A guerra dos ultraportáteis

A guerra dos ultraportáteis

De 10 anos pra cá, assistimos a uma série de mudanças dentro da área de tecnologia que tiveram um grande impacto sobre nossas vidas.

A primeira delas, que começou a partir do final da década passada é a própria popularização dos PCs. Até por volta de 1998/1999 ter um PC ainda era algo relativamente raro e a Internet no Brasil ainda engatinhava. Importar componentes era mais caro e mais difícil do que é hoje, de forma que a grande maioria dos micros eram vendidos no mercado cinza, com peças contrabandeadas. As configurações eram caras, a qualidade era baixa e os preços eram (se levada em conta a inflação) muito mais altos do que eram hoje.

72ff99f5

A segunda foi a popularização dos celulares, que a 10 anos atrás também eram novidade. Inicialmente, as redes suportavam apenas voz, mas com a implantação das redes 3G, os planos de dados se popularizaram, permitindo que você possa acessar a web de praticamente qualquer lugar, pagando uma tarifa fixa.

4b5e40aa

A terceira mudança, que ainda está em curso é a popularização dos notebooks. A 10 anos atrás os notebooks eram quase que uma curiosidade. Todo mundo ouvia falar sobre eles, quase todo mundo queria ter um, mas quase todos desistiam ao ver os preços. Mesmo para quem trabalhava dentro da área de tecnologia, ter um notebook com uma configuração minimamente competitiva parecia um sonho inalcançável, muito diferente do que temos hoje em dia, onde você pode comprar um notebook em qualquer loja de eletrodomésticos, pagando R$ 1400 (ou até menos) em 10 vezes sem juros.

m6c432862

Isso nos trás ao tema principal de hoje, que é o rápido crescimento do ramo de mini-notebooks ou Netbooks (dependendo de como preferir chamá-los :), que começou com o Asus Eee. O segmento cresceu e as alternativas se multiplicaram, resultando em uma verdadeira guerra envolvendo todos os principais fabricantes.

m360bf1b0

A idéia é simples: com a miniaturização dos componentes e a queda nos preços das telas de LCD, memória RAM e memória flash, se tornou possível fabricar mini-notebooks extremamente compactos e a um custo muito baixo. Por serem leves e baratos, eles são atrativos não apenas para quem está pensando em comprar seu primeiro notebook, mas também para quem já tem um, mas está interessado em um segundo aparelho mais fácil de carregar. Basta ter em mente que a maioria dos notebooks pesa acima da marca dos 3 kg, enquanto o Eee 4G pesa apenas 920 gramas e a maioria dos Netbooks com tela de 8.9″ que estão sendo apresentados pesam em torno de 1.25 kg.

A maioria das pessoas usa o notebook apenas para acessar a web, ler os e-mails e os feeds, assistir vídeos no youtube e rodar aplicativos leves, de forma que a portabilidade, o preço e a autonomia das baterias acabam sendo fatores mais importantes do que o desempenho puro e simples. Quem conseguir dominar esse novo mercado tem chance de ganhar muito dinheiro, talvez até mais do que com a fabricação de notebooks tradicionais, devido ao volume.

Dentro do ramo, o Eee 701 pode ser considerado um produto de primeira geração, que apesar de ter feito um relativo sucesso, será logo substituído por uma segunda geração de aparelhos, baseados no Intel Atom ou no Via C7-M. Ainda é impossível dizer qual deles fará mais sucesso, pois isso não depende apenas das especificações, ou dos recursos, mas também do volume de produção e da disponibilidade dos produtos, principalmente aqui no Brasil. Vamos a eles.

Em maio a Asus lançou o Eee 900, uma versão atualizada do Eee original. Ele ainda é baseado no mesmo processador Celeron ULV de 0.09 micron que o Eee original, mas trouxe uma tela maior, de 8.9″ e um touchpad mais confortável, solucionando duas das principais limitações do modelo inicial. O maior problema com o Eee 900 é o preço, que subiu de US$ 399 para US$ 549, invadindo a faixa de preço dos notebooks tradicionais. O Eee 900 pode ser encontrado no Brasil em algumas lojas, mas custa a partir de R$ 1500.

43523b7d

Mal o Eee 900 chegou ao mercado e já existem rumores de que ele será descontinuado em breve, em favor do Eee 901, que é a versão atualizada, baseada no Intel Atom. Comparado ao Celeron ULV, o Atom é um grande passo evolutivo, não tanto pelo desempenho, que mesmo a 1.6 GHz não tão muito superior ao co Celeron, mas principalmente na área de economia de energia. Graças à combinação da técnica de fabricação de 0.045 micron e do agressivo sistema de gerenciamento de energia, o Atom baseado no core Diamondville tem um consumo elétrico até 5 vezes inferior ao do Celeron ULV, uma economia de até 5 watts, que corresponde a quase metade do consumo total de um Eee 701.

