All-Out War: The Computing World’s Battle Lines Are Drawn
Autor original: David Adams
Publicado originalmente no: osnews.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Há poucos dias, John Gruber sintetizou em seu blog Daringfireball o que muitas pessoas estão pensando a respeito da enxurrada de anúncios do Android feitos pelo Google e dos ataques nada sutis à Apple na conferência I/O deste mês: “guerra declarada”. Concordo com Gruber que uma rivalidade à moda antiga pode ser boa para o mundo da computação, especialmente para os fãs de smartphones e portáteis.
Enquanto isso, Michael Arrington está flertando brevemente com um telefone pré-pago de 25 dólares, mas só porque usa seu iPad para suas necessidades computacionais móveis de rotina, e já cobiça um smartphone que ainda nem foi lançado. Não, não é o fim do smartphone. Ele só vai ser parte de um segmento de mercado que fica cada vez mais rico.
Bem diante de seus olhos, o mundo da computação está sendo reorientado, com alguns antigos pesos-pesados sendo relegados a atores coadjuvantes, novatos ganhando proeminência e antigos campeões arriscando retornos. Há uma combinação mágica de tecnologias e tendências tornando possível essa transformação, e a capacidade que cada jogador tem de tirar proveito desses fatores irá determinar tanto seus destinos quanto a natureza da computação na qual nós teremos que viver nos próximos vinte anos. Seja você partidário de um dos lados ou apenas um curioso, acho que o período de 2009 a 2011 vai ser um ponto crítico de virada na história da tecnologia.
Neste ensaio instigante, Thom fez uma elegia às guerras de plataformas que não chegaram ao fim, mas que foram consumidas pelas chamas, reconhecendo que a computação móvel e em nuvem parece ser o lugar onde a ação de verdade se encontra hoje em dia. Concordo com ele, e não necessariamente lamento a perda.
Como Gruber destaca, uma das maiores diferenças entre os dispositivos do Google e os da Apple é que os do Google se sentem mais à vontade em um mundo pós-PC, enquanto os da Apple estão literalmente atados a um computador pessoal, ainda que apenas para a configuração inicial e grandes atualizações. O mundo pós-PC está levando boa parte do que fazíamos com aplicativos cliente para aplicativos em servidores, gerenciados de forma central, ou seja, a computação em nuvem. Os avanços no HTML, robustos frameworks de desenvolvimento e a constante queda de preços de processadores, banda e memória para servidores tornaram essa revolução possível, e a maioria das pessoas que trabalha no espaço dos aplicativos web sabe que isso é só o começo.
A nova leva de dispositivos, incluindo netbooks, smartphones e os novos tablets, não teria tanta relevância sem a computação em nuvem. O truque é uma forte coleção de aplicativos baseados na web que aperfeiçoam o modesto desempenho e a capacidade de armazenamento desses dispositivos, e que ampliam suas funcionalidades por meio de uma rede sempre conectada. Com essa evolução, cada vez menos pessoas vão usar esses dispositivos como acessórios de um computador pessoal tradicional, e mais pessoas vão usá-los como seus substitutos.
Mas é claro que na guerra de smartphones entre Google e Apple (e que certamente logo envolverá tablets), a grande perdedora vai ser já está sendo a Microsoft. Eu nem consigo imaginar como ela possa correr atrás do prejuízo e ganhar impulso para ser mais do que uma atriz coadjuvante, e também não há muita gente apostando na vitória dela. Sem falar em outro problema: essa revolução computacional não consiste apenas em um bando de dispositivos computacionais móveis interessantes que estão chamando a atenção de todo mundo.
Há várias coisas acontecendo simultaneamente aqui, e a interação entre esses fenômenos é que está causando a revolução: primeiro temos a vibrante e empolgante nova leva de dispositivos, focados em preço e funcionalidade. São desktop, laptops, netbooks, smartbooks, tablets e smartphones. Um subproduto das várias plataformas de hardware é uma variedade de diferentes sistemas operacionais, cada um com suas vantagens, limitações e bibliotecas de aplicativos. Mas em vez de voltarmos aos velhos (e maus) tempos em que ficávamos presos ao software do fabricante, os aplicativos nativos estão perdendo a força. Algumas plataformas, como o Google Chrome, estão tentando acabar de vez com os aplicativos nativos. Os aplicativos do iPhone são tipicamente interfaces para aplicativos web. Até nos desktops já está havendo essa mudança. Eu provavelmente uso hoje apenas um quarto dos aplicativos que costumava usar no desktop, e alguns deles são só interfaces para aplicativos que estão na nuvem. Todo o resto foi substituído por aplicativos web.
Teoricamente, isso faria com que as barreiras de entrada de novas plataformas fossem pequenas. Desde que você resolva aderir de verdade aos aplicativos web, deve conseguir fazer as coisas que quiser fazer, e a falta de uma grande comunidade de desenvolvimento não vai doer tanto quanto doía no passado. Ironia das ironias, talvez isso salve a Microsoft de se tornar completamente irrelevante na computação móvel. Só que, na prática, os aplicativos ainda são importantes, e esse é um dos motivos para que essa guerra pareça estar se organizando em torno do modelo vibrante, ordenado e profundamente injusto da App Store e do conceito em evolução que o Google tem de sua própria loja de aplicativos, que no momento parece incluir aplicativos nativos do Android e uma “loja” para aplicativos web. Obviamente, a biblioteca de aplicativos win32 da Microsoft ainda é enorme, e vai continuar sendo relevante nos desktops, mas praticamente não há como a Microsoft fazer uso disso como vantagem no setor móvel.
A simplicidade desses novos dispositivos, somada à crescente viabilidade de um ambiente computacional de desktops baseado na nuvem, está fazendo com que as pessoas questionem todo o paradigma do PC. Acredito que nos próximos anos nós presenciaremos uma contração da base instalada de computadores pessoais em países com uma economia tecnológica plenamente desenvolvida. Já nos dias de hoje, lares com dois ou três computadores estão virando lares com um computador e dois iPads. Isso pode ser atípico hoje, mas com a conveniência e as vantagens de manutenção dos dispositivos pós-PC, depois que pilhas de clones baratos do iPad começarem a pipocar, veremos mais e mais PCs velhos sendo aposentados em prol de dispositivos alternativos.
Acho que é sensato especular que muitos desses dispositivos não serão tablets. Netbooks leves sem Windows, e até laptops e desktops completos se tornarão mais populares, especialmente se o Android e o Chrome OS do Google, e agora o WebOS da HP, avançarem como presumimos que irão avançar. Será que um MacBook baseado no iPhoneOS (com teclado destacável) está fora de cogitação?
O resultado de toda essa atividade para o leitor do OSNews é uma verdadeira revitalização do cenário de sistemas operacionais. Claro, de modo geral nós ainda estamos falando em Windows, MacOS, Linux e suas variantes associadas, mas a coisa é empolgante mesmo assim. A única maneira disso acontecer, porém, é por meio de uma longa e agitada guerra.
Por mais ambiciosa que a Apple pareça ter sido ao invadir o espaço dos smartphones, ela não é, por natureza, uma empresa ambiciosa em termos de estratégia. Desde o início, ela cria produtos que na maioria das vezes são excelentes e atraentes para uma parcela da comunidade tecnológica, e sempre defendeu a necessidade de manter sua linha de produtos bastante restrita e seus preços bastante altos. Mas agradar a todos e vender para o mercado de massa nunca foi a praia da Apple. O iPhone teve uma superioridade tão grande no setor em seus primeiros anos que, se não fosse a intervenção do Google, a Apple provavelmente teria se acomodado e seus novos modelos de iPhones se diferenciariam quase que apenas pelo design industrial. Estar um passo à frente da Microsoft teria sido um processo em segundo plano.
Mas o Google vai pressionar a Apple consideravelmente, e o fato do Android ter licença livre significa que todo o mundo do hardware que não pertence à Apple provavelmente vá se envolver com ele. Isso também significa que Microsoft, Nokia, HP, Samsung e quem mais quiser fazer uma jogada em termos de plataforma vai ter que trabalhar duríssimo. Elas não vão competir apenas com a Apple e com suas barreiras naturais. Elas vão ter que tentar fazer dinheiro em um ambiente onde nem a Apple nem os usuários do Android vão estar pagando uma taxa de licença por seu software. A única maneira de competir nesse ambiente é inovando: criando uma plataforma que derrote as líderes de alguma maneira, ou expandindo um novo segmento de produto no qual o Android e a Apple não estejam fazendo um bom trabalho.
Será que vamos acabar tendo um duopólio Apple/Google? É cedo para dizer. A maior parte do dinheiro que há para ser ganho no espaço pós-PC está no futuro, crescendo, e acho que o prêmio é brilhante demais para que a Microsoft e os demais jogadores desistam tão cedo. Vai ser uma guerra, senhoras e senhores, e nós é que vamos sair ganhando.
Créditos a David Adams – osnews.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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