Limpeza básica de ventoinhas

Limpeza básica de ventoinhas

Recentemente um amigo, localizando-me na rua, chegou a mim e disse: “Preciso de uma ajuda sua – meu computador qualquer hora vai sair andando”. Eu, dando risada, volte e disse: “Como?”, e ele: “O gabinete está fazendo um barulho terrível de carro em marcha lenta”, e perguntando-me se podia levar em casa, disse que sim, e isso acabou rendendo este texto.

O motivo de tanto barulho era simplesmente o ventoinha da fonte, e vamos aprender neste texto voltado para usuários iniciantes a desmontar e limpar o ventoinha da fonte e do processador. Mas vale lembrar que, de acordo com uma experiência própria, os ventoinhas da fonte costumam ser os mais problemáticos com relação à ruídos extremamente altos. O vilão? A poeira 🙂

Antes de mais nada, certifique-se que seu computador não está mais na garantia, tendo lacre ou não. Afinal, qualquer vestígio da sua passagem por dentro do gabinete é prova para a perda total da garantia da montadora ou loja – e, no caso, a fonte sempre possui lacre, dando uma prova ainda mais concreta.

O primeiro passo é desconectar todos os cabos ligados ao seu gabinete, removendo-o em seguida e colocando-o em cima de uma mesa. Aconselha-se, neste caso, o uso de uma pulseira anti-eletrostática para evitar pequenos choques. Eu particularmente não uso, mas um amigo, ao relar o dedo no parafuso, já levava um tremendo choque. Aí vai de acordo com a experiência 🙂

Depois de deitado o gabinete com a fonte voltada para cima (onde ficam conectados os cabos de energia), e os conectores da placa-mãe (teclado, mouse) para baixo, use uma chave Philips, para desparafusar os dois clássicos parafusos que prendem o tampão lateral do gabinete, e guarde-os dentro de um pequeno pote, sem exceção. Não vá jogar em cima da cama, ou da estante, pois parafusos costumam ter vontade e pernas próprias 😛

Em seguida, deslize a tampa lateral em direção ao fundo do gabinete, removendo-a. A arte começa agora 🙂

Comece desconectando os cabos de força do drive de CD-ROM, disquete e HDs, como ilustra a figura abaixo, além do conector maior que é preso à placa (neste, é preciso apertar uma alavanca de pressão que fica ao lado do conector, puxando-o para cima em seguida).

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Feito isso, vamos soltar os parafusos de fixação da fonte, como a figura abaixo. Não se preocupe da fonte “cair” em cima da placa-mãe, pois normalmente o gabinete tem abas metálicas que dão uma pequena segurada na caixa.

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Com a fonte solta, desencaixe-a de tais abas, e tire-a para fora, colocando sobre uma superfície rígida, ou a própria mesa onde desmontou o gabinete, caso tenha espaço. Eu deixei a minha sobre a própria tampa do gabinete, mas como um usuário do fórum disse, isso não é recomendado pois pode arranhar a tampa e o seu cliente não vai gostar disso. Mas como o gabinete era meu mesmo, não estava ligando para isso 😛

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A “caixinha” da fonte possui quatro parafusos externos, ligados à carcaça de metal. Desparafuse todos, e puxe a “capa” para cima, removendo-a:

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Com a fonte aberta, limpe os dissipadores, estas placas de alumínio na vertical. Para isso, use um pincel novo (ao contrário do usado na foto), limpo e seco de cerdas finas (o de “cabelo loiro”), de 13 milímetros (ou 1/2 polegadas), passando bem levemente, aplicando pouquíssima força.

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Agora, vamos remover o ventoinha. Para isso, solte os 2 (pode ser quatro, mas normalmente são apenas dois) parafusos no local indicado na foto, na parte externa da carcaça. A seguir, puxe o ventoinha para cima, podendo usar uma pequena chave de fenda como alavanca, desencaixando-o. Cuidado para não puxar muito a peça, pois ela possui dois fios ligados à placa da fonte.

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De ventoinha removido, pela parte interna dele “bata” a ponta do pincel perpendicularmente à hélice, removendo toda a poeira. Não se esqueça do centro da peça, e de resto passe o pincel à vontade.

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Eu particularmente costumo passar, bem no vão que fica entre a hélice e o suporte (no centro, onde temos acesso ao ‘motor’), um jato de spray desengripante (preferencialmente os automotivos), embora isso não seja recomendado por nenhum técnico em eletrônica. No meu caso, nunca tive problemas usando o ProAuto LUB, voltado para carros. Uso o spray desengripante pois este possui a função primária de uma relativa limpeza, removendo a poeira (sempre veja recomendações do próprio fabricante), além de possui funções anti-umidade, por isso é usado inclusive para remoção de areia em bandejas de suspensão de automóveis, e, no meu caso, para máquinas de relógios e rádios antigos, dentre outros. Use por sua conta e risco 🙂

Porém, nada melhor que seguir a recomendação de um especialista na área. Convidei Jorge Lourenço Júnior, o cncnow do fórum do Guia do Hardware (vide link para comentários ao final do artigo) para falar um pouquinho mais sobre a questão dos lubrificantes em primeiro lugar, afinal esta questão polêmica gerou três páginas inteiras de comentários, além de comentar sobre o correto método de limpeza de ventoinhas. Há quem diga que determinado lubrificante X não faça mal, e que o Y não é recomendado, e por aí vai, variando com a experiência de cada um. Mas convenhamos, nada mais seguro do que fazer algo recomendado por quem é da área. Vamos lá.

