O kernel Linux e as suas 1001 utilidades

O kernel Linux e as suas 1001 utilidades

Alguém já ouviu falar do termo “multi-plataforma”? Ou ainda, “multi-arquitetura”? Pois bem: para cada necessidade, dispositivo ou aplicação, existe um sistema operacional que pode ser perfeitamente designado para a função. No entanto, ficaremos surpreso ao saber sobre certos sistemas operacionais, que por serem tão flexíveis e versáteis, servem para uma infinidade de usos. E o mais interessante: cumprem as suas funções de modo formidável! Bem, os leitores já devem ter percebido que estou falando do Linux…

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Eis, Linus Torvalds, o criador do kernel Linux.

A lenda já é bem conhecida: forças sobrenaturais atuaram sob um jovem hacker chamado Linus Torvalds, que compelido à motivação de criar um novo sistema operacional “melhor que o Minix”, criou o Linux. Ainda não satisfeito, convocou a mística força hacker para lhe auxiliar nesta grande empreitada. Alguns anos se passaram e, graças à vontade dos deuses, novos colaboradores entraram em cena. E o resto, vocês já conhecem: a era do Tux (o seu mascote) passou a ter os anos contados à partir de outubro de 1991. Hã, não foi bem assim que a lenda e os mitos foram contados? Não importa; daqui a alguns bons anos, certamente vai ser desta maneira que serão vistos e relatados pelas mais diversas mídias. 🙂

Segundo a própria Wikipedia, a grande ironia de sua história é que, embora o kernel Linux não foi desenvolvido inicialmente com o objetivo de ser portado para outras arquiteturas, ele acabou evoluindo para esta direção. E suportando uma enorme quantidade de processadores, poderemos encontrá-lo nos mais diversos computadores existentes na face do planeta, variando desde gadgets que cabem na palma da mão à supercomputadores.

Inicialmente, o Linux nasceu em um computador PC desktop; logo, a primeira arquitetura a ser suportada por ele foi a x86. Para quem não conhece o termo x86, trata-se exatamente da mesma arquitetura em que a Intel fabrica os seus processadores, embora tenha evoluído bastante ao longo dos anos. Inclusive, tendo sido criado inicialmente em um PC 386-AT (do próprio Linus), o kernel moderno pode rodar perfeitamente nesta geração de arquitetura, necessitando tão somente de 8 MB de RAM e 40 MB de armazenamento, Lógico que teremos à disposição, apenas um terminal em modo texto, meia-dúzia de comandos e nada mais…

Dotado de excelente portabilidade e um código que requer pouquíssima carga de processamento, o kernel Linux passou a ser uma excelente opção a ser adotada em uma quantidade interessante de dispositivos compactos, variando desde gadgets simples a sistemas integrados SoC (“sistemas em um único chip”) para dispositivos embarcados. O seu celular está tocando? Então, se prepare: se por acaso não for um iPhone ou um modelo que tenha alguma versão do sistema Symbian, é possível que o sistema que rege o seu aparelhinho inseparável seja uma versão móvel do adorado pinguim.

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Nokia N900, com o Maemo.

Em celulares, o Tux surge não apenas como uma opção “alternativa” tal como é visto em desktops, mas sim como um grande competidor neste emergente mercado. Diferente dos desktops, usuários simplesmente não rejeitam o sistema operacional préviamente instalado, sem contar ainda que em matéria de desempenho, em ambas as classes o sistema não deixa nada à desejar. Para variar, ainda vêm a questão da licença livre e da disponibilidade de aplicativos, já que o sistema é uma plataforma aberta.

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Interface do Android, o sistema móvel mais popular (by Google).

Além dos celulares, o Tux pode ser utilizado alternativamente em roteadores, com o objetivo de prover a estes equipamentos, uma gama de recursos muito maior, se comparado aos firwmares proprietários desenvolvidos pelos fabricantes dos equipamentos. Querem um exemplo? Então sugiro que conheçam projetos como o OpenWRT e o DD-WRT, voltados especialmente para roteadores da Linksys. O seu roteador WRT54G (se porventura o tiver) nunca mais será o mesmo…

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Linksys WRT54G series: hackeável com firmwares baseados em Linux

Outra grande área interessante está nos sistemas embarcados, onde computadores minimalistas dotados de hardwares & recursos ínfimos, desempenham funções especialmente direcionadas para necessidades específicas. Um dos que me interessei é o Mavell SheevaPlug, um minicomputador do tamanho de uma fonte de notebook, que pode ter o sistema configurado com serviços especializados, como compartilhamento de arquivos, gerenciador de downloads, entre outras funções.

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SheevaPlug, um minicomputador completo e versátil, para ser utilizado em aplicações especiais, onde computadores “normais” não trariam a interessante relação custo vs benefício. Acessível somente através de acesso remoto via terminal.

Mas, de todos os dispositivos minimalistas, o que mais me impressionou foi a Citizen e a IBM participarem na criação de um gadget especial: um relógio de pulso chamado WatchPad, que combina funções presentes em um PDAs no formato clássico de um relógio. Bem, com tantos smartphones interessantes sendo vendidos por aí (muitos com o Tux), acho meio difícil estes dispositivos ganharem espaço, mas não deixam de ser interessantes!

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WatchPad, da IBM.

Até mesmo dispositivos desenvolvidos originalmente para utilizarem outros sistemas beneficiam-se do Tux. Dos exemplos interessantes, são os consoles. Muitos deles podem ter o Tux instalado em suas unidades de armazenamento. Ops, quero dizer, nem todos: recentemente, uma atualização do firmware para o PlayStation 3 removeu por completo o suporte para a instalação de distribuições Linux.

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PlayStation 3 slim: é uma pena que novos firmwares não suportem mais a instalação de “Other OS”…

Então, o Tux só é visto em sistemas compactos? Nem tanto. Ele também está presente com (quase) unanimidade em projetos gigantescos de supercomputadores e datacenters que encabeçam o ranking do Top 500: na 34a. edição, o badalado pinguim é citado como o sistema operacional utilizado por quase 90% dos supercomputadores listados, correspondendo a 446 contagens! Incrível, não? E em pensar que, no lado dos desktops, a vantagem se reverte para o Windows…

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Blue Gene/P, o supercomputador da IBM que utiliza CPUs PowerPC.

Mais interessante ainda é saber que, das instituições governamentais, a NASA envolve o Tux em seus projetos milionários, com a criação de veículos, robôs e satélites espaciais. Um importante passo está sendo dado com a criação do D-RATS (Desert Research and Technology Studies), um grupo formado por cientistas e engenheiros para desenvolver tais equipamentos para explorarem solos de satélites e planetas do nosso sistema solar. Seus computadores utilizarão uma versão do Linux especialmente customizada para estes propósitos.

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Um astronauta realizando treinos antes de ir para Marte.

Bem, vou parando por aqui, pois acho já está de bom tamanho. Os exemplos já citados aqui bastam para se ter uma idéia de todo o potencial do kernel Linux em termos de portabilidade e uso. Mas, se porventura os leitores tiverem mais curiosidade, sugiro acessarem o site Linux Devices. Garanto que irão ficar mais impressionados… ainda! ;D

Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at]gmail.com>
http://by-darkstar.blogspot.com/

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