de onde mais iriam vir?), mantêm os hábitos típicos daqueles que utilizavam este sistema operacional. Dentre outras características interessantes, normalmente não gostam de usar o terminal, querem saber se “existe o Corel para o Linux”, ficam indignados porque o sistema não detectou sua câmera digital, e por aí vai.

Tudo bem, eu confesso: também tenho uma conta no MSN e acesso o “meu Orkut” regularmente. Ainda assim, posso ser caraterizado como um “linuxer híbrido”? Acredito que não, pois ainda que eu também tenha vindo daquele outro sistema operacional, existe alguns aspectos que deveriam ser levados em conta: faço o uso do MSN e o Orkut tão somente para manter contatos com os “meros mortais”, além de atender certas necessidades de nível profissional. Se não houvesse estas necessidades, certamente eu não os usaria.

Um aspecto de grande importância, que definitivamente diferencia os linuxers tradicionais dos “linuxers híbridos”, está na principal motivação pela qual eles se tornam realmente linuxers tradicionais: a ideologia do Software Livre.

Se fizermos uma observação mais minuciosa, iremos perceber que, embora muitos dos “linuxers híbridos” gostem do Tux, o conceito de liberdade de uso possuem uma importância diferenciada para eles. Não raros, muitos sequer sabem descrever os 4 pilares destacados por Richard Stallman no manifesto GNU! E para variar, outro importante aspecto surge em cena, embora não esteja diretamente referenciado nas premissas do Software Livre: a gratuidade.

Um Software Livre não tem a obrigatoriedade de ser um software gratuito, onde o próprio Richard Stallman esclarece este ponto ao dizer que “o Software Livre não deve ser compreendido como cerveja grátis”. Mas, devido ao seu caráter de livre distribuição (e redistribuição), consequentemente o Software Livre acaba se tornando também um software gratuito, já que as cobranças feitas por ele se referem a renumeração do trabalho de seu desenvolvimento. Além disso, o custeio dos recursos utilizados para a distribuição (hospedagem de arquivos em servidores, comercialização de mídias gravadas, etc.) acabam sendo “diluídas” pelas replicações de cópias. Eis porque estes softwares normalmente são disponibilizados gratuitamente.

Em poucas palavras, a gratuidade do software se torna uma consequência, e não a finalidade; a liberdade de uso, a distribuição, a customização e a distribuição das versões customizadas sob o mesmo licenciamento é que são as bases do movimento.

Para o linuxer tradicional, estes conceitos vigoram com grande força e expressão; mas para os “linuxers híbridos”, infelizmente não. Enquanto que estes últimos se satisfazem com a obtenção gratuita do software, os linuxers tradicionais clamam vigorosamente que o software deve ser disponibilizado livremente, independente da existência de um custeamento ou não para isto. E para que um software possa ser considerado livre, não só apenas os binários têm que estar disponíveis, como também esteja acompanhado do código-fonte, além de estarem licenciados sob os termos que sustentem os 4 pilares que definem a essência do Software Livre.

Mas por outro lado, muitos linuxers da comunidade livre apoiam certas práticas conhecidas entre os sistemas proprietários, ou ao menos, não fazem as mesmas restrições que os linuxers tradicionais. Por exemplo, não são raros aqueles usuários favoráveis ao crescimento do sistema com uma visão mais voltada para atender os anseios do mundo comercial, além de outros que não se importam em usar aplicações proprietárias e drivers livres (mas não documentados) para seus periféricos.

Até mesmo a formação comunitária é diferenciada: enquanto que os linuxers tradicionais possuem tendências voltadas à desfragmentação (cada um defende com “unhas-e-dentes” uma posição pessoal), os linuxers híbridos não chegam a ser tão individualistas, apoiando a existência de uma base comum para a disseminação do projeto. Seriam reflexos dos tempos em que utilizavam o Windows ou a natural resistência em experimentar novidades em tão curto espaço de tempo? Sei lá…

Se existem de fato os “linuxers híbridos”, então existem “distribuições híbridas”? Acredito que sim, pois se observarmos mais atentamente, o Ubuntu é uma das opções que mais se aproxima de um sistema assim: automatização completa de todo o processo de detecção, tudo o que é feito é pelas janelinhas, pacotes de softwares livres e proprietários convivendo perfeitamente e claro, um marketing forte. Inclusive, a sua orientação é voltada justamente para pessoas comuns!

Então, poderíamos classificar estes novos usuários como “linuxers híbridos”? Esta seria uma nova classe de aficionados pelo Tux, mas com hábitos e consciência voltadas para as práticas bastante conhecidas entre os usuários da plataforma proprietária? Ou então, esta seria uma nova classe de usuários idealistas, mas que não fazem as mesmas concessões que os linuxers tradicionais que conhecemos? Ou ainda, talvez devêssemos mudar o foco deste artigo: existem realmente o conceito atual do “linuxer tradicional”?

Então, o que podemos esperar desta nova classe de usuários? &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at]gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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