Nos dias de hoje questões morais e éticas estão cada vez mais fortes, e quando trazemos essa conversa para empresas envolvidas com tecnologia e que são responsáveis por lançamento dos mais variados gadgets e serviços fica claro perceber que uma moral trincada causa efeitos instantâneos.
Nessa questão moral um dos atributos que as empresas mais tentam se blindar é em relação a como os dados de seus usuários e são administrados. Nossos dados ficam à mercê dos serviços e produtos que utilizamos e a cada nova situação fica mais tenebroso essa ideia que tudo que fazemos, escrevemos e dizemos está sendo filtrado e rastreado. Esse é o preço a se pagar pela utilização de tantos serviços gratuitos e dispositivos integrados com aplicativos.
Por outro lado, comparado com o caso da Samsung e o Galaxy Note 7 a questão moral em relação a administração dos nossos dados parece fichinha. Muitas pessoas não se importam ou nem querem saber sobre por onde os dados estão e como estão seno gerenciados, o que elas querem é utilizar o aplicativo, serviço ou aparelho. Mas quando essas mesmas pessoas leem que um telefone está simplesmente explodindo, ai a coisa muda de figura completamente, já que a dimensão do problema é bem maior e causa um incêndio na moral da empresa envolvida.
O que não falta para a Samsung é Know-how com celulares e smartphones, além de já estar nesse mercado desde 1985, com o lançamento do celular Samsung SC-1000, a companhia entrou num ciclo frenéticos nos últimos anos de colocar no mercado uma imensa infinidade de aparelhos, que se dividem em novas versões ou variações dos que já estão no mercado.
Toda essa experiência a credencia como uma empresa de ponta nesse segmento, e os próprios números comprovam isso. Dados da IDC de agosto de 2016 mostram que a gigante sul-coreana continua na liderança do mercado de smartphones com 22,8% de quota de mercado, seguido pela Apple com 11,7%.
Parte desse sucesso da Samsung no segundo quarto do ano, de acordo com a IDC foi o lançamento dos Galaxy S7 e S7 Edge, que realmente são ótimos aparelhos, e se saíram bem tanto na opinião dos consumidores quanto da imprensa.
Porém a reta final de ano não poderia ter sido pior para a companhia sul-coreana com a bomba vestida de telefone, também conhecida como Galaxy Note 7 lançado no dia 02 de agosto. O que tinha tudo para ser um sucesso vai direto para a galeria de tranqueiras perigosas.
Em menos de um mês do seu lançamento diversos casos de explosões foram reportados nos mais variados locais, e claro que a Samsung teve que se virar e arrumar uma solução, que ficou sendo o famoso recall, recolher os aparelhos danificados e tentar reparar o problema. Inclusive a companhia foi elogiada por agir de forma rápida com a situação, aquela massageada na moral!
Mas de nada adiantou parte (ao menos 5 casos reportados) dos mesmos 2,5 milhões de modelos do Galaxy Note 7 que voltaram do recall continuaram dando uma de suicida e explodindo. Um soco e tanto na moral!
Ontem a Samsung finalmente se deu conta que não teria como resolver o problema e declarou que tanto a produção quanto as vendas do aparelho foram interrompidas. Iniciando um segundo recall e definitivo, com direito a uma caixa á prova de incidentes termonucleares, e luvas, para que os donos dos aparelhos que desejam ser reembolsados possam fazer a devolução para a Samsung.
Muitos analistas declararam que essa decisão foi o melhor que a Samsung poderia ter feito, já que continuar insistindo no reparo desse modelo poderia manchar toda a imagem (e moral) da linha Galaxy S.
Mas afinal de contas o que aconteceu com o Galaxy Note 7? Bom, nem a própria Samsung ainda sabe ao certo o que aconteceu, já que mesmo com o recall os problemas continuaram. A primeira leva de aparelhos danificados de acordo com alguns rumores estavam com um superaquecimento da célula da bateria, já que um erro raro na produção estava fazendo com que o polo positivo (cátodo) estava se encontrando com o polo negativo (anodo), e como não há espaço e nenhuma espécie de ventoinha para dissipar o calor acabava gerando o superaquecimento e consequentemente a explosão.
Galaxy Note 7 explodindo e botando fogo em um carro
No entanto como a Samsung continuou enfrentando problemas com o recall, a investigação terá que ser bem mais profunda para avaliar o que realmente aconteceu, já que as baterias de íon de lítio podem explodir de diversas formas.
A verdade é que vivemos diariamente com uma espécie de “bomba relógio” conosco, já que essas baterias que equipam smartphones, notebooks, tablets, entre outra infinidade de dispositivos são altamente inflamáveus, e por desinformação o próprio usuário se coloca em risco, como na utilização de carregadores genéricos, exposição do produto ao calor intenso, entre outras coisas, além é claro das próprias inovações dos fabricantes, como essa busca incessante de deixar os aparelhos cada vez mais finos e tecnologias de carregamento ultra rápido, que também contribuem para o aquecimento.
Esse risco todos os fabricantes e usuários correm, porque a bateria de íon de lítio conta com muitos pontos positivos mas também sofre com esses problemas que envolvem um alto cuidado na fabricação. A margem de erro das células de íon de lítio é uma em cada dezena de milhões de células, então se o caso o Galaxy Note 7 tivesse reportado alguns poucos casos de explosões, seria algo impactante, mas dento da margem de falha que a bateria pode causar, mas como foram reportados mais de 100 casos envolvendo o aparelho as coisas são diferentes.
Além da bateria, que é a primeira alternativa para o problema alguns outros motivos estão sendo levantados. O Financial Times por exemplo, diz que fontes ligadas à Samsung disse que na verdade o problema na verdade está atrelado ao processador, que teria sido adaptado para acelerar o tempo em que o telefone é carregado, o problema do Fast Charge. Essa busca louca de lançar aparelhos com baterias que carregam cada vez mais rápido é uma boa tática de marketing, porém é mais uma oportundiade de problemas para as baterias de íon de lítio e claro para os consumidores.
Essa questão de abrir o leque e pensar em outras possibilidade além da bateria em si é muito importante, já que a produção inicial das baterias do Galaxy Note 7 inicialmente estavam nas mãos da Samsung SDI, divisão da companhia sul-coreana, já os modelos provindos do recall ficaram nas mãos da China Amperex Technology Ltd. Pensar que duas produtoras diferentes de bateria apresentaram o mesmo problema é bem estranho, então essa investigação acerca dos motivos da explosões realmente precisa e será mais ampla.
Além dos problemas de identidade e reputação que a Samsung enfrentará daqui pra frente, o rombo financeiro também não será nada pequeno, a companhia já anunciou que reduziu para 33,3% a sua previsão de lucro para o terceiro trimestre do ano. Na terça-feira a bolsa de Seul registou a pior queda nas ações da Samsung em um único dia: 8%.
A previsão é que só em relação aos Galaxy Note 7 fabricados (na casa dos 20 milhões) a Samsung tenha um rombo de US$ 17 bilhões. Isso sem contar é claro a série de processos que terá que responder, e os gastos em pesquisa e desenvolvimento e em marketing para chegar no x do problema e também tentar restabelecer sua moral.
Agora é a corrida contra o tempo e contra todos que a Samsung terá que enfrentar, alguns rumores apontam que a companhia estaria inclusive pensando em adiantar o lançamento do Galaxy S8, previsto inicialmente para o início de 2017, para a próxima terça-feira, 18 de outubro, como se esse adiantamento fosse passar uma borracha em quem passou pelo problema do Galaxy Note 7 e do mercado. Ah Samsung, se cuida!
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