“Por US$ 49 você pode transformar seu Mac em um PlayStation”, afirmou Steve Jobs durante o evento Macworld de 1999.
A fala fazia parte da apresentação de um emulador que permitia rodar games do PlayStation em computadores da gigante da maça. Só tinha um detalhe: A Sony ficou furiosa e caso foi parar nos tribunais.
A jornada para o desenvolvimento do emulador
O tal emulador que faria o Mac rodar games do PS1 não era produzido pela Apple. O produto tinha outro pai. Uma empresa chamada Connectix.
A Connectix estava envolvida com produtos da Apple desde o fim dos anos 80. Em novembro de 1989, a companhia anunciou o Virtual, primeiro sistema de memória virtual destinado aos Macs mais recentes da época, opções que rodavam com o processador Motorola 68030 e o 68020: Macintosh IIx, IIcx, SE/30 e o Macintosh II.
A aplicação tinha o objetivo de possibilitar rodar softwares mais exigentes em máquinas com limitação de memória RAM, alocando parte do disco rígido como memória virtual.
Avançamos agora para 1998. Naquele ano, a Connectix iniciou o desenvolvimento de um emulador para rodar jogos do PlayStation.
O grande mestre de cerimônias
1998 também foi um ano singular para a Apple. Steve Jobs já estava de volta à companhia que ajudou a fundar e iniciou, com o iMac G3, uma trajetória quase mágica de produtos bem sucedidos. Nos anos seguintes viriam iPod, iPhone e iPad.
Inicialmente, a Connectix adquiriu uma unidade do PlayStation e extraiu a BIOS do console para analisar seu funcionamento, via software de depuração. Inúmeros testes para ver como poderia trabalhar em conjunto com o emulador Virtual Game Station (VGS) que eles estavam desenvolvendo. Todo o processo foi comandado pelo engenheiro da Connectix, Aaron Giles.
Conforme relembra o livro Software Law and Its Application, de Robert Gomulkiewicz, a Connectix chegou a contatar a Sony para solicitar uma assistência técnica, a fim de concluir o desenvolvimento do emulador. Representantes de ambas as empresas se encontraram em setembro de 1998. A Sony recusou a proposta.
Mesmo sem o aval oficial da Sony, a Connectix não abandonou a ideia de colocar seu emulador na praça. O desenvolvimento foi encerrado entre dezembro de 1998 e janeiro de 1999.
E foi justamente em janeiro, mais precisamente no dia 5, durante a MacWorld, que Steve Jobs jogou luz ao projeto da Connectix. Durante este mesmo evento Steve apresentou o antecessor do Macbook, o iBook, primeiro notebook realmente popular com suporte a Wi-Fi.
Sob fortes aplausos, Jobs falou sobre o Virtual Game Station da Connectix, um software que seria vendido por US$ 49 e permitiria jogar os inúmeros games do popular PlayStation no Mac.
Phil Schiller, executivo bem conhecida da Apple, que segue até hoje na empresa, como vice-presidente de marketing, subiu ao palco e demonstrou como o Macintosh dele conseguia rodar Crash Bandicoot (com direito a alguns travamentos). Ele chamou o software da Connectix de “uma ideia fenomenal”.
Rápido e prático
“O Connectix Virtual Game Station traz alguns dos jogos mais populares para o seu Macintosh com simplicidade ‘pop and go’. Para jogar, basta inserir o seu CD de jogo PlayStation. O software AutoLauncher incluído detecta o CD e executa automaticamente o Connectix Virtual Game Station. Você nem precisa clicar com o mouse”, explicava a Connectix na página oficial do produto.
Dentre os títulos compatíveis, Doom, FIFA 97, Ridge Racer, Tekken 3, Tomb Raider 1 e 2, Time Crisis, GTA entre muitos outros. Confira aqui a lista completa divulgada em março de 1999.
O software também tinha compatibilidade com controles USB. Dentre as opções, a empresa mencionava o modelo Gravis GamePad Pro USB, vendido por US$ 14,99, com a compra do emulador.
A disputa legal
Segundo Aaron Giles, durante a própria MacWorld, a Connectix percebeu a enrascada. O estande da empresa recebeu a visita de alguns representantes legais da Sony.
Além da versão para o Mac, a empresa também chegou a desenvolver uma versão do Virtual Game Station para Windows.
A Sony levou o caso aos tribunais. Inicialmente, a Connectix saiu vencedora, mas a empresa japonesa conseguiu uma liminar para impedir a venda do emulador enquanto recorria da decisão.
A indefinição se a liminar cairia ou não fez com que a Connectix parasse de alocar muito tempo e recurso no progresso de desenvolvimento do seu produto. No fim, o caso foi encerrado com acordo entre as empresas. O Video Game Statio foi vendido para a Sony, e o software foi encerrado.
E o que aconteceu com a Connectix? Bom, em meio ao interesse do mercado por emulação, e o progresso que a companhia vinha fazendo nesse sentido, com o Virtual PC, concorrente ao Workstation, da VMWare, a Microsoft comprou a empresa em 2003.
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