Como o iCloud, Google e Windows ARM podem mudar o mundo à nossa volta

Como o iCloud, Google e Windows ARM podem mudar o mundo à nossa volta

Os últimos dias foram o palco de diversos anúncios importantes, que podem ter uma grande repercussão sobre o futuro da informática. Um deles é o anúncio do iCloud, um serviço de armazenamento nas nuvens com integração com tanto o MacOS quanto o iOS, que tem tudo para trazer mudanças importantes no mercado de informática.

Se você acompanha meus artigos, deve ter percebido que não sou muito impressionável com os produtos da Apple, mas a estratégia adotada pela Apple e as possíveis repercussões realmente me chamaram a atenção.

Em primeiro lugar, vamos a uma explicação rápida do que é o iCloud. Ele nada mais é do que um serviço de armazenamento e sincronização, integrado ao iTunes e aos demais produtos da Apple, incluindo os Macs, iPhones, iPods e iPads, sincronizando fotos, calendário, e-mails, aplicativos, livros, músicas, etc. Todo o conteúdo é automaticamente hospedado no serviço remoto e automaticamente sincronizado com outros dispositivos vinculados à mesma conta. Fotos tiradas no iPhone ficarão automaticamente disponíveis no PC, aplicativos e livros comprados no iPhone ficarão automaticamente disponíveis no iPad, a coleção de músicas ficará automaticamente disponível em todos os dispositivos e assim por diante.

O plano básico é gratuito, incluindo 5 GB de armazenamento para e-mails, arquivos e backups, armazenamento ilimitado para fotos (PhotoStream), compartilhamento de músicas e e-books comprados através dos serviços da Apple entre até 10 dispositivos, compartilhamento de documentos (iDrop), sincronismo da coleção de músicas (iTunes Match), sincronismo de contatos e calendário e assim por diante. Na prática, não é muito diferente do que você teria ao combinar o DropBox, Gmail, Google Docs e o Google Music (acessando os dados no PC, telefone e tablet com o Android), mas com um nível de integração bem melhor e, claro, destinado aos usuários da Apple.

Uma percentagem surpreendente dos usuários da Apple acabam adotando tanto um Mac quanto um iPhone e/ou iPad, e um sistema de integração transparente entre todos eles realmente faz sentido, mas as mudanças não param por aí.

Outro anúncio é o Mac OSX Lion, que entre um conjunto de outras melhorias inclui mudanças importantes na interface, que essencialmente o tornam mais parecido com o iOS, incluindo suporte a telas touchscreen com um sistema aprimorado de multi-touch, um novo modo full-screen, que remove todos os menus e barras, e assim por diante. Com isso, a interface dos futuros desktops da Apple será muito mais parecia com a do iPad, e não deve demorar para que a Apple passe a equipar também os desktops e notebooks com telas touchscreen, adicionando a possibilidade de fazer scroll das páginas com os dedos, arrastar ícones, arrastar o dedo para alternar entre aplicativos abertos e assim por diante. O mouse continuará disponível, mas o uso dele se tornará opcional. O Lion também integra a loja de aplicativos da Apple diretamente no sistema, fazendo com que a compra e atualização dos aplicativos seja feita de forma muito similar ao que temos no iPhone.

Somadas todas essas mudanças, podemos nos dar conta de uma grande mudança de paradigma dentro da linha de produtos da Apple: os desktops ficam muito mais parecidos com os dispositivos móveis e tanto o iPad quanto o iPhone deixam de ser cidadãos de segunda classe (como na época dos antigos PDAs, que precisavam sincronizar com o PC via cabo) para se tornarem mais independentes, acessando e sincronizando os dados com a nuvem em pé de igualdade com os desktops.

Outro paradigma que muda é a forma como os usuários passam a lidar com os arquivos. Tradicionalmente, o desktop servia como reservatório para todos os seus arquivos e você copiava pequenas secções deles para outros dispositivos. Agora, a nuvem passa a ser o reservatório e tanto o desktop quanto o tablet e smartphone tornam-se terminais de acesso a estes arquivos. O hardware em si deixa de ser muito importante (caso seu notebook ou telefone seja roubado, você só precisaria substituir o aparelho e logar na sua conta para que tudo seja sincronizado automaticamente) e o que passa mesmo a valer é o armazenamento das informações.

Como os arquivos deixam de estar diretamente em poder do usuário e passam a ficar sob a guarda da Apple, a dependência dos usuários em relação à empresa passa a ser muito maior. Por um lado, temos a praticidade da sincronização automática e dos recursos de integração e a segurança de um backup automático dos arquivos e outras informações importantes, mas uma vez que a migração é feita, torna-se muito difícil voltar atrás e mudar de plataforma. É mais ou menos o que o Google tem sonhado em fazer a tempos, executado de uma forma bem mais completa pela Apple.

Naturalmente, o desktop ou notebook continua como a principal ferramenta de trabalho e produção de conteúdo, devido à presença do teclado, mouse e tela de maior resolução, mas os smartphones e tablets deixam de serem meros coadjuvantes para se tornarem terminais completos de acesso, com acesso a todos os seus arquivos.

Se outra empresa, como a Microsoft, ou até mesmo o Google tentasse um projeto tão ambicioso neste momento, a chance de fracasso seria muito grande, já que cada uma delas controla apenas uma parte do ecossistema, mas no caso de uma empresa como a Apple, que controla todo o seu ecossistema, o sucesso é muito provável, pelo menos entre os usuários fiéis à marca.

Embora a participação de mercado da Apple não seja tão grande a ponto de a empresa sozinha poder criar uma grande mudança no mercado de informática, as ideias da Apple que dão certo acabam sendo sempre copiadas pelos concorrentes, dando origem a novas tendências na indústria. Assim foram com os smartphones com telas touch-screen (que só ganharam força depois do iPhone), dos notebooks ultra-finos (lembra do Mac Air?) e dos tablets, que deixaram de ser um beco sem saída tecnológico para se tornarem a bola da vez graças ao lançamento do iPad.

Pode ter certeza que o sucesso do iCloud será será seguido por novas ofertas de serviços do Google, que passará a investir em serviços de sincronização e outros produtos similares e de diversos outros serviços que surgirão para pegar carona na onda de interesse em torno do iCloud, aprisionando um número cada vez maior de usuários.

Enquanto isso, em Redmond, a Microsoft têm trabalhado na versão ARM do Windows 8 e os resultados já começam a aparecer. A Microsoft têm toda a urgência em fortalecer a posição do Windows Phone 7 e do Windows ARM, pois uma plataforma móvel é um quesito cada vez mais importante, não apenas devido ao enorme volume de vendas dos smartphones e tablets, mas também devido à importância de bons sistemas de sincronização entre eles e os desktops.

A Apple já tem um ecossistema completo com os Macs, iPhone, iPad e o iCloud, o Google está perto de ter também o seu, já que embora não controle os desktops, também é forte nos serviços de armazenamento em nuvem (atire a primeira pedra quem não usa nenhum serviço do Google…), tem uma plataforma móvel muito forte (o Android) e tem o Chrome, que caminha para ser o segundo navegador mais usado.

A Microsoft por outro lado domina os desktops, graças ao Windows, mas têm visto a popularidade do Internet Explorer e dos seus serviços web caírem repetidamente. O mais grave é que a presença da Microsoft no mercado de dispositivos móveis caiu para quase zero com a falência do Windows Mobile, e estão tendo que começar de novo com o Windows Phone 7. Tendo isso em vista, não é difícil de entender a urgência de colocarem o Windows ARM no mercado e, de alguma forma conseguirem fazer com que o sistema seja um sucesso.

As primeiras prévias do Windows ARM parecem bastante promissoras. A Microsoft demonstrou recentemente vários aparelhos, incluindo tanto tablets quanto laptops, baseados no Qualcomm Snapdragon MSM8660 (1.2 GHz, dual-core), no Tegra 3 (quad-core) e no TI OMAP4430 (1.0 GHz, dual-core):

Embora não exista por enquanto nenhum sistema de compatibilidade para rodar aplicativos do Windows x86, a Microsoft está portando os aplicativos básicos, como o Media Player, Explorer e o Office e tentando criar um ecossistema de desenvolvimento em torno da plataforma. Além do desktop Windows regular, o sistema oferece uma tela inicial com um hub de informações, similar à do Windows Phone 7, utilizada pelo modo always-on.

Alguns pontos fortes do Windows ARM são o suporte simultâneo ao uso de teclado e mouse e de toques com os dedos, suporte a pendrives e outros dispositivos USB. Combinado com a flexibilidade e o baixo consumo dos chips ARM isso pode vir a resultar em uma plataforma competitiva para tablets, além de apresentar uma opção no caso dos laptops, que podem passar a ser baseados em chips ARM mantendo o Windows.

É importante enfatizar que apesar das similaridades, o Windows ARM é fundamentalmente uma nova plataforma, que preserva certas similaridades com o Windows para desktops, mas elimina o principal do sistema, que é a enorme carga de aplicativos acumulados ao longo de praticamente três décadas. No lugar deles, temos uma estratégia similar à da Apple e do Google, baseada em serviços web e na integração com serviços de armazenamento em nuvem.

No final, não apenas a Apple e o Google, mas a própria Microsoft estão apostando na queda de importância dos desktops tradicionais frente aos serviços baseados em nuvem e dispositivos móveis. Com as três gigantes trabalhando neste sentido, esta vai logo se tornar uma tendência irreversível. Apertem os cintos, as coisas vão começar a mudar rápido daqui pra frente.

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