Pulverização de lubrificantes / desengripantes: Não é recomendável lubrificar ventoinhas com spray de óleo desengripante (WD40 ou similares), ou qualquer que seja o lubrificante. O resultado será uma “lubrificação” pífia, de curta duração e a aceleração na deposição da poeira, que agora adere ao lubrificante justamente nos pontos onde é mais indesejáveis, as extremidades do eixo, dificultando ainda mais sua remoção, fazendo com que a ventoinha fique ainda mais propensa a travamentos. Note que desengripar não é sinônimo de lubrificar nem de limpar.

Grafite em pó: Não utilize grafite em pó em equipamentos eletrônicos. O grafite é um excelente condutor elétrico, pode causar curtos-circuitos facilmente, com conseqüências imprevisíveis e nenhuma delas agradável. Sim, muita gente já usou e nada explodiu. Também muita gente atravessa a rua correndo, sem olhar para os lados e sobrevive, mas não é algo que se recomende, não é?

A bucha das ventoinhas é auto-lubrificante (bronze grafitado), exige graxa adequada (siliconada) ou óleo fino, apenas isto. Não há sequer folga em uma bucha em bom estado para que o grafite penetre.

Grafite em pó em mãos inexperientes, no interior de equipamento eletrônico é simplesmente inadmissível, mau conselho. Óleo ou graxa podem fazer meleca, mas tem uma virtude essencial, não são condutores, não vão provocar problemas além de alguma sujeira, não vão, como o grafite, fazer os componentes soltarem a “fumacinha mágica” .

É bom que se diga pra quem pensa o contrário, que há uma boa quantidade de pontos condutores expostos no interior da ventoinha, incluindo os terminais dos enrolamentos do motor.

O risco relativo ao pó não é apenas no que se refere à própria ventoinha, mas à “contaminação do ambiente”, não é nada difícil que partículas de grafite praticamente invisíveis venham a se imiscuir onde não devem, em qualquer lugar, incluindo o interior da fonte ou até da placa mãe, com as conseqüências que se pode imaginar.

Ar comprimido: Uma recomendação frequentemente presente em manuais de manutenção industrial é a de não permitir que os componentes que possam girar se movimentem livremente. A razão disto é que buchas e rolamentos são dimensionados para determinadas faixas de velocidades, e é fácil exceder essa faixa com o impulso do ar comprimido, o que pode acarretar danos aos rolamentos / buchas.

Se a intenção é fazer a limpeza como manda o figurino, o ar só deve ser usado para a limpeza inicial mais pesada – evitando-se dirigir o jato ao rolamento / bucha – seguida de limpeza mais escrupulosa, principalmente do alojamento do eixo. Isto porque é possível que o ar comprimido provoque a penetração de partículas de sujeira no rolamento / bucha, com o conseqüente travamento, que é claro, só vai ocorrer depois de tudo remontado.

Vale comentar também que a popular limpeza de placas de circuitos impressos – como a placa mãe – por meio de ar comprimido também representa riscos, em parte advindos de contaminantes presentes no ar e umidade, mas principalmente pela eletricidade estática gerada pelo atrito do ar contra os componentes, particularmente quando o ar está muito seco . Isto pode – pasme ! – gerar potenciais da ordem de milhares de volts.

Então, como limpar? Um método de recuperação / manutenção muito superior, embora ligeiramente mais trabalhoso é a lubrificação direta do eixo + bucha ou rolamento.

Para isto basta levantar o adesivo com o logotipo do fabricante até expor o plugue de borracha que veda o alojamento da bucha / rolamento removendo-o a seguir e depositando uma única gotícula de óleo fino (conhecido como “óleo de máquina” – entre eles o famoso e ótimo “Singer”), cuidando para não contaminar a superfície ao redor, o que impediria a re-adesão da etiqueta, importante em alguns casos para manter o plugue no lugar e evitar algum vazamento do óleo.

Reinstale o plugue e o adesivo e preferivelmente faça a ventoinha funcionar por alguns minutos ainda deitada, se possível em baixa rotação (ligue em 5V) de modo a facilitar a penetração do óleo na bucha / rolamento. Melhor ainda, se você é habilidoso, é desmontar completamente a ventoinha para uma limpeza rigorosa do mancal. Água raz funciona bem na remoção de acúmulos de graxa, não use thinner, aplique com um trapo ou cotonete. Não permita que o solvente penetre no rolamento se o mancal for desse tipo, isto degradaria severamente o lubrificante.

E pronto! Sua ventoinha está preparada para mais uma longa jornada, possivelmente mais longa que a anterior.

Feita a limpeza, faça todo o processo reverso para a montagem, fixando a fonte somente depois de limpar o cooler, por questão de acesso.

O cooler é um pouco mais fácil de se mexer. A maioria dos modelos possui uma gradinha metálica em cima, e o primeiro passo é removê-la, tirando os quatro parafusos ao redor:

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No buraco que ficou dos parafusos da grade, enfie uma chave Philips pequena, de forma a remover os parafusos de fixação do cooler, logo abaixo. Desparafusado os 4, remova o plugue da placa-mãe:

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Faça o mesmo procedimento da limpeza da ventoinha da fonte, também removendo a poeira densa do dissipador. Após a limpeza, faça o processo reverso para montagem. Aproveite para limpar algumas entradas e saídas de ar espalhadas pelo gabinete.

Se o barulho persistir, faça a troca da peça, não esquecendo de comprar de acordo com o seu hardware. O cooler é mais fácil de se trocar, quanto o ventoinha da fonte é necessário o corte e emenda de dois fios (se você não quiser arriscar, compre uma fonte nova).

Espero que assim, todos os iniciantes saibam fazer uma limpeza básica em seus ventoinhas. Boa diversão!

Agradecimentos ao Jorge Lourenço Júnior, o “cncnow

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