Há mais de 10 anos…

Há mais de 10 anos, adquiri o meu primeiro PC desktop. Isto aconteceu foi por volta de junho/1996. No ano seguinte, fiz o upgrade para uma máquina mais parruda, pois na época havia adquirido um modesto 486 DX4-100 Mhz apenas para ter a experiência do que é usar um computador. Durante este período, fui comprando os demais componentes do sistema até formar um PC completo…

Confesso que foi uma aquisição “de risco”, pois eu havia sido recentemente empregado e com previsão de 10 meses de serviço. No mês seguinte adquiri o 486, que por sua vez, era cotado no valor de R$ 1.199,00. Foi o preço mais barato que pude encontrar na época, embora os juros embutidos nas “10 suaves prestações” aumentassem um pouco o valor total. Este valor era realmente baixo para a época, embora o dólar comercial estivesse com o valor cotado bem próximo ao da nossa moeda.

Como havia dito, era realmente uma máquina modesta, pois estava equipada com um processador 486 DX4-100 Mhz, 4 MB de memória RAM, disco rígido de 1.08 GB (Maxtor) e uma placa de vídeo de 1 MB (Trident 9680). Quanto a placa-mãe, nem sei dizer exatamente as suas especificações, visto que eu era um leigo na época e mal sabia diferenciar um slot PCI de um ISA. E… só! Sem placa de som, sem modem, sem leitor de CD-ROM, sem impressora… enfim, sem um monte de coisa. Ops, esqueci: tinha também o monitor de 14″, o teclado e o mouse… de bolinha!

Aos pouquinhos, fui adquirindo os componentes que faltavam. O primeiro componente – ou melhor, conjunto de componentes – foi o kit multimídia: o Creative Discovery 12x. Na época, me considerei um sortudo, pois os kits eram vendidos entre R$ 500,00 e R$ 600,00, e ainda assim, normalmente eram equipados com um leitor de CD-ROM com velocidade de 8x. O modelo que eu havia adquirido era recém-lançado, dotado de um leitor com velocidade de 12x e placa de som ISA de “32 bits”. Alem disso, paguei “apenas” R$ 470,00 pelo kit, tendo ainda a disponibilidade de alguns joguinhos, além da velha enciclopédia Creative Encarta. Naquela época, a Wikipedia não existia…

Ah, tive que comprar também mais um módulo de memória SIMM de 4 MB (R$ 45,00), já que as exigências mínimas do kit multimídia solicitavam um processador 486 DX2-66 Mhz e 8 MB de RAM, além de um ínfimo espaço de disco rígido. E como eu havia gasto todo o “din-din” ganho em horas-extras de trabalho, a “salvação da lavoura” foi a minha falecida avó, que complementou o restante da verba. Também tive a ajuda de meu velho amigo Paulo, pois na época não possuía conhecimentos técnicos para efetuar a instalação destes componentes: não só ele instalou o kit multimídia para mim, como também o módulo de memória RAM e ainda fez a instalação dos drivers.

E falando em software, não dá para não falar do Windows. Quando eu adquiri o computador, a máquina já vinha com o Windows 3.11. E eu (na minha ingenuidade), perguntei ao vendedor se os softwares eram originais. Ele informou que sim, pois havia feito a instalação com as mídias originais! Nossa quanta ignorância da minha parte (ou da parte dele, não sei dizer)! Somente alguns meses depois, quando soube que um software legalizado é aquele adquirido pelo usuário e com a licença de uso, é que fiz a aquisição de um pacote “Combo”, contendo o Windows 95, Word 7.0 e Excel 7.0 (R$ 399,00). Nunca fui adepto da pirataria: nem mesmo naquela época, antes de me tornar um aficcionado pelo Tux…

Bem, com as mídias de instalação do pacote Combo (Windows, Word e Excel), resolvi eu mesmo fazer a instalação destes softwares. Eu já estava mais “experimentado”, pois havia feito muitos “futuques” com os softwares disponíveis do kit multimídia, além de instalar e desinstalar uma série de programas que eu adquiria em revistas especializadas, como a PC Master e a CD Expert. E até que eu havia me saído bem, pois consegui instalar e configurar praticamente todo o sistema! Menos a placa de som…

