A próxima guerra tecnológica será na TV

A próxima guerra tecnológica será na TV

The Next Big Tech Battleground: the TV

Autor original: Eugenia Loli-Queru

Publicado originalmente no: osnews.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

Eu reconheço: como toda geek que se preze, eu adoro passar um tempão sentada no sofá, vendo filmes de ficção científica. E há muitos anos esse ritual se repete, sem grandes novidades. Mas parece que logo teremos uma surpresa chegando. A forma como assistimos TV e acessamos o conteúdo está prestes a mudar. A TV finalmente vai chegar ao século 21, e os gigantes da tecnologia vão sair no tapa para ver quem vai assumir as rédeas dessa nova indústria.

A Apple tentou revolucionar a TV com a Apple TV, mas como Steve Jobs disse outro dia na conferência D8, o setor é tão fragmentado e cheio de hostilidade que fica muito difícil entrar. Segundo ele, o Google vai passar pelas mesmas dificuldades com o futuro Google TV.

A opinião do homem faz sentido. As empresas de TV a cabo e via satélite são donas da experiência televisiva, e não vão entregá-la de mão beijada. Mas será possível impedir uma mudança inevitável? Dá para frear a evolução natural? Eu acho que não. A modernização da TV vai acontecer mais cedo ou mais tarde, e eu já espero por ela há alguns anos. Tenho minha própria teoria sobre como ela deve acontecer.

Primeiro, é preciso criar uma plataforma de software aberto, e uma referência de hardware, em uma solução que caiba dentro de uma HDTV. Por sua vez, a HDTV precisa ter acesso a uma conexão Ethernet e/ou WiFi. Cada fabricante de TV tem que incluir em todos os novos modelos de TV que vender este pequeno hardware (possivelmente atualizável) com um firmware atualizável via rede. O software incluído precisa ser compatível com todas as outras TVs novas lançadas no mercado. E ele precisa rodar aplicativos – semelhantes ou idênticos aos que temos no smartphone. A universalidade da plataforma se explica porque se cada fabricante criar sua própria implementação, incompatível com as outras, a coisa não vai decolar nunca. Não adianta ter o AIM com suporte a vídeo através da webcam da sua TV se outras TVs só tiverem suporte ao MSN. Todas as TVs precisam ser compatíveis, ou a revolução não vai acontecer.

É claro que os líderes dessa revolução vão ser a Apple, com seu sistema operacional iOS, e o Google, com o Google TV e o Android. Para que tudo dê certo, eu acho que as duas empresas vão ter que abandonar o conceito de um decodificador separado. Ninguém quer mais um aparelho para bagunçar a sala, que já tem PS3, XBOX, Wii e dispositivos da Apple TV, WD TV, TiVo, Comcast e de outras provedoras. O que as pessoas querem é algo que venha embutido na TV e funcione direto. Ninguém quer um dispositivo separado para cada coisa. Todo mundo quer pensar “não preciso mais da Comcast e do decodificador dela, minha TV pode fazer milagres e me oferecer o conteúdo que eu quero, por conta própria”.

Tudo bem, as pessoas não compram TV nova toda hora, e embutir o hardware e o software nas HDTVs vai dificultar a adoção da ideia. Mas eu acredito que essa seja a melhor solução, e que o público jovem (a mina de ouro publicitária entre os 18 e 49 anos) vai aderir. É só ver quanta gente partiu para as HDTVs com 3D neste ano. Essa solução oferece a experiência de usuário que os adeptos à tecnologia querem, já que estão acostumados a ela em seus smartphones, e o conteúdo ainda vai ser mais barato.

Decidi escrever este artigo porque acho que, depois da batalha nos PCs e nos celulares, a próxima guerra pela tecnologia de consumo vai ser travada na TV. Cheguei a essa conclusão graças à minha recente experiência com a Netflix e o Hulu Plus no meu Playstation 3. Pelo meu PS3 eu assisto a filmes, shows e documentários que me fazem querer jogar fora o decodificador de canais da Comcast que tenho aqui (e que me custa absurdos 90 dólares por mês com os canais em HD e o DVR, e sem os canais de filmes e a HBO). Só o que falta nessa nova experiência é TV ao vivo (para ver os jogos de futebol, por exemplo). Mas se uma plataforma “inteligente” chegar às nossas TVs, e nos permitir executar aplicativos e ter acesso a conteúdo da Netflix, do Hulu e de outros provedores através de seus aplicativos nativos para essa plataforma, a TV ao vivo será uma etapa inevitável. E se demorar para isso acontecer, você sempre terá a opção de instalar uma antena para as poucas vezes em que for assistir à TV ao vivo. O que importa é que vai sair tudo muito mais barato, on-demand e interativo, em uma experiência de usuário moderna.

Os únicos obstáculos reais no futuro que eu estou prevendo aí em cima são a Comcast, a AT&T e a Verizon. Essas empresas faturam um dinheirão com seus pacotes de TV a cabo, e infelizmente elas também são provedoras de internet. Você acha que a Comcast vai deixar você fazer streaming de conteúdo do concorrente na rede dela? Eu não acho. Acho que seria suicídio comercial.

Sim, alguns desses provedores de TV a cabo ou via satélite já oferecem filmes e TV on-demand. Só que esses serviços são só uma pequena e limitada amostra do que a TV pode fazer. A TV pode e deve fazer mais do que isso. A TV pode e deve funcionar como um dispositivo mais poderoso, que vai além do streaming de vídeos (eis um exemplo do que ela pode fazer). Nenhum desses provedores de TV a cabo da antiga podem levar a TV ao próximo degrau evolutivo. O negócio deles não é software. E suas redes foram construídas sob ideias muito específicas, ideias que encareceriam muito a substituição da infraestrutura. A Comcast, por exemplo, está trabalhando em um decodificador baseado no h.264 há anos, e ainda estamos no mpeg-2 por causa do alto custo de alteração de todos os decodificadores. Em outras palavras, a inovação tem que vir de fora, de empresas acostumadas a criar “plataformas”.

O que realmente importa é a neutralidade da rede. Se a tão falada lei que pretende regulamentar essa neutralidade finalmente entrar em vigor nos Estados Unidos, a revolução vai acabar chegando às nossas TVs. Talvez tenhamos que esperar mais alguns anos para que todos os fabricantes de TV cheguem a um acordo quanto a uma plataforma única, mas vai acontecer.

Porém, se a lei não passar e todos os provedores de conteúdo baseado em IP forem bloqueados ou tiverem a velocidade limitada ao ponto de não ser possível transmitir vídeos em HD sem “soluços”, vai ser uma lástima. Seria mais uma razão para que eu mantivesse a relação de amor e ódio que tenho com o mundo da tecnologia há alguns anos. E me daria ainda mais vontade de criar ovelhas nas montanhas e nunca mais voltar para o mundo “civilizado”.

Créditos a Eugenia Loli-Queruosnews.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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