Coming soon: KMyMoney 1.0
Autor original: Jonathan Corbet
Publicado originalmente no: lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft
Em 2005, eu escrevi uma análise sobre as ferramentas de controle financeiro pessoal disponíveis no Linux, com foco no GnuCash, no Grisbi e no KMyMoney. A conclusão da minha pesquisa foi a de que o GnuCash tinha o conjunto de recursos mais forte, mas que o KMyMoney dava sinais de que o ultrapassaria logo. Quatro anos depois, o KMyMoney 0.8 continuava sendo a série estável, mas agora isso mudou; o KMyMoney 1.0 acaba de ser lançado. Esse parece ser um bom momento para darmos mais uma olhada nesse importante programa livre.
Em 2005, o GnuCash parecia estar em um mau momento. A versão para o GNOME 2 ainda não estava pronta, os distribuidores estavam pensando em parar de empacotar o programa e o moral dos desenvolvedores parecia baixo. Mas no KMyMoney eu via uma situação bem diferente:
O KMyMoney está a todo o vapor. A comunidade de desenvolvimento está ativa e feliz, novos recursos estão sendo adicionados em um ritmo impressionante e a versão 1.0, pelo visto, está próxima. Do jeito que as coisas vão, vai ser questão de meses até que o KMyMoney ultrapasse o GnuCash em todas as áreas que importam à maioria dos usuários, e continue evoluindo.
De lá para cá, o GnuCash lançou algumas versões bem recebidas e parece (ainda) ser o programa dominante para controle financeiro pessoal. O desenvolvimento segue ativo, com a opção de armazenamento em banco de dados, há muito defunta, com retorno prometido para o GnuCash 2.4. No lado do KMyMoney, por outro lado, a versão 0.8 que eu avaliei continuava sendo a versão estável; a atualização 0.8.9 saiu em março de 2008. Por algum motivo, parece que as coisas ficaram paradas por um bom tempo; se vocês precisassem de alguma prova de que minhas previsões são ridículas, esta seria uma boa prova.
Mas os desenvolvedores do KMyMoney continuaram trabalhando, e a versão 1.0 acaba de ser lançada. Eu havia baixado a versão de desenvolvimento via CVS para ver como estavam as coisas; resumindo, o KMyMoney deu alguns passos importantes para tornar-se um programa de controle financeiro pessoal completo. Para muitos (todos?) os usuários, o KMyMoney tem tudo o que se pode precisar.
Compilar o programa foi relativamente simples, bastaram algumas rodadas de “./configure; instalar dependência; repetir”. Uma surpresa interessante: o KMyMoney ainda é um aplicativo do KDE 3. O código está sendo convertido para o KDE 4, mas os desenvolvedores não prometem datas; a prioridade, pelo visto, estava no lançamento da versão 1.0. Apesar de ainda ser um aplicativo do KDE 3, o KMyMoney roda sem problemas no KDE 4.
O KMyMoney 0.8 era um aplicativo razoavelmente bem acabado, e a versão 1.0 mantém a tradição. Parte da arte ficou mais discreta, e as janelas agora têm uma apresentação pendendo para um azul e um cinza mais sóbrios. De modo geral, o aplicativo se apresenta claro, legível e de uso prático.
Como aconteceu nas versões anteriores, o KMyMoney inclui uma ferramenta de importação de arquivos no formato do GnuCash. Ela faz o trabalho a que se propõe, mapeando as entradas do GnuCash para entradas do KMyMoney sem maiores problemas. Não há suporte para os recursos corporativos do GnuCash, e o KMyMoney não pretende ser um aplicativo corporativo de contabilidade, mas a maioria dos usuários nem vai notar.
Ao gravar um arquivo no KMyMoney 1.0, uma surpresa: o aplicativo tem integração com o GPG e criptografa os arquivos de suas finanças por padrão. Para usuários que já possuam uma chave GPG, tudo funciona automaticamente, sem que seja necessário nenhum procedimento adicional. Usuários mais avançados podem configurar o aplicativo para criptografar para várias chaves ou (para prevenção contra desastres) para uma chave de emergência controlada pelos desenvolvedores do KMyMoney. O programa também alardeia a capacidade de salvar um arquivo em um banco de dados SQL. De acordo com a documentação, há suporte para SQLite, MySQL e PostgreSQL, mas aqui só apareceu a opção de SQLite, e não funcionou. Parece que a expectativa é de que o recurso de armazenamento em banco de dados amadureça nas próximas versões.
Um dos meus problemas com a versão 0.8 foi a relativa dificuldade para inserir novas transações, num processo que exige mais trabalho com o mouse e o teclado do que no GnuCash. A versão 1.0 melhorou bastante nesse sentido. Conhecendo os atalhos de teclado, é possível inserir transações sem precisar do mouse. Infelizmente, não é possível aumentar ou diminuir gradualmente o número dos cheques pelo teclado; é preciso digitar o número novo. Além disso, parece que o programa continua exigindo o uso de um grande número de abas, e a apresentação em linha única do GnuCash ainda parece mais natural do que o formulário em duas colunas do KMyMoney, mas as coisas melhoraram bastante.
Há um módulo de orçamento e estimativas no KMyMoney 1.0. O aplicativo pode preparar um orçamento provisório com base em transações passadas, para no futuro acompanhar como o usuário está se saindo para cumprir esse orçamento. O código de previsão pode extrapolar as tendências para o futuro, fornecendo a data aproximada em que o dinheiro vai acabar e sua hipoteca vai começar a ser executada. O programa, no entanto, não conseguiu prever quando a aguardada restituição do meu imposto de renda ia chegar.
Um recurso do GnuCash completamente ausente no KMyMoney 0.8 eram os relatórios gráficos. A versão 1.0 preenche essa lacuna. Os relatórios organizados por tabulação do KMyMoney sempre foram bem feitos; agora também é possível obter essas informações em um gráfico de torta. O valor desse tipo de gráfico é discutível, mas há um valor cosmético nele, e há outros gráficos mais úteis. De qualquer maneira, esse era um recurso que o projeto tinha a obrigação de oferecer.
Também houve progressos nos serviços bancários online; os usuários com contas em bancos europeus com suporte a HBCI ou OFX estão com sorte. Como o meu banco não oferece esse suporte, não consegui testar o recurso. Também há suporte à importação de dados do banco e do cartão de crédito, mas o único formato aceito é o QIF. A ferramenta de importação do GnuCash oferece uma janela intermediária que exibe as transações que devem ser importadas, dando uma oportunidade ao usuário de realizar alterações. Já o KMyMoney apenas inclui as transações na conta especificada; o usuário precisa passar um procedimento que faz uso intensivo do mouse para classificar as transações que não são reconhecidas pelo programa. Toda a funcionalidade necessária está presente, mas é preciso aparar algumas pontas.
Resumindo, o KMyMoney 1.0 é um aplicativo sólido que agora oferece suporte a todos os recursos de que a maioria dos usuários de aplicativos de controle financeiro pessoal vão precisar. Ele parece bastante estável, e eu não consegui fazer com que ele se comportasse mal ou travasse, só que não usei o recurso de armazenamento em banco de dados. Os desenvolvedores do KMyMoney devem estar bastante satisfeitos. Graças ao trabalho deles, os usuários do Linux agora possuem duas opções de qualidade para o controle financeiro pessoal.
Créditos a Jonathan Corbet – lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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