Como os leitores especialistas no assunto já sabem, a principal diferença entre um slot PCI e um slot ISA está no modo em que o sistema reconhece a existência do dispositivo conectado: a famosa tecnologia Plug-n-Play. Na época, muitos dos periféricos eram disponibilizados no “formato ISA”, como as placas de som e os modens. Portanto, a configuração era um processo mais trabalhoso, pois os endereços de E/S, os endereços de memória, as IRQs e os canais DMA deveriam ser ajustados manualmente. Levei uma bela surra até que, numa classica tentativa de erros, removi o componente conflitante no Gerenciador de Dispositivos e fiz a sua instalação manualmente, através da utilização dos arquivos .inf contidos nos CDs de instalação. Ufa, deu certo, embora (técnicamente) eu não sabia o que havia feito na época; só sabia que havia dado certo e então, anotei os “novos procedimentos”. Somente tempos depois é que fui compreender (técnicamente) o que eu havia feito.

Também experimentei os jogos que haviam disponíveis na época, onde a maioria eram sharewares disponibilizados em revistas especializadas. Me diverti muito com Duke Nukem, Megarace, Doom, Hexen, ROTT, Heretic, entre outros. Até que, num belo dia, foi “apresentado” ao novíssimo Quake. Foi paixão à primeira vista, embora o jogo ficasse bastante lento em meu modesto 486. Conseguia jogá-lo a uma resolução máxima de 576×384, e ainda assim, com uma palheta de cores de 8 bits. Nada das resoluções padrão dos dias atuais como 1024×768, palheta de cores de 32 bits, FPS na ordem de 60 quadros, filtros antialising… nossa…

Foi por volta dessa época em que me interessei em fazer o upgrade do computador. A lentidão do 486 já era sentida no próprio Windows 95, especialmente quando eram inseridas imagens nos documentos que eu editava no Word ou no Excel. Até mesmo a impressão era interrompida constantemente (pelo menos, os cartuchos de tinta eram baratos). Como se diz na gíria popular, foi a “gota d’agua”. Então, no ano seguinte (1997), fiz a atualização em uma loja de informática, esta situada no recém-construído West Shopping. Desta vez, meti mesmo a mão no bolso, pois até então havia conseguido me manter empregado graças justamente a informática. Naquele período, a empresa em que eu trabalhava iniciou um processo de informatização e o computador era algo realmente novo no cotidiano de seus funcionários. Como eu estava mais habituado com “aquela máquina”, “sobrou para mim”… felizmente!

Foi um upgrade parcial, pois substituí apenas o “miolo” do computador: a placa-mãe, a memória e o processador. Havia adquirido um Pentium MMX 200 Mhz, além de acrescentar 32 MB de memória RAM numa nova placa-mãe, claro. Não coloquei 64 MB de memória RAM em vista do alto preço na época, pois cada módulo de 32 MB custava R$ 200,00, ao passo que os módulos de 16 MB me custaram “apenas” R$ 81,00. O processador – potente para a época, onde reinavam os Pentiums 100, 133 e 166 Mhz, além de um monte de AMD 586, de 133 Mhz – saiu a um preço “razoável” (quase R$ 400,00), e a (vagabunda) placa-mãe com o chipset VX-PRO ficou em R$ 127,00. No total, fora gastos R$ 685,00; mas desta vez, fui mais “inteligente” e dei uma entrada, parcelando o restante do “prejuízo” em outras 4 “suaves prestações”.