Temos também o novo Eee 1000, uma versão “gorda” do Eee, que utiliza uma tela de 10″ e um teclado sensivelmente maior que os modelos anteriores. Apesar de ser também baseado no Intel Atom, o Eee 1000 é consideravelmente mais pesado, nada menos do que 1450 gramas (contra 920 gramas do Eee original) e mais caro, custando entre US$ 650 (no modelo com HD mecânico) e US$ 700 (no com HD de estado sólido), bem distante dos US$ 399 do Eee 4G.

O Eee 1000 original utiliza 2 GB de memória RAM e um SSD de 40 GB, enquanto o Eee 1000H (a versão mais barata) utiliza um HD mecânico de 80 GB. Ambos os modelos incluem uma placa wireless 802.11n e transmissor Bluetooth.

m5aae3ebc

Embora a Asus não possua uma rede de distribuição bem estabelecida aqui no Brasil, é de se esperar que exista uma boa oferta tanto do Eee 901 quanto do Eee 1000 a partir dos próximos meses, cortesia da bem conhecida rota que cruza a ponte. A grande questão é o preço já que se o Eee 900, que custava US$ 499 nos EUA, era vendido por R$ 1500, é de se esperar que o Eee 1000 se aproxime da faixa dos R$ 2000, bem acima do preço não apenas dos concorrentes da HP, Dell, MSI e Acer, mas também da maioria dos notebooks de baixo custo.

O lançamento de modelos mais caros é resultado de uma mudança de estratégia da Asus, que passou a dar preferência para modelos com maior margem de lucro. Isso abriu espaço para os concorrentes de outros fabricantes, que devem crescer nos próximos meses, reduzindo a participação do Eee.

Um dos concorrente diretos é o HP 2133 Mini-Note. Apesar de também utilizar uma tela de 8.9″, a resolução é bem mais alta, nada menos do que 1280×800, mesma resolução usada na maioria dos notebooks com tela de 15.4″, espremida em uma área quase 3 vezes menor. Além da tela, um dos grandes atrativos é o teclado, que possui 92% do tamanho de um teclado padrão. Pela foto você pode ver que a HP aproveitou até o último milímetro da parte interna na hora de projetar o teclado, adotando em compensação um layout estranho de touchpad, onde os botões foram movidos para os lados:

m18b354c3

Na configuração padrão, com uma bateria de 3 células, ele pesa 1.27 kg, com opção de utilizar uma bateria de 6 células, que será vendida como acessório. Parte do peso se deve à opção da HP em fazer a carcaça de alumínio em vez de plástico, o que apesar de melhorar o aspecto visual, também ajudou a encarecer um pouco o produto. No modelo mais básico, com 1 GB de memória RAM e um SSD de 4 GB, o HP 2133 custa US$ 499, nos EUA, mas os modelos mais caros, equipados com um HD tradicional de 120 GB e 2 GB de memória RAM custam até US$ 649.

O ponto fraco do modelo é o fato de ser baseado no VIA C7-M, com clock de 1.0 a 1.6 GHz (de acordo com o modelo), combinado com o fraco chipset VIA Chrome 9. O C7 é simplesmente o processador x86 mais lento (clock por clock) ainda em produção, sobretudo com relação à FPU. Com isso, temos um produto que é ao mesmo temo muito forte com relação à tela, teclado, aparência e conforto de uso, mas ao mesmo tempo muito fraco com relação ao desempenho.

Com relação ao sistema operacional, existe a opção de comprá-lo com o SuSE Linux ou o Windows Vista Home Basic pré-instalado. Ainda não existem informações sobre a disponibilidade no Brasil, mas é de se esperar que a HP Brasil o disponibilize a qualquer momento.

Recentemente, a VIA anunciou o Nano, sucessor do C7-M usado no HP 2133. O Nano oferece um projeto sensivelmente melhorado, incluindo um coprocessador aritmético quase 4 vezes mais rápido e um consumo elétrico competitivo, cortesia da técnica de fabricação de 0.065 micron. Embora ainda sejam apenas rumores, existem boatos de que a HP estaria trabalhando em um sucessor do 2133, baseado nele.

746a8538

Outro concorrente interessante (mas infelizmente com poucas chances de chegar oficialmente ao Brasil) é o MSI Wind, já baseado no Intel Atom.

Diferente do Eee 900, que está sendo vendido no exterior por nada menos do que US$ 550 (mais caro que a maioria dos notebooks com tela de 14″ e 15″ de baixo custo), o MSI Wind custará apenas US$ 399. Apesar do baixo custo, ele oferece um conjunto mais do que respeitável de recursos.

O primeiro é a tela de 10″ com resolução de 1024×600, maior e mais confortável que a tela de 8.9″ do Eee 900. Apesar de aumentar um pouco o tamanho e o peso, a tela pode ser considerada um onto positivo no modelo, já que é mais confortável de usar que as telas de 8.9″ usadas nos concorrentes.

Diferente do Eee, que é ainda baseado no Celeron Mobile, o Wind utiliza um processador Intel Atom com core Diamondville de 1.6 GHz e oferecerá dois slots de memória, de forma a facilitar os upgrades. Outro detalhe digno de nota é que em vez de um HD de estado sólido, a MSI optou por utilizar um HD tradicional, de 2.5″, com 80 GB. Mais espaço facilita a instalação de outros sistemas operacionais (você pode usar um pendrive ou um CD-ROM USB) e torna o Wind mais parecido com um notebook ultraportátil tradicional, mas, naturalmente, temos também a desvantagem de tratar-se de um HD mecânico.

Os outros recursos são modestos: 512 MB de RAM, bateria de 3 células (2 horas e meia de autonomia), três portas USB, placa wireless, leitor de cartões SD e saída de vídeo. Ele pesa 1.18 kg, quase 300 gramas a mais que o Eee original, mas em compensação 90 gramas a menos que o HP 2133.

A versão de US$ 399 virá com o SuSE Linux pré-instalado. Está planejada também uma versão com o Windows XP, que incluirá uma bateria de 6 células e transmissor bluetooth, mas custará US$ 549.

55e74b51

Um recurso curioso do Wind é o botão “turbo”, uma função de overclock/underclock controlada via hardware, que não depende de suporte por parte do sistema operacional. Se pressionado com o notebook ligado na tomada, o turbo faz com que o processador seja overclocado em 20%, de 1.6 para 2.0 GHz. Se pressionado enquanto estão sendo usadas as baterias, ele tem a função oposta, ativando o modo de baixo consumo, onde o clock é reduzido de forma a aumentar a autonomia.

A Acer que (apesar de não ser particularmente cuidadosa com a qualidade de seus produtos) é atualmente a terceira maior fabricante de notebooks do mundo também anunciou um modelo baseado na plataforma Intel Atom, o Aspire ONE:

m331feb8b

Estas são duas fotos de um protótipo do produto exibido durante a Computex 2008. Está disponível também um vídeo, com outro protótipo em mãos, feito pela equipe do UMPC Portal:
http://www.youtube.com/watch?v=InfFpnNJ7Sw&hl=en&rel=0&border=1

O Aspire ONE é baseado no Atom com core Diamondville, de 1.6 GHz, combinado com 512 MB de RAM, tela de 8.9 e 8 GB de memória flash. Apesar de levar a marca “Acer”, ele está sendo produzido pela Quanta (uma das grandes do setor, que fabrica notebooks para diversos fabricantes). Um dos atrativos deste modelo é o preço. Na Europa ele será vendido por 299 Euros e a Acer planeja vendê-lo abaixo da marca dos US$ 400 nos EUA (onde a carga tributária é mais baixa). Assim que ele passar a ser vendido nos EUA, é de se esperar que ele apareça também no Brasil, através dos importadores que trabalham com produtos da Acer.

Até mesmo a Sony está para lançar um modelo de Netbook, baseado na plataforma VIA OpenBook. Os mini-notes também estão sendo fabricados pela Quanta e, assim como outros produtos baseados na plataforma, ele utilizará um processador VIA C7-M, com tela de 8.9″ (1024×600), 1 GB de RAM, combinados com um HD tradicional de 60 GB.

A notícia surgiu durante a WiMAX Expo, onde a Quanta apresentou o modelo juntamente com outros protótipos de produtos:

3de372f9

A “descoberta” surgiu durante uma palestra, onde um funcionário da Quanta “acidentalmente” abriu a janela de propriedades do sistema, revelando quem está por trás do projeto:

m24232f68

Você pode ver mais detalhes sobre a notícia no PC Advisor: http://www.pcadvisor.co.uk/news/index.cfm?newsid=13237

Até a Dell, que costuma ser bastante conservadora (vale lembrar que até pouco tempo sequer utilizavam processadores AMD em seus produtos, limitando-se à linha da Intel) já anunciou um produto dentro do nicho, o mini-Inspiron:

m32a3fd8c

Por enquanto não existem muitas informações sobre ele, sabe-se apenas que (assim como quase todos os outros modelos da safra) ele possui uma tela de 8.9″, pesa pouco mais de 1 kg e será fabricado pela Compal. Como a Dell possui fortes laços com a Intel, é provável que ele seja baseado na plataforma Intel Atom, mas esta informação ainda não foi confirmada.

A Dell planeja vendê-lo por menos de US$ 499 (com o lançamento previsto para o final de junho), sobretudo em países em desenvolvimento. Como a Dell possui uma rede de distribuição bem estabelecida por aqui, é de se esperar que ele possa ser encontrado nos canais oficiais pouco depois de ser oficialmente lançado, custando provavelmente na faixa dos R$ 1200 (devido aos impostos).

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X