Primeiras impressões do HP Mini 110 Mi edition

Primeiras impressões do HP Mini 110 Mi edition

First look at HP Mini 110 Mi edition
Autor original: Ladislav Bodnar
Publicado originalmente no:
distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft

O mercado de netbooks Linux passou por uma evolução interessante, e por vezes controversa. Começando com PCs ultraportáteis trazendo apenas o Linux, com telas de sete polegadas e SSDs em vez de discos rígidos, os primeiros netbooks foram rapidamente ultrapassados por máquinas um pouco maiores, com telas de nove e dez polegadas, teclados de tamanho quase convencional e discos rígidos de verdade. O Linux, apesar do sucesso inicial, foi substituído pelo Windows XP – sem dúvida por causa da pressão incessante da Microsoft sobre os fabricantes de hardware. Agora, todos eles “recomendam” o “uso o Windows para a computação cotidiana”. Menos de dois anos depois do lançamento dos netbooks ultraportáteis, encontrar um com o Linux pré-instalado é difícil, ou até impossível, em muitas partes do mundo (alguns leitores vão dizer que os clientes preferem o Windows, mas isso é mera especulação. Como podemos ter certeza se as lojas não oferecem outra opção? Só quando tivermos netbooks que tenham exatamente as mesmas especificações, com opções de Windows e Linux lado a lado em todas as lojas, saberemos qual deles o cliente prefere).

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Desde que comprei meu ASUS Eee PC 900 em abril de 2008, eu estava à caça de outro netbook. O Eee PC é uma máquina muito legal, mas o teclado apertadinho e o infeliz posicionamento da tecla Shift da direita tornam a digitação improdutiva. Infelizmente, nos meses que se seguiram, o netbook Linux se tornou tão raro quanto açafrão nas lojas de computador de Taipei, para depois desaparecer completamente (eu me lembro de ter entrado em umas vinte lojas diferentes, grandes e pequenas, todas exibindo uma enorme linha de netbooks, sem encontrar unzinho que viesse com o Linux). Imaginem a minha surpresa quando, há duas semanas, entrei em uma loja de computadores e vi um netbook que não trazia uma chave nem um adesivo do Windows! Fiquei tão chocado que não hesitei por muito tempo, e minutos depois eu estava saindo de lá com uma caixa contendo um HP Mini 110-1011TU com o Linux – uma edição personalizada do Ubuntu, com uma interface chamada “HP Mi”.

Primeiro, as especificações. Esse modelo do HP Mini vem com processador Intel Atom N280 (1,66 GHz, 512 KB L2, 667 MHz FSB), um disco rígido SATA de 250 GB (5400 RPM), 2 GB de SDRAM DDR2, monitor de 10,1 polegadas (resolução máxima de 1024×576 pixels), placa de vídeo onboard Intel Mobile 945GME Express, controlador de áudio Intel 82801G, placa de rede sem fio Broadcom BCM4312 802.11b/g e adaptador ethernet Atheros AR8132 (driver do kernel: atl1c). Ele tem três portas USB, uma porta para conexão de um monitor externo, porta de áudio para fones de ouvido, webcam integrada HP e bateria de íon lítio de três células. Pesa 1,2 kg e custa o equivalente a 400 dólares.

A parte mais interessante desse netbook, obviamente, é o software. A interface do HP Mi (de “Mobile Internet”, ou internet móvel) é uma versão personalizada e simplificada do Ubuntu 8.04 LTS (“Hardy Heron”), lançado em abril de 2008. Sendo assim, os pacotes de software não estão particularmente atualizados, trazendo kernel 2.6.24, GNOME 2.24.3, Firefox 3.0.13 e OpenOffice.org 2.4.1, todos bem mais antigos do que as versões disponíveis atualmente. Mas ao contrário dos netbooks com Windows, que trazem a mesma interface padrão (e não personalizável), o desktop padrão do HP Mi é outra história. Ele se divide em três colunas: a da esquerda mostra seus emails (depois que as configurações de email forem configuradas no Thunderbird), a do meio traz miniaturas de páginas da web (semelhante ao “Speed Dial” do Opera) e a da direita se divide em duas partes, sendo que a de cima lista arquivos de música reproduzidos recentemente e a de baixo mostra as fotos exibidas recentemente.

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HP Mi – desktop padrão

Ainda que seja interessante e inovador, o desktop padrão do HP Mi não me impressionou. Em parte, por eu não ser muito fã de elementos brancos sobre fundos negros, mas também porque não há uma separação clara entre os componentes, que ajude os olhos a navegarem por diferentes seções da tela. Não quero exagerar nas críticas, porque esse é um ponto altamente pessoal. Além do mais, obviamente eu não faço parte do mercado principal desse produto em especial. Ainda assim, é legar ver que a HP se esforçou para criar algo inovador e incomum, que pode apelar a um certo grupo de usuários, embora eu ache que o resultado estético poderia ser muito melhor. Ou isso, ou ao menos permitir algum nível de personalização, como mudar as cores, mover os elementos da tela etc.

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HP Mi – a interface para iniciar software

Os aplicativos de software são acessados por meio de um botão “Start New Program” (iniciar programa novo) abaixo da seção central da tela inicial. Um clique no botão leva o usuário a uma interface familiar com abas, semelhante à usada pelo Xandros no Eee PC, no passado remoto em que a ASUS ainda se importava com o Linux. Já o clique nos ícones (que são grandes demais) inicia o aplicativo desejado, ainda que haja ícones apenas para alguns programas dentre os disponíveis no sistema. Não há, por exemplo, ícones para o GNOME Terminal, e se você quiser trabalhar na linha de comando, a única maneira de abrir o terminal é pressionar ALT+F2 e digitar “gnome-terminal”. De forma semelhante, o instalador de software só contém uma lista muito pequena de aplicativos disponíveis para instalação, mas rodando o “aptitude” pela linha de comando o usuário pode instalar muitos outros. O /etc/apt/sources.list aponta para um arquivo “hpmini” especial no canonical.com, com os repositórios “main”, “universe”, “multiverse” e “restricted” habilitados por padrão. No lado positivo, um software bem legal presente no sistema é o Elisa, um media player/visualizador de fotos bem integrado que provavelmente vai agradar à maioria dos usuários domésticos.

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HP Mi – o media player Elisa

Como eu já disse, a HP oferece poucas opções de personalização para o desktop padrão, sem temas extras, opções de cores e de posicionamento dos elementos. Na tela “Settings” (configurações), invocada com um clique na palavra “Settings” no canto superior direito do desktop inicial, só se encontram os módulos de configuração padrão do GNOME. Não estou criticando – afinal, essas opções provavelmente bastarão para a maioria dos usuários domésticos – mas como o DistroWatch é acessado por fãs veteranos do Linux e até por peritos, essa informação pode ser útil quando eles pensarem em comprar o computador para membros da família que não sejam muito técnicos. Obviamente, o popular gconf-editor está disponível, e se você procurar bem, provavelmente vai achar uma maneira de alterar as cores e outros objetos do desktop do HP Mi, mas não vai ser por meio de uma interface gráfica e intuitiva.

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HP Mi – a tela de configurações

Depois de alguns dias usando o HP Mi, decidi investigar algumas das alternativas disponíveis. A primeira experiência que eu fiz foi com o Ubuntu 9.04 Netbook Remix (UNR), que vinha funcionando perfeitamente no Eee PC. Eu aprendi a gostar dele, especialmente por causa de seus recursos para poupar espaço na tela. Na verdade, comparando o HP Mi ao UNR, fica óbvio quais desenvolvedores estão dando mais atenção à organização geral do espaço disponível. Enquanto o HP Mi vem com duas barras de ferramentas na tela (uma em cima e outra embaixo) e as janelas de seus aplicativos contêm a barra de título completa, o Ubuntu UNR é extremamente eficiente em termos de espaço, sacrificando partes inúteis da barra de título para exibir ícones de aplicativos abertos e a bandeja do sistema. Como a tela do HP Mini só tem 576 pixels, as barras de ferramentas e barras de títulos desnecessárias tomam espaço demais da altura limitada da tela, e esse espaço poderia ser aproveitado de maneira mais produtiva.

O Ubuntu 9.04 iniciou, foi instalado e funcionou numa boa, e o hardware quase todo funcionou – quase, porque os alto-falantes internos foram uma exceção. Parece que esse bug já é conhecido. Continuei minhas experiências instalando o Ubuntu 9.10 Alpha 6, a mais recente versão de desenvolvimento do próxima Ubuntu, codinome “Karmic Koala”. Ele também iniciou sem problemas, mas a minha tentativa de instalar os drivers wireless proprietários da Broadcom falhou por algum motivo. Deve ter sido um bug temporário, porque em um dos builds diários do UNR Karmic lançados posteriormente eu consegui instalar esses drivers sem problemas. O som dos alto-falantes funcionou, e foi aí que eu decidi manter o Karmic. Ele tem alguns bugs, mas para um alpha, é admirável que tenha tão poucos problemas e que seja tão estável. Também tentei iniciar o Mandriva Linux 2009 a partir de uma mídia USB oficial; funcionou, mas o sistema não detectou nenhum dos dois adaptadores de rede, com ou sem fio. Por outro lado, o recém-lançado Moblin 2.0 nem iniciava, simplesmente travava na primeira tela de splash, e para tirar o netbook dessa situação difícil, só uma piedosa reinicialização pelo botão liga/desliga dava jeito.

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O Ubuntu 9.10 Alpha oferece suporte decente ao hardware do HP Mini

E depois de experimentar o HP Mini nas últimas duas semanas, o que eu achei dele? De modo geral, eu diria que é um bom netbook, que tem alguns problemas. O maior deles provavelmente é o posicionamento dos dois botões do touchpad, que em vez de estarem sob o touchpad estão nos lados dele, e demora para a gente se acostumar com isso. O pior é que não descobri uma maneira eficiente de clicar com o botão do meio no dispositivo. No Eee PC, há uma opção para simular o clique do botão do meio dando um toque com os dois dedos (o que é útil para abrir páginas da web em uma aba em segundo plano no Firefox), mas no HP Mini isso não é possível. A única maneira de clicar com o botão do meio, que eu saiba, é usar os dois dedos indicadores para tentar clicar nos dois botões simultaneamente, o que é bastante propenso a erros. Se alguém souber de um jeito melhor de fazer isso, ficarei feliz em saber.

O segundo problema é a escolha de dispositivos de hardware. A placa de rede sem fio Broadcom é problemática, porque não há driver de código aberto que funcione, e por isso as distribuições que não incluem módulos que “manchem” o kernel com código proprietário (como o Fedora, por exemplo) não funcionam direito logo de cara. Seria bem melhor se a HP tivesse escolhido hardware com drivers de código aberto disponíveis em seus netbooks Linux, mas talvez isso seja pedir demais, do ponto de vista da produção de um netbook. Deixando isso de lado, não quero criticar muito a HP; na verdade, fico extremamente feliz em saber que uma empresa tem a coragem de colocar um netbook Linux no mercado. Os netbooks da ASUS e da Acer já desistiram do Linux faz tempo, e a maioria dos outros nem chance deu ao sistema, e por isso a HP ganha muitos pontos. Por isso o meu dinheiro foi para a HP.

Tirando esses dois problemas, de modo geral o HP Mini me agradou. Não é o netbook mais bonito do mercado, mas eu gosto muito do tamanho do teclado e da localização correta das teclas Shift (em relação ao Eee PC 900). O disco rígido espaçoso de 250 GB me permite fazer mais experiências, o que significa que o Ubuntu 9.10 dificilmente continuará sendo a única distribuição rodando na máquina. Quem não achar ruim ter um Ubuntu simplificado demais e bastante antigo como sistema operacional pré-instalado no netbook conseguirá realizar todas as tarefas computacionais comuns, mas quem preferir algo mais novo e avançado pode recorrer ao mais recente alpha do Karmic, que oferece suporte decente ao hardware do netbook. Com especificações de hardware bem superiores às do Eee PC 900, acho que o custo-benefício do HP Mini é bem mais vantajoso. Uma nota? Oito.

Créditos a Ladislav Bodnar http://distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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