Ah, agora vou poder rodar o meu adorado Quake! E não só o rodei, como também soube que foi lançada a sua seqüência: o Quake 2 (e mais à frente, o Hexen 2)! Mas infelizmente, ao rodar uma versão shareware, pude perceber que não poderia rodá-no na máquina atual em uma resolução acima de 640×480. Como resolver este impasse, eu não sabia; mas pesquisando sobre o assunto, soube da existência de uma tal “placa aceleradora de vídeo”. E no mês seguinte, lá estava eu na Av. Rio Branco, pesquisando nas lojinhas de informática e procurando por uma boa placa aceleradora de vídeo. Claro, com uma ótima relação de custo vs benefício, pois como vocês sabem, dinheiro não dá em árvore e nem cai do céu…

De tanto rodar – e se assustar com os preços – resolvi levar para casa uma Diamond Stealth S220, equipada com o chipset acelerador gráfico Rendition Verite e 4 MB de memória VRAM. Não comprei as badaladas Voodoo em vista do seu auto custo, mas aproveitei a oportunidade para comprar também o Quake 2, já que havia gostado da versão shareware que experimentei. Mas infelizmente, para o meu desespero, embora o Quake 2 suportasse oficialmente o chipset gráfico, não ativava os seus recursos gráficos tridimensionais. Fiquei na mão… só mesmo no ano seguinte (1998), é que pude ter a oportunidade de conhecer os maravilhosos gráficos gerados pela minha aceleradora de vídeo, a sua riqueza de cores (16 bits), em uma alta resolução (800×600) e com a fluidez suave, que só dispositivos como estes proporcionam. Os jogos testados foram a primeira versão do Tomb Raider e o FPS Jedi Knight II, os quais tenho até hoje.

De lá para cá, aconteceram muitas coisas interessantes nestes anos de experiências com a Informática. Vi os jogos evoluírem, a licença do Windows aumentar de preço abruptamente, o crescimento “exponencial” do Linux, o surgimento das placas-mãe “com-tudo-onboard”, além de ter feito mais upgrades e ter adquirido muitos outros periféricos e – claro – ter gostado bastante de computação ao ponto de estar atualmente concluíndo uma formação de nível superior. Mas vou parar por aqui, senão, acabarei escrevendo um verdadeiro livro sobre minhas “proezas” (que não foram lá tantas assim, e nem algo fora do comum). Mas então, porquê eu resolvi contar estas estórias ocorridas há 10 anos?

Nunca houve um momento tão propício para se adquirir um PC desktop como agora. Dos antigos e tradicionais “PCs de grife”, passando pelos polêmicos “PCs cinzas” e chegando aos tão criticados “PCs Populares”, qualquer um hoje pode ter um computador em sua residência. Todos eles – em maior ou menor grau – têm poder de processamento de sobra para as tarefas cotidianas do dia-a-dia, além de possibilitar realizar outras tarefas que até antes não eram possíveis. Para os periféricos, as regras também são as mesmas, pois além destes estarem com um precinho bem mais em conta, há também a boa oferta de uma grande variedade de opções. Em meu tempo, um simples gravador de CD era um artigo de luxo; hoje, um gravador de DVD não sai por mais de R$ 150,00. E para variar, boas ofertas de sistemas operacionais e aplicações não faltam, pois além de se encontrar disponível a “versão econômica” do Windows XP (Starter Edition), temos uma infinidade de distribuições GNU/Linux aptas para substituírem o tradicional sistema operacional da Microsoft. A licença da suíte Microsoft Office está cara? Então obtenham o livre e maravilho BrOffice.org, ou ainda, adquiram a licença da versão especial para estudantes!

No entanto, o nível técnico e de conhecimento dos usuários desktops nestes 10 anos não evoluiu tanto. Pelo contrário, me parece mesmo é que regrediu, chegando ao ponto de nem sequer conseguirem realizar a instalação de uma distribuição GNU/Linux amigável, ou ainda, continuarem técnicamente limitados a tal ponto que, se não houver algum “téco de informática” ou “nerd residente”, simplesmente não conseguirão realizar aquelas tarefas mais simples. E olha que eles ainda têm o Google à sua disposição, além de excelentes sites especializados! O que dizer destes usuários?

Sei que muitos dos que estão lendo este artigo devem ter muitas coisas para dizer; mas da minha parte, não diria nada. Apenas gostaria que eles tivessem a mesma vivência que tive, há mais de 10 anos… ;-D

Por Ednei Pacheco <http://by-darkstar.blogspot.com/>